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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - AUTONOMIA
Autonomia e imprensa (8)

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Historicamente uma cidade guerreira, que sempre lutou por seus direitos, ao ponto de ser marcada com epítetos como Moscou Brasileira e Cidade Vermelha, Santos foi duramente castigada pela Ditadura Militar, com a perda de sua autonomia política e administrativa, em função de seu enquadramento como Área de Segurança Nacional.

Essa história pode ser contada através das capas e principais páginas dos jornais locais. Uma seleção dessas páginas consta na obra Sombras Sobre Santos - O Longo Caminho de Volta, de Ricardo Marques da Silva e Carlos Mauri Alexandrino (ed. da Secretaria Municipal de Cultura, Santos/SP, 1988). Entre elas, a edição de segunda-feira, 4 de junho de 1984, do jornal A Tribuna:


Às 2h29, o juiz José Ricardo Tremura fez a proclamação do resultado
que consagrou a preferência por Justo

ELEIÇÃO 84
Justo, o prefeito

Os números

 

Votação

%

Oswaldo Justo (PMDB)
78.413
35,24
Rubens Lara (PMDB)
54.049
24,29
Telma de Souza (PT)
34.252
15,39
Eduardo Castilho (PMDB)
9.351
4,18
Nobel Soares (PT)
6.631
2,98
Jessé Rebello (PT)
6.456
2,90
Martinho Ribeiro (PDT)
4.886
2,19
Fernando Oliva (PDS)
4.725
2,12
Danilo Fernandes (PDT)
2.545
1,14
Ângelo Ramos (PDS)
1.894
0,85
Jamil Issa (PDT)
1.877
0,84
Votos em branco
10.654
4,78
Votos nulos
6.736
3,02
Total

222.469 

Uma vitória para ninguém pôr em dúvida: com 78.413 votos, Oswaldo Justo foi eleito, de forma espetacular, o novo prefeito de Santos, depois de 15 anos sem eleições, derrotando o até então favorito Rubens Lara por uma diferença superior a 24 mil votos. O resultado oficial foi proclamado às 2h30 pelo juiz José Ricardo Tremura, depois que os partidários de Justo já haviam realizado verdadeiro carnaval no ginásio do Atlético Santista.

Do lado dos que apoiavam Lara, houve muito choro, com a maioria não conseguindo entender a razão da reversão das expectativas e, muito menos, a incrível diferença entre os dois candidatos. Em terceiro lugar, ficou Telma de Souza, do PT, com 34.252 votos.

Por partidos, os totais foram estes: PMDB, 141.813; PT, 47.339; PDT, 9.308 e PDS, 6.619 votos.

Logo na contagem dos votos das primeiras urnas, pressentia-se a vitória de Justo, pela grande diferença sobre os demais candidatos. Aos poucos, a alegria tomou conta do público, inclusive membros do PDS e do PTB, que torciam fervorosamente por Justo.

O prefeito eleito esperou até às 2h30 para conhecer o resultado oficial das urnas, cumprindo assim o que ele dissera às 10 horas, antes de votar: "Só me considero eleito quando houver a proclamação, até por uma questão de prudência". Essa prudência ele teve até o último momento. E, depois que o juiz Ricardo Tremura leu a ata dos trabalhos da Justiça Eleitoral, Justo afirmou: "Agora sim, me considero eleito".

Durante a espera pelo resultado, Justo ficou rodeado por amigos, cabos eleitorais e alguns faixas-pretas de caratê. Passeou pelo salão do Atlético, deu inúmeras entrevistas e, pouco antes da leitura da ata, preferiu sentar-se numa caixa d'água, na cozinha do salão do clube, segurando uma rosa vermelha nas mãos.

A hora da fotografia do ato solene foi documentada por um relógio. Tremura, antes de abraçar o novo prefeito eleito e seu vice, Esmeraldo Tarquínio Neto - na presença da viúva de Esmeraldo, Alda Tarquínio -, informou que o edital ficará exposto no salão do Fórum durante os próximos três dias (até às 18 horas de sexta-feira), para eventuais recursos que têm que ser impetrados nas próximas 48 horas.

Depois desse prazo, será afixada a data da proclamação do eleito e seu vice, em solenidade no salão do júri do Fórum. O dia da posse está marcado para 9 de julho.

Depois do ato, Justo e seus correligionários formaram extensa fila de automóveis, para juntar-se aos demais cabos eleitorais e amigos que foram comemorar a vitória com muito chope, no comitê do Boqueirão.

Não faltou, em nenhum momento, vontade de ir às urnas. Às 7 horas, já havia gente fazendo fila em vários locais, títulos firmes entre os dedos, para garantir a participação na histórica eleição. Mas, antes do momento esperado com tanta ansiedade, os eleitores eram abordados por dezenas de cabos eleitorais, que deixaram nas ruas um saldo de algumas toneladas de papel. Festa e alegria marcaram o dia. Emoção também, especialmente para o filho que reencontrou a mãe, depois de 20 anos. Ele descobriu o local que votaria e ficou à sua espera, para um abraço quase eterno. Para completar o histórico dia, o prefeito Paulo Barbosa anunciou que quer tornar-se prefeito eleito de Santos em 1988.

Opinião

Ao se eleger prefeito de Santos, Osvaldo Justo terá pela frente extraordinários desafios. A expectativa é de que consiga superá-los, através de uma administração profícua e austera, quando nada para honrar a confiança manifestada por milhares de pessoas que sufragaram seu nome, na memorável jornada cívica de ontem.

Santos reconquista a liberdade

A história repetiu-se. Um Justo e um Esmeraldo Tarquínio são novamente os eleitos pelo povo de Santos, com votação consagradora, para quatro anos de mandato. Santos libertou-se, e abre o caminho para a libertação das cidades que ainda estão aprisionadas pelo agora completamente injustificável argumento da segurança nacional.

Num momento entre as dezenas de entrevistas que concedeu durante a noite de ontem e a madrugada de hoje, o prefeito Osvaldo Justo afirmou que o santista tem a honra de abrir um novo período de liberdade na história política do País. "A Cidade que libertou o Brasil e ajudou a libertar os escravos agora é, uma vez mais, livre".

Em meio à emoção, o prefeito eleito também declarou: "Não quiseram Esmeraldo Tarquínio prefeito; agora terão que aceitar o seu filho como vice-prefeito". Um tributo, um ato de justiça que comoveu Esmeraldo Tarquínio Neto, mas marejou os olhos de Alda Tarquínio. A mulher de Esmeraldo transfere, para seu filho, a alegria sentida quando o marido foi eleito.

Mas, a eleição em Santos não representa tudo. Um desejo declarado está no coração do santista e do povo brasileiro. Como disse Osvaldo Justo, nós precisamos eleger um presidente como fizemos aqui, pelo voto livre e direto.


Dezenas de correligionários carregaram o vencedor em triunfo, antes mesmo do encerramento da apuração, no ginásio do Atlético Santista. Raras vezes, na história política de Santos, viu-se tão grande manifestação de entusiasmo


2h15: exausto, Justo senta na beira da caixa d'água, com uma rosa vermelha nas mãos


O presidente do TRE abriu simbolicamente o primeiro voto no Atlético, 
prenunciando vitória de Justo

ELEIÇÃO 84
Melhor do que eleição, só outra eleição. Direta e já

Foi um dia daqueles que deixam qualquer um muito contente: o sol iluminou com generosidade a movimentação nos locais da votação, jogando raios claros nas cabeças dos santistas - e de todos aqueles "turistas" que vieram alegremente pelas estradas para sentir o gostinho da "democracia litorânea". Uma democracia que nos custou muita briga, muita ansiedade nos últimos 15 anos. Mais ainda: os papéis praticamente empurrados aos eleitores por um magnífico batalhão de cabos e militantes partidários são assim como chaves mestras, prontas a desvendar o mistério da participação popular. Eleição agrada e faz crescer. Pois que venham novas doses, urgente! Hoje a Prefeitura, amanhã o Palácio do Planalto! Em linha direta, já!

Papéis caindo no chão, papéis se levantando dentro de cada um, papéis que, agora, temos a obrigação de assumir, para que os tempos sejam realmente novos, para que o cotidiano de cada santista seja um pouco mais gratificante, para que todos sintam prazer em estar juntos.

As imagens aí estão e, sempre que o desânimo se infiltrar, devem ser lembradas. São as cenas do momento mais importante de toda a história santista. No abraço dos adversários momentâneos, no descanso dos boqueiros, na beleza da militante, na vivacidade das crianças participantes - em tudo, a certeza de que, agora, o povo pede passagem para ser sempre povo atento, povo direto, povo já. Povo sempre!







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