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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [41]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 791 a 799, referentes ao Estado (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte


Dr. Carlos Barbosa Gonçalves, presidente do estado
Foto publicada com o texto, página 791

Rio Grande do Sul

estado do Rio Grande do Sul é o estado mais meridional do Brasil. Limitam-no ao Norte os estados de Santa Catarina e Paraná, separados dele pela Serra do Mar, Rio Mampituba, Rio Pelotas e Rio Uruguai; ao Sul, a República Oriental do Uruguai, separada pelo arroio Chuí, Lagoa Mirim, Rio Jaguarão, uma linha divisória desse rio ao Quaraim e Rio Quaraim; a Oeste, a República Argentina, pelo Rio Uruguai; e a Leste o Oceano Atlântico. Todas as suas fronteiras estão bem determinadas; o Rio Grande do Sul não tem questões de limites, nem com os estados vizinhos ao Norte, nem com os países estrangeiros ao Sul e a Oeste.

As suas coordenadas geográficas são: 29º17' (foz do Mampituba) e 33º45' (foz do arroio Chuí) de latitude Sul; 6º50'29" e 14º15'34" de longitude Oeste do meridiano do Rio de Janeiro. As coordenadas da capital são as seguintes: 30º2' de latitude Sul e 8º5' de longitude ocidental do meridiano do Rio de Janeiro. Quanto à superfície do Rio Grande do Sul, existem os seguintes dados:

  Anos km²
Conde de La Hure 1862 300.000
Eleutherio Camargo 1867 388.773
Candido Mendes 1868 357.366
Comissão oficial 1873 358.499
Coimbra e Niemeyer 1877 327.002
Carta Geral do Brasil 1883 236.553
Carta Geral do Brasil 1905 251.195
Lassance Cunha 1908 236.250

Pode-se dividir o território do Rio Grande do Sul em duas regiões principais. Uma é a faixa litoral, compreendida entre as embocaduras dos rios Mampituba e Chuí, com 950 km de extensão; a outra zona é o interior.

A costa é arenosa, baixa e por completo desabrigada. Só tem um porto mais ou menos abrigado, o do RIo Grande. O seu acesso é difícil, mas já foram contratadas as obras que o hão e facilitar.

A região interior é dividida o meio, de Leste a Oeste, pela Serra Geral, sendo a parte Norte a mais elevada e montanhosa do estado. É a "região serrana", cuja maior altitude, em referência a Porto Alegre, é de 1.018 metros, nas cabeceiras do arroio Leão, na Lagoa Vermelha. É uma zona cheia de florestas de madeira de lei e de pinheiros, onde aa erva-mate dá admiravelmente. Nos campos, as pastagens de flechilha são ótimas para a criação ovina.

A parte Sul é plana; é a "campanha". Nela abundam as campinas vastas, ubérrimas, onde os pastos são magníficos para a criação de todo e qualquer gado, fartamente regados por grandes cursos d'água. O terreno é plano e vasto, pampas, várzeas extensas, aqui e ali bombeadas em "coxilhas" pequenas. Quase todo o terreno do estado, por ser bem irrigado naturalmente e também em razão do clima magnífico, é adequado não só à criação como a qualquer gênero de cultura.

A única barra acessível na costa do Rio Grande do Sul é a barra do Rio Grande, por onde a Lagoa dos Patos comunica com o mar; dessa mesma, porém, é difícil o acesso, pela constante mudança de posição dos bancos de areia.

As montanhas do estado pertencem todas ao sistema da Serra Geral, que começa do Norte do Estado e o atravessa de Leste a Oeste, indo terminar nas margens do Uruguai, com extensas ramificações para Sudoeste. A Serra Geral, ao atravessar o estado, toma os nomes de Botucaraí, S. Martinho, S. Xavier, Horaí-açú. Na ramificação para Sudoeste, tem os seguintes nomes: Herval, Tapés e Santa Tecla.

Na costa baixa e regular do Rio Grande do Sul não há um só cabo ou mesmo ponta que valha a pena mencionar. A Lagoa dos Patos, a maior do Brasil, está separada do oceano, com o qual comunica pela barra do Rio Grande, por estreita faixa de terra baixa e arenosa. O seu maior comprimento são 200 km e a maior largura 60. É navegável porém dificilmente, por causa dos seus baixios. As margens são cheias de pontas, algumas com faróis. Nela deságuam muitos rios e arroios.

A Lagoa Mirim fica situada também na costa. Tem 174 km de Sul a Norte e 24 de Leste a Oeste. É navegável e, por um tratado recente, a sua navegação é livremente permitida ao Uruguai. Liga-a à dos Patos o Rio de S. Gonçalo e nela desembocam diversos rios.

A costa do estado ainda tem mais algumas lagoas: Itapeva, Palmitar, Negra, Peixoto, Marcelino, Mangueira, Mostardão, S. Simão, da Reserva, dos Barros, dos Quadros, do Manoel Nunes, do Rincão das Éguas.

Os grandes rios do estado são o Uruguai e o Jacuí dos quais quase todos os outros são tributários. O Uruguai nasce na Serra do Mar, em Santa Catarina, com o nome de Pelotas, e separa o Rio Grande de Santa Catarina. Toma depois o nome de Uruguai, banha o Paraná e o Rio Grande, separando-o da Argentina. Recebe muitos afluentes e deságua no Prata. Nas suas margens, ficam os portos de S. Borja, Itaqui e Uruguaiana. É todo navegável na extensão em que limita o Rio Grande com a Argentina; 186 km abaixo da foz do Quaraí deixa de o ser, porque é cortado por uma queda d'água importante - o Salto Grande. Os seus afluentes principais no território do estado são: o Passo Fundo, o Cebolati, o Pindaí, o Ijuí, o Piratini, o Camaquã, o Ibicuí e o Quaraí.

O Jacuí nasce na coxilha das Quinas; banha Cachoeira; recebe muitos afluentes, entre os quais o Taquari; e deságua no Guaíba que é mis um prolongamento da Lagoa dos Patos. É navegável.

O Jaguarão nasce na serra de Asseguá, separa o Brasil do Uruguai e deságua na Lagoa Mirim. É navegável por vapores até 42 km acima da foz.

O S. Gonçalo é antes um canal que liga a Lagoa dos Patos à Lagoa Mirim. Os rios do Rio Grande do Sul, tanto os que pertencem à vertente do Uruguai, como os da vertente das lagoas, são abundantemente divididos em rios menores e afluentes, distribuindo prodigiosamente os seus recursos hidráulicos. Esta é uma grande utilidade para a indústria, por não haver zonas desprovidas d'água, e para a navegação, dando saída fácil aos produtos.

Recapitulando, os rios navegáveis são: o Uruguai, o Ibicuí, o Gravataí, o Rio dos Sinos, o Caí, o Taquari e o Jacuí. Estes dois últimos formam o Guaíba.

As mais importantes ilhas fluviais do estado, excetuando a dos Marinheiros, à entrada da barra do Rio Grande, na Lagoa dos Patos, em frente à cidade do Rio Grande, são: Fanfa, Pau Vermelho, Grande, Paciência, Manga do Frade, no Rio Jacuí. No Rio Uruguai, existem algumas que pertencem ao Brasil; são as seguintes: Jacu, Japeju, Catombos, Quadrada, Catuí, Chico etc. O estado não tem ilhas marítimas.

Faróis, existem o da Barra, na ponta da barra do Rio Grande; o do Estreito, no banco do mesmo nome, na lagoa dos Patos; o de Capão da Marca, na mesma lagoa; o de Christovam Pereira, idem; e o de Itapoã, idem.

O inverno do Rio Grande vai de junho a setembro. Na parte montanhosa, ao Norte, durante esta estação, o termômetro oscila entre 15º e 4º centígrados, descendo, às vezes, até 8º abaixo de zero, como foi observado em 1906 em diversas localidades. Nos pampas e varzeados a oscilação termométrica varia entre 18º e 0º, raras vezes baixando mais. Em outubro e novembro, meses de primavera, o frio cessa e a temperatura é agradabilíssima, variando o termômetro, então, na parte montanhosa, entre 4º e 18º, e nos varzeados entre 10º e 30º.

Em dezembro, janeiro, fevereiro e princípio de março, o calor é intensíssimo. O termômetro sobe muitas vezes, à sombra, até 35º, e ao sol até 40º, 41º, tendo já atingido 42º. Dão-se casos de insolação em alguns anos. Em fim de março, em abril e maio, meses de outono, a temperatura é deliciosa (10º a 25º). Durante o inverno, o vento frio dos Andes varre o país.

O clima do Rio Grande é salubérrimo. Mesmo à margem dos rios e lagos,, a malária é quase desconhecida. As moléstias mais freqüentes são as das vias respiratórias, os reumatismos e as do aparelho digestivo. O meio físico é impróprio ao aparecimento de certas moléstias: a febre amarela, por exemplo, que lá não pode se desenvolver, e o próprio impaludismo, não havendo assim no estado esses dois espantalhos dos imigrantes. A varíola, que outrora visitava o estado de quando a quando, desapareceu.

Vejamos a mortalidade durante alguns anos:

Anos Óbitos gerais Óbitos de mais de 80 anos
1906 14.305 608
1907 14.878 615
1908 17.081 671

A estação chuvosa regular se inicia no estado em julho e termina em setembro. Em alguns anos dura até fins de dezembro. As chuvas são mais ou menos gerais e abundantes.

Em alguns anos, quando as chuvas são demasiadamente abundantes, os rios transbordam, prejudicando criadores e agricultores. Essa grande cópia de chuvas produz-se de modo intermitente, de cinco em cinco anos. Durante a seca, no fim dos dias muito quentes, caem sempre chuvas mais ou menos gerais, que ensopam as terras e fazem a temperatura baixar.

No inverno, às vezes, os campos ficam cobertos de geada, de neve. A paisagem toma assim um aspecto europeu. Reina então um frio bem intenso. Por estas razões de clima saudável e fio no inverno, embora quente no verão, o Rio Grande é procurado pelos imigrantes, sendo um dos estados que mais atraem a corrente imigratória, a qual encontra ali, também, a vantagem de poder se dedicar ás culturas européias do trigo, da vinha etc. Nesse estado foi fundado, no tempo do Império, um dos primeiros núcleos de imigrantes alemães no Brasil – a colônia de S. Leopoldo.

Uma terça parte do estado do Rio Grande é coberta de florestas com excelentes madeiras para marcenaria, carpintaria, construções navais, tinturaria e curtume, plantas medicinais e frutíferas de muitas qualidades. Ao Norte, existem grandes florestas de pinheiros, alguns cujo tronco chega à altura de 40 metros. O cedro é abundante, atingindo por vezes 28 metros de altura e 1,80 de diâmetro. O louro produz tábua para marcenaria de 16,50 de comprimento. Quanto a madeiras, não precisa o Rio Grane recorrer à flora de  nenhum outro estado do Brasil. O mesmo acontece quanto às árvores frutíferas, de tinturaria e de curtume, e quanto às  plantas medicinais e à horticultura.

Na flora rio-grandense, merece especial menção a erva-mate, que abunda prodigiosamente na Serra do Herval e nas margens do Uruguai. É um sucedâneo do chá da Índia, de excelente sabor e muito salutar. Em quase todos os estados do Brasil é mais ou menos usado. Em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, ninguém passa sem ele; todas as repúblicas do Prata e até o Chile fazem grande consumo de mate. É um dos melhores gêneros de exploração do estado e tem elevado valor. O Rio Grande produz muito trigo, uvas e todas as frutas da Europa. Os elementos mais ricos de sua flora, porém, são a erva-mate e as madeiras.

A fauna rio-grandense compõe-se das espécies peculiares à zona intertropical da América do Sul. É de grande variedade, possuindo animais de valor pelos lucros que deles se podem auferir. Quase não tem animais ferozes, a não ser de pequeno tamanho, noturnos, vivendo da rapina. Os seus campos podem alimentar magníficos e incontáveis rebanhos e manadas; e houve tempo em que, pelo pampa, andavam à solta grandes bandos de cavalos selvagens.

Nas lagoas e nos rios é muito grande a variedade de peixes, quase todos próprios, pelo sabor e pela qualidade, para alimentação. As costas, em virtude do seu desabrigo e do mar sempre forte, não oferecem, porém, muitas vantagens à pesca.

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Projeto para o novo palácio presidencial
Imagem publicada com o texto, página 792. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

História

Nas doações de capitanias feitas por d. João III, e mesmo após esse tempo, nunca as terras do Rio Grande do Sul foram contempladas. Ocupavam-nas tribos selvagens que falavam o guarani. Durante dois séculos, jazeu o Rio Grande ao abandono, já pelo desabrigo da sua costa, já pelas dificuldades de entrada na barra.

Os empreendedores estrangeiros nada tentaram contra esse território e somente os jesuítas, invadindo aquelas terras pelo Sul, fundaram as Sete Missões do Uruguai, que, ao cabo de guerras sangrentas, passaram ao domínio português, ficando sob ele definitivamente, depois de 1801. Durante todo o tempo da existência dos jesuítas por aquelas paragens, os portugueses faziam incursões e travavam combates com os espanhóis da colônia do Sacramento e de toda aquela zona.

Em 1715, o governador do Brasil, Francisco de Tavora, mandou fazer explorações nas campanhas do Sul até a colônia do Sacramento para ver se os espanhóis haviam ocupado alguma parte daqueles imensos territórios. Uma dessas expedições correu a campanha toda, arrebanhando os gados encontrados a pastar.

Francisco de Brito Peixoto, capitão-mor da Laguna, intimou os missionários a não mais fazerem incursões nas campanhas do Rio Grande e mandou seu genro e uns trinta homens, para fazer aliança com os índios e se estabelecerem por aquele território. Foi então que se criaram as primeiras estâncias de gado do Rio Grande.

Mas, quem maiores serviços prestou à aquisição do Rio Grande para Portugal foram os bandeirantes paulistas, comandados por Manoel Dias, em 1735, quando atravessaram os sertões e irromperam pelo Rio Grande, para obrigar a uma diversão as forças espanholas que sitiavam a colônia do Sacramento, levantando depois um padrão com as armas portuguesas nos campos da Vacaria.

Em 1737,  fundou o brigadeiro José da Silva Paes o primeiro presídio e a primeira povoação do Rio Grande de S. Pedro e mais alguns fortes esparsos no interior. A guerra entre espanhóis e portugueses durara de 1735 a 137 e era necessário ir se apossando Portugal daquela capitania magnífica. Houve um armistício entre os dois adversários, e à sua sombra foi a colônia prosperando um pouco e a colonização se estendendo para o interior.

O Rio Grande do Sul nascia da guerra e tinha de crescer com a guerra e viver sempre com a guerra. Daí o seu espírito altivo e belicoso. O tratado de Madrid de 1750 augurava grande paz às colônias. Este tratado marcava os limites entre as terras espanholas e portuguesas. Mas, à sua determinação, se opuseram os jesuítas, que revoltaram os índios; e foi preciso que Gomes Freire de Andrade, em 1756, os vencesse com grande esforço.

Em 1761, foi anulado o tratado de 1750 e de novo rompeu a guerra no Prata e no Rio Grande. Houve pequenos repousos durante todo o tempo que ela durou, de 1762 a 1777, favorecendo a fortuna, ora a um adversário, ora a outro. No ano desastroso de 1777, com o tratado de Santo Ildefonso, perdeu Portugal a Colônia do Sacramento e o território das Missões do Uruguai. A paz de 1777 a 1801 foi aproveitada pela colônia para progredir e se desenvolver; nasceram povoações nos desertos, rasgaram-se estradas, espalharam-se rebanhos elos campos.

Em 1801, em nova e porfiada guerra, foram reconquistadas as Missões e a Colônia do Sacramento, que com a paz de Badajoz, em junho de 1801, ficaram definitivamente para os portugueses.

Em 1807, o Rio Grande foi elevado a capitania geral, passando sua capital da vila do Rio Grande para a de Porto Alegre. Na campanha de 1812, nas de 1816 e 1820, quando foi incorporada ao Brasil a Banda Oriental com o nome de Província Cisplatina, foi a célebre cavalaria rio-grandense o maior elemento de vitória.

Fundado o Império em 1822, passou o Rio Grande a constituir uma província. Na guerra da independência da Cisplatina, foi quem pagou maior tributo de sangue. Em 1835, revoltou-se contra o Império, e essa luta civil durou dez anos; nela foi que combateu Giuseppe Garibaldi. Em 1851 o Rio Grande foi quem maior parte tomou na guerra contra Rosas. Nos cinco anos de guerra com o Paraguai, foi ainda quem mais se distinguiu.

Proclamada a República em 1889, o Rio Grande do Sul passou a ser um dos estados da União; e revoltou-se ainda, no começo do novo regime, contra o governo do marechal Floriano Peixoto.


Proeminentes políticos do estado: 1) Candido José de Godoy (secretário das Finanças); 2) Julio Antonio Vasques (diretor da Estatística); 3) Dr. José de Aguiar Leitão Mantaury (intendente de Porto Alegre); 4) Cel. Guilherme Gaelzes Netto (intendente de São Leopoldo); 5) Cel. José Bernardino da Fonseca (intendente, em exercício, de Rio Grande); 6) Cel. José Octavio Gonçalves (intendente de Bagé); 7) Coronel dr. Trajano Augusto Lopes (intendente de Rio Grande)
Foto publicada com o texto, página 793

População

O dr. Moreira Pinto, na sua Chorographia do Brazil, de 1900, avalia a população do Rio Grande em 1.200.000 habitantes. O Atlas do Brazil de 1908 avalia-a em 1.159.671, e a estatística desse ano lhe dá 1.149.070. Mas pode-se com fundamento avaliar a população do estado em 1.300.000 habitantes, o que lhe dá o quarto ou quinto lugar em população absoluta entre os estados do Brasil.

A população do Rio Grande aumenta anualmente pela natalidade e pela imigração. Eis o quadro dos nascimentos durante o 1º trimestre de 1910:         

Nascimentos (total) Nascidos vivos Nascidos mortos Sexo Filiação Nacionalidade dos pais
Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total Masc. Fem. Legí-timo Ilegí-timo Nac. Nac. e estr. Estr.

10.018

4.998 4.759 9.757 129 152 261 5.127 4.891 8.741 1.277 7.516 1.164 1.338

Nesse mesmo trimestre, a estatística acusa 1.775 casamentos e 4.909 óbitos,incluindo a mortalidade infantil que foi de 884. No total de 111.571 eleitores do último alistamento eleitoral, as profissões acham-se assim discriminadas:

Agricultores 48.896
Criadores 23.146
Comerciantes 10.336
Empregados públicos 3.595
Industriais 2.096
Professores 553
Operários e artistas 11.408
Diversos 11.541
Total 111.571

O seu estado civil era o seguinte:

Solteiros 44.354
Casados 63.523
Viúvos 3.680
Divorciados 14
Total 111.571

O progresso da população rio-grandense tem sido constante, como o demonstram as cifras seguintes:

Períodos Aumento Proporção
1822-1846 79.917 80,3% em 24 anos
1846-1862 191.083 106,5% em 16 anos
1862-1872 76.516 20,7% em 10 anos
1872-1890 450.493 100,8% em 18 anos
1890-1900 250.615 28,0% em 10 anos
1900-1909 374.305 32,5% em 9 anos

Em qualquer desses períodos se verifica ter sido a porcentagem de aumento superior à de quase todos os países da Europa, no decênio de 1890 a 1900, em que a nação que maior percentagem teve foi a Alemanha, com 14%, e a menor a França, com 1,6%. Em 1872 a densidade da população rio-grandense era de 1,68 habitantes por km²; em 1890 elevou-se a 3,34; em 1900 a 4,33; em 1909 a 5,74.

O número de imigrantes entrados no estado desde o início da colonização em 1824 eleva-se a 160.057, sendo, para o período de 1824 a 1889, de 79.175; e para o de 1890 a 1909, de 80.882; a média anual nos primeiros 66 anos foi de 1.200, e a dos últimos 20 anos elevou-se a 4.044. Os imigrantes entrados nos dois últimos decênios se classificam, segundo as nacionalidades, da seguinte maneira:

Italianos 30.224
Russos 14.844
Alemães 10.817
Polacos 9.790
Espanhóis 5.029
Austríacos 3.673
Portugueses 2.298
Suecos 1.706
Franceses 600
Holandeses 574
Diversos 1.327
Total 80.882

Em 1909 entraram 6.046, isto é, mais 1.929 do que em 1908.

As circunscrições em que a população mais se adensa no Rio Grande,pelo excesso dos nascimentos sobre os óbitos, são Caxias e Montenegro; depois, vêm: Santa Maria, Santa Cruz, Cachoeira, Rio Pardo, Lageado, Estrela, Taquari, Bento Gonçalves, A. Chaves, Passo Fundo, Guaporé, S. Leopoldo, S.S. do Caí, Taquara, Santo Antonio, Porto Alegre.

Vêm em terceiro lugar Garibaldi, Júlio de Castilhos, Cruz Alta, S. Luiz, S. Borja, Alegrete, Cangussu, S. Lourenço, Lagoa Vermelha; em quarto: Sant'Angelo, Vacaria, S. Fco. de Paula, S. José do Norte, S. Jerônimo, Encruzilhada, Uruguaiana, Boqueirão, S. Fco. de Assis, S. Vicente, S. Sepé, Pelotas, V. Aires Soledade; em quinto: Palmeira, Antonio Prado, Torres, Santo Amaro, Gravataí, Viamão, Rosário, S. Gabriel, Lavras, Caçapava, Piratini, Cacimbinhas, Herval, Arroio Grande, Livramento, Quaraí; e por fim: Itaqui, D. Pedrito, Bagé, Jaguarão, S. Victoria, Rio Grande, S. João de Camapuau, Dores de Camaguã, Triunfo, G. do Arroio.

Do número de habitantes do estado do Rio Grande, que é de 1.300.000, 900.000 são nacionais e 400.000 estrangeiros. A população do Rio Grande tem tido pouco desenvolvimento, devido à sua localização nas primeiras colônias, por falta, ao princípio, de vias férreas de transporte, de propaganda regular e dum porto de mar de fácil acesso.

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A cidade e a baía de Porto Alegre
Foto publicada com o texto, páginas 794 e 795. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Agricultura

O território do Rio Grande do Sul é excelente para a agricultura; oferece os mais abundantes recursos e a natureza é ali duma prodigalidade espantosa.

O trigo plantado pelos seus primeiros povoadores deu em tal quantidade que supria ao Brasil, a Portugal e à região platina. Nesse tempo, a exportação do trigo foi a seguinte:

Anos Em grão Em farinha
1790 73.044 alqueires 3.715 arrobas
1791 106.298 alqueires 3.313 arrobas
1792 109.738 alqueires 2.608 arrobas
1793 85.854 alqueires 1.017 arrobas

 

1805

 

11.106 sacos com 158.775 alqueires

1806 12.293 surrões com 97.588 alqueires
1807 14.468 surrões com 119.382 alqueires
1808 13.905 surrões com 115.708 alqueires

Nos anos subseqüentes a exportação foi a seguinte:

Anos Alqueires de trigo Valor
1815 288.449     323:060$640
1816 226.981½ 363:170$400
1817 109.446     218:892$000
1818  55.237½ 150:246$000
1819 112.218      143:639$040
1820 99.640½ 127:247$520
1821 119.762      152:015$360
1822 37.362½ 74:725$000

Já em 1822 se fabricava vinho, se iniciava a cultura do café e se colhia a erva-mate, da qual, só pelo porto do Rio Grande, se exportaram, em 1822, 1.353.143 quilos. Em 1905, foi a exportação do mate de 4.138.407 quilos. Desta maneira, nasceu a agricultura no Rio Grande do Sul, que hoje tem grande desenvolvimento, cada vez mais aperfeiçoando seus processos, com a introdução de métodos novos e de aparelhos e máquinas de toda a sorte.

O Rio Grande do Sul é um dos estados mais ricamente agrícolas da União. As suas principais culturas são a do trigo, que aumenta incessantemente; erva-mate, vinha, cereais de toda a espécie, ervas medicinais, mandioca, fumo, cebolas e alhos em grande quantidade, frutas magníficas, alpiste, batatas, amendoim, arroz, farelo, repolhos e abóboras. Cumpre notar que a zona explorada é ainda de pequena extensão e o número de lavradores muito limitado. Assim mesmo se tem uma média, por habitante, tirada do valor da exportação agrícola, de Rs. 45$ mais ou menos.

O rio-grandense não se dedica muito à agricultura; prefere a pecuária. A agricultura está mais nas mãos dos colonos. E se não atingiu o máximo desenvolvimento, é porque há ainda muita falta de vias de comunicação; e a localização dos núcleos coloniais ao tempo do Império foi mal feita, não aproveitou as melhores terras de lavoura; mas a uberdade do solo é extraordinária e, apesar de tudo, a agricultura progride admiravelmente. É provável que, em futuro não muito remoto, consuma o Brasil somente o trigo do Rio Grande, bastando o vinho desse estado, também, às suas exigências.

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Vista da Colônia Ijuí
Foto publicada com o texto, página 794. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Comércio e indústria

O comércio do Rio Grande do Sul é um dos mais importantes do Brasil. As suas praças comerciais podem ser divididas do modo seguinte: praças de primeira ordem, Porto Alegre, Rio Grande, Pelotas; praças de segunda ordem, Bagé, Uruguaiana, Sant'Anna do Livramento; praças de terceira ordem, Quaraí, Itaqui, Cachoeira, Santa Maria, S. Leopoldo, Santa Cruz, S. Sebastião de Montenegro, Taquari, S. Sebastião do Caí e Jaguarão.

O Rio Grande comercia com todos os estados da União e com diversas praças estrangeiras. No ano de 1905 teve a exportação do estado os seguintes destinos:

Praças do Brasil 39.917:822$000
Alemanha 4.448:715$000
Inglaterra 4.878:398$000
Uruguai 4.599:189$000
Argentina 964:165$000
Estados Unidos 331:284$000
Bélgica 309:726$000
França 157:804$000
Portugal 962:313$000
Itália 55:436$000
Áustria 35:455$000
Grécia 4:402$000
Paraguai 703$000
Total Rs. 56.665:392$000

Em 1906, o valor total da exportação pelos portos do Rio Grande foi de 23.529:969$000. Quanto ao movimento de importação, segundo o Relatório da Repartição de Estatística do Estado, foi o seguinte em 1909 no porto de Porto Alegre:

Portos de procedência com valor superior a um mil réis:

Portos Peso em quilos Valor em Rs.
Rio de Janeiro 29.726.809 12.118:823$000
Pernambuco 16.950.779 6.494:603$000
Rio Grande 15.917.836 4.985:449$000
Santos 1.688.441 2.763:532$000
Pelotas 3.120.916 1.709:659$000
Bahia 685.773 938:573$000
Itajaí 61.012 264:979$000
S. Francisco 444.756 296:131$000
Paranaguá 302.759 113:472$000
Florianópolis 197.090 109:915$000
Diversos 888.185 258:904$000
Total 69.984.326 30.054:040$000

A importação dos gêneros de alimentação foi de Rs. 11.542:354$000, na mesma época e lugar. Vejamos o quadro da exportação do Rio Grande do Sul, no qüinqüênio de 1901 a 1905, para se fazer melhor idéia de seu futuroso comércio:

Anos Portos nacionais Portos estrangeiros
Valores % Valores %
1901 30.280:553$000 68.62 113.848:360$000 31.38
1902 34.741:986$000 67.37 16.750:502$000 33.53
1903 34.262:860$000 65.91 17.718:305$000 34.09
1904 36.116:369$000 63.16 21.067:345$000 36.84
1905 39.917:822$000 70.45 16.747.596$000 29.55
Médias Rs. 35.063:918$000 67% Rs. 17.226:422$000 33%

Os países com quem mais comercia o Rio Grande do Sul são a Inglaterra, Uruguai, Estados Unidos, Argentina e Bélgica. Pelas fronteiras, faz-se grande comércio e também constante contrabando. Ainda para melhor avaliação do comércio rio-grandense, pode-se ver o movimento de alguns de seus portos marítimos e fluviais, no ano de 1910, de janeiro a março:

Portos Em toneladas
Entradas Saídas
Porto Alegre 62.558 60.482
Pelotas 38.205 35.034
Jaguarão 12.694 11.964
São Borja 940 855
Itaqui 1.581 1.467

No porto do Rio Grande, em 1909, entraram 502 navios à vela e a vapor, com 391.356 toneladas, e saíram 493 com 385.894 toneladas.

O comércio do Rio Grande do Sul, pelos seus produtos, pelas suas condições e pela sua situação, desenvolve-se assombrosamente: e será este estado, um dia, um dos mais comerciais do Brasil, máxime quando chegar ao seu apogeu a produção do trigo e do vinho e melhorarem os produtos de charqueada, outra grande fonte de riqueza, hoje quase em abandono.

Para bem se notar o aumento de movimento nos portos do estado, confrontemos as entradas e saídas de embarcações reunidas nos anos de 908 e 1909.

Portos 1908 1909
Nº de navios Toneladas Nº de navios Toneladas
Rio Grande 1.043 866.285 995 777.250
Porto Alegre 1.474 390.790 1.486 446.223
Pelotas 421 241.871 515 283.776
Jaguarão 376 56.810 463 86.997
S. Vitória 186 21.644 179 11.790
Uruguaiana 1.256 32.716 929 18.419
São Borja 438 14.226 456 8.286
Itaqui 118 4.778 127 5.988
Total 5.312 1.629.120 5.150 1.638.719

Aumento de tonelagem em 1909: 9.599.

O movimento no primeiro trimestre de 1910 foi o seguinte, em total, à exceção dos portos de Uruguaiana, Rio Grande e Santa Vitória: entraram 445 navios com 115.978 toneladas; saíram 394 navios com 109.802 toneladas.

O movimento marítimo do estado cresce de ano para ano, sendo cada vez mais freqüentados os seus portos principais, quer fluviais, quer marítimos.

A indústria principal do estado é a criação do gado. É ela que predomina, por ocupar maior área e ser a maior fonte de riqueza para o país e de receita para o Tesouro. É praticada em grandes propriedades (estâncias), com milhares de hectares de terreno. O gado é ainda criado rudimentarmente (salvo em determinadas estâncias), à solta pelo campo, no inverno e no verão, porque o clima benigno assim o permite. Durante o tempo do frio, sofre um pouco, mas engorda na boa estação.

Atualmente, vai sendo melhorado em qualidade pelo cruzamento com reprodutores importados da Inglaterra e da França. Esses reprodutores são criados à parte, com cuidado, e os animais de raça vão sendo consignados num registro especial, na repartição de estatística. A criação de cavalos é também de grande importância e para eles existe também um registro especial. Em 1894 foram avaliadas as diversas espécies de gado do Rio Grande em 5.912.267 cabeças que se repartiam deste modo:

Gado vacum 3.924.683
Gado cavalar 637.190
Gado muar 104.500
Gado lanígero 887.294
Gado suíno 358.600
Total 5.912.267

Desse total, porém, eram excluídos alguns municípios. Em 1899 obtiveram-se os seguintes algarismos:

Espécies Nº de cabeças Valor total
Gado vacum 1.253.467 102.217:995$000
Gado suíno 898.225 9.178:260$000
Gado lanígero 822.795 6.476:430$000
Gado cavalar 505.931 23.307:075$000
Gado muar 96.669 8.993:660$000
Total 3.577.087 150.173:420$000

Nestas cifras, ainda faltavam 22 municípios, essencialmente criadores. Em 1905 houve nova contagem, que deu os seguintes resultados:

Espécie

Nº de cabeças

Vacum 4.205.350
Lanígero 1.945.961
Cavalar 672.185
Suíno 491.324
Muar 92.120
Total 7.406.940

Os últimos dados colhidos foram em 1908. São os seguintes, faltando desta vez apenas 5 municípios:

Espécies Número Valor
Vacum 5.659.768 177.555:183$000
Lanígero 3.150.800 13.797:204$000
Suíno 1.020.414 18.787:755$000
Cavalar 777.362 21.794:318$000
Muar 127.713 6.588:431$000
Caprino 48.101 278:242$000
Total 10.784.158 238.800:133$000

No ano de 1910 se presumia ser a soma total do gado superior a 12.000.000 cabeças com valor maior que Rs. 250.000:000$000. No período de 1904 a 1908 foram importadas 129.575 cabeças de gado de diversas espécies, no valor de Rs. 3.844:089$000. No ano de 1908 a importação foi esta: 46.843 cabeças de espécies diversas, no valor de Rs. 871:131$.

O número de reses abatidas para o consumo em 1908 elevou-se a 818.159, das quais 225.100 destinadas à alimentação e 593.059 ao preparo de charque e conservas. De janeiro a junho de 1909, foi o seguinte o movimento de charqueadas: 36 charqueadas em 14 municípios, tendo-se abatido 577.176 reses no valor médio total de Rs. 34.883:243$000.

Os preços máximos do gado, nesse semestre, oscilaram entre 101$000 e 73$000, em Pelotas; 85$ a 70$, em Bagé; 76$ a 70$, em Cachoeira. Os preços mínimos oscilaram entre 75$ e 68$, em Pelotas; 70$ a 64$, em Bagé; 70$ a 60$, em Cachoeira.

De junho de 1909 a maio de 1910, as inscrições de animais de raça no respectivo registro apresentaram o total de 147 animais, 135 cavalares e 12 vacuns. Quando, com o tempo, as condições da indústria pastoril melhorarem e o gado não mais for atirado ao esmo ao "crescei e multiplicai-vos" dos vastos campos, a pecuária desenvolvida produzirá grandes riquezas, será inesgotável fonte de cabedais, pois que, apesar de sua rotina e de sua falta de aperfeiçoamento, constitui a maior fonte de riqueza do estado e dela vivem duas terças partes da população. É uma medida que se impõe a melhora da pecuária, como também o estímulo à fabricação do charque.

A indústria fabril no Rio Grande vai em pleno desenvolvimento. Em 1908, contava-se no estado a existência de 514 estabelecimentos, com 15.426 operários. O valor do capital empregado era de Rs. 49.205:919$000, sendo a produção representada pela cifra de Rs. 99.778:820$000. Esta estatística se ressente da falta de muitos estabelecimentos notáveis; de resto, a indústria fabril tem progredido dessa época para cá.

Quanto à indústria fabril, o Rio Grande pode se considerar quase liberto da concorrência estrangeira. A indústria de fiação e tecidos está adiantadíssima. A Companhia Fiação e Tecidos Porto-Alegrense, com o capital de Rs. 1.920:000$000, a União Fabril, a Fabril Porto Alegrense, a Companhia Tecelagem Ítalo-Brasileira e outras fábricas menores produzem casimiras, lã bruta, ponches, cobertores, cochonilos para selas, brins, cassinetas, riscados, pelúcias, xale de algodão, chapéus, meias, espartilhos, tecidos de linho e algodão. O estado fornece a matéria-prima abundantemente: lã, linho, algodão, cânhamo e até seda.

Há no estado inúmeras fábricas de conservas alimentícias, que preparam todas as conservas de peixe, carne, frutas e legumes, só uma das quais com 500 latas de produção diária, 200.000 quilos de charque de produção anual e 90.000 de banha vacum. Para essa produção, os principais mercados são os estados do  extremo Norte do país: Amazonas e Pará.

O Rio Grande possui também fábricas de camisas e meias; roupas brancas, gravatas; calçados; selins, malas etc.; couros envernizados e curtidos; carruagens; sabonetes, sabão e velas; licores; doces; biscoitos; farinha de trigo; vinhos; cerveja; charutos excelentes; fumos e cigarros; vidros; fósforos; estamparia; tintas; mosaicos; maquinismos a vapor; medicamentos; perfumarias; carpintaria; cal; escovas etc.; arroz alvo; café e massas alimentícias; papel e papelão; móveis; cerâmica; fundição de ferro e bronze; canas, cofres e fogões de ferro; tijolos, telhas etc.; produtos homeopáticos; drogas; álcool; gasosas; além dum belo estaleiro de construções navais, sendo para todos esses produtos o estado a fonte mais rica de matéria-prima. Os produtos de laticínios só são consumidos no estado.

Além da indústria extrativa praticada com a pesca e os produtos da pecuária para matéria-prima, no Rio Grande se explora a mineração das suas ricas jazidas. O ouro está sendo explorado no município de S. Sepé; o cobre existe em abundância no município de Caçapava, onde já se encontraram 20 jazidas; sobre o Camaquã, uma companhia belga explora esse mineral; desde 1883 que explora o carvão de pedra uma companhia que já tem Rs. 20.000:000$000 de capital; e funcionam no estado 16 fábricas de cal.

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Novos centros coloniais no estado (estabelecidos com o auxílio do governo federal): 1) Casa dum colono na Colônia Ijuí; 2) Escola Pública do Professor Roberto Roeher, na Colônia Ijuí; 3) Parte da Colônia Erechim; 4) Imigrante segando trigo na Colônia Ijuí, após um ano da sua chegada; 5) Moinho a água, Colônia Ijuí; 6) Vista da Colônia Ijuí
Foto publicada com o texto, página 797. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Vias de comunicação

No território do estado, ligando as cidades centrais entre si, existem estradas de rodagem em grande profusão e dia a dia o governo abre outras e melhora as já existentes, cada vez mais facilitando as comunicações. Até 1907, possuía o estado, em tráfego, as seguintes ferrovias:

Porto Alegre a Uruguaiana 517,00 km
Santa Maria ao Uruguai 355,10 km
Rio Grande a Bagé 283,00 km
Cacequi a Alegrete 116,00 km
Quaraí a Itaqui 175,50 km
Porto Alegre a Taquara 83,00 km
Conto a Santa Cruz 30,00 km
S. Jerônimo a Arroio dos Ratos 22,80 km
Rio Grande a Costa do Mar 18,60 km
Porto Alegre a Tristeza 9,60 km
Total 1.826,10 km

A companhia belga, segundo plano do governo federal, prosseguirá a construção doutros ramais. Existia uma estrada de ferro estadual, de Porto Alegre a Nova Hamburgo, com 43 km. Em 1909, foram abertas ao tráfego cerca de 200 km, nos ramais de Cruz Alta, Ipihi, Maratá, Caxias, Saicã, Livramento, Passo Fundo e  Uruguai, e foi inaugurada a linha que liga o estado ao Rio de Janeiro.

Durante o qüinqüênio de 1903 a 1907, a receita geral de todas as linhas atingiu a importância de Rs. 30.000:000$000, discriminada do modo seguinte:

Porto Alegre a Uruguaiana 11.202:988$455
Rio Grande a Bagé 11.432:299$751
Santa Maria ao Uruguai 3.625:417$978
Porto Alegre a Taquara 2.588:449$790
Quaraí a Itaqui 963:477$633
Porto Alegre a Tristeza 282:779$450
Total Rs. 30.095:413$057

Distribuamos essa receita pelos anos:

1903 5.124:004$504
1904 5.685:143$919
1905 5.295:284$364
1906 6.476:297$749
1907 7.514:682$521
Total Rs. 30.095:413$057

O Rio Grande do Sul é um dos estados mais bem providos de vias férreas e, em geral, e vias de comunicação de toda a espécie, porque, se os seus portos são de difícil acesso, este inconveniente é compensado pela franca navegabilidade de seus rios, quase todos, e das suas duas grandes lagoas. Algumas de suas linhas férreas estão arrendadas à Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer du Brésil, e outras à companhia Brazil Great Southern.

O movimento de correspondência nas suas agências postais em 1909 foi o seguinte:

Correspondência Nº de malas Nº de objetos
Expedida 119.950 5.011.767
Recebida 126.671 4.930.556
Em trânsito 67.814 1.589.676
Total 314.435 11.531.999

O desenvolvimento dessa correspondência facilmente se verifica do quadro seguinte:

Correspondência 1901 1905 1909
Expedida 2.075.017 3.009.596 5.011.767
Recebida 2.827.785 3.489.261 4.930.556
Em trânsito 1.027.129 1.351.141 1.589.676
Total 5.929.931 7.849.998 11.531.999

A média de correspondência por habitante fixava-se em 4,5 objetos em 1901; em 1909 subiu a 7,6.

O Rio Grande é todo cortado de linhas telegráficas, quer da União, quer do Estado. A correspondência feita pela rede da União em 1909 elevou-se a 2.867.044 telegramas, com 31.337.467 palavras. Adicionando-se a esse movimento o dos telégrafos do Estado e das estradas de ferro, o número de telegramas excederá 3 milhões, o que dá para cada habitante uma média superior a 2 telegramas. Todos esses algarismos eloqüentemente demonstram o grande progresso da viação no Rio Grande.

Instrução pública

O Rio Grande do Sul possui 1.144 escolas públicas primárias, freqüentadas por 33.634 alunos, o que dá uma porcentagem de 36,29 por mil habitantes. O estado ainda possui mais uma Escola Normal, uma Escola Noturna e um Liceu na capital, além duma Academia de Medicina e duma Escola de Engenharia, em Porto Alegre.


Representantes das profissões liberais no Rio Grande do Sul: 1) Dr. Fernando Martins; 2) Dr. João Simplicio Alves de Carvalho; 3) Dr. João José Pereira Parobé; 4) Dr. R. Ahrons; 5) Dr. Joaquim A. Ribeiro; 6) Dr. Victor Azevedo Bastian; 7) II. Menchen; 8) A. Lockwood Thompson
Foto publicada com o texto, página 798

Centros de população

A capital do estado é Porto Alegre, de que trataremos em seguida.

As outras cidades importantes são: Pelotas, com 26.000 habitantes; Rio Grande, o porto mais comerciante do estado e que foi sua antiga capital; Bagé, com 12.500 habitantes, cidade regularmente edificada, sendo talvez a mais comercial da campanha Sul do estado; D. Pedrito, com 4.000 habitantes; Jaguarão, à margem esquerda do rio de seu nome, comercial, 10.000 habitantes; Alegrete, com 6.000 habitantes, cidade muito próspera; S. Gabriel, 8.000 habitantes, sobre o Rio Vacacaí; Cachoeira, bem situada, de aspecto agradável, bom clima, 8.500 habitantes; Rio Pardo, à margem esquerda do Jucuí, uma das cidades mais antigas do estado, onde já existiu uma Escola Militar, com 3.500 habitantes; Sant'Ana do Livramento, com 7.000 habitantes, muito comercial, na fronteira com o Uruguai; Uruguaiana, porto sobre o Rio Uruguai, comercial, 12.000 habitantes; Conceição do Arroio, bastante comercial, com um bom clima; S. Leopoldo, bela cidade, à margem esquerda do Rio dos Sinos, quase habitada somente por alemães, industrial, 7.500 habitantes.

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Cachoeira no Rio da Ponte
Foto publicada com o texto, página 798. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

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