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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [45-B]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 938 a 939, referentes ao Estado (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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Fachada da fábrica dos srs. Amorim Costa & Cia., em Olinda
Foto publicada com o texto, página 940. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Pernambuco (cont.)

A capital

Na Capitania de Pernambuco, doada por el-rei d. João III a Duarte Coelho Pereira, por carta régia de 10 de abril de 1534, fundou o donatário em 1535 o seu primeiro estabelecimento, em Olinda. Pouco a pouco, porém, o comércio da capitania se foi fixando no sítio onde hoje se ergue o Recife, e a nova povoação em breve obtinha posição superior a Olinda, da qual se separou quando foi feita vila, em princípios do século XVIII.

Foi isto que deu origem à famosa guerra dos Mascates, nome por que eram conhecidos os moradores do Recife, em geral portugueses e negociantes. Hoje, Olinda está inteiramente decaída e não passa dum subúrbio da capital pernambucana.

Em 1595, sofreu a povoação do Recife o ataque do corsário inglês James de Lancaster, que se apoderou da povoação e dai levou despojos valiosíssimos. De 1630  1654, esteve  cidade, como uma grande parte do Norte do Brasil, em poder dos holandeses, que fizeram do Recife a sua capital; e com a hábil e enérgica administração do príncipe Maurício de Nassau, deu o Recife os primeiros passos na senda do progresso e desenvolvimento.

De então para cá, quer durante o Império, como capital da província, quer da República, como capital do estado de Pernambuco, não mais se afastou a cidade desse caminho, que por certo a há de levar à situação proeminente a que tem direito.

A 8º de latitude Sul, situada para dentro duma linha de recifes, que lhe deram o nome, e que deixam entre si e a costa uma faixa de oceano de 500 pés apenas de largura, mas com algumas milhas de extensão e profundidade, constituindo um soberbo porto natural; ponto inicial das linhas da Great Western, que põem a capital em comunicação rápida com o interior de Pernambuco e com os estados vizinhos; escala das grandes linhas de navegação nacionais e estrangeiras, constitui a cidade do Recife um centro de real importância no intercâmbio mundial.

E, com os trabalhos de melhoramento do porto, ora em andamento; com as obras anexas de abertura de grandes avenidas, que, a partir da Lingueta, se dirigem para o centro da cidade; com o seu comércio crescente e florescente indústria, vai o Recife caminhar ainda mais rapidamente para o futuro brilhante, que lhe está destinado.

A Veneza Brasileira, nome que o Recife deve aos canais que dividem a cidade, e são atravessados por belas pontes, goza dum clima salubre, embora quente, e é ventilada pela brisa do oceano, que lhe chega do alto-mar. A sua população, ativa e laboriosa, atinge a cerca de 200.000 habitantes.

A cidade é uma das mais atraentes do Novo Mundo e compreende quatro partes distintas, sendo Recife o nome especialmente dado à parte mais comercial da cidade, separada das outras três por canais formados pelos rios Beberibe e Capiberibe, que também dividem os distritos de Santo Antonio e São José, situados na Ilha de Antonio Vaz, do quarteirão da Boa Vista, no continente.

Estes diferentes distritos são ligados entre si por pontes bem lançadas, que dão ao Recife um aspecto único no Brasil. Na Lingueta, como é chamada a parte da cidade fronteira ao porto, fica o centro de atividade comercial. Aí se acham os bancos, as casas comerciais importantes, com seus depósitos e trapiches. No distrito de Santo Antonio, antiga cidade Mauricia, fica o palácio do governador, situado no meio dum grande parque, precisamente no local ocupado, durante o domínio holandês, pelo palácio do príncipe Maurício de Nassau.

A pouca distância, ficam a Câmara Municipal, o teatro, o Instituto Arqueológico e Geográfico, a Escola Normal, o Liceu, a Casa da Misericórdia e várias igrejas, rodeando estes edifícios o formoso jardim do Campo das Princesas e a Praça D. Pedro II. No Distrito de São José, ficam as secretarias do estado, estações de estradas de ferro, mercado público e diversos colégios, hospitais e silos.

O serviço de viação urbana é feito por bondes a tração animal; mas passará, brevemente, a sê-lo por tração elétrica. Há também uma estrada de ferro, que percorre as ruas da cidade em direção aos subúrbios e vai até Olinda, encantadoramente colocada e cheia de recordações do período holandês. O Recife possui um boa iluminação a gás e luz elétrica; e dispõe dum bom serviço de abastecimento de água e duma completa rede de esgotos. Possui ótimas comunicações telegráficas, tendo, além das linhas terrestres e cabos submarinos, uma ótima estação de telegrafia sem fio situada próximo a Olinda. As ruas do Recife são largas e bem calçadas, a sua higiene bem cuidada e muito razoável a arquitetura dos seus edifícios.

Vão adiantadas as obras do porto e o serviço do saneamento da cidade. Novas avenidas estão sendo rasgadas; as construções já estão obedecendo às mais rigorosas regras da higiene e da arquitetura moderna. Notáveis edifícios públicos e particulares estão em começo, uns, e planejados, outros. Novas e importantes pontes acham-se em construção. Os estudos para o estabelecimento da iluminação elétrica em toda a cidade vão bastante adiantados. A esses, seguir-se-ão outros melhoramentos de grande importância e alcance, os quais já se acham criteriosamente estudados pelo competentíssimo prefeito, dr. Eudoro Corrêa, engenheiro militar.

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Seção dos perfuradores da fábrica de botões dos srs. Petit & Cia.
Foto publicada com o texto, página 940. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Dos estabelecimentos de ensino superior, o mais importante é a Faculdade de Direito; e há também uma Escola de Engenharia. A Faculdade de Direito do Recife, que goza de grande nomeada no Brasil, e de onde têm saído jurisconsultos famosos, está hoje instalada em magnífico edifício de construção recente, situado no centro dum praça.

O ensino secundário é ministrado pelo Ginásio, Escola Comercial e Escola Normal do Estado e em várias instituições particulares; e o ensino primário, em numerosas escolas estaduais, municipais e particulares. Para o ensino técnico, existe o Liceu de Artes e Ofícios, moldado nas linhas dos estabelecimentos congêneres dos outros grandes centros do Brasil. O museu a a biblioteca do Liceu contêm valiosas coleções.

O Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco é uma instituição sábia, que tem prestado relevantes serviços à organização da história do estado e possui uma biblioteca com 5.000 volumes. Entre as bibliotecas do estado, a maior é a do Recife, que contém 40.000 volumes, havendo inda na cidade as bibliotecas especiais do Gabinete Português de Leitura e da Faculdade de Direito, cada uma com cerca de 20.000 volumes.

São numerosas as instituições de caridade da capital pernambucana. A principal é a Santa Casa da Misericórdia, que há meio século tem prestado relevantes serviços à cidade. Estado eminentemente produtor de açúcar e algodão, entre outros produtos, tem Pernambuco um ativo comércio e indústria que se concentram na sua capital, cujo porto constitui o ponto único de saída para os produtos do interior.

As casas comerciais do Recife fazem também grande comércio de importação, e os retalhistas, nos vários ramos de atividade comercial, têm sempre grande e variado estoque, como o indicam os mostruários que se vêem nas vitrinas das lojas. A indústria principal é a de tecidos de algodão, que apresenta já importante desenvolvimento.

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Fábrica dos srs. Cardoso Tavares & Cia., no Recife
Foto publicada com o texto, página 941. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Organização municipal

O município do Recife, como os demais, possui os seus órgãos - Legislativo, Executivo e Judiciário - que gozam de autonomia, dentro dos limites traçados pela Constituição do estado e leis orgânicas.

O Poder Legislativo é exercido por um Conselho Municipal, composto de 15 membros (conselheiros) eleitos pelo povo, durando o mandato três anos. O Conselho elege sua Mesa (presidente, vice-presidente e dois secretários) e reúne-se em sessões cinco vezes por ano. A abertura é feita pelo prefeito, que lê uma exposição dos fatos mais notáveis ocorridos no intervalo da última sessão. Instalado, trabalha 15 dias, podendo, porém, ser prorrogado o prazo das sessões. As resoluções do Conselho aprovadas em duas discussões são remetidas ao prefeito, para as publicar ou vetar. Nesta hipótese, elas voltam ao Conselho com as razões de não publicação, e o Conselho, ou manda publicar, se assim o entender, por dois terços de votos, ou se conforma com a não publicação.

Das deliberações do Conselho Municipal pode o Ministério Público, ou qualquer cidadão, recorrer para o Poder Legislativo do Estado, sendo, no intervalo das sessões do Congresso, resolvido o caso pelo governador do estado, que oportunamente submeterá a sua decisão ao conhecimento do mesmo Congresso.

Ao Conselho Municipal incumbe: decretar a receita e a despesa do município; deliberar sobre operações de crédito, locação, aforamento e alienação dos bens, mediante concorrência, devendo estes três casos ser submetidos à aprovação do governador do estado; prover acerca de administração dos bens; autorizar  execução de obras e serviços municipais; conceder privilégios para obras e serviços que exijam grandes capitais, dependendo da aprovação do Congresso; decretar desapropriação por necessidade ou utilidade pública; fomentar o desenvolvimento da lavoura, artes e indústrias; criar e suprimir os empregos municipais; criar escolas de ensino primário ou profissional, museus, bibliotecas etc., e auxiliar os estabelecimentos de ensino.

Compete ainda aos Conselhos deliberar sobre construções, reconstruções, reparos, demolições, viação pública, aferição de pesos e medidas, matadouros, mercados, localização de estabelecimentos, fábricas e depósitos de inflamáveis, fiscalização de gêneros alimentícios, jogo, espetáculos e divertimentos públicos, caça e pesca, veículos e meios de transporte, serviço de telefones, cemitérios, conservação das matas, organização de exposições de produtos agrícolas e industriais, higiene do município, fundação de hospitais, asilos, maternidades etc.

A receita do município é constituída pela renda do seu domínio patrimonial e industrial, emolumentos, multas e taxas com consignação especial a certos serviços, impostos de licença de porta aberta, localização de comerciantes nos mercados, feiras e ruas, licenças para construção, reconstrução, reparos, divertimentos públicos, taxas de publicidade e viação, taxas de mercados, matadouros e cemitérios e impostos sobre propriedades rurais.

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A fábrica de Neesen & Cia.
Foto publicada com o texto, página 942. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

O Poder Executivo é exercido pelo prefeito, que é chefe do mesmo poder e nomeia todos os funcionários e empregados municipais (exceto os da Secretaria do Conselho Municipal). O prefeito é substituído, nos seus impedimentos, pelo sub-prefeito. O prefeito e o sub-prefeito são, no município da capital, nomeados pelo governador do estado, e servem pelo tempo de 4 anos. O ato do governador é submetido à aprovação do Congresso do Estado. O prefeito tem um secretário e um oficial de gabinete ou secretário particular.

Exerce atualmente as altas funções de prefeito o dr. Eudoro Corrêa, formado em Ciências Físicas e Matemáticas, engenheiro militar, oficial classificado da arma de artilharia. É secretário da prefeitura o dr. João Pacifico Ferreira dos Santos, antigo magistrado e advogado, e oficial de gabinete o dr. Virginio Carneiro Campello, formado em Direito.

Os serviços municipais são distribuídos em quatro grandes departamentos: Secretaria (expediente, polícia administrativa, higiene, arquivos e estatísticas); diretorias da Contabilidade Pública, das Obras Públicas e da Instrução Pública. São diretores; da Instrução Pública, o dr. José Agrippino Regueiro Costa; das Obras Públicas, o engenheiro civil Urbano de Albuquerque Borba; e da Contabilidade Pública, o dr. Joaquim da Fonseca Nunes de Oliveira.

A Diretoria de Contabilidade compreende as seções da Receita, da Despesa, do Patrimônio, do Contencioso, da Tesouraria e da Escrituração Geral. A Seção da Escrituração fica a cargo de um guarda-livros de comprovada habilitação, o qual é encarregado, em comissão, de dirigir o serviço. Esta comissão é exercida pelo guarda-livros major João Pacheco de Medeiros.

O tesoureiro é nomeado pelo Conselho Municipal, exercendo porém as suas funções na Diretoria de Contabilidade, da qual também faz parte. O tesoureiro municipal é o dr. Pedro da Cunha Cavalcanti e o fiel do mesmo tesoureiro o dr. Lydio A. Gomes da Silva.

O Poder Judiciário municipal tem, como órgãos, dois juízes de distrito, por dividir-se o município em duas circunscrições. Os juízes de distrito têm competência, no cível, para processar e julgar pequenas causas, com recurso para as autoridades judiciárias estaduais (juízes de Direito). Atualmente não têm mais jurisdição no foro criminal.

Há 8 escrivães distritais, que servem com os respectivos juízes, nas causas de sua alçada, e são oficiais de registro de nascimento e óbitos, tendo funções de notário fora da cidade. Se bem que, nos municípios do interior, os juízes distritais também presidam a casamentos, na capital o estado tem, para isso, um juiz especial, havendo dois escrivães.

Para os efeitos fiscais, o município se divide em 14 distritos: Recife-S. Antonio, 1º e 2º da Boa Vista, 1º e 2º de S. José, 1º e 2º da Graça, Afogados, Magdalena, Torre, Peres, Poço e Várzea.

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Os depósitos de J. Clemente Levy & Filhos
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Finanças

London and brazilian Bank, Limited - Um dos mais antigos e dos que maior movimento fazem, entre os bancos estrangeiros no Recife, é a filial do London & Brazilian Bank Ltd. As suas operações mensais representam um giro superior a Rs. 30.000:000$000 e como se vê do balancete seguinte, referente ao movimento no mês de fevereiro de 1912, o seu maior negócio é feito sobre descontos:

Ativo

Letras descontadas 3.211:420$630
Letras a receber 8.733:762$140
Caixa Matriz e Filiais 5.659:230$260
Empréstimos, contas-correntes e outras 2.117:513$620
Garantias por contas caucionadas etc. 3.559:272$390
Valores depositados por conta de terceiros 5.737:301$560
Diversas contas 619:544$950
Caixa em moeda corrente          1.492:349$510
  Rs. 31.130:395$060

Passivo

Depósito:  
Em conta corrente sem juros 3.123:259$830
Em conta corrente com juros e com prévio aviso 904:050$380
A prazo fixo 2.879:547$370
  6.906:857$580
Caixa Matriz e Filiais 1.540:577$940
Valores caucionados e em depósito 9.296:573$950
Diversas contas 13.381:346$830
Letras a pagar                5:038$760
  Rs. 31.130:395$060

Até aqui, funcionava a sede desta caixa filial num edifício modesto: atualmente, porém, já se acha em construção, para tal fim, um magnífico edifício, situado na nova Avenida do Recife, edifício este que ficará pronto em março de 1913.

A caixa filial conta 25 empregados, dos quais 17 são ingleses. O gerente é o sr. H. Percy Caley, que ocupa este cargo desde abril de 1911. Anteriormente, esteve o sr. Caley, durante 19 anos, na sucursal que o mesmo banco tem no Pará, onde foi guarda-livros durante cinco anos e gerente por 14 anos. O sr. Caley esteve também em Londres, Bahia, Santos e São Paulo, sempre ao serviço do London & Brazilian Bank. O guarda-livros é o sr. W. T. Jack.

London and River Plate Bank, Limited - O London & River Plate Bank Ltd. começou a operar em Pernambuco em 1894 e desde então tem desempenhado importante papel no movimento financeiro do estado. O capital atual do banco é de £4.000.000, das quais foram realizadas £1.800.000; o fundo de reserva é de £2.000.000. A caixa filial no Recife opera principalmente em descontos de letras e sobre os artigos de exportação, tais como açúcar, algodão, milho, cereais etc.

O balancete seguinte, referente ao mês de fevereiro de 1912, dá bem a medida das operações que o estabelecimento executa mensalmente:

Ativo

Letras descontadas 4.832:393$800
Letras a receber 6.950:381$250
Empréstimos, contas caucionadas etc. 1.861:238$970
Diversas contas 217:194$370
Caixa Matriz, Filiais e Agências 1.265:916$200
Penhores de empréstimos, contas caucionadas e títulos em depósito 5.428:296$520
Caixa em moeda corrente     2.065:403$830

Rs.

22.620:824$940

Passivo

Capital declarado da Caixa Filial 500:000$000
Depósitos a prazo fixo e com aviso 2.323:181$490
Contas correntes sem juros e com juros, e prévio aviso 6.016:208$670
Diversas contas 7.120:220$740
Títulos em caução e em depósito 5.428:296$520
Caixa Matriz, Filiais e Agências     1.232:917$520

Rs.

22.620:824$940

A gerência da filial no Recife está entregue ao sr. Henry R. Shorto, que tem longa experiência de negócios bancários. Começou a sua carreira no escritório que em Londres tem o London & Brazilian Bank Ltd., indo em seguida para Lisboa. Em 1895, foi para a filial que em Pernambuco tem o London & Brazilian Bank, e mais tarde tornou-se gerente do Banco de Pernambuco no Recife e também depois no Maranhão. Foi nomeado gerente do London & River Plate Bank Ltd., em 1905. O sr. Shorto foi já, durante dois anos, diretor da Associação Comercial. O guarda-livros e gerente interino da filial é o sr. H. C. Smallpeice.

Banco do Recife - O Banco do Recife foi fundado a 6 de junho de 1900, com o capital de Rs. 2.000:000$000, dividido em 10.000 ações de Rs. 200$000 cada uma. No ano financeiro que terminou a 31 de agosto de 1911, o balanço do banco acusava uma receita de Rs. 757:316$000 contra uma despesa de Rs. 605:255$000, deixando, portanto, um saldo líquido de Rs. 152:061$000, que foi distribuído do seguinte modo: dividendo, Rs. 80:000$000; fundo de reserva, Rs. 40:000$000; fundo de depreciação, Rs. 1:482$000; lucros suspensos, Rs. 30:578$000; fundo de reserva, Rs. 370:000$000.

O Banco do Recife possui correspondentes em Londres, Paris, Hamburgo, Berlim, Viena, Milão, Lisboa, Porto e em todas as capitais e cidades mais importantes da União. Os seus diretores são os srs. comendador José Maria d'Andrade, presidente; coronel Alvaro Pinto Alves, vice-presidente; Joaquim Lima do morim, secretário, e F. A. Pacheco. O sr. M. G. S. Pinto é o gerente, e o guarda-livros é o sr. H.A. Ledebour. O gerente, sr. Pinto, é natural de Pernambuco, e incorporou este banco, em 1900, como corretor oficial. Entrando mais tarde para este banco, foi sub-gerente durante cinco anos antes de lhe ser confiada a gerência.

Suburban Railway - As comunicações por linhas de tramways entre o Recife e seus principais subúrbios são feitas pela Companhia Trilhos Urbanos do Recife a Olinda e Beberibe. A concessão inicial para esta empresa foi dada a um grupo de capitalistas locais, mais ou menos em 1860, e terminada ela, em 1891, foi a empresa continuada pela presente companhia.

A maior parte das ações são propriedade dos dois sócios da firma Mendes Lima & Cia., e do sr. T. A. Comber. O capital inicial da companhia, Rs. 500:000$000, foi elevado a Rs. 1.000:000$000, aumento esse justificado pela sua grande prosperidade. É pequeno o volume de mercadorias transportado por estas linhas, cuja renda provém principalmente do tráfego de passageiros. Calcula-se que as linhas da companhia transportem anualmente 1.000.000 de passageiros de primeira classe e 2.500.000 passageiros de segunda classe.

Pelo balanço da companhia em 1911, e verifica que, nesse ano, a sua renda subiu a Rs. 600:101$880, ou mais Rs. 72:713$820 que no ano anterior. A despesa tinha também aumentado para Rs. 430:009$960; entretanto, retiradas as diferentes parcelas para fundo de reserva, fundo de depreciação etc., foi ainda distribuído um dividendo de 10%.

As linhas têm a extensão total de 13.464 metros, a saber: 8.820 metros do Recife a Olinda e 4.644 metros da Encruzilhada a Beberibe. A bitola é de 52 polegadas. A linha foi assente por profissionais brasileiros. Existem 14 locomotivas, em sua maioria de fabricação inglesa, e 74 carros, 32 de primeira classe e 42 de segunda.

No projeto para a eletrificação dos tramways na cidade do Recife, está incluída a área servida por esta companhia, e espera-se que sejam adotadas medidas para reformar e melhorar as comunicações com os subúrbios.

Os diretores da companhia são: presidente, coronel Bento José da Silva Magalhães; tesoureiro, sr. Thomas Andrew Comber; secretário, sr. Joaquim Lima do Amorim; gerente, sr. Benjmin H. Tuckniss. Até há uns três nos passados, desempenhava o atual presidente da companhia o cargo de gerente, posto este hoje a cargo do sr. B. H. Tuckniss, que trabalhou durante 25 anos com a Great Western of Brazil Railway. O sr. Comber é filho dd conhecido negociante e capitalista inglês, hoje falecido. O sr. Joaquim Lima do Amorim é sócio da firma Mendes Lima & Cia.

Empresa do Gás - A iluminação pública e particular do Recife é feita a gás, de acordo com uma concessão outorgada, em 1887, pelo prazo de 35 anos, aos srs. Fielden Bros., de Manchester. Para a iluminação das ruas, são empregados 3.500 bicos; a iluminação particular conta mais de 4.000 consumidores.

A fábrica do gás fica situada à Rua de São João, e aí existem dois gasômetros com capacidade para 300.000 pés cúbicos de gás. A firma importa diretamente o carvão de pedra de que necessita para o seu consumo, que vai de 6.000 a 7.000 toneladas anualmente.

O escritório de administração fica à Rua 15 de Novembro, e aí se encontra também um variado sortimento de artigos e acessórios para iluminação. Atualmente, possui a empresa a concessão para a iluminação elétrica duma pequena área da cidade. O gerente da firma é o sr. J. F. Mackintosh, que reside no Brasil há perto de 40 ano. O sr. Mackintosh é natural de Banffshire, Escócia, e irmão do dr. Ashley Mckintosh, de Aberdeen.

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