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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [40]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 745 a 753, referentes ao Estado (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais
Foto publicada com o texto, página 745. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Minas Gerais

inas Gerais é um dos quatro estados brasileiros do Interior. Está situado entre 13º 55' e 23º de Latitude Sul, e entre 3º 33' de Longitude Leste e 70º 48' de Longitude Oeste do Rio de Janeiro. É limitado ao Norte pelo estado da Bahia; a Leste, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro; ao Sul, Rio de Janeiro e São Paulo; e ao Oeste pelo estado de Goiás.

A sua área é aproximadamente de 575.000 quilômetros quadrados, e tem uma população de cerca de 4.500.000 de habitantes, isto é, mais ou menos 7,5 habitantes por quilômetro quadrado. Em extensão, é o quinto estado da República, vindo depois do Amazonas, Mato Grosso, Pará e Goiás; mas em população é o primeiro, apesar de ser o oitavo quanto à densidade.

Representa a décima quarta parte da superfície de todo o Brasil e a trigésima de toda a América do Sul. Comparado aos países da Europa, é maior do que a Alemanha, a França, a Espanha, a Suécia, a Noruega, ou do que todos os estados balcânicos; tem quase duas vezes o tamanho da Áustria-Hungria e mais do dobro da Itália ou das ilhas britânicas; e seis vezes o de Portugal, quatorze vezes o da Holanda e vinte vezes o da Bélgica.

Comparado às repúblicas sul-americanas, é um quinto da Argentina, metade da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru ou Bolívia, quatro quintos da extensão do Chile, mais do dobro do Paraguai e mais do triplo do Uruguai.

Maravilhosamente fértil, as suas terras poderiam facilmente comportar uma população dez vezes maior do que a atual, e se a densidade da população do estado atingisse a da Bélgica, Minas abrigaria 350.000.000 de almas, isto é, cerca de sete vezes toda a atual população da América do Sul.

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Palácio presidencial, Belo Horizonte
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Aspecto e clima - É em Minas Gerais que tem a sua maior altitude o grande planalto, cujo centro se acha em Goiás e que estende ramificações por quase todo o Brasil. Os seus picos alterosos lembram a paisagem da Suíça, cujo povo se assemelha aos mineiros nos seus hábitos laboriosos e pacíficos. As serras que margeiam os vales, a do Mar, Mantiqueira, Paranaíba, Arararo, Vão Grande, Pilões, Cascazeiro, Montes Alegres, Caracol, Cordilheira, são todas ramificações de um só sistema orográfico, conhecido pelo nome de Mantiqueira.

Os seus pontos mais elevados são, na ordem decrescente, segundo uma Corografia do Estado:

Itatiaia (fronteira de Minas, Rio e S. Paulo 2.841 m
Agulhas Negras (idem, idem) 2.765 m
Itatiaia-açu (Mantiqueira) 2.700 m
Pico do Caparaó (entre Minas e Espírito Santo) 2.500 m
Papagaio (Ayuruoca) 2.275 m
Pico do Passa Quatro (Mantiqueira) 2.252 m
Serra de Itajubá (Mantiqueira) 2.000 m
Caraça (Serra do Espinhaço) 1.935 m
Serra do Picu (Mantiqueira) 1.900 m
Itambé (Serra do Espinhaço) 1.817 m
Serra da Piedade (Caeté) 1.787 m
Serra de Ibitipoca (Lima Duarte) 1.762 m
Itacolomy (Ouro Preto) 1.750 m
Pico do Breu (Serra do Cipó) 1.750 m
Serra da Pedra Branca (Caldas) 1.710 m
Morro do Lopo (Mantiqueira) 1.655 m
Pico de Poços de Caldas 1.600 m
Serra de Ouro Branco 1.570 m
Serra de Treituba (Baependi) 1.542 m
Pico de Itabira do Campo 1.520 m
Serra da Moeda 1.455 m
Serra de S. José d'El-Rei 1.448 m
Serra de Santa Rita (perto de S. João d'El-Rei) 1.430 m
Pico do Curral (Belo Horizonte) 1.390 m
Pico de Itabira do Mato Dentro 1.386 m
Alto da Figueira (Ouro Preto) 1.362 m
H. Hargreaves (E. F. Central) 1.338 m

De uma só localidade no Sul do Estado, partem muitos rios importantes que se espalham em forma de leque. O mais importante é o São Francisco, que corre do Sul para o Norte até o estado da Bahia, onde dá ao seu curso de 3.161 quilômetros a direção do mar. É navegável em várias seções numa extensão de 2.000 quilômetros.

Nas suas imediações correm o Paraopeba (com 448 km), o Rio das Velhas (com 1.135 km, e todo navegável), o Verde Grande (792 km), o Indaiá (250 km), o Paracatu (627 km) e o seu tributário, o Rio Preto (com 528 km) e o Urucuia (501 km).

No Sul, o Rio Grande, que é em volume d'água o mais considerável dos que contribuem para a formação do Paraná, banha uma região excessivamente rica como centro de criação de gado, e serve de limite entre Minas, Goiás e Mato Grosso. Tem uma extensão navegável de 1.353 km, a que se pode acrescentar os 990 km do seu tributário, o Rio das Mortes.

Segundo as autoridades na matéria, o Rio Grande é a principal das correntes que formam o Paraná, apesar de não ter a mesma opinião o dr. Orville Derby, que dá preferência ao Paranaíba.

Entre outros rios notáveis pode-se mencionar o Doce (977 km), em cujo leito se têm encontrado ouro e diamantes; o Mucuri (528 km); o Jequititonha (1.082 km), cujo vale é um grande centro de mineração; e o Paraíba do Sul, que divide Minas Gerais do Estado do Rio. Há também uma rede abundante de pequenos rios.

Embora situado na zona semi-tropical, o estado tem um clima delicioso, não só ameno como saudável. Há várias razões que explicam este fato, destacando-se como principais a natureza do terreno, a altitude geralmente elevada, a riqueza da vegetação e as correntes aéreas. As chuvas em geral não são excepcionalmente abundantes, embora variem imensamente com as diferenças de altitude. Nas regiões montanhosas, a temperatura nunca excede a 27â centígrados, variando a mínima diária entre 0º e 11º centígrados e a máxima entre 16º e 21º. Pelo seguinte quadro (A), podem ser apreciadas as variações termométricas das principais cidades.

Quadro A

  Máximo C Mínimo C Média
Belo Horizonte 29.00   9.70 19.08
Juiz de Fora 28.20 11.00 19.98
Diamantina 22.88 13.25 18.40
S. João D'El-Rei 26.60   9.50 18.00
Arassuaí 31.00 16.90 23.45
Ouro Preto 22.60 13.10 17.90
Montes Claros 27.30 12.80 21.30
Barbacena 21.89   9.70 16.70
Teófilo Otoni 29.50 16.50 22.56
Uberaba 29.80 11.45 21.20

A pressão barométrica no estado oscila entre o máximo de 690 mm e o mínimo de 630 mm, sendo 670 mm a média geral. O lindo céu azul e o sol brilhante são quase permanentes. O grau médio da evaporação, segundo o atmômetro, corresponde a 1,5 mm e mantém uma perfeita relação com as chuvas. A excelência do clima nas regiões mais elevadas explica o motivo pelo qual as cidades em sua grande  maioria são construídas em morros e planaltos, como abaixo se verifica:

Altitude Cidades
Situadas a mais de 1.200 metros acima do nível do mar: Caldas, Ouro Preto e Poços de Caldas
A mais de 1.100 metros: Barbacena e Serro
A mais de 900 metros: Araxá, Belo Horizonte, Caeté, Cambuquira, Entre Rios, Lambari, Passa-Quatro, Peçanha, Ponte Nova, Prados, Queluz, S. João d'El-Rey e Tiradentes
A mais de 800 metros: Baependy, Bom Sucesso, Campanha, Cambuí, Caxambu, Itajubá, Jaguari, Manhuaçu, Oliveira, Pouso Alegre, Pouso Alto, S. Gonçalo de Sapucaí e Três Corações do Rio Verde
A mais de 700 metros: Catas Altas, Cocais, Camargos, Diamantina, Mariana, Sabará, São Miguel de Guanhães e Santa Margarida
A mais de 500 metros: Abre Campo, Itabira, Alvinópolis, Curvelo e Juiz de Fora

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A Faculdade de Direito, Belo Horizonte
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História - A história de Minas Gerais difere das de outros estados brasileiros, porque, em vez  de a sua população se ter formado, vindo aos poucos do litoral para o interior, desenvolveu-se procedendo do Norte e Sul do país e espalhando-se espontaneamente em todas as direções. Da Bahia, Norte do Brasil, e de São Paulo, Sul, partiram bandos de aventureiros, em busca de ouro e esmeraldas, e, movidos pela ambição e rivalidades, sustentaram, uns com os outros, renhidas lutas.

Correram notícias referentes à fabulosa riqueza do território, desde os primeiros tempos da ocupação portuguesa, e ainda falam lendas das ricas minas de prata, que, segundo diziam, foram exploradas por um descendente de Caramuru, mas que, desde então, jamais foram encontradas.

Caramuru muito auxiliou as expedições que se fizeram para reconhecimento e estudo da nova colônia de Portugal. Houve várias expedições. Uma partiu do Porto Seguro em 1553, e subiu o Rio Jequitinhonha até às margens do São Francisco. Outra, partindo da Bahia, subiu o Paraguaçu, mas os seus chefes tiveram de recuar com a perseguição dos Jupinaens.

A anexação do Brasil à coroa da Espanha fe-los perder a esperança por algum tempo, mas novo  estímulo adquiriram com a restauração de Portugal em 1640. Com a atitude agressiva dos selvagens Aimorés, tomaram caminho do Sul, visto que se viram impedidos de continuar para o Norte. E o capitão Felix Jacques pela primeira vez atravessou a serra da Mantiqueira, pela estrada do Embaú, hoje conhecida por Cruzeiro, e explorou as regiões elevadas das imediações do Rio Verde.

Pelo Rio Doce, procedendo do Norte, e pela estrada do Embaú, vindo do Sul, penetraram diversas expedições no interior, por muitos anos seguidos, e pouco mais tarde, depois de removido o perigo dos índios, foi que se tornou possível alcançar o Rio Paraguaçu e o vale do São Francisco, além da Cordilheira, assim como o Rio das Velhas.

Em 1674, Fernão Dias, fidalgo poderoso, partiu com uma grande expedição e chegou até Anhanhonhacanhura, lugar agora conhecido por S. João do Sumidouro, que foi durante uma geração o centro da atividade paulista. Daí seguiu a expedição para o Vapacu, localidade que antes já havia sido procurada por exploradores. Contudo, a morte de Fernão Dias pôs fim a essa aventura.

A nova descoberta excitou a cobiça da metrópole, que enviou Rodrigo de Castello Branco a tomar posse do território; esse foi, porém, assassinado por Borba Gatto, sucessor de Dias. Alarmados com a morte do mensageiro do rei, os seus partidários fugiram com todos os instrumentos e gado. Trinta anos depois, os descendentes dos fugitivos, então senhores de grandes rebanhos, muito concorreram para o desenvolvimento das minas de ouro.

Em 1694 foi expedida uma ordem real que dava direito de posse das  minas de ouro e prata ao descobridor, com a condição de pagar  à coroa um quinto do produto das mesmas. Em 1700, foi este sistema alterado, e só depois de alguma resistência, novo sistema foi aceito pelos paulistas, com a condição de serem eles os únicos beneficiados. Por isso, foi proibido aos exploradores que vinham da Bahia o acesso às minas, e o governador do distrito ordenou que o caminho fosse fechado.

Contudo, logo que isto se fez, uma nova estrada para o litoral foi aberta, atravessando o Espírito Santo, pela qual, assim como pelo estado do Rio, os forasteiros iam reclamar a parte que lhes tocava. Na verdade, tão irresistível foi essa corrente, que em 1705 a inútil proibição foi revogada.

Entretanto, começou a lavrar entre as diferentes facções um sentimento de ódio, e em 1707 os paulistas foram expulsos. Bateram-se valentemente pela posse de cada palmo de terra; e no Rio das Mortes, onde se feriu a última batalha, trezentos paulistas foram mortos a sangue frio, depois de entrincheirados. Em represália, fizeram nova investida contra os emboabas, em que não foram bem sucedidos por falta de hábil direção.

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O falecido presidente Affonso Penna e sua família
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Desde essa época, Minas Gerais tem progredido rapidamente. Ainda com relação à história, não é lícito esquecer-se a célebre Conjuração Mineira, em 1789, personificada em Tiradentes, com o fim de proclamar a república na então capitania, tendo por capital S. João d'El-Rei. Este fato, que se desenrolou na cidade de Ouro Preto, prova que a primeira idéia da liberdade despontou na província de Minas, favorecida por alguns varões ilustres, entusiasmados com a emancipação dos Estados Unidos, e cujos nomes já se tinham feito notáveis nas letras pátrias. Essa idéia se perpetuou na divisa que adotaram: "Libertas quae sera tamen".

Os conspiradores quiseram valer-se da inquietação de ânimos e indisposição do povo contra a metrópole, que anunciara a cobrança efetiva das 700 arrobas de ouro, em quanto já montava a dívida da capitania. Mas, traídos por Joaquim Silvério dos Reis, que tudo revelou ao governador de então, visconde de Barbacena, viram o seu plano prejudicado com a acertada e hábil providência da parte do visconde, suspendendo o pagamento da dívida. Este ato desarmou inteiramente os conspiradores, arrebatando-lhes o descontentamento popular, com que principalmente contavam. As figuras de maior destaque no movimento foram: o dr. José Alves Maciel, o poeta dr. Claudio Mannuel da Costa, o dr. Thomaz Antonio Gonzaga, cantor da Marilia de Dirceu, o desembargador Alvarenga Peixoto, outro cultor das Musas, Domingos Vidal Barbosa, o padre Toledo e o alferes Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha  o Tiradentes.

Este, querendo ainda fazer  prosélitos, veio para o Rio de Janeiro, onde foi preso e executado na praça que tem hoje  o seu nome, a 21 de abril de 1792. Os outros foram sendo degredados para os presídios da Costa d'África.

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Ministério do Interior, Belo Horizonte
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Imigração e colonização – Desde 1831, se tem procurado animar a imigração, com estabelecimento de núcleos europeus. Do total de mais de 2½ milhões de imigrantes que têm desembarcado no Brasil durante os últimos cinqüenta anos, mais de 300.000 se instalaram em Minas Gerais. No período de 1888 a 1903, o número atingiu exatamente a 75.000. Decerto há ainda muito lugar para avultado número de imigrantes, tanto que em 1908 o departamento respectivo relatou haver 143.980.884 metros quadrados de terras devolutas, de que está o governo querendo dispor a preço ínfimo.

A imigração espontânea é considerada a mais conveniente. Embora cerca de 20.000 imigrantes tenham entrado em Minas, num ano, a expensas do Estado, nos últimos tempos só aos estrangeiros que ali já têm parentes estabelecidos se concede passagem. Durante o ano de 1911, foram introduzidas no Estado, por meio da União, 96 famílias de imigrantes, compreendendo 543 indivíduos. Para auxílio e maior facilidade de se estabelecerem, fundou o governo, para os imigrantes que vêm à própria custa, diversas colônias (quadro A).

Quadro A

Colônia Distrito População

Produção em contos de réis

Afonso Pena Belo Horizonte 170 55
Vargem Grande Belo Horizonte 324 39
Rodrigo Silva Barbacena 1.614 308
Rio Doce Ponta Nova 28 -–
Barão de Ayurnoca Mar de Espanha 248 7
Constança Leopoldina 386 53
Major Vieira Cataguazes 83 30
Santa  Maria Cataguazes 345 91
Itajubá Barbacena 242 12
Nova Baden Águas Virtuosas 376 49
Francisco Sales Pouso Alegre 287 30
Wenceslau Braz Sete Lagoas 68 –-

Há também uma colônia do Governo Federal, de nome João Pinheiro, que tem uma área total de 9.171 hectares e é dividida em 180 lotes. Em virtude de um contrato feito entre o estado e a Companhia da Estrada de Ferro Leopoldina, pagou esta ao tesouro público a quantia de Rs. 2.000:000$000 para o desenvolvimento da colonização na região em que há abundância de madeiras de lei. E assim adquiriu o governo de Minas 254 alqueires de terra em Mar de Espanha e 333 em Leopoldina para a fundação de novas colônias.

O governo da União também comprou 810 alqueires de boas terras em Ouro Fino, para o mesmo fim. Além disto, o governo brasileiro, no contrato que realizou com a Companhia da Estrada de Ferro de Goiás, obrigou-a a empreender, dentro de 20 quilômetros de cada lado da mesma estrada, o estabelecimento de famílias habituadas à criação do gado e aos trabalhos agrícolas.

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Sete Lagoas, com as suas cavernas e cachoeiras
Foto publicada com o texto, página 746. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Agricultura, pastorícia e laticínios – Em nenhuma outra região do Brasil se encontram condições mais favoráveis à agricultura. Não só é rico o Estado em diamantes, pedras preciosas, minas de ouro, ferro e chumbo; o seu maior tesouro está nas suas opulentas florestas, na riqueza de suas  pastagens e na  uberdade do seu solo, em que, segundo a altitude, podem crescer a vinha, a cana de açúcar, o café, a juta, o algodão, a mandioca, o trigo, a aveia, frutos europeus e tropicais. A terra, por assim dizer,, é própria para o cultivo de quase todas as plantas, quer  da zona temperada, quer da sub-tropical.

A estatística detalhada de estabelecimentos agrícolas do estado não existe de fato. Contudo, há um trabalho do governo feito nesse sentido, compreendendo cerca de metade das fazendas, com os seguintes resultados:

 --

Fazendas

de cereais

Fazendas de

 criação de gado

Fazendas de criação de gado e de cereais

--

Seções

NºD

Méd.

Méd.$

Méd.D.

Méd.

Méd.$

Méd.D.

Méd.

Méd.$

Méd.D.

NºD

Leste

11

62

25

26.214:000

4.860:000

5

8.056:000

1.178:000

16

23.868:000

4.162:000

17

118

Oeste

9

40

24

16.624:000

3.138:000

67

26.751:000

3.217:000

21

21.998:000

4.895:000

15

66

Norte

8

39

24

8.979:000

1.910:000

15

7.379:000

1.007:000

34

8.850:000

2.016:000

6

43

Sul

14

46

37

26.105:000

3.994:000

13

18.653:000

1.457:000

32

23.984:000

3.310:000

26

71

Centro

12

75

16

15.465:000

2.223:000

13

16.338:000

1.717:000

15

16.750:000

2.714:000

15

96

Títulos das colunas:

Nº = Nº de municipalidades

NºD = Nºde distritos

Méd. = Média das fazendas em cada distrito

Méd.$ = Média do capital empregado em cada uma

 = Média da despesa anual em cada uma

Parte considerável da população se ocupa na criação de todas as espécies e na exploração das respectivas indústrias.

Alguns distritos são especialmente apropriados a diversos ramos da indústria pastoril. Assim, nos municípios do Norte, como Guanhães, Serro, Conceição etc. a especialidade é a criação de cavalos e mulas, ao passo que nos do Triângulo, ao Sul, e em todo o Oeste da Serra da Mantiqueira, o maior cuidado da população se volta para a criação e engorda do gado destinado ao consumo público. Calcula-se que a produção deste gado pelo estado de Minas seja no mínimo de 1.000.000 de cabeças anualmente, donde se pode concluir que devem existir cerca de 5.000.000, além do grande número de vacas leiteiras.

Devido à vastidão do seu território, tem-se verificado que nenhuma raça serve para todas as regiões. O Schwitz, o Zebu, o Devon, o Holandês, o Flamengo, o Nellore, o Simmenthal, o Caracu e o Angus, mocho, com os seus variados cruzamentos, acham-se mais ou menos no mesmo plano. Sabe-se que  o Caracu, raça indígena, puramente mineira, dá excelentes resultados com os touros importados, especialmente com o Schwittz. Parece que afinal o Flamengo, o Devon e o Schwitz virão a conquistar a preferência.

Nos últimos anos, tem o fabrico da manteiga e queijos tido enorme desenvolvimento, e estes produtos gozam da preferência do povo nos mercados do Rio de Janeiro, pela razão de serem superiores aos seus similares de outras partes do mundo. Dentro do estado, há mais de cem fábricas exclusivamente empenhadas na indústria de laticínios, e de ano para ano mais avulta o número delas. No período de sete anos de 1901 a 1907, inclusive, as vendas foram as seguintes:

Leite 22.712.809 litros
Queijo 29.227.289 quilos
Manteiga 5.290.218 quilos

Só em 1910 a exportação de Minas Gerais para ouros centros brasileiros foi de:

Leite 8.704.654 litros
Queijo 5.416.751 quilos
Manteiga 2.557.680 quilos

A indústria do queijo, para dar grandes resultados, depende de facilidades de transporte; e como vai em rápido progresso a construção de estradas de ferro, é de esperar que muito se expanda ainda este ramo de exportação.

A criação de porcos toma também grandes proporções, e o clima do estado é excepcionalmente conveniente à sua expansão. A raça Canastra é a que goza da preferência geral. Na Exposição Pecuária realizada em 1908, na cidade de Belo Horizonte, o porco premiado era desta raça e não pesava menos de 376 quilos. Contudo, a raça Yorkshire está sendo agora introduzida em grande escala, adaptando-se perfeitamente às condições climatéricas  do estado. A criação de galinhas é também de importância, sendo considerável a exportação de frangos e ovos.

A riqueza agrícola de Minas consiste no cultivo do café, cereais, tabaco, algodão e forragens. Em 1907, na exportação do estado figuraram Rs. 70.000:000$000 de café, Rs. 7.176:000$ de cereais, Rs. 54.000:000$ de fumo e Rs. 750:000$ de batatas.

O café de Minas Gerais representa um sexto da produção do Brasil, e um nono da produção do mundo. Os cafezais em sua maioria estão de 300 a 500 metros acima do nível do mar. As altitudes maiores não são igualmente favoráveis ao crescimento do café, pois, embora o cafeeiro resista sofrivelmente ao frio, ressente-se contudo da violência dos ventos.

Por terem sido proibidas novas plantações de café, pode-se garantir que o valor da exportação de 1907 (cerca de 70.000:000$) não se alterou muito nos últimos anos.

O trigo, que já foi  largamente cultivado em Minas, quase por completo desapareceu. Agora se evidencia uma reação e estão de novo sendo semeadas áreas enormes deste cereal. Explica-se esta reanimação com os resultados obtidos nos campos de experiência do estado. As médias, calculadas por hectare, dos resultados alcançados nessas experiências, deram 14,7 hectolitros para o trigo Trimenia, 16,7 para o Farro, 20,6 para o Majorca, 24,2 para o Barleto e 16 para o Francês. Quanto ao peso, o resultado foi também lisonjeiro, tendo dado em média 76 quilos por hectolitro. Comparada a outras regiões produtoras, a posição de Minas é perfeitamente satisfatória, como se vê abaixo:

Portugal 9 hectolitros por hectare
Estados Unidos 11 hectolitros por hectare
Argentina 12 hectolitros por hectare
Espanha 14 hectolitros por hectare
Áustria 15 hectolitros por hectare
França 15,4 hectolitros por hectare
Dinamarca 17,4 hectolitros por hectare
Noruega 20,8 hectolitros por hectare
Holanda 22,2 hectolitros por hectare
Bélgica 25,1 hectolitros por hectare
Inglaterra 27,7 hectolitros por hectare

A média, portanto, da produção mineira, só é excedida pela da Noruega, Holanda, Bélgica e Inglaterra; e considerando-se apenas a colheita da espécie Barleto, só será excedida pela da Bélgica e Inglaterra.

São abundantes em Minas Gerais o capim gordura roxo, o jaraguá, o colonia, o angola, o teosinto e outros, dando-se agora grande incremento à cultura da alfafa, por isso que, com a introdução de gado de boas raças, mais e mais necessária se está tornando esta leguminosa.

O feijão, de que há constante procura, é vastamente cultivado, com especialidade entre os pés de café, e a exportação em 1908 excedeu consideravelmente a 10.000.000 de quilos. A cultura do arroz muito tem progredido nos últimos anos e em 1908 a exportação quase atingiu a 10.000.000, ao passo que a do milho no mesmo ano foi de cerca de 27.000.000 de quilos.

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Uma lancha no Rio São Francisco
Foto publicada com o texto, página 750. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Mineração e outras indústrias – Desde os tempos coloniais até hoje, tem sido reconhecida a imensa riqueza  mineral do estado: ouro, diamantes, manganês, esmeraldas, turmalinas, o ferro, o chumbo e muitos outros produtos do subsolo são excessivamente abundantes.

Dizem que, durante o período colonial, foram extraídos 615.000.000 gramas de ouro dos rios e das minas. Só de uma destas, a de Gongo Soco, no município de Santa bárbara, ao Norte de Ouro Preto, foram tirados 347 quilos em 16 dias do ano de 1829, e onze anos antes, de um só veio desta mesma mina tinham sido obtidos 170 quilos de ouro. Em 1824, no decurso de dois meses de trabalho, forneceu ela 200 quilos.

Eis os dados da exportação de ouro em barra nos últimos anos:

  Quantidade em gramas Valor oficial
1896 2.030.142 5.483:000$252
1900 4.420.422 13.804:977$906
1904 4.081.109 10.203:189$713
1907 3.856.950 7.793:000$000
1908 3.905.180 7.894:000$000
1909 4.165.298 8.330:596$780
1910 3.751.682 7.503:3644$187
1911 4.298.760  

Considerável número de companhias exploram o ouro de Minas gerais, podendo ser mencionadas como as mais importantes: a Morro Velho Gold Mining Company, com capital de 12.000:000$, que há mais de 70 anos explora as minas do morro do mesmo nome e de Vila Nova de Lima. Está situada a 15 quilômetros de Belo Horizonte e a 6 da estação de Honorio Bicalho. As duas primeiras minas desta companhia foram destruídas por um acidente depois de terem produzido Rs. 103.573:000$ em ouro. A atual já atingiu a uma profundidade de mais de 1.250 metros e a extração diária do minério é de 430 toneladas. O número de operários, de 1.100.

A Ouro Preto Gold Mines of Brazil Ltd., com o capital de 100.000 libras, que possui as minas da Passagem, perto de Ouro Preto e Mariana; a Companhia Aurífera de Minas Gerais, com capital de 1.000:000$, que possui as minas de D. Florisbela, na estação de Honório Bicalho; a São Bento Gold Estates, Ltd., que tem minas a 6 quilômetros da cidade de Santa Bárbara; a Rotulo Company, Ltd., que opera na colônia Rotulo; o Anglo Brazilian Gold Syndicate, Ltd., que funciona no município de Santa Bárbara; a Companhia de Mineração, que está empenhada na exploração do ouro no leito do Rio Piranga.

A produção de diamantes nos tempos coloniais foi, como a do ouro, muito maior do que atualmente. No século XVIII, dentro de poucos meses, foram extraídos 333.000 quilates de diamantes de uma légua quadrada de terreno, na fonte do Caeté Mirim. Entre os anos de 1740 e 1771 extraíram-se 1.660.569 quilates na região de Diamantina do Tijuco, no vale do Jequitinhonha. E entre os anos de 1772 e 1828, obteve a companhia Real Extração Diamantina do Tijuco 1.319.192 quilates de diamantes.

A produção é agora muito menor, embora os algarismos oficiais não representem o valor real pelo fato de  dominar notoriamente o contrabando. Assim, no ano de 1900 foram pagos direitos sobre 2.441 gramas de diamantes, ao passo que em 1906 só há o registro de 1.430 gramas.

Encontram-se diamantes em 15 distritos do estado e nos leitos de cerca de 25 rios, e a opinião corrente é que são superiores aos da Colônia do Cabo e do Transvaal, quer em beleza, quer em brilho. Têm sido encontrados no estado alguns diamantes de grandes proporções. Em 1853, encontrou-se em Bagagem o famoso Estrela do Sul, que figurou na Exposição Universal de Paris em 1859. Tinha de peso bruto 2.545 quilates e foi avaliado em Rs. 2.000:000$. Foi o maior diamante encontrado no Novo Mundo e pertence hoje ao Rajá de Baroda.

Quatro anos mais tarde, foi achado na mesma região de Minas Gerais o diamante Dresda, pesando 177 quilates. O Coroa de Portugal, de peso de 120 quilates, foi apanhado no Rio Abaeté; um de 70 quilates em Curralinho; dois nas furnas do Pavão, pesando respectivamente 63 e 34 quilates.

Muitas outras pedras de valor têm sido encontradas no estado, principalmente nos municípios de Rio Doce, Salinas, Ouro Preto, Arassuaí e Itinga, inclusive as turmalinas negras e verdes (esmeraldas brasileiras), águas-marinhas, granadas, ametistas, amiantos, berilos, cimofanas, topázios e quartzos de várias cores.

Nas montanhas circunvizinhas e Belo Horizonte, Vila Nova de Lima e Itabira do Campo e nas serras do município de Santa Bárbara, têm sido descobertas valiosas minas de ferro. Em toda a sua extensão, a cordilheira do Espinhaço abunda em minérios de ferro, de variadas espécies - itabirite, hematite, limonite, oligisto e outras -, ao passo que o Monte Pilar, em Conceição do Serro, é uma verdadeira montanha férrea. Os leitos de muitos rios, tais como o de Piracicaba, possuem minério de ferro.

A exportação atualmente é de um e meio milhão de quilos; mas em breves anos Minas Gerais será a mais importante região produtora, porque para as suas ricas minas se volta a atenção de todos, à vista da decadência em que se acha atualmente a produção de ferro no resto do mundo.

A extração do manganês é também de crescente importância, havendo numerosas jazidas naturais no município de Ouro Preto, nas montanhas que margeiam a Estrada de Ferro Central, em São Julião e em várias outras partes do estado. O minério é quase sempre transportado diretamente para o Rio de Janeiro, e em 1908 a remessa atingiu a cerca de 244.000.000 e quilos.

O estado é muito fabril. Há, com efeito, mais de 40 fábricas de tecidos de algodão, e de muitos outros artigos, em Juiz de Fora, Caeté, Belo Horizonte, Barbacena etc. Eis uma curiosa lista de fábricas:

Pratos de ferro fundido, em Itabira do Campo, Piracicaba, Ouro Preto, Catas Altas, Mato Dentro, Pilar etc.; chapéus (feltro, cabelo e castor), em Curvelo, Gouvêa e Diamantina; fumo (em folha, picado e em rolo) em Pomba, Guanhães, Palmira, Rio Novo, Patrocínio etc.; velas (de cera, sebo e estearina) em Belo Horizonte e Juiz de Fora; papel, em Rio Acima (estação da Estrada de Ferro Central); cerveja, em juiz de Fora, Belo Horizonte, Ouro Preto e Diamantina; produtos cerâmicos, em Caeté, Barbacena, Juiz de Fora, Belo Horizonte e Penha Longa; couros, peles e sola, em Juiz de Fora, Itabira do Campo, Aiuruoca, Uberaba, Diamantina, Montes Claros, Bocaiuva etc.; móveis, em Juiz de Fora e Belo Horizonte; açúcar, em Rio Branco, Aracati, Ponte Nova; refinação de açúcar, em Juiz de Fora e Rio Branco; conservas, geléias e frutas cristalizadas, em Barbacena, Sítio, Diamantina e Cachoeira do Campo; bebidas alcoólicas, em Juiz de Fora, Belo Horizonte, Porto Novo, Ouro Preto, Passagem, Caxambu, Pequeri etc.; calçados, em Juiz de Fora e Diamantina; jóias, em Formiga, Diamantina,  Sabará, Montes Claros, Poços de Caldas; sabão, em Juiz de Fora e Belo Horizonte; meias e camisas de  meia, em Juiz de Fora e Belo Horizonte.

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Cachoeira perto de Barbacena
Foto publicada com o texto, página 747. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Vias de comunicação – Em 1908, era o estado de Minas Gerais servido por 4.215.706 quilômetros de estradas de ferro, como se vê em seguida:

 

Metros

Central do Brasil 869.092
Minas e Rio 147.000
Muzambinho 237.990
Oeste de Minas 920.000
Goiás 93.978
Mogiana 302.000
Vitória a Minas 69.700
Leopoldina 851.035
Sapucaí 407.000
Juiz de Fora a Piau 58.101
Guaxupé (ramal da Mogiana) 14.000
Paraopeba 12.000
Bahia e Minas 233.870
  4.215.766

 

Desde então, têm sido abertas as seguintes linhas:

Central do Brasil:  
Lassance a Pirapora 84.000
Caeté a Sta. Bárbara 50.000
Oeste de Minas:  
Belo Horizonte a Henrique Galvão 150.000
Carrancas a Bom Jardim 130.000
Leopoldina:  
Santa Luiza a Manhuaçu 50.000
Piranguinho a S. José do Paraíso 40.000
  504.000

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Pirapora, no Rio São Francisco
Foto publicada com o texto, página 749. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

A estrada mais importante no estado é talvez a Leopoldina, que dá pronto acesso ao porto do Rio de Janeiro e serve a parte oriental do território. Mais para o Norte, a Vitória a Minas liga a capital do Espírito Santo a Sant'Anna de Ferros, onde se entronca com um ramal da Estrada  de Ferro Central do Brasil recentemente construído.

Em futuro próximo, a Vitória a Minas percorrerá as ricas regiões de Peçanha e Caratinga. A Bahia e Minas liga o porto de Caravelas, na Bahia, a Teófilo Otoni em Minas, sendo o escoadouro natural de todo o Norte do Estado. O Sul é servido pela Minas e Rio, Muzambinho e Sapucaí. O Sudoeste, pela Mogiana, e o Oeste, pela Oeste de Minas, e o centro pela central do Brasil. Mas há ainda uma grande região do Norte, que aguarda adequados meios de comunicação. Há muitas estradas públicas em Minas, além de rios navegáveis em grande extensão.

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1 e 3) Quartéis em Belo Horizonte; 2) Penitenciária de Ouro Preto
Foto publicada com o texto, página 750. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

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