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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MEDICINA
Santa Casa de Misericórdia (13)

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Texto transcrito da revista Santos Illustrado, publicação dirigida por Anatolio Valladares, edição número 25, de 29 de junho de 1903 (grafia atualizada nesta transcrição):
 


Médicos, diretores, mordomos, administrador e farmacêutico. No meio deste quadro está colocado o retrato do falecido sr. João Octavio, provedor jubilado
Imagem publicada com a matéria

Hospital de Misericórdia


Vem a pelo, no presente número, a transcrição do artigo com que o nosso colega Anatolio Valladares iniciou a série de impressões sobre esta cidade no número especial da Revista da Semana (N.E.: publicação do Jornal do Brasil com imagens de Santos, em janeiro de 1902).

 

Ei-lo:


Justo é que iniciemos este retrospecto, feito de memória, e desacompanhado da mais insignificante nota, pela Santa Casa de Misericórdia, que pela sua importância, pelos serviços que presta aos infortunados, aos míseros deserdados da sorte, faz jus ao primeiro lugar e à saudação primeira. Esse estabelecimento é uma glória para a cidade de Santos e honra não só a ela, senão ao país inteiro.

O edifício, construído com todas as regras de uma severa arquitetura, é ao mesmo tempo sólido e elegante. Levantado à meia altura de uma risonha colina, ele domina a Praça Andrada, o mais bem tratado e o mais pitoresco dos jardins de Santos; e dali a vista se expande na contemplação do mais belo panorama que a natureza pode proporcionar ao homem, nessa exuberância da vida e da caprichosa beleza dos panoramas de todo S. Paulo, cambiantes e variados, segundo as suas zonas distintas, mas sempre esplêndidos, encantadores sempre.

É a Santa Casa um modelo de instituição hospitalar.

As suas vastas enfermarias, largamente arejadas, recebendo por grandes aberturas o ar sadio e a luz vivificante, oferecem todas as condições de conforto aos doentes e obedecem a todas as prescrições da higiene que regem a espécie.

Em todas elas observa-se a mais rigorosa assepsia, o mais escrupuloso asseio, e nenhum olor, aliás peculiar às enfermarias, é ali perceptível ao visitante, denunciando logo o hospital.

O corpo de enfermeiros, solícito e idôneo, sabe do seu metier e exerce-o com competência e notada dedicação. Os doentes são por eles tratados com todo carinho e a palavra amiga de que usam faz como que desde logo, entre uns e outros, se estabeleçam a mais franca cordialidade e reine a confiança mútua.

Para dizer do corpo médico e tecer-lhe o mais alto elogio, basta assinalar que é composto dos mais distintos, dos mais reputados clínicos de Santos, da elite de sua classe médica. Os enfermos confiados a seus cuidados, quando deixam o hospital levam alma presa "aos seus doutores", que, segundo o que preceitua a sua nobre profissão, com o seu saber lhes restituíram a saúde perdia e com a sua cativante bondade e generoso trato lhes levaram o conforto e o alívio à alma magoada.

A Santa Casa foi fundada por Braz Cubas e do seu movimento nos primeiros anos falou o anuário do Diário de Santos o seguinte:

O hospital denominado, então, dos Santos, nome este que passou do porto e cidade atual, foi a começo na zona hoje compreendida entre as Praças Mauá e dos Andradas, na diagonal das ruas 11 de Junho e Amador Bueno (Teatro Guarany), sendo que o atual foi inaugurado em 4 de setembro de 1836.

Nos primeiros tempos, os pobres, em geral, os marítimos, eram tratados no Hospital Militar, por conta desta confraria que pagava 200 réis diários por enfermo, passando depois a 320 réis, tendo por fim sido elevado o pagamento a 640 réis, sendo que devido a esse preço foi, então, criado um hospital próprio.

Não foi regular o funcionamento da Irmandade nos primeiros tempos, e por isso, só de 1830 para cá é que se conhecem dados estatísticos capazes e merecedores de estudo para o histórico.

O hospital tem passado por diversas reformas, sendo as mais importantes a de 1878, de 1888 e a atual, que vem desde 20 de fevereiro de 1896, hoje quase concluída, dando em resultado o suntuoso palácio que existe, todo novo, à exceção da capela que essa mesma, internamente, foi revestida de magnífica paramentação onde sobressai o mármore.

Depois de reformada, a capela ainda não foi servida. Nessa reforma geral, já tem sido despendida a quantia de réis 834:735$945.

Em 1833-34 o movimento de enfermos foi de 117, sendo de 1833-38 o número de enfermos 735 com um dispêndio de réis 17:063$150.

O atual compromisso foi aprovado em reunião geral extraordinária de 28 de novembro de 1901.


Imagem publicada com a matéria

Situação atual - Pelo último relatório, o patrimônio eleva-se a réis 641:800$, representado em apólices da Dívida Pública, prédios e terrenos, afora o prédio do hospital que só pela reforma atual representa a soma já enumerada. No ano compromissal de 1901-1902 foram tratados no hospital 3.927 enfermos, sendo pobres 2.501 homens e 597 mulheres, marítimos 187; de 1ª classe homens 61 e mulher 12; de 2ª classe homens 151 e mulheres 26; irmãos da Casa homens 28 e mulher 1, militares 345 e empregados 18, sendo os enfermos de 23 nacionalidades.

A Irmandade recebe do Estado a contribuição anual de réis 50:000$ e da Câmara Municipal de réis 36:000$, além de um imposto de Marinha, arrecadado pela Alfândega que rendeu em 1901-02 a quantia de réis 914:915$553.

Possui o hospital 4 clínicas distintas - uma de mulheres confiada ao dr. Adolpho Porchat de Assis e três de homens, sendo a cirúrgica confiado ao doutor João Eboli e as duas de medicina aos drs. Sotér de Araújo e Custódio Guimarães, além da clínica cirúrgico-dentária, onde prestam serviços os cirurgiões dentistas Manoel Homem de Bittencourt, Francisco Soares de Brito Travassos e Joaquim Ramos da Soledade.

Dispõe ainda o hospital de 15 médicos adjuntos e um advogado que é o dr. João Nepomuceno Freire.

O pessoal superior em serviço interno está assim organizado:

Administrador - Geraldo Santiago Álvares.

Escriturário - José Custódio de Oliveira Setúbal.

Farmacêutico - Eduardo Áureo Vahia de Abreu.

Intérprete - Eduardo von Ahn.

Existindo mais - 1 oficial de Farmácia o sr. Joaquim Ribeiro e 1 ajudante de enfermeiro, 1 contínuo, 5 enfermeiros, 1 enfermeira, 3 ajudantes de enfermeiros, 1 jardineiro e 1 ajudante, 1 cozinheiro e 1 ajudante, 2 serventes de Farmácia, 3 serventes de cozinheiro, 1 copeiro, 11 serventes de enfermeiro, 4 lavadeiras.

A Farmácia, anexa ao Hospital, é completa, tendo atualmente uma seção homeopática para a serviço do dr. Olyntho Dantas no Posto Médico Municipal. No último ano compromissal foram aviadas 65.151 fórmulas, sendo 37.081 para enfermos do hospital e 28.070 para enfermos externos.

O curativo cirúrgico a pessoas externas elevou-se no último ano a 5.475.

O quadro social eleva-se a 562 irmãos de amos os sexos, sendo 232 remidos. Há 7 irmãos beneméritos, 23 benfeitores e 3 honorários.

A remissão, que é o único processo de admissão, é de Rs. 200$000.


Capa da revista Santos Illustrado nº 25 - Ano 1, de 29 de junho de 1903

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