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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [41-J]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 864 a 871, referentes ao Estado (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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Sociedade Industrial e Pastoril, Sant'Anna do Livramento: 1) Vista geral do saladero; 2) Outra vista; 3) A fábrica de sabão; 4) Instalação
Foto publicada com o texto, página 863. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Rio Grande do Sul (cont.)

Sant'Ana do Livramento

O município de Sant'Anna do Livramento fica situado na fronteira meridional do estado, e compreende uma área de cerca de 4.552 km², com uma população de 15.000 habitantes, aproximadamente, dos quais mais de metade na cidade de Sant'Ana.

A maior parte do território do município é apropriada à pastorícia, sendo por isso a criação de gado a sua principal indústria - embora esta não esteja ainda tão adiantada quanto é de esperar de futuro, quando forem completamente abandonados os velhos processos ainda usados por muitos criadores.

O município é também rico em terras próprias para o cultivo de cereais, assim como se encontram nele algumas ricas jazidas de carvão e de ferro. Das indústrias manufatureiras, as mais desenvolvidas são as que se relacionam com a criação de gado, existindo em Sant'Ana diversas charqueadas, onde se prepara a carne seca, ao mesmo tempo que conservas de línguas, banha, velas, sabão etc.

Com os trabalhos ultimamente realizados pela Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer du Brésil, Sant'Ana do Livramento é o ponto de entroncamento do sistema ferroviário do Brasil com o do Uruguai - o que a põe em comunicação com todo o estado, bem como com todo o Norte do país.

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Filial do Banco da Província do Rio Grande do Sul, Sant'Anna do Livramento
Foto publicada com o texto, página 866. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Banco da Província do Rio Grande do Sul - A filial deste banco em Livramento foi instalada em 3 de novembro de 1910 sob a gerência do sr. Daniel de Mendonça. Ocupa um belo edifício próprio, de estilo Renascença. Opera com todas as praças do Brasil, capitais e principais cidades estrangeiras. Esta filial tem concorrido extraordinariamente para o progresso da indústria pastoril e pecuária, operando largamente com esses elementos. É o banco das importantes charqueadas do município e de outras localidades do estado.

Noutra seção desta obra damos desenvolvidas informações sobre o Banco da Província do Rio Grande do Sul.

Banco Pelotense - A caixa filial deste estabelecimento bancário em Sant'Ana do Livramento foi aberta em 16 de maio de 1910. Sobre o Banco Pelotense, publicamos detalhadas informações na seção respectiva desta obra.

A filial em Sant'Ana faz toda a sorte de operações bancárias; emite vales-ouro, para pagamento de direitos em todas as Alfândegas do estado, e tem uma seção de contas-correntes, para pequenos depósitos.

Do seu pessoal, destacam-se os srs. Angelo Correia de Mello, gerente; Luciano Cunha, contador; Manoel Correia de Mello, tesoureiro; e Herculano Carvalho, guarda-livros.

Sociedade Industrial Pastoril – A charqueada desta importante sociedade fica situada no Passo da Carolina, a 4½ quilômetros do Livramento. A Industrial Pastoril, sociedade anônima, foi constituída a 5 de agosto de 1907, com o capital de Rs. 640:000$000.

A sua atual diretoria se compõe dos srs. Luiz J. Superville,presidente; Ozorio Silveira, vice-presidente; N. Garsou, secretário; José A. Nicolich, diretor-gerente. O diretor e administrador da charqueada é o sr. Antonio Guerra. Em abril de 1908 efetuou-se na charqueada a primeira matança, a qual foi de 19.000 reses; em 1908-1909, foi a matança de 61.023; em 1909-1910, de 59.098; e em 1910-1911, e 62.622 reses.

Os edifícios do estabelecimento obedecem a todas as regras exigidas para esse fim. A graxeira é de pinho americano e tem 51 metros de comprimento por 31 de largura, 6½ de altura nas extremidades do telhado e 11½ ao centro do edifício. O galpão da praia é também de pinho americano e mede 4 m por 29 m por 9½; o galpão de salgar e ressalgar mede 57 m por 32 m por 9½ m. O galpão dos couros é maior que os precedentes e idêntico em construção e material empregado. A área total ocupada pelos galpões e fábricas de sabão é de 11.000 metros quadrados, sendo a área da charqueada de 90 hectares e a dos campos de pastoreio de 450 hectares.

A população da charqueada é de 400 pessoas, as quais dispõem duma horta, para o suprimento de verduras e legumes. A água para os trabalhos é fornecida por um açude, com a capacidade de 3.000 metros cúbicos, e é puxada por bombas a vapor para dois grandes depósitos de ferro. A iluminação de todas as seções é feita por luz elétrica, produzida no estabelecimento. Os maquinismos são modernos e completos. O terreno da charqueada é todo cercado com arame, sendo os postes de madeira de lei. No galpão de tanoaria, armam-se os tonéis, que são importados da Itália em número de 4.000, anualmente, e destinados à exportação de sebo para a América do Norte.

A fábrica de sabão ocupa um espaçoso edifício e está montada com os maquinismos mais modernos para a fabricação daquele produto, que é preparado em três tipos, com as marcas Vapor, Pará e Commum. A fábrica exporta para diversos estados, principalmente Mato Grosso e Pará.

Toda a madeira para as caixas de sabão é proveniente de Carazinho, no Passo Fundo, donde vem já cortada na medida requerida. Próximo à fábrica de sabão, ficará a fábrica de velas, cuja construção a Sociedade Industrial e Pastoril vai em breve iniciar. Até a presente data, já a sociedade pagou aos governos federal, estadual e municipal Rs. 1.076:000$000 em impostos e direitos, excluídos os direitos pagos aos outros municípios onde o gado foi comprado.

Charqueada Sant'Anna - Esta charqueada, propriedade do srs. Pedro Irigoyen e Francisco Anaya, ocupa uma área de 6 quadras de sesmaria e fica situada à margem do arroio Carolina, nos subúrbios de Sant'Ana do Livramento. A povoação da charqueada é superior a 900 habitantes, distribuídos por 150 casas, e abrange uma fábrica para o preparo de línguas enlatadas, uma fábrica de sabão, uma fábrica de velas de estearina e diversas casas de negócio, além de colégio, consultório etc.

Nas fábricas de velas e sabão, o maquinismo é todo ele moderno e foi fornecido pelo fabricante Morane Ainé, de Paris. As velas ali fabricadas, de pressão dupla e simples, são exportadas para os estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso e vendidas também por todo o Rio Grande do Sul. A produção desta fábrica é de 14.000 a 15.000 velas diariamente.

A fábrica de sabão exporta principalmente para o Norte, para onde remete mensalmente de 140.000 a 150.000 quilos de sabão; as marcas mais procuradas são as seguintes: Progresso, Vapor, Especial e Comum. As caixas para o acondicionamento das velas e do sabão são, por enquanto, importadas, em madeira já aparelhada, do Carazinho, mas em breve ficará montada a serraria, que importará somente a madeira em bruto e fabricará as caixas.

O estabelecimento compreende ainda uma grande floresta de eucaliptos, que cobre uma área de 50 hectares e próximo à qual ficará a nova vila projetada para moradia do pessoal operário. Os edifícios da charqueada cobrem uma área de 12.762 metros quadrados. A praia tem capacidade para 250 cabeças, trabalhando-se com uma média de 90 cabeças por hora.

A carne, depois de dividida, vai para os 13 tanques de salgação em salmoura a quente, sistema de que os srs. Anaya & Irigoyen têm o privilégio. Dos tanques, passa a carne para os esfriadores, sendo novamente salgada, agora pelo sal sólido, e em seguida vai para as varas, onde seca ao sol e ao ar. A matança em 1911 foi de 70.500 cabeças. Dispõe a charqueada de numerosos e extensos galpões para os seus diversos serviços. Na tanoaria são armadas as pipas importadas da Europa para o acondicionamento do sebo. A água é fornecida às diversas dependências por meio de sete poços artesianos.

O charque do estabelecimento é exportado para Santos, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Pará e Amazonas. Os bens imóveis da charqueada são avaliados em Rs. 1.000:000$000 e as máquinas em Rs. 600:000$000. A charqueada dispõe dum serviço completo de telefones entre as suas diversas seções e fábricas.

A direção do estabelecimento está confiada ao sócio sr. Pedro Irigoyen; e é diretor do escritório de vendas em Montevidéu o sócio sr. Francisco Anaya. No Livramento, estão os interesses da empresa a cargo do sr. Manoel Gomes Cabello. A charqueada tem capacidade para abater 1.200 cabeças diariamente.

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Cia. Progresso Uruguai-Brasil, Sant'Anna do Livramento: 1) Vista geral do saladero São Paulo; 2) Vista de frente do saladero; 3) A seção de carne seca
Foto publicada com o texto, página 865. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Companhia Progresso Uruguai-Brasil - A charqueada São Paulo, propriedade desta companhia, fica situada no Rincão do Casqueiro e foi fundada, em 1910, por um grupo de capitalistas brasileiros e uruguaios, com o capital de Rs. 600:000$000. A charqueada São Paulo foi construída com todas as regras exigidas para estes estabelecimentos, e o maquinismo empregado nas diversas seções foi construído em Montevidéu.

O edifício principal é todo de pedra e sustentado interiormente por colunas de ferro; este e os outros edifícios ocupam uma área total de 3.000 metros quadrados e custaram Rs. 300:000$000. Os maquinismos representam um valor de Rs. 100:000$000.

Os campos da charqueada São Paulo têm quatro quadras de sesmaria; na tanoaria estão em armação 2.500 pipas importadas. A charqueada tem vários galpões; o galpão da praia é todo cimentado e à pequena distância ficam os varais de esfriação e o grande depósito de sal; em outro galpão, chamado o Galpão Grande, ficam 8 graxeiras com capacidade para 80 novilhos cada uma, às quais duas grandes caldeiras fornecem vapor suficiente para aqueles aparelhos.

À pequena distância dessas seções, ficam o escritório da charqueada e a residência do gerente, sr. Blas Arguimbau, que, com toda a dedicação, acompanhou a construção da charqueada em seus menores detalhes. A balança para a pesagem dos animais tem capacidade para 12 toneladas. Como em todos os saladeros de Sant'Anna, os animais para a matança são puxados à máquina até ao alcance do desnucador.

Todas as seções e dependências da charqueada são amplamente iluminadas à luz elétrica. A água é fornecida em abundância por um açude, donde é puxada por bombas e levada às diversas seções por meio duma rede de encanamentos. A um quilômetro de distância, aproximadamente, fica uma grande quinta da charqueada, onde moram a maior parte dos empregados do saladero, que são atualmente em número de 150.

A exemplo da dos srs. Inaya & Irigoyen, a charqueada São Paulo terá também os seus bosques de eucaliptos, havendo já plantadas 10.000 mudas. A companhia vai iniciar, no próximo ano, a construção dos edifícios para as fábricas de sabão e de velas, cujos maquinismos foram já encomendados na Europa.

A charqueada São Paulo dispõe de três grandes mangueiras de pedra, construídas a capricho, sendo duas delas calçadas a pedra e tendo, respectivamente, capacidade para 400 animais, 1.200 a 1.500. Para as duas primeiras, o acesso é dado por uma manga de pedra de 240 metros de extensão.

Saladero Itaquy - O saladero Itaquy, pertencente ao sr. G. C. Dickinson, fica situado na Estação Charqueada, Estrada de Ferro R. G. S. Foi inaugurado a 20 de março de 1910. Entre esta data e 30 de junho do mesmo ano, quando terminou a safra, foram abatidas nada menos de 48.000 reses. Na safra de 1911 foi a matança de 778.000 cabeças, e é provável que este número seja excedido na safra de 1912.

A safra dura, em regra, os primeiros seis meses do ano, devido ao gado emagrecer durante o inverno, tornando-se necessário esperar pela primavera, em que as suas condições são as mais favoráveis. A matança diária durante a safra é de cerca de 700 cabeças, conquanto em alguns dias atinja a 1.180. O aparelhamento da charqueada é naturalmente o mais completo e moderno possível, o que faz com que o seu funcionamento e produção sejam de primeira ordem.

A charqueada é, de fato, uma das mais importantes do estado e representa um capital empregado de mais de £75.000. Além de preparar carne seca, sebo e banha, exportados para o mercados do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco e para diversas cidades do interior do estado, a charqueada embarca para a Europa e Estados Unidos outros produtos, tais como couros salgados, línguas em conserva, crinas, ossos, cinzas, chifres etc. Os preços médios das reses que, em 1910, eram de £4.10.0 para os bois e £2.15.0 para as vacas, subiram, em 1911, a £5.0.0 e £3.0.0 respectivamente, e em 1912 a £5.15.0 e £3.10.0, com probabilidades de assim se manterem durante todo o ano.

Os produtos da charqueada são expedidos, em parte, por intermédio da Brazil Great Southern Railway, em combinação com a Uruguay Northern Western para o Salto, e em parte por intermédio da Argentina North Eastern de Alvear para Concordia. Salto e Concordia ficam fronteiras uma à outra nas margens do Rio Uruguai, e daí são os produtos enviados, por via fluvial, principalmente para Buenos Aires e às vezes para Montevidéu, para serem transbordados para os transatlânticos.

O sr. G. C. Dickinson, de Buenos Aires, começou a comprar terras no Rio Grande em 1904 e possui hoje 35.000 hectares de campos, o que corresponde a 86.500 acres ingleses. Tem, além disto, atualmente, cerca de 28.000 hectares arrendados. Nestes 139.000 acres, tem ele um estoque de 34.000 cabeças de gado vacum, sendo os reprodutores das raças Durham, Hereford e Polled Angus; 30.000 carneiros cruzados com as raças Romney Marsh e Blackface, e 3.000 cavalos, éguas etc. Esse estoque pode ser avaliado em £150.000 e os campos em £2.15.0 por acre.

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Saladero dos srs. Anaya & Irigoyen, em Sant'Anna do Livramento: 1) Onde se salgam os couros; 2) Vista geral do saladero; 3) O terreiro para secagem; 4) Curral do matadouro
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Uruguaiana

O município de Uruguaiana, situado na parte Sudoeste do estado, confronta, ao Norte, com o município de Itaqui; a Leste, com o de Alegrete e o de Quaraí; ao Sul, com a República Oriental do Uruguai; e a Oeste com a República Argentina. A sua área é de 4.044 quilômetros quadrados e a sua população de cerca de 35.000 habitantes, dos quais 15.000 na cidade de Uruguaiana, sede do município. É atravessado pela estrada de ferro Brazil Great Southern e banhado pelo Rio Uruguai e seus afluentes.

A indústria pastoril é a mais importante do município, o qual oferece, em toda a sua extensão, magníficos campos e pastagens. Hoje em dia possui o município bons tipos de raça bovina e lanígera, tais como Hereford, Durham etc., contando-se atualmente, dentro dos limites do município, perto de 300.000 cabeças de gado vacum, 250.000 de gado lanígero, 35.000 e gado cavalar, 1.000 de gado muar e 2.000 de gado suíno.

O gado é principalmente levado às diversas charqueadas do estado, havendo, porém, uma pequena parte que é abatida localmente; as crinas, couros e lãs são exportados para Montevidéu e Buenos Aires.

A indústria de vinho é bastante importante; existem também numerosas fábricas, tais como de vinhos, móveis, massas alimentícias etc. O município conta várias estradas de rodagem, e a navegação do Rio Uruguai facilita também as comunicações.

Uruguaiana, sede do município, é uma próspera cidade com ruas espaçosas, calçadas e bem iluminadas; os seus edifícios são de boa construção. Nota-se nesta cidade um excesso notável da natalidade sobre o número de óbitos. A renda municipal eleva-se a cerca de Rs. 250:000$000.

Banco da Província do Rio Grande do Sul - A filial deste importante estabelecimento, na cidade de Uruguaiana, foi aberta a 23 de agosto de 1911. Ficou provisoriamente instalada à Rua Duque de Caxias, 81; já, porém, foi adquirido um terreno onde se levantará o edifício próprio em que ela há de funcionar, à mesma rua, 77 e 79.

Ocupam os lugares de gerente e contador, respectivamente, os srs. Domingos Graupera e Miguel Schmidt. Do Banco da Província do Rio Grande do Sul damos desenvolvida notícia, em outra parte desta obra.

Banco Pelotense - A filial deste banco em Uruguaiana foi fundada em 15 de fevereiro de 1908. Faz toda a sorte de operações bancárias; e tem agentes e correspondentes em todas as praças. Emite vales-ouro para pagamento de impostos nas Alfândegas do estado; e mantém um serviço de depósitos populares limitados.

Os seus principais cargos são ocupados pelos srs. Manoel Paulino Ribeiro, gerente; Alcibiades de Oliveira, contador; Francisco Gomes de Araujo, tesoureiro; e Pedro Julio Garcia, guarda-livros. Em outra seção desta obra, damos desenvolvida notícia do Banco Pelotense.

Barbará Filhos - Esta importante firma foi fundada em 1896 na cidade de Uruguaiana. É proprietária dos vapores Expresso Itaqui, São Luiz e Ibicuhy, que fazem a navegação dos rios Uruguai e Ibicuí, mantendo uma linha subvencionada pelo governo, com viagens para Itaqui e São Borja.

A firma Barbará Filhos é também proprietária duma usina de luz e força motriz, montada com maquinismos de proveniência italiana, e duma fábrica de gelo, provida de maquinismo de origem francesa. Possui também um estaleiro para construções navais e faz largo comércio de importação de material para eletricidade e para construções.

Os srs. Barbará Filhos são também concessionários da Loteria do Rio Grande do Sul. Os diversos prédios em que funcionam os seus estabelecimentos são de propriedade da firma.

Segismundo Kramer & Filhos - Esta casa de importação e exportação foi fundada em 1883 pelo sr. Segismundo Kramer, que, depois, deu sociedade a seus filhos. A firma importa secos e molhados de diversos países da Europa, cereais da Argentina, açúcar de Pernambuco e café do Rio de Janeiro; e exporta principalmente couros e lã para Montevidéu.

Os srs. Segismundo Kramer & Filhos são agentes do London & River Plate Bank; do London & Brazilian Bank; da casa Superville & Cia., de Buenos Aires; das companhias de seguros La Previsora e La Positiva, também de Buenos Aires; e do saladero Novo Quaraim, de Calo, Tavares & Cia. Foram ainda agentes, em tempo, da New York Life Insurance Company.

Demarchi & Cia. - Esta casa foi fundada em Uruguaiana pelo sr. Luiz Bettinelli, em 1870, e passou a girar sob a firma atual em 1911. os srs. Demarchi & Cia. importam ferragens, artigos de bazar, louças, ferro bruto, carvão de pedra, cimento, máquinas para a indústria e a agricultura etc. Essas importações são feitas diretamente da Europa e da América do Norte, sendo que a maior parte dos artigos provêm da Alemanha. A casa vende por atacado e a varejo, e não só na cidade de Uruguaiana, mas por todo o interior do estado.

Ferreira Lopes & Cia. - Esta firma foi fundada em 1909, como sucessora da firma Barbará Filhos. O seu negócio é o de secos e molhados, de que faz grande importação da Europa e da América do Norte. Importa também a firma, em grande escala, açúcar de Pernambuco, café do Rio de Janeiro e farinha da Argentina. As suas vendas são avultadas e se estendem a todos os pontos do interior do estado.

A casa negocia também na exportação de cereais e fumos para as repúblicas Argentina e do Uruguai. Os sócios da firma são os srs. Laurindo Ferreira e Filippe Ignacio Lopes, solidários, e srs. Barbará Filhos, comanditários.

Louis Surreaux & Filhos - Esta casa, fundada em 1878, em Uruguaiana, pelo sr. Louis Surreaux, gira sob a atual razão social desde 1892. Os srs. Louis Surreaux & Filhos importam secos e molhados, fazendas e artigos de armarinho de vários países da Europa e dos Estados Unidos da América do Norte, e bem assim açúcar de Pernambuco e café do Rio de Janeiro. A casa vende por atacado e a varejo não só em Uruguaiana como por todo o interior do estado. Os sócios componentes da firma são os srs. Louis Surreaux e seus filhos Pedro e Julio Surreaux.

Kramer Leaens & Cia. - É esta a firma duma importante casa importadora e exportadora da cidade de Uruguaiana. As suas importações consistem em secos e molhados recebidos da Europa e da América do Norte, farinha da Argentina, açúcar de Pernambuco e café do Rio de Janeiro; e as exportações em produtos do estado, tais como couros, lã etc., que são expedidos via Buenos Aires.

A firma foi fundada em 1896 pelos atuais sócios srs. Bernardo Kramer, Firmino Leaens e Otto Ewel. Esta casa é também agente da Companhia de Seguros Aliança da Bahia.

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A Quinta São José, Rio dos Sinos
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São Leopoldo

A cidade de São Leopoldo, sede do município do mesmo nome, fica situada na margem esquerda do Rio dos Sinos. Teve sua origem numa colônia de alemães fundada em 1824 sob os auspícios da primeira imperatriz do Brasil. A população do município é de cerca de 35.000 habitantes. A cidade dispõe de fácil comunicação, achando-se na linha da estrada de ferro entre Nova Hamburgo e Porto Alegre.

A região produz feijão, mandioca, milho, trigo, arroz etc.; possui várias estâncias para criação do gado, bem como diversas cervejarias e curtumes. O solo é rico, ainda, em minerais, especialmente em ferro.

Existem numerosas e bem instaladas escolas no município, mantidas pela municipalidade ou devidas à iniciativa particular. Entre os mais importantes edifícios da cidade, merece menção a catedral, erigida em 1828 e dedicada a N. S. da Conceição. A grande maioria da população de S. Leopoldo é constituída por alemães e seus descendentes ali nascidos.

Coronel Guilherme Gaezel Netto - O coronel Guilherme Gaelzer Netto, intendente de São Leopoldo, nasceu nesta cidade, em 1874, e foi educado em Porto Alegre. Negociou em fazendas durante 12 anos; e entrou para a Câmara Municipal há 10 anos, sendo por 3 vezes reeleito para o cargo de intendente.

Durante a sua administração, tem o município efetuado notáveis progressos de ordem material. Entre os melhoramentos executados, está o calçamento de várias ruas e estradas, que permitem hoje o trânsito de automóveis etc.

Atualmente, acham-se também em estudos os projetos para a iluminação elétrica, pública e particular, do município, para o abastecimento de água e construção de esgotos, obras essas orçadas em Rs. 400:000$000. Está também projetada a construção de uma ponte para embarque e desembarque de cargas no Rio dos Sinos.

O coronel Gaelzer Netto possui uma fazenda, com 960 hectares de terras extremamente férteis, dos quais 200 hectares estão plantados com trigo e o restante com frutas, arroz etc. Faz parte dos principais clubes das cidades de São Leopoldo e Porto Alegre. O serviço telefônico do município de São Leopoldo, que compreende 220 quilômetros de linhas, foi também por ele estabelecido.

Luiz Stahel - Desempenha, em São Leopoldo, o cargo de secretário da Câmara Municipal o sr. Luiz Stahel, nascido em São Leopoldo em 1870, e que ocupa aquele cargo há 14 anos. Como o sr. Gaelzer, intendente da municipalidade, sr. Stahel tem dedicado o melhor de seu esforço em prol do progresso do município para o que não tem poupado o seu tempo e a sua capacidade. O sr. Stahel acha-se também associado ao coronel Gaelzer, nos negócios por este dirigidos.

Ginásio Nossa Senhora da Conceição - O ginásio de Nossa Senhora da Conceição foi fundado em 1870, na cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, e é dirigido pelos padres da Companhia de Jesus. Ocupa um edifício de grandes dimensões e sólida e sóbria arquitetura, tendo em volta vastos terrenos, aproveitados para recreio dos alunos. O ginásio tem cerca de 220 internos e uma pequena freqüência de alunos externos (40).

O programa de estudos acompanha o programa do Ginásio Nacional e o ensino é ministrado por um corpo docente de 16 lentes e 3 professores auxiliares. Além dos exercícios regulamentares de ginástica e de marcha, proporciona a diretoria aos alunos diversos jogos atléticos, havendo um clube de futebol, de não pequena fama local. O ensino de música é ministrado por quatro professores leigos. Os gabinetes de Física e Química, e Museu de História Natural, cuja instalação se torna deveras apreciável, são mantidos com o maior cuidado. Possui ainda o ginásio uma biblioteca para uso dos lentes e uma preciosa coleção numismática.

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Projeto para o novo edifício da sucursal do Banco da Província do Rio Grande do Sul

em Santa Maria
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Santa Maria

O município de Santa Maria, situado no centro do estado do Rio Grande do Sul, confronta ao Norte com o município de Vila Rica; a Leste, com o da Cachoeira; ao Sul, com os de São Gabriel e São Sepé; e a Oeste, com o de São Vicente. É banhado pelo Ibicuí e ocupa os contrafortes da Serra Geral; compreende, além da cidade de Santa Maria, sede do município, as povoações de São Martinho, Colonia, Silveira Martins etc., e várias colônias, tais como Philipson, Pau a Pique etc. A maior parte das terras do município são cobertas de campos, existindo, porém, várias matas ricas em madeira.

A sua população é de cerca de 40.000 habitantes, dos quais perto de 15.000 na cidade de Santa Maria. A indústria mais importante do município é a pastoril, existindo para mais de 100.000 cabeças de gado vacum, 8.000 de gado cavalar, 5.000 de gado muar, 10.000 de gado lanígero e 15.000 de gado suíno. A exportação de gado é feita principalmente para São Gabriel, onde existem as charqueadas mais próximas do município.

A produção agrícola é também importante e existem engenhos para beneficiar arroz e preparar aguardente, farinha de mandioca, de milho e de trigo. A produção dos engenhos é de cerca de 45.000 arrobas de arroz, 230 pipas de aguardente, 30.000 sacos de farinha de mandioca, 1.000 sacos de farinha de milho e 4.500 quilos de farinha de trigo.

Outra indústria importante do município é a de vinho, elevando-se a sua produção a 200 pipas, anualmente. Existem também fábricas de sabão, sabonetes, velas estearinas, cerveja, serraria a vapor, olarias etc.

Santa Maria, sede do município, é uma progressiva cidade, com ruas espaçosas e bem calçadas, boa iluminação e prédios de sólida construção. A renda municipal sobe a cerca de Rs. 150:000$000, anualmente.

Banco da Província do Rio Grande do Sul - A Caixa Filial do Banco da Província do Rio Grande do Sul, na cidade de Santa Maria, foi instalada em 28 de março de 1910. Atualmente, ocupam os lugares de gerente e contador, respectivamente, os srs. Vicente de Paula Corrêa e Mario G. Petruci. A filial se acha provisoriamente instalada à Rua do Comércio, 42; está, porém, em construção um edifício próprio, para seu funcionamento, à Rua do Acampamento.

Banco do Comércio - A 22 de março de 1910, foi fundada na cidade de Santa Maria uma filial do Banco do Comércio de Porto Alegre. Esta filial se encarrega da cobrança de saque em todo o Brasil; emite cambiais sobre o estrangeiro; faz, em suma, toda a sorte de operações bancárias.

Ocupa o cargo de gerente o sr. José de Oliveira; de contador, o sr. João José Leivas; e de tesoureiro, o sr. João Cancio de Miranda.

Saladero da Serra - Este importante estabelecimento, de propriedade do sr. Juvenal Dias da Costa, foi por ele fundado em 1906 e fica apenas a 2 quilômetros da cidade de Santa Maria. Ali, são as carnes preparadas pelo sistema platino; e a matança anual vai de 20 a 25.000 cabeças. O saladero exporta carne e graxas para a Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro; e vende os couros aos exportadores do Rio Grande do Sul.

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Saladero Itaquy: 1) Vista do saladero Itaquy, com a fábrica de línguas e duas pilhas de charque; 2) O armazém; 3) A lancha Nelson, em via de construção; 4) La Salada (onde se faz a salga da carne); 5) A Playa, ou Matadouro
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Gravataí

Stark & Granville - A estância dos srs. Stark & Granville fica situada em Gravataí, a cerca de 2 léguas de Aldia e a 22 milhas de Porto Alegre. Tem a estância uma superfície de 4.000 hectares, dos quais 50 plantados com alfafa. Importa animais da Inglaterra, tais como porcos Berkshire, garanhões puro sangue, provenientes de Brett e da Argentina, gado vacum puro-sangue das raças Short-horns, Hampshire Downs, carneiros de raça da Inglaterra e do Uruguai etc. A estância é cercada com fio de arame e compreende seis campos de criação.

Os proprietários presentemente se ocupam com a plantação da vinha, de que têm já uma extensão de 200 hectares, e tencionam ter uma adega própria. Existem na estância vários edifícios e, entre eles, uma casa para residência, em curso de construção, que será provida de todo o conforto moderno.

O Rio Gravataí corta a propriedade; mas, independentemente deste rio, o suprimento d'água para a estância é muito abundante. Possui a estância um motor a gasolina para mover as bombas e o restante maquinismo.

Entre os animais, que compreendem o importante estoque da fazenda, nota-se um touro short-horn roan, pedigree nº 107.762, cria de T. C. Nelson Mollington, Banestre, Inglaterra, por Brod Hooks Baron e Whitewall Butterfly 3º, cujo nome é Banestre Butterfly, e que tem 1½ anos de idade.

Um outro esplêndido animal é um touro short-horn vermelho, chamado Sutton Lord II, com 1 ano de idade, pedigree nº 110.354, criado por F. Miller, La Belen, Clifton Road, Birkenhead, Inglaterra, por Royal Duke e Clara Raglan.

Entre os carneiros reprodutores, notam-se: um Hampshire-Downs Cholderton nº 131, com 10 meses, por Royal Reward, desmamado em dezembro; e Cholderton, nº 72, por Sir Bright Eyes, 10 meses de idade, desmamado em dezembro. Royal Duke, pai de Sutton Lord 2º, aos 2 anos de idade, havia já ganho mais de 50 primeiros prêmios e grandes prêmios. O pai de Banestre Butterfly tirou o prêmio de campeão e primeiros e segundos prêmios em diferentes exposições em Inglaterra.

O sr. Fred. W. Stark nasceu em Inglaterra em 1869 e veio para a Argentina há 21 anos passados, sendo a primeira importação que fez, de 11 touros, 4 carneiros e 2 garanhões puro-sangue. Demorou-se na Argentina 5 anos, dos quais 2 na estância Ravenscroft, 2 anos com o sr. Thomaz Rolland e 1 ano com o sr. Carlos Frederico Ross. Esteve em seguida no Chile, onde foi gerente do sr. Henrique Perry, durante 3 anos.

Trabalhou em seguida na ilha de Santa Maria como prático em criação de carneiros e em tratamento da sarna. Foi gerente do sr. James McBrea em sua estância e nas suas serrarias durante 15 anos. Depois da morte deste último, continuou a dirigir a propriedade, indo mais tarde aos Estados Unidos da América do Norte. Veio para o Brasil em 1911, estabelecendo-se em sua presente estância.

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Gado importado da Inglaterra para a estância dos srs. Stark & Granville, Fazenda Boa Vista, Gravataí: 1) O touro inglês Sutton Lord 2nd, por Royal Duke; 2) O touro inglês Banastre Butterly, com 1½ ano de idade; 3) Carneiros ingleses Hampshire Down
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Alegrete

O município de Alegrete, cortado pela estrada de ferro que vai da cidade do Rio Grande à fronteira com a Argentina, é um dos mais prósperos do estado do Rio Grande do Sul. Alegrete, sede do município, é uma florescente cidade que conta 1.269 prédios e tem ruas calçadas e arborizadas, ótimo serviço de abastecimento de água e excelente iluminação à luz elétrica. Dispõe também a cidade de Alegrete dum moderno e bem montado Matadouro Municipal, onde, em média, são abatidas anualmente cerca de 6.000 reses.

O comércio da cidade compreende cerca de 300 estabelecimentos, que se ocupam em vários ramos de negócio, e além deste comércio há também o da campanha, que abrange cerca de 120 estabelecimentos.

Como todos os municípios do Sul do estado, o de Alegrete é essencialmente pastoril, e assim o seu comércio e a sua indústria giram em torno da criação do gado e negócios a ele relacionados. A indústria do charque é bastante desenvolvida e a exportação de carne seca considerável.

Entre os produtos que o município exportou em 1910, contam-se: gado de cria, 1.867 cabeças; gado de corte, 37.312 cabeças; gado cavalar e muar, 4.731 cabeças; ovelhas, 3.780; couros, 15.251; peles, 9.362; 14.014 quilos de crina e 159.751 quilos de lã.

A instrução pública do município tem também recebido grande impulso nestes últimos anos. Atualmente, conta o município 18 escolas municipais, das quais 5 para o sexo feminino, 4 mistas e 9 do sexo masculino. A freqüência total escolar, dividida por 7 escolas estaduais, 4 particulares e 18 municipais, era em 1911 de 986 alunos.

Banco da Província do Rio Grande do Sul - A filial deste banco na cidade de Alegrete foi fundada em 15 de julho de 1912. Noutra seção desta obra, publicamos amplas informações sobre o Banco da Província. A sua filial em Alegrete acha-se instalada à Rua dos Andradas, esquina da Rua do Ypiranga, em prédio de propriedade do banco. Ocupa atualmente o cargo de gerente o sr. Filgueiras e o de contador o sr. M. J. de Alencastro.

Banco Pelotense - Em 26 de agosto de 1911, foi inaugurada, na cidade de Alegrete, a filial do Banco Pelotense, que tem outras filiais em Porto Alegre, Rio Grande, Uruguaiana, Sant'Ana do Livramento e Bagé. A filial de Alegrete faz toda a sorte de operações bancárias, tem agentes e correspondentes em todas as praças; e entre os seus serviços, há um de depósitos populares, limitados ao juro de 5½% ao ano, capitalizados semestralmente. Ocupa o cargo de gerente o sr. Justo Leão, de contador o sr. Francisco T. Cademartori, e de tesoureiro o sr. José da Silva Leal.

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Conduzindo uma boiada, Rio Grande do Sul
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