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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - AUTONOMIA
Tempos de Carvalhinho... (1)

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Historicamente uma cidade guerreira, que sempre lutou por seus direitos, ao ponto de ser marcada com epítetos como Moscou Brasileira e Cidade Vermelha, Santos foi duramente castigada pela Ditadura Militar, com a perda de sua autonomia política e administrativa, em função de seu enquadramento como Área de Segurança Nacional.
Em 11 de março de 1979, o jornal santista A Tribuna apresentou um depoimento do então prefeito municipal, Antônio Manoel de Carvalho:
 
A sua maior vitória, como prefeito: obter e aplicar recursos financeiros em obras de saúde, educação, drenagem, pavimentação e desenvolvimento social, particularmente na Zona Noroeste, a mais carente da Cidade. Derrotas, ele diz que foram poucas, entre as quais o fato de não ter podido implantar o rodízio noturno nas farmácias. Seu maior orgulho: ter iniciado a vida profissional como um simples contínuo de um escritório de advocacia e atingido a maturidade na direção de importantes empresas e no governo de sua cidade, sem - conforme afirma - cometer atos desonestos. Para a Câmara Municipal, ele dá a nota 10, a máxima, com exceção dos vereadores Roberto Mehanna Khamis, da Arena, e Aldo Hernandes, do MDB, para os quais ele reservou um "zero".

Pela primeira vez, ele conta que os vereadores Fernando Dias Oliva e Odair Viegas, ambos da Arena, quiseram ser, respectivamente, os secretários de Administração e de Serviços Públicos. E explica porque não os atendeu: os titulares mantidos nos cargos atendiam aos requisitos de uma trilogia de "honestidade, lealdade e capacidade". Com relação ao bispo diocesano. D. David Picão, ele critica o que considera um exorcismo à violência como meio para resolver problemas sociais, achando que o prelado católico deveria ser um "bombeiro de almas".

Em relação a Paulo Maluf, que no dia 15 assumirá o Governo do Estado: "Ele me disse que era apoiado pelo sistema, até citou o nome do general Hugo Abreu como garantia, mas eu votei no Laudo Natel". Outra referência: "O Alfeu Brandão Praça e o Sílvio Fernandes Lopes disseram que apoiavam o Natel, hoje eles são os líderes da ala malufista na Baixada".

Se possui inimigos? "Não, eu não tenho inimigos, eu tenho adversários, eles são a escória mínima que qualquer cidade tem". Ele também não nega ter um pavio curto, que o levou a atitudes explosivas, nesses últimos cinco anos, mas garante que não guarda ódios e nem ressentimentos. Até considera que a oposição feita pelos então vereadores Alberto Marcelo Gato e Nélson Fabiano Sobrinho - posteriormente cassados quando exerciam mandatos parlamentares - "foi uma oposição ideológica, eles não levaram as críticas a termos pessoais".

Sobre o empresário Carlos Caldeira Filho, indicado por Maluf para ser o novo prefeito: "Santos merece coisa melhor". E algumas confissões: "A política está no meu sangue, eu vou continuar na política, porque entendo que a minha contribuição é obrigatória". "A minha obra administrativa não teve a correspondente votação popular, o que prova que não existe transferência de prestígio". "Os dois partidos políticos fracassaram, ninguém se entende neles, há contradições ideológicas e interesses pessoais e sou pela abertura do sistema partidário".

Essas são algumas das revelações feitas pelo prefeito Antônio Manoel de Carvalho no seu...

...Momento de despedidas

Depoimento a Mário Skrebys, com fotos de Cândido Gonzalez

Ele passou quase noventa minutos se movimentando - de pé, sentado, gesticulando, enquanto respondia a todas as perguntas. Sem uma pausa prévia, valia qualquer indagação, a título de depoimento, nesta hora em que se aproxima o final de seu governo. Antônio Manoel de Carvalho - cidadão e prefeito e que em breve voltará a ser apenas um cidadão, sem as prerrogativas e as responsabilidades do cargo que vem ocupando há quase cinco anos - continuará tendo, e ele próprio confessa isso, as suas aspirações políticas. Como indivíduo, pouca coisa mudou. Carvalho deixou de fumar.

Assim, esta entrevista, uma das derradeiras com ele antes que se complete o ciclo sucessório, transcrita na forma de perguntas e respostas, obedece à própria seqüência cronológica em que transcorreu o encontro, misturados os assuntos, desde política e os problemas administrativos até as rivalidades pessoais, os antagonismos e as identificações de ordem ideológica. Carvalho procurou deixar, nas entrelinhas de suas respostas, uma base para que cada um interprete a sua maneira de ser e de agir, ao mesmo tempo em que, ao mencionar nomes de importantes políticos e até o bispo, abriu perspectivas para que essas mesmas pessoas apresentem as suas versões.


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AT - Qual foi a maior vitória, como prefeito?

AMC - "A obtenção de recursos financeiros de empréstimos a fundo perdido, a fim de que fossem realizadas, basicamente, as obras da Zona Noroeste e no setor de educação e saúde".

AT - E a sua maior derrota?

AMC - "Foi não ter tido a oportunidade de ver aprovado o projeto de rodízio de farmácias para atendimento noturno. Todas as grandes cidades têm esse atendimento. O impedimento partiu do Sindicato dos Comerciários, cujo presidente, Haroldo Ribeiro, é inimigo da população".

AT - Como foi realmente que aconteceu a indicação de seu nome para o cargo de prefeito nomeado de Santos? Alguém interferiu?

AMC - "Da minha indicação, na época, não participou nenhum político. Fui indicado pela área revolucionária à qual estive e estou ligado desde 1964 e, basicamente, a minha indicação partiu de um dos meus melhores amigos, o coronel Antônio Erasmo Dias. Deveu-se ainda aos escalões superiores e ao trânsito que evidentemente eu tinha e tenho na Cidade, por força das minhas mais variadas atividades. Antes do anúncio do cargo de prefeito, fui presidente do Diretório Municipal da Arena, o que já me dava uma base política, não precisando me unir a nenhum bonde político do passado ou daquela época".

AT - Qual foi o critério para formar a sua equipe de governo?

AMC - "Foi levado em conta uma trilogia de honestidade, lealdade e capacidade. Não ocorreu nenhuma ingerência política. A escolha foi pessoal e caracterizou-se exatamente por essa trilogia, e há de se considerar como inédito na vida político-administrativa da Cidade que, decorridos cinco anos, o Governo não se alterou. Quem subiu a escada, desce a escada, à exceção do meu amigo Cyro Fortes Vaz, que saiu por motivo de seu interesse profissional".

AT - Mas não houve casos, como o do presidente da Arena e líder do Governo, vereador Fernando Dias Oliva, de pedirem uma secretaria?

AMC - "Decorridos dois anos, a bancada da Arena surpreendeu-me, trazendo um manifesto no qual solicitava duas secretarias: a de Administração, para Fernando Dias Oliva, e a de Serviços Públicos, para Odair Viegas, diga-se de passagem dois amigos pessoais do prefeito. Respondi-lhes que não podia atender à solicitação, porque os trabalhos estavam sendo baseados na trilogia de que eu falei. Foi uma novela curta, e que acabou, como sempre num bom entendimento".

AT - O prefeito se considera de direita, esquerda ou de centro?

AMC - "Conheço alguns políticos que até 1964 eram esquerdistas, depois se tornaram direitistas, agora aproximando-se a abertura, fazem questão de dizer que são de centro-esquerda ou da esquerda festiva. Outros, atacados de populismo e às portas das eleições, preferem agradar o eleitorado dizendo que são liberais. Sou simplesmente um democrata. Sou pela democracia que se assenta na responsabilidade, atendimento social e basicamente na defesa da Nação".


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AT - Há quem diga que o prefeito manteve-se numa posição de reserva em relação ao bispo diocesano, D. David Picão. Isso é verdade?

AMC - "Vamos separar D. David pastor de almas e rebanhos e D. David transformado em líder de poderosa ala da Igreja que defende até a violência, como meio para a obtenção da chamada paz social. Mantive nesses cinco anos um relacionamento cordial com o bispo e em alguns momentos, até com bastante semelhança de temperamento, nos exaltamos na defesa dos nossos pontos de vista, mas com respeito. Entretanto, a entrevista recentemente concedida por D. David para A Tribuna, entristeceu-me como católico, doeu-me como cidadão e exasperou-me como autoridade, por verificar que alguém que prega o amor, a concórdia, a paz, venha a público e pregue a violência como forma de solução dos problemas sociais. Peço, humildemente, aos pés da Santa Cruz, que D. David, segundo os mandamentos de Deus, não pregue mais a violência, já que a violência invadiu a sociedade e é fator de perturbação da vida da Nação. E não há de ser a nossa geração - a minha e a dele - que deverá colocar mais lenha na fogueira. Ele deve ser o bombeiro de almas, pastor dos homens. Quanto a nós, autoridades, devemos manter a ordem e exigir o respeito, para que todos possam gozar de uma liberdade com responsabilidades".

AT - E a posição que o prefeito já no mês de junho do ano passado, antes da convenção regional da Arena paulista, adotou frontalmente contra Paulo Maluf, que afinal conseguiu ser indicado e eleito o governador do Estado? Em que ela se fundamenta?

AMC - "Quando me refiro a políticos, inclusive ao Paulo Maluf, não o faço por inimizades ou ódios pessoais, mas julgando o político e o administrador. O doutor Paulo Maluf, em data que não me recordo, compareceu ao meu gabinete para solicitar o meu voto na convenção cuja finalidade era a escolha do governador, disputada por ele e por Laudo Natel, sendo este último indicado pelo presidente João Baptista Figueiredo. O doutor Paulo Maluf teve a coragem de me afirmar que era apoiado pelo sistema, citou inclusive o general Hugo Abreu, então chefe da Casa Militar, mas eu declarei que votaria no Laudo Natel, por ser o candidato do sistema ao qual apóio. Meu procedimento foi diferente de políticos da Baixada, que disseram apoiar o Laudo Natel e hoje são correligionários de Paulo Maluf. Alfeu Brandão Praça e Sílvio Fernandes Lopes declararam, no dia da convenção, que votariam em Laudo Natel, e hoje esses dois políticos são os líderes da ala malufista na Baixada".

AT - Se o prefeito tivesse que dar uma nota, de zero a 10 para a Câmara Municipal de Santos, que nota daria?

AMC - "A nota é 10, como corporação que é, pelo seu trabalho em favor da Cidade. Durante o meu governo eu namorei e me casei duas vezes com a Câmara. No primeiro período, a Arena era maioria e o MDB minoria e o problema que eu tive foi ter a paciência de aturar Roberto Mehanna Khamis, um ex-vereador a quem o ostracismo faz muito bem, e melhor para a Cidade. A Oposição me tratou com respeito e eu incluo aí os posicionamentos do Marcelo Gato e do Nélson Fabiano, que foram de ordem ideológica e não pessoal. No segundo período, em que a Arena passou a minoria e o MDB a maioria, fomos bem de namoro, apenas com uma diferença: é que na atual Câmara existe apenas um vereador que não manteve a tradição de respeito e de cavalheirismo dos seus demais colegas, que é o vereador Aldo Hernandes, que prima a todo o momento em desferir ataques pessoais, confundindo até o interesse público e o respeito que a Câmara Municipal merece".


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AT - E os seus inimigos? O prefeito tem muitos inimigos?

AMC - "Não tenho inimigos, mas sim adversários, isso é diferente. Lembrando a frase de um ex-governador da Guanabara, nunca comprei nenhuma briga, mas sempre topei a briga, é diferente. Lamentavelmente, entre os meus adversários alguns fazem questão absoluta de dizer que são inimigos. O problema da inimizade é deles para comigo e não de mim para com eles. O que eu desejo neste final de governo é dizer a esses que eu considero adversários, e que são bem poucos, que sou bastante humilde para lhes dizer que não guardo ódio de ninguém. Os homens que enfrentei são homens que têm ódio no coração. É a escória mínima que qualquer cidade tem. Nunca tive problemas com homens de bem".

AT - Entretanto, o prefeito ficou conhecido como um homem de pavio curto, de temperamento explosivo e até controvertido.

AMC - "Sou e não nego, um homem de pavio curto. Sinto-me até certo ponto confortado de reconhecerem o meu pavio curto, entretanto, já tendo passado da barreira dos 40, não dá mais para mudar e nem gostaria de mudar, porque o meu pavio curto me dá a sensação absoluta de uma tranqüilidade interior e acima de tudo a convicção de que não estou faltando com a verdade. E o meu pavio curto não impede a humildade de voltar atrás, quando avisado por amigos e até opositores".

AT - Passados esses cinco anos, sente-se realizado?

AMC - "Confesso que me sinto realizado administrativamente, porque, ao percorrer a Cidade de ponta a ponta, eu constato em todos os lugares, nas praças ou nos morros, a presença do nosso governo. Isso já é reconhecido pelo povo, porque recente pesquisa da Faculdade de Comunicação mostrou, numa pergunta sobre a administração atual, que entre 1.000 entrevistados, 160 a consideraram ótima, 583 boa e 203 regular, enquanto que apenas 23 a consideraram ruim e 27 péssima".

AT - Mas em termos eleitorais, os resultados aqui obtidos pela Arena, nos pleitos de 1974, 1976 e 1978, portanto municipais e parlamentares, mostraram que não houve uma capitalização política do Governo. Em outras palavras, o MDB arrebatou progressivamente os votos.

AMC - "O fato é verdadeiro, porém esotu convencido de que não há transferência de prestígio. Um dia veremos. Os nossos partidos não estão estruturados ideologicamente para serem veículos de programas de ação partidária".

AT - Nesse caso, o prefeito acha que não só a Arena, mas também o MDB fracassou, embora chegando a quase 80 por cento dos votos válidos locais, nas eleições parlamentares do ano passado?

AMC - "Acho que os dois partidos fracassaram. Como alguém já definiu no passado, os dois partidos são balaios. Segundo se entende, existem contradições ideológicas, interesses pessoais e regionais, razão pela qual a população ficou entre o sim ou o não, quando deveria haver um leque de opções que deve se constituir na abertura do sistema partidário, para possibilitar ao eleitor a escolha nesse leque".

AT - Quais as obras que o prefeito considera as principais, entre as realizadas pelo seu governo?

AMC - "O término do elevado e do Teatro Municipal, a construção do PS Central e a urbanização dos bairros da Zona Noroeste, bem como as interligações dos morros e as obras escolares, a reforma de mais de 50 por cento do sistema de iluminação pública, as obras da João Pessoa, São Leopoldo e Pedro Lessa, e os melhoramentos em Bertioga. Em termos de serviços, a extinção das casas funerárias que transformavam os mortos em mercadoria, o sistema de estacionamento regulamentado, a extinção de 456 cargos na Prefeitura, com economia anual de 25 milhões de cruzeiros e, enfim, muito trabalho e honradez".

AT - E as praias? Por que não foram realizados os melhoramentos das avenidas das praias? E por que, embora tão criticado, o deficiente e ultrapassado sistema de drenagem do Centro e da Zona Leste continua na mesma, bastando chover um pouco para se formarem os grandes alagadiços?

AMC - "Nas praias só pode ser efetuado o trecho entre os canais 6 ao 5, porque os recursos solicitados para esse fim não foram considerados pelos agentes financeiros como obras prioritárias. E quanto às obras de drenagem na Cidade, terão que ser feitas basicamente as detectações dos locais prioritários, o que estamos providenciando através de um circuito fechado de televisão".

AT - Toda a prioridade ficou, então, com a Zona Noroeste?

AMC - "A prioridade da Zona Noroeste deveu-se ao fato de estar localizada nessa área um terço da população de Santos, ou sejam, 120 mil habitantes, e as condições de infra-estrutura eram desumanas".

AT - Nesse tempo que passou, como foi a vida de Antônio Manoel de Carvalho, não apenas como prefeito, mas como indivíduo?

AMC - "Os sacrifícios que me impuseram o cargo, a meu ver, compensaram com a dedicação em prol das melhorias de condições da Cidade. Não deixei, nos cinco anos como prefeito, os meus tradicionais hábitos: joguei meu tamboréu, freqüentei o Senadinho (um bar do Centro) e as rodas de sábado no Bar São Paulo, onde se discute de tudo, fala-se mal da vida dos outros e até se elege o Papa. Não deixei nas madrugadas de encontrar os tradicionais boêmios da Cidade, para saber o que a Cidade tinha de bom à noite. Não esqueci a minha família, apesar de ela ter sido sacrificada. Entreguei parte da minha saúde, mas tenho a satisfação maior de ter servido a Cidade e contar hoje com mais amigos do que tinha a 1º de abril de 1974, quando assumi o cargo".

AT - O prefeito havia anunciado a sua saída, impreterivelmente, para o próximo dia 14 e agora, atendendo a determinações superiores, diz que vai permanecer no cargo. Qual é o motivo?

AMC - "Pura e simplesmente entendi que deveria passar o cargo ao presidente da Câmara Municipal, no dia 14, mas recebi orientação de transmiti-lo ao meu sucessor. Vou aguardá-lo". (Um detalhe: Carvalho permanece firme na sua determinação de não revelar quem assinou a ordem para continuar após o dia 14. De qualquer forma, essa ordem veio de Brasília direto a Santos).

AT - Existe alguma possibilidade de sua permanência no cargo ser prorrogada além do tempo normal de uma substituição?

AMC - "Eu não sei de nada".

AT - E o prefeito não participa do processo sucessório?

AMC - "Não. Eu não fui ouvido por ninguém sobre nenhum nome".

AT - Mas o prefeito deixou claro, quando foi anunciado o nome do empresário Carlos Caldeira Filho, que não havia uma afinidade maior. Não ficou nem um pouco entusiasmado com aquela indicação. O prefeito teria alguma preferência pessoal?

AMC - "Teria, mas evidentemente não vou expor, porque não fui solicitado. Com referência ao senhor Carlos Caldeira Filho, é importante que se conte uma pequena história. Durante algum tempo eu mantive relações e contatos com o senhor Carlos Caldeira Filho, mas depois verifiquei que tais contatos eram infrutíferos, porque na ânsia, na volúpia de vendedor de jornais, ele só queria vender jornais, ele não queria colaborar com a terra que lhe serviu de berço e da qual saiu há 34 anos atrás. Tenho repetidamente afirmado e pedido à Virgem Nossa Senhora do Monte Serrate que dê a Santos um prefeito melhor que eu e, nessa altura, renovo o apelo. Eu tenho certeza de que o senhor Carlos Caldeira Filho não tem nenhuma das virtudes obrigatórias que o homem deve ter para ser prefeito. Santos merece coisa melhor. Sei que estas minhas declarações originarão uma tempestade jornalística. Não me importo. Continuo o meu caminho, ele continua o dele. Santos tem homens que poderão governá-la sem a prepotência do indicado e com a cultura necessária ao nível da cidade que é Santos".


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Vermelho e Azul

O depoimento informal do prefeito Antônio Manoel de Carvalho transcorreu numa sala da Prodesan, longe do movimentado gabinete onde desde 1º de abril de 1974 ele chefiou o Governo Municipal. Mas em determinado instante, a conversa teve que ser interrompida, porque o prefeito recebia a transcrição da última enquete encomendada ao Centro de Pesquisas Aplicadas em Comunicação da Faculdade de Comunicação de Santos, mostrando o grau de popularidade de seu governo, relativo a fevereiro e a março em curso.

Sem esconder a satisfação pelos resultados obtidos na pesquisa, Carvalho grifou em vermelho e azul os aspectos que, na sua opinião, seriam os mais significativos. Aqui vão.

Em vermelho: à pergunta sobre qual a opinião sobre a atuação da Prodesan na cidade de Santos, entre 1.000 entrevistados, 160 a consideraram ótima, 583 como boa e 203 regular. Quatro não responderam, enquanto apenas 23 consideram a atuação da Prodesan ruim e 27 a qualificam como péssima.

Em azul: uma pergunta indagava se os 1.000 entrevistados consideram como bem aplicados os recursos municipais. Responderam que sim, 617; para 171, não; e 212 deixaram de responder.

Em vermelho: "Qual a sua opinião sobre a administração do atual prefeito de Santos?" As respostas: ótima, 55; boa, 570; regular, 269; ruim, 36; péssima, 56; e sem resposta, 14.

Em azul: "O senhor já foi a algum Pronto-Socorro Municipal? As respostas: sim, 629; não, 369; e sem resposta, 2.

Em vermelho: "Cite três nomes da atual administração municipal". Nesse item grifado, o prefeito foi mencionado 354 vezes, enquanto os mesmos grifos assinalavam 36 referências para Sílvio Fernandes Lopes e uma para o bispo diocesano, d. David Picão.

Sem cores: nesse mesmo item, o deputado federal Athié Jorge Coury obteve 37 referências e o presidente da Prodesan, José Lopes dos Santos Filho, 8. Os vereadores Nelson Mattos, Odair Viegas, Ely Carvalho e Luís Norton Nunes (esse último, líder do MDB na Câmara) foram mencionados duas vezes cada um. Pior ficou para outros vereadores, da Arena e do MDB, com uma referência, ou nenhuma.

Os deputados do MDB também não ficaram em destaque: Del Bosco com 18 referências, Emílio Justo com 6, e Antônio Rubens Costa de Lara com 15, Paulo Ferramenta da Silva (presidente da CSTC), o deputado federal Rafael Baldacci (um dos mais votados em todo o Estado), Antônio Feliciano (ex-prefeito de Santos), Rubens Ferreira Martins (o prefeito que construiu o túnel que leva o seu nome) e outras personalidades também receberam uma única e mínima referência, a mesma conferida a personagens não identificados, porém citados na mesma pesquisa pelos seguintes nomes, pseudônimos ou apelidos: Peludo, Carmelito, Alfredo, Stela, Waldemar, Cunha, Passarelli, Nininha, Sampaio, Edson, Ronaldo, Doutor Lima, Senhor Leão, Oscar, Almeida, Mercedes e Adelário. Mais feliz foi alguém mencionado como Cachote, que obteve na mesma pesquisa a apreciável soma de cinco citações, mais do que personalidades ativas e expressivas do ambiente político e administrativo da Cidade puderam alcançar.

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