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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM... - LIVROS
Séc.XX - por Edith Pires Gonçalves Dias (10)

Um passeio pela cidade de Santos, com os olhos que a viram durante boa parte do Clique na imagem para ir ao índice deste livroséculo XX: assim é a obra Santos de Ontem, de Edith Pires Gonçalves Dias, publicada em 2005 pela autora, com apoio cultural da Fundação Arquivo e Memória de Santos (FAMS), Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) e Museu Martins Fontes (mantido pelo Instituto Cultural Edith Pires Gonçalves Dias), todas instituições santistas.

Com 179 páginas, o livro teve curadoria de Rafael Moraes, revisão de Manuela Esquivel Rodriguez Montero e Manuel Leopoldo Rodriguez Montero, capa de Marco A. Panchorra, projeto gráfico de Marcelo da Silva Franco, colaboração de Cynthia Esquivel e impressão Cromosete. A autorização para esta primeira edição eletrônica foi dada pela autora a Novo Milênio, em 30 de julho de 2010. Páginas 108 a 118:

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Santos de ontem

Edith Pires Gonçalves Dias

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O CARNAVAL SANTISTA

O carnaval não nasceu no Brasil, mas [foi] aqui introduzido pelos colonizadores. E Santos, muito procurada por imigrantes portugueses, adotou esse tipo de diversão, que propunha uma festa de confraternização. Era um acontecimento de grande importância, que irmanava as famílias aqui residentes. Segundo as pessoas que se dedicam às pesquisas, o carnaval foi implantado no Brasil no século XVII. Com o passar do tempo, inovações promoviam uma festa cada vez mais comemorada pelo nosso povo. No século XIX ele teve a sua fase áurea.

A cada ano surgiam novas formas de incrementar os festejos carnavalescos. Minhas avós diziam que a festa trazida pelos portugueses chamava-se "entrudo", manifestação de certa agressividade, que acabou proibida pelo poder público, surgindo novas formas de promover as festas.

Relatavam ainda uma forma de diversão que consistia em arremessar, uns aos outros, os famosos "limões de cheiro". Elas mesmas os fabricavam nos serões noturnos, era um prazer que ainda rendia algum dinheiro. Não sei como se fabricavam, mas eram pequenas bolas de cera, em cujo interior havia água perfumada. A diversão consistia em arremessá-las às pessoas que transitavam pelas ruas. Quando rompidas, espalhavam um agradável perfume. Talvez tenha surgido aí a idéia do lança-perfume, usado por muito tempo, hoje proibido.

Durante muitos anos, a comemoração do carnaval era mais restrita ao desfile de pequenos blocos caracterizados, como o da Sociedade Carnavalesca Santista, em cujo seio nasceu o Clube XV, conforme já relatado. Com a competição que se criou entre as duas sociedades, quem ganhou foi a nossa cidade, especialmente os apreciadores dos festejos carnavalescos. Houve desfiles memoráveis, com grupos ricamente fantasiados e muitos fogos de artifício.

Todos esses eventos eram realizados no centro da cidade, que não havia se expandido, dado o lento crescimento da população. Mas o entusiasmo de seus organizadores contagiava o povo que os acompanhava com muitos aplausos. O famoso Zé Pereira, que animava os desfiles, ao som de bumbos e tambores, consta ser criação de um sapateiro português, chamado José Nogueira de Azevedo Paredes, em 1825. Certamente, ele nem imaginava que sua idéia seria tão popularizada, identificando manifestação musical que criou um ritmo puramente carnavalesco, desafiando o tempo.

No final do século XIX realizaram-se, com muito sucesso, os primeiros bailes carnavalescos em recintos fechados. Apareceram a serpentina, o confete e logo depois o lança-perfume. No começo do século XX, o carnaval já passava por grandes modificações, com o progresso criando novas formas de vivenciá-lo. A população crescia e, no mesmo passo, os carnavalescos. Naquela época não havia muitas diversões, fazendo com que o carnaval fosse esperado até mesmo com ansiedade.

Relato um fato curioso que demonstra a paixão de muitos por esses dias de folga popular. Havia uma serviçal que não queria receber o ordenado no final do mês. Pedia à minha mãe que o guardasse. Ganhava muitas roupas de minhas irmãs e certamente se privava de muitas coisas, pois a sua meta era brincar o carnaval a seu gosto. Quinze dias antes do carnaval, ela procurava uma substituta, pegava o dinheiro acumulado e protegido por mamãe, comprava tudo que fosse necessário para as fantasias que usaria.

Passado o carnaval, retornava ao seu lugar, feliz por ter vivido intensamente essa grande festa popular, prática que se repetiu durante os anos em que trabalhou em nossa casa.

Quando surgiram os carros de capotas reversíveis, eles circulavam abertamente, possibilitando, a seus ocupantes, se cumprimentarem, mútua e cordialmente. Na terceira década do século XX, incrementou-se, com entusiasmo, o corso, que a cada ano crescia e estendia-se em trajetos maiores. Só então testemunhei essa forma tão divertida de brincar o carnaval. Apesar da pouca idade, já me contagiava e divertia com o entusiasmo dos adultos, em especial de meus onze irmãos.

Quando morávamos no "casarão branco", os preparativos para participar do corso se desenvolviam com bastante antecedência. Eram contratados carros de aluguel que comportassem meus irmãos e mais amigos convidados. Apesar de não participar dos folguedos, minha mãe tudo fazia para que os filhos se divertissem. Providenciava as fantasias para uso nos clubes onde se realizavam bailes, bem como a fantasia igual para os que fariam o corso. Este começava à tarde e ia até às 21h00, pelas avenidas da praia. Depois se dirigiram ao centro da cidade, onde as brincadeiras iam até cerca de uma hora da manhã. Mas os que iam aos bailes retiravam-se antes, dirigindo-se ao clube de sua preferência.

E tudo saía às mil maravilhas. Houve um ano em que as minhas irmãs se vestiram de pastoras, fantasia luxuosa, em cetim rosa e azul, em tons suaves e um pequeno chapéu de palha ornamentado com delicadas flores, chapéu sem abas e apenas um das bordas virada. O bastão usado pelas pastoras era feito pelo sr. Vieira, um marceneiro que trabalhava em nossa casa. Era uma haste de madeira, com cimo torcido, formando um meio círculo, onde se destacava um laço de fita acetinada. Ao pescoço, uma fita de veludo preto, ostentando um bonito medalhão. Os sapatos de verniz preto completavam o requinte do traje.

Muitas outras fantasias eram usadas por elas, ms foi essa a que mais me encantou, e sua lembrança permanece nítida! Quanto a mim, a que mais me deixou feliz, foi a de holandesa. A saia de cetim azul céu com uma barra de veludo preto. Um corpete também de veludo preto deixava à mostra a blusa de organdi branco enfeitada com rendas valencianas, destacando-se as mangas bufantes. Na cabeça, a touca de organdi branco com duas partes, uma para cada lado, viradas para cima. Para tal, um arame, cuidadosamente ali colocado, mantinha a sua posição. Os tamancos em madeira completavam o traje tipicamente holandês. Era também usado um avental pequeno, confeccionado com o mesmo organdi da blusa e cercado com a mesma renda.

Até completar meus 14 anos, costumava fantasiar-me. De gloriosa memória uma fantasia de camponesa húngara. Quando fui pela primeira vez a uma matinê carnavalesca no Clube XV, então situado na esquina da Avenida Conselheiro Nébias com a Rua Sete de Setembro, eu tinha apenas 15 anos. Logo depois, o XV se mudou para a esquina da Rua Marcílio Dias com a praia, no prédio hoje ocupado pela Caixa Econômica Federal. Ali passei os melhores carnavais da minha vida. Participei de um grupo de amigos, todos muito entusiasmados. O ano em que nosso grupo mais se destacou foi quando nos fantasiamos de marinheiros e fizemos uma entrada triunfal no salão do Clube XV.

A sociedade santista se dividia entre o XV, com bailes no sábado e na segunda-feira, e o Parque Balneário Hotel, no domingo e na terça-feira de carnaval. O corso continuava animado nos anos 30 e no terraço do XV podíamos apreciá-lo. Mas logo começaram as transformações. Aos poucos, as tradições morreram e, sem exagero, uma das festas que sofreram mis transformações foi o carnaval.

O corso era o ponto alto da grande festa. As serpentinas eram tantas, que chegavam a travar as rodas dos carros, sendo necessário que as equipes de limpeza pública, munidas de gadanhos, s retirassem das ruas.

Famoso era o banho de Dona Dorotéia, um desfile de carros devidamente adaptados, apinhados de homens vestidos de mulher, principalmente sócios do Clube de Regatas Saldanha da Gama, organizador dos primeiros desfiles, depois incorporados ao programa oficial da Prefeitura, e sempre prestigiados por integrantes do comércio cafeeiro. Lembro-me do Jayme Rodrigues, de uma firma de café da Rua XV, durante muitos anos a "noiva", filha de Dona Dorotéia.

O cortejo saía da Ponta da Praia em direção ao Gonzaga e retornava até a frente do Saldanha, quando a rapaziada caía na água, muitos se jogando de um trampolim que não mais existe. As fantasias de papel crepom eram destruídas, ficando os participantes de maiô, num divertimento sadio e puro. Parece-me ver a paciência de nossa mãe, ao fazer as fantasias para meus irmãos e alguns amigos.

Durante muitos anos, essa folia carnavalesca foi acontecimento tradicional no carnaval santista, mas, com o tempo, se desvirtuou totalmente. Passou a ter cenas obscenas, num lamentável desrespeito à mulher, principalmente. Com o tempo, apresentou cenas de violência, sendo finalmente proibido.

Com a redução, quase extinção, de carros de capota reversível, o corso recrudesceu, até sua extinção na segunda metade do século XX. Os bailes carnavalescos, realizados na maioria dos clubes, persistiram por longo tempo, mas hoje são raros. Poucos clubes os promovem, resistindo às transformações da mais popular festa que já existiu.

Aos poucos, surgiram as escolas de samba, a partir dos anos 40, prestigiadas pelo povo que se aglomerava nas calçadas para assistir o alegre espetáculo oferecido em seus desfiles. Em razão de dificuldades econômicas, premidos pelas reclamações dos que residem na orla da praia, há alguns anos deixou de realizar-se o já tradicional desfile dessas escolas que, com muito sacrifício, mas também com muito entusiasmo, iam durante todo o ano se preparando para a grande festa do Rei Momo!

A violência que passou a imperar até mesmo nos festejos carnavalescos foi afastando o público. É evidente que os desfiles do carnaval santista não podiam ser comparados aos que ainda hoje são realizados em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde se encontra um maior poder econômico. Também na Bahia e em Pernambuco, o carnaval é muito festejado e prestigiado por milhares de turistas estrangeiros que confirmam a assertiva de que o brasileiro tem o samba nos pés.

O uso da serpentina e dos confetes foi diminuindo em razão do seu custo. O lança-perfume que era usado nas costas das pessoas, dando aquele friozinho gostoso, teve de ser abolido em razão de ser também desvirtuado. Hoje ele é considerado pernicioso como todas as drogas e só entra aqui como contrabando. Quando isso é percebido pela nossa fiscalização, é apreendido e destruído.

Às vezes até esquecemos que estamos vivendo o tríduo carnavalesco. Em alguns bairros nada se percebe que nos lembre o carnaval do passado.

Resta-nos apenas a saudade de uma diversão sadia que marcou a época, em que as famílias se confraternizavam em ambientes alegres, promovendo grandes e memoráveis festas.

E uma pergunta nos vem à mente, insiste em obter resposta: o povo reconhecerá um dia que esse tempo deve retornar e as tradições carnavalescas devem ser conservadas? Para isso, será necessária a reeducação do povo e a compreensão de que a violência, o despudor, o álcool e as drogas só nos prejudicam.

Quem sabe se um dia tudo voltará a ser como antes e uma nova aurora desponte para o nosso mundo. Para Deus, nada é impossível e já se disse uma vez que "Ele é brasileiro". Certamente um dia permitirá que as coisas boas do passado retornem, para nos devolver a felicidade e a alegria.

TEATRO COLISEU

Para alegria de quantos amam a cidade de Santos, parece que seu povo vem despertando para a necessidade de preservar tudo o que represente a sua memória. Muitas construções que marcaram uma época já foram sacrificadas para dar lugar a outras, em razão da escassez de terrenos e pela necessidade de dar continuidade à expansão imobiliária.

Principalmente agora, com a duplicação da Rodovia dos Imigrantes, facilitando sobremaneira as viagens para Santos, cresceu o número de pessoas que querem ter aqui um apartamento para seus fins-de-semana ou temporadas de férias escolares.

Felizmente, ainda restam alguns monumentos arquitetônicos que nos falam de um passado que deixou saudades. Atualmente, estamos à frente de um caso muito especial: a recuperação do Teatro Coliseu, que vem se arrastando há muitos anos. Sua inauguração já foi anunciada para várias datas, mas surgem novos obstáculos, impedindo que ela se realize. Nota-se a ansiedade que vem tomando conta de todos os santistas. Vê-lo novamente exercendo as funções para as quais foi criado é o desejo de todos que aqui vivem.

A história do Coliseu abrange várias fases. Ele se iniciou em 1896 com o nome de Companhia Santista. Naquele local foi construído um velódromo inaugurado em 1897, com uma exibição de ciclistas de várias cidades. Os responsáveis pela sua construção foram: José Luiz de Almeida Nogueira, Heitor Peixoto, Ricardo Travesso e Henrique Porchat de Assis.

Apesar de recebida com muitos aplausos, a iniciativa não teve grande duração. Em 1903, suas atividades foram encerradas. Logo depois, vem à nossa cidade um empresário do Rio de Janeiro, Francisco Serrador. Vendo o crescimento de Santos, decidiu dotá-la de uma casa de espetáculos, que realizasse os anseios de seus habitantes.

No dia 23 de julho de 1909, o teatro era inaugurado com um espetáculo beneficente, prestigiado por toda a sociedade, principalmente os admiradores da arte em todas as suas expressões. Rapidamente tornou-se popular, servindo de cenário para saraus, musicais e artísticos, e eventos variados que agradavam a todos.

Essa sua primeira fase também não foi muito longa. A Empresa Cine Teatral arrendou-o e depois de reformá-lo inteiramente, deu-lhe um aspecto mais requintado, e promoveu sua reinauguração aos 21 de junho de 1924, com um recital de gala, prestigiado pela sociedade entusiasmada com a nova fase dessa casa de espetáculos.

Essa transformação do Coliseu foi executada pela Companhia Cinematográfica Brasileira, que tinha como um de seus principais dirigentes o comendador Manoel Fins Freixo, um cidadão de grande projeção, admirado em toda a cidade. Tornou-se um dos melhores teatros do país, principalmente pela sua acústica perfeita.

Em seu palco apresentaram-se revistas musicais, operetas, peças de teatro, espetáculos que contavam com um grande platéia, tornando o local muito procurado para grandes festas sociais, formaturas, exposições e exibições cinematográficas. Ali se apresentaram renomados artistas sob os merecidos aplausos dos que ali compareciam, e passou a viver uma fase áurea de longa duração.

Lembro-me com nitidez da primeira vez que ali compareci. Foi em 1932, quando terminou a Revolução Constitucionalista de São Paulo. Acompanhei alguns dos meus irmãos que para lá se dirigiram para assistir a um comício que tinha como principal orador o dr. Ibrahim Nobre. Eu era pouco mais que uma criança, mas certamente amadurecida por ter acompanhado o sofrimento de minha família durante esse grande conflito. Fiquei extasiada com a oratória desse grande tribuno. Certamente foi uma das sementinhas de civismo plantadas no meu coração.

Como meu arquivo de lembranças é precioso! Já se passaram 73 anos desse acontecimento e parece-me ouvir ainda o eco dos aplausos do público que ali compareceu, lotando literalmente todo o espaço do teatro.

Na minha adolescência passei a freqüentar o Coliseu com meus familiares, para assistir às melhores companhias teatrais. Jamais esqueci uma apresentação da Companhia de Revistas de Portugal, que nos trouxe um pouco da beleza da pátria de meus avós.

Mais tarde, já casada, freqüentava assiduamente o Coliseu, assisti a óperas e operetas, por companhias nacionais e estrangeiras.

Que saudades dos grupos de teatro daquela época: Dulcina e Odilon, Conchita de Moraes, Palmerim Silva, Dercy Gonçalves, Tônia Carrero e Paulo Autran, Bibi Ferreira, Eva Todor, Cacilda Becker, Cleide Yaconis e muitos outros.

Jamais esqueci as peças "Deus Lhe Pague", por Procópio Ferreira, e "As Mãos de Eurídice", por Rodolfo Mayer.

Foi no Coliseu que conheci os famosos pianistas: Rubenstein, Guiomar Novaes, Yara Bernette, Magda Tagliaferro, Antonieta Rudge. Ali pude apreciar as grandes orquestras regidas por Vila Lobos, Eleazar de Carvalho, Souza Lima, Moacyr Serra e Leon Kaniewsky. Acredito que as paredes desse teatro guardam a vibração desses espetáculos musicais que tanto encantavam as grandes platéias.

Foi no Teatro Coliseu que, pela primeira vez, pude assistir a uma das maiores declamadoras do mundo, Margarida Lopes de Almeida.

Foi no palco do Coliseu que se projetaram os balés do saudoso Décio Stuart. Foi ali que surgiram grandes bailarinas de nossa cidade, como Gláucia Wagner e Lúcia Millás, extraordinárias coreógrafas, e Cecilia Botto de Barros, que faz brilhante carreira na Europa.

Mais uma vez, a saudosista que sou se faz presente!... Saudades das promoções da Comissão Municipal de Cultura e do Centro de Expansão Cultural. Este tem desafiado o tempo e graças ao dinamismo de sua presidente, Aura Botto de Barros, à sua persistência, ainda sobrevive.

O Coliseu encerra toda uma história de amor à arte. Em minha imaginação, vejo nítida a cortina de cetim, com franzidos verticais que, certamente, não resistiu à destruição causada pelo tempo e pelo descaso.

Ao final dos anos 60 começou a sua decadência. Perdeu o brilho de outrora, gloriosa e merecidamente conquistado. Durante os anos 80, seu estado de deterioração chegou ao auge, ocasião em que exibia apenas filmes de baixo nível, passando a ser mal freqüentado e cada vez mais prejudicado por atos de vandalismo de seus freqüentadores.

Na administração da prefeita Telma de Souza, o poder público acordou para a necessidade de salvar de um fim melancólico a tradicional casa de espetáculos. Tal qual uma valente guerreira, aquelas pareces pareciam resistir aos que a depredavam. Cada vez que por ali passava, vinham lágrimas aos meus olhos. O Coliseu não merecia desaparecer.

Ele tinha um passado de glórias que não podia ser destruído. Se assim fosse, o povo desta cidade sofreria muito. Telma de Souza iniciou um processo de desapropriação e assinou o decreto que tornava o altaneiro Coliseu um imóvel de utilidade pública. Na administração de David Capistrano houve a desapropriação e a família Freixo foi indenizada.

Mas o mais difícil estava por vir. A recuperação do imóvel, já muito danificado, sem condições de restabelecer toda a sua suntuosidade. Há mais de doze anos foi iniciada a sua reforma, custeada pelo governo do Estado, com verbas do DADE. Inúmeros obstáculos e imprevistos surgem constantemente e, muitas vezes, as obras foram paralisadas, tanto pelos problemas de ordem econômica, quanto os acusados pela firma que realiza sua reforma.

Mas quer me parecer que já se pode ver uma luz no fim do túnel... Falou-se de sua inauguração ainda neste ano, o que vem sendo aguardado com grande interesse. De minha parte, gostaria mesmo de apreciar, no inverno de minha vida, o retorno do grande teatro onde vivi momentos felizes na infância, na adolescência e na maturidade.

Mas nossas preocupações não se encerram com esse fato. É preciso que nossas autoridades encontrem a melhor maneira de gerenciar o nosso Coliseu. Com certeza, ele ressurgirá glorioso, para felicidade de nosso povo e alegria de todos que visitam nossa cidade. Boa sorte, querido Coliseu!

O corso de 1928

Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP