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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - HOSPITAIS - BIBLIOTECA
Hospital Anchieta (4-f47)

 

Clique na imagem para voltar ao índice do livroEste hospital santista foi o centro de um importante debate psiquiátrico, entre os que defendem a internação dos doentes mentais e os favoráveis à ressocialização dos mesmos, que travaram a chamada luta antimanicomial. Desse debate resultou uma intervenção pioneira no setor, acompanhada por especialistas de todo o mundo.

Um livro de 175 páginas contando essa história (com arte-final de Nicholas Vannuchi, e impresso na Cegraf Gráfica e Editora Ltda.-ME) foi lançado em 2004 pelo jornalista e historiador Paulo Matos, que em 13 de outubro de 2009 autorizou Novo Milênio a transcrevê-lo integralmente, a partir de seus originais digitados:

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Na Santos de Telma, a vitória dos mentaleiros

ANCHIETA, 15 ANOS (1989-2004)

A quarta revolução mundial da Psiquiatria

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E QUEM SÃO OS LOUCOS?

NOVAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA SAÚDE MENTAL

 

Quem são os loucos, os que estavam no Anchieta ou espalhados pelo mundo? Na dúvida do autor do Alienista, Machado de Assis, como lemos ao início deste trabalho, temos problemas para definir.

 

Mas de modo geral, loucos são apenas (apenas?) desajustados sociais rebaixados economicamente, alcoólatras ou drogados – e mesmo pessoas com problemas de adaptação temporária às regras estabelecidas, portadores de comportamentos diferentes agravados pelo isolamento – entre outras dezenas de casos – que como humanos não mereciam ser trancados em masmorras medievais privados de tudo.

 

É conhecido o filme O homem que virou suco, em que um migrante introduzido no meio urbano caótico e neurótico, violento, ingressa em outros patamares de consciência e sai do chão.

 

Existem desequilíbrios químicos cerebrais, como existem dificuldades financeiras, trabalho em falta ou em excesso, más condições de vida e alimentação – fatores que levam aos transtornos mentais cada vez em maior número.

 

O capitalismo enlouquece, este é o fato. E interna em manicômios, que se tornam mecanismos de exclusão. Essa temporariedade é agravada pelo tratamento desumano como o do Anchieta e similares anteriores, que, com vimos, não nasceu aqui. Eletrochoques, colas fortes, insulina e remédios fortíssimos, surras e maus tratos eram cronificantes, perpetuando-se e agravando o quadro. O que era do interesse dos mercadores da loucura, os exploradores desses verdadeiros campos de concentração superlotados de internados. E dos profissionais que cuidam dele, que cresceram em índices vertiginosos.

 

A polÍtica de Saúde Mental adotada pela Administração Democrática Popular santista integrou a uma ótica de resgate dos grupos da sociedade, concatenada no interior de uma exigência humanitária - que busca reverter o processo acelerado de exclusão dos seres humanos do cotidiano.

 

A tarefa de impedir que centenas de pessoas continuassem a ser torturadas e enlouquecidas, excluídas da civilização, se deu como um dos primeiros atos do governo municipal democrático-popular da cidade, da prefeita Telma de Souza, logo após sua posse em 1989. Em Santos, cidade-vanguarda das lutas sociais do país, em toda sua história de cinco séculos.

 

Resgatando a dignidade dos internos em seu manicômio, que saltavam cada vez mais sobre seus muros, através dos quais durante tempos só se ouviam gritos -, se avançou no caminho da Psiquiatria democrática fundada por David Cooper e Ronald Laing, indo até Franco Basaglia e Franco Rotteli na Itália, há mais de trinta anos.

 

Naquele tempo, em 1971, Franco e Franca Basaglia, os psiquiatras venezianos, distribuíram picaretas para que os cativos - e agravados prisioneiros de um regime de força – destruíssem, por si mesmos, sua bastilha, rompendo com uma estrutura secularmente usada como agente de repressão às idéias em toda a história da humanidade.

 

Mais do que humanizar e evoluir o tratamento aos interesses do Anchieta superlotado, carente e cruel, mantenedor de um processo degenerador de pessoas, o programa de saúde mental desenvolvido em Santos foi além da demolição apenas simbólica do Anchieta de quase quarenta anos – mas mudou uma parte da sociedade.

 

O prédio passou a servir como reintegrador de parcelas marginalizadas, núcleos de integração psico-social descentralizados e multiplicados por toda a cidade, que cuidam de atender em regime de liberdade os problemáticos mentais – curados pelo retorno ao convívio dos seus, contribuídos para amenizar os conflitos que os produziram.