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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MEDICINA
Santa Casa de Misericórdia (21)

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Matéria publicada no Jornal Santa Casa - edição especial - 60 anos de inauguração do atual prédio - 4º da história da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santos, editado por José Eduardo Barbosa, com textos dele e colaboradores, fotos dele e de José Dias Herrera, distribuído em 2 de julho de 2005 por aquela instituição (exemplar no acervo do professor e pesquisador Francisco V. Carballa):
  

O prédio da Santa Casa, na catástrofe de 1928

Foto publicada com a matéria

 

"Horrorosa catástrophe enluta a cidade"

 

"O Monte Serrat, despejando terra e pedras que aluíram tremendamente, sepultou com inaudita violência centenas de  pessoas e arrasou dezenas de casas"

 

(Esta manchete foi publicada pelo jornal A Tribuna do dia 11 de março de 1928)

Uma tragédia veio correr para apressar o início das obras do novo hospital. No dia 10 de março de 1928, a queda de grandes barreiras do Monte Serrat atingiu uma ala inteira do hospital da Rua São Francisco, obrigando a desocupação total e temporária do resto do edifício.

"Famílias felizes de véspera, hoje estão convertidas em uma massa informe de carne humana"

"Acta da 2ª Sessão Ordinária da Mesa Administrativa da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santos.

"Aos dez dias do mês de março do anno de mil novecentos e vinte e oito, pelas vinte e meia horas, na sala de refeições da Administração do hospital da Santa Casa de Santos, presentes os senhores: Alberto Baccarat, DD. Provedor; Benjamim de Mendonça, DD. 1º Secretário; George Roseheim, DD. 2º Secretário; Comm. dr. Augusto Marinangeli, DD. Thesoureiro; Major Arthur Alves Firmino, DD. Mordomo Geral; Senador Antonio da Silva Azevedo Junior, Carlos Luiz de Affonseca, Flaminio Levy e José da Silva Gomes de Sá, Consultores; Dr. Roberto Catunda, Dd. Diretor Clínico.

Havendo número legal de senhores mesários, o Sr. Provedor declara aberta a sessão e manda proceder da leitura da acta anterior que, posta em discussão e approvação, é approvada sem debates.

Em seguida, o Sr. Provedor diz que o motivo da presente reunião neste logar, foi por ter sido o nosso Consistório ocupado como enfermaria de emrgência, devido o doloroso fato que originou a convocação da presente sessão. S.S. profundamente comovido dá informações detalhadas da horrível catastrophe que, pelas cinco horas e pouco da manhã de hoje, veio enlutar a laboriosa poulação santista, tendo attingido ao nosso Hospital. Esse sinistro acontecimento foi devido ao desmoronamento duma grande barreira do Monte Serrat, que destruiu uma boa parte das dependências deste Hospital, como sejam: O antigo necrotério e um outro ainda por terminar; parte da cosinha, sala de esterilisação, sala de operações, sala do arsenal cirúrgico, com a perda total da ferramenta e apparelhos contidos nestas dependências, duas salas de curativos, sala de espera do médico interno, dormitório dos clínicos quando de serviço, Laboratório Clínico, o depósito do mesmo que continha ácidos e muitas drogas, tendo damnificado várias enfermarias mais próximas ao logar sinistro, onde para maior infelicidade temos a lamentar a morte de dois enfermos além de vários feridos sem gravidades.

No andar térreo ficou completamente soterrada a nossa nova installação de banhos e duchas, ficando bastante damnificada a barbearia e outras dependências contíguas.

Na parte externa do edifício onde se acha o nosso caminhão automóvel ficou este soterrado e provavelmente perdido. O estrago que actualmente se pode verificar na ala direita do edifício foi volumoso, não tendo ruído maiormente, por ser de construção muito sólida, parecendo porem pelo rápido exame feito que esteja completamente inutilisada.

As paredes estão em parte completamente destruídas e outras apresentam fendas que revelam a perda da sua solidez primitiva.

O volume de terra e pedras desagregadas do monte e accumuladas de encontro as paredes bem revelam a enormidade do desastre.

A perda sofrida por esta Irmandade é incalculável. Na sua parte material avulta-se por ter sido attingida fase, onde se guardavam os mais custosos apparelhos de cirurgia de estherelisação de anályses clínicas e todas as novas instalações hydrotherápicas.

Esta pálida descripção que lhes faço, refere-se ao que diz somente ao nosso hospital; não me posso aprofundar mais pois ainda é prematuro o julgamento da extensão do desastre. Lamentabilíssimo é o que também se vê na travessa ao lado desta Santa Casa. Das diversas moradias outrora habitadas por gente modesta, mas laboriosa, não se vê mais do que um montão de terra e de pedras soterrando cadáveres de homens, mulheres e inocentes crianças. Famílias felizes de véspera, hoje estão convertidas em uma massa informe, de carne humana. A ânsia esperançosa dos abnegados operários, que revolvem a terra sinistra, tem mais de uma vez sido premiada com o encontro de seres ainda com vida.

Não tenho pleno conhecimento do número total de habitantes da parte attingida, mas por cálculo que me é dado fazer, orço em mais de uma centena, o número das victimas. Chamado nas primeiras horas da pavorosa hecatombe, arrepiado pela sua enormidade, procurei com as forças, que ainda me alentavam, tomar as primeiras providências, já tendo encontrado em plena actividade o Corpo Municipal de Bombeiros, que poucos momentos depois do desastre, chegava ao local. Levei ao conhecimento das autoridades mais próximas, não esquecendo também de scientificar aos Exmos. Snrs. Drs. Washington Luiz e Julio Prestes, no que a mão impiedosa do destino, transformou a nossa secular Santa Casa. Muito me satisfiz com o acolhimento espontâneo das autoridades e do povo desta terra.

O Exmo. Sr. Benedicto Pinheiro, Dd. Vice Prefeito Municipal em exercício, não tardou a accorrer ao local do sinistro logo as primeiras horas agindo em tudo com critério e grande abnegação. Uma das medidas logo tomadas por S. Excia. em conjunto com esta Provedoria foi a nomeação de uma commissão de engenheiros composta dos senhores Doutores José Luiz Gonçalves de Oliveira, Octávio Ribeiro de Mendonça, Aristides Bastos Machado e A. Gomide Ribeiro dos Santos, para examinar o prédio desta Santa Casa e ao mesmo tempo verificar o Monte na parte sugeita a novo desmoronamento, a fim de dizer da sua seguridade e aconselhar as providências necessárias.

Após detido exame por parte desta Commissão, recebemos da mesma o seguinte offício que aqui e transcripto: Exmos. Snrs. Prefeito Municipal e Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Santos. Os abaixo assignados, nomeados por V. Excias. para procederem incontinente uma vistoria no prédio deste Hospital da Santa Casa, bastante damnificado com o desmoronamento de uma parte do Morro adjacente ao hospital verificado hoje pelas cinco horas da manhã, depois de bem examinarem in loco o alcance do desastre são de opinião que a ala direita no seu extremo posterior apresenta sério e emminente perigo de desmoronamento em virtude da grande quantidade de terra accumulada até a altura do segundo andar e de innumeras fendas em diversas paredes occasionadas pelo choque. Em vista disto são parecer que devem ser immediatamente retiradas do telhado daquele trecho da alla para alliviar a carga sobre as paredes, em seguida proceder-se a demolição das paredes damnificadas. A urgência com que é solicitada dos peritos o presente parecer não permite maiores esclarecimentos, entretanto deixam concretizado nos termos acima a sua opinião unânime".

O prédio da Santa Casa, na catástrofe de 1928

Foto publicada com a matéria

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