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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - DESLIZamentos... (5)
Final de março de 1956: mais calamidade - E

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Terreno sedimentar, com fina capa de solo, quando enfrenta chuva forte e não tem mais cobertura vegetal que fixe o solo... o resultado é um deslizamento de terras, e quem estiver no caminho sofre as conseqüências. Nos morros santistas, ocorreram vários deslizamentos célebres, como o que soterrou um grupo de piratas holandeses (caso excepcionalmente atribuído a um milagre da santa padroeira da Cidade), ainda no século XVII. Outros casos destacados aconteceram em 1928, 1956 e na década de 1980, motivando enfim a realização de um amplo trabalho de contenção das encostas e monitoramento da situação geomórfica nos morros santistas.

Continua a extensa reportagem da terça-feira, 27 de março de 1956, do jornal santista A Tribuna - ortografia atualizada nesta transcrição:


Imagem: reprodução da página 6 do jornal A Tribuna de 27/3/1956

Santos abatida por outra imensa tragédia
[...]

Abandonaram os morros - Grande número de famílias que habitavam os morros e suas baixadas deixou espontaneamente seus domicílios, temendo por novos deslizamentos. Tiveram tempo de colocar seus pertences na via pública.

Esse espetáculo assistimos na tarde de ontem, na Rua Visconde de Embaré. Era gente do Morro de S. Bento que carregava até a via pública seus móveis e outros apetrechos domésticos. Mas não sabiam para onde ir. Nem dispunham de transporte.

Donativos, em dinheiro, encaminhados a este jornal - Estiveram ontem, à noite, nesta redação, os srs. Carlos Gabriel e Salvador Belardo, ambos residentes em São Paulo. Em seu nome pessoal, entregaram-nos, cada qual, Cr$ 500,00, e em nome do Frigorífico S. Bernardo Ltd., de Campinas, a quantia de Cr$ 1.000,00.

Esses donativos se destinam aos flagelados.

Donativos em leite, aveia e medicamentos - Por intermédio do Departamento Estadual da Criança, o dr. Benedito Mendes dos Reis fez entrega à Prefeitura de Santos dos seguintes donativos: 100 caixas de leite em pó, 50 caixas de aveia; 600 vidros de penicilina e 6.000 comprimidos de sulfa, no total de Cr$ 107.670,00.

Todos os médicos dos Postos de Puericultura, daquele Departamento, foram postos à disposição da Prefeitura de Santos para a prestação de socorros às vítimas da catástrofe de anteontem.


MAIS UMA VEZ A CIDADE SE COBRIU DE LUTO, LAMA E LÁGRIMAS - De muito maiores proporções que a hecatombe do dia primeiro, os desmoronamentos de sábado e domingo, por se verificarem em diversos lugares, registraram o trágico balanço de 40 mortos. Os morros de Santos, sob o espantoso volume de água de uma chuvarada sem precedente na história da cidade, ficaram reduzidos a uma mole massa de barro. Das diversas encostas que deslizaram, resultaram dezenas de vidas sacrificadas. No morro do Embaré, onde termina a Rua Carv. de Mendonça (foto da esquerda) (N.E.: imagem acima) o desmoronamento ceifou doze vidas preciosas. Pasava das duas horas da madrugada e a cidade já estava às escuras. Um baque surdo rompeu o pesado barulho da chuva torrencial. Por alguns segundos os moradores daquele bairro ouviram o sinistro ruído da massa de lama e pedra, que rolava pela escarpa do morro. Depois, a chuva tornou a ser o motivo principal dentro da noite, fechando tudo, como se fosse a cortina de uma tragédia que se cerrasse no último ato. Mas, de quando em quando, alguns gritos conseguiam sobrepor-se à pavorosa monotonia do aguaceiro que desabava. Eram pessoas que tentavam socorrer as vítimas do desabamento, guiando-se, no escuro, pelos gemidos abafados dos feridos. A dificuldade de transporte, de comunicações, impediram a pronta chegada de socorro. Mas tão logo a notícia atingiu a Central de Polícia, prontamente todos os recursos foram mobilizados. Pela estrada que dá acesso a Nova Cintra, em prolongamento à Rua Carvalho de Mendonça, desceram pesadas avalanchas de lama, dificultando, seriamente, a passagem naquela área do Marapé. Estava tudo inundado. Mas, depois de prestados os primeiros socorros e iniciada a remoção do entulho, já se podia fazer o trágico balanço: 11 feridos e 12 mortos. (...)


(...) A foto da direita (N.E.: imagem acima) fixou a encosta do Monte Serrate, por onde deslizou a grande massa de terra desabada nos fundos da Santa Casa Velha. Neste mesmo local, deu-se a tristemente famosa hecatombe de 1928, também nesse malfadado mês de março. No desabamento de domingo último, não hovuve vítimas a lamentar. Mas a encosta do Monte Serrate, em vários pontos, continua oferecendo perigo (fotos aéreas de René Ferreira).
Fotos e legenda publicadas com a matéria

Relação geral dos mortos - No Morro do Marapé: Júlio Peralis, brasileiro, de 33 anos de idade, casado; Cezira Estefano Peralis, brasileira, de 31 anos de idade, esposa de Júlio; Odete Peralis, de 11 anos de idade; Odair Peralis, de 6 anos de idade; Odila Peralis, de 3 anos de idade e Odivaldo Peralis, de 2 anos de idade, todos filhos de Júlio e Cezira; Valdemar Peralis, de 17 anos de idade, filho de João Peralis; Durvalino Peralis, de 13 anos de idade; Aparecida Peralis, de 12 anos de idade, e Maud Peralis, de 8 anos de idade, todos filhos de José Peralis; Eliana Praxedes, de 14 meses, filha de Herculano Praxedes e Coleta Praxedes; Anita Costa Silva, brasileira, de 28 anos de idade, casada, residente na ligação n. 1 e os filhos desta, João Tibúrcio da Silva, de 2 anos, e Maria Aparecida Silva, de 2 meses; André Trajano de Lima, brasileiro, de 36 anos de idade, casado, e Dulcinéia Maria Torres, de 3 anos de idade, filha de Osvaldo Torres e Dirce Cavalheiro Torres.

Na Rua Godofredo Fraga: Zulmira Barnabé Marieto, brasileira, de 35 anos de idade, residente na casa 230, seus filhos Leire Eliza, de 4 anos e Luiz Paulo, de 5 anos; Alfredo Silva, brasileiro, de 40 anos de idade, casado, residente à Avenida Moema, 642, em São Paulo, sua esposa Ida Barnabé Silva, de 31 anos de idade, e os filhos do casal, Walfredo, de 5 anos, Isabel Cristina, de 3 anos, e Lourival Roberto, de 2 anos.

No Morro da Nova Cintra: Manoel Francisco, português, de 74 anos de idade, viúvo, residente na ligação 83.

No Morro de São Bento: Adriano de Almeida, português, de 58 anos de idade, e um natimorto, do sexo masculino, filho de Evaristo Francisco e Maria Mendes Mandim.

Em São Vicente, na queda da barreira do Morro do Itararé: Alberto Matos, de 15 anos de idade, Francisco Matos, de 11 anos, Iolanda Matos, de 10 anos, Lídia Matos, de 9 anos, e Manoel Matos, de 5 anos, todos filhos de Haroldo e Herondina Matos. No desabamento de um chalé, no Japuí, o operário José Pedro da Silva, brasileiro, de 40 anos de idade, casado. Afogado num bueiro, ao final da Rua Frei Gaspar, o operário municipal Gustavo Barbosa dos Santos, brasileiro, de 37 anos de idade.

No Guarujá, com a queda de um chalé no Sítio Grande, o operário Casemiro de Jesus Amâncio, brasileiro, de 40 anos de idade, casado, que tinha nos braços sua filhinha Dilvana, de 6 meses.

Na manhã de ontem, foi encontrado boiando no canal 4 o corpo do funcionário da Prefeitura Municipal de Santos, Henrique Gonçalves de Almeida, brasileiro, de 38 anos de idade, casado, residente à Avenida Epitácio Pessoa, 302, que na madrugada de sábado, devido à escuridão e à enchente, caiu naquele canal ao se dirigir para a sua residência.

Ontem, às 14 horas, no Caminho São Jorge, em São Vicente, devido às enchentes, pereceu afogado o menor Vicente Postigo Ramos, de 13 anos de idade, filho de Salvador Postigo Balgas, residente na Casa Particular 2, na Vila São Jorge.



O EDIFÍCIO AMÉRICA - Majestoso em seu porte arquitetônico, o edifício América ficou em situação de insegurança, em face da infiltração de camadas de água fluviais em sua estrutura. Todos os moradores foram intimados a abandoná-lo. Tal foi a impetuosidade das águas acumuladas, que o canal 5 teve um das margens fendidas, como se observa na primeira foto. Foi dali que as águas se projetaram nos alicerces do edifício América, pondo-o em perigo de desabamento.
Fotos e legenda publicadas com a matéria

Lista dos feridos - Internados na Santa Casa: Tereza Ramires Conde, Rua S. Judas Tadeu, 28; Dario Souza Santos, 30 anos, morador na Caneleira; Elisiário Pais de Azevedo, 7 anos, morro do Marapé; Osvaldo Olivar, 23 anos, Rua Carlos Gomes, 220; Cláudio Veloso, 32 anos, guarda-civil, morador em São Paulo; Páscoa Fernandes Rodrigues, 76 anos, moradora à Avenida Moura Ribeiro, 234; Luiz Marieto, 28 anos, residente à Rua Godofredo Fraga, 230; Jorge Rosa de Oliveira, Rua Godofredo Fraga, 230; Coleta Firmino Praxedes, 27 anos, moradora no final da Rua Carvalho de Mendonça, sem número; Herculano Praxedes, 40 anos, mesma residência; Ana Rosa do Nascimento, que deu à luz prematuramente, uma criança de 6 meses de gestação, durante os desmoronamentos; 1 criança, cujo nome e residência são ignorados, aparentando ter 5 anos: João Peralis Oliveira, morador na casa de ligação de luz n. 1, no final da Rua Carvalho de Mendonça; José Tibúrcio da Silva, 33 anos, residência ignorada; uma criança, cuja residência ou moradia são ignoradas; Edmir Aparecida, de 3 anos; Elisabete Maria da Cruz, 10 anos, final da Rua Carvalho de Mendonça; Maria Guimarães, 30 anos, Rua Godofredo Fraga, 230; Hugo Souza Guimarães, 43 anos, mesma residência; um menor, de 12 anos mais ou menos, retirado dos escombros do Morro de Santa Terezinha.

Receberam ferimentos e retiraram-se: Maria José, 49 anos, Rua S. Judas Tadeu, 28; Roque Camargo, 26 anos, Rua Margarida, 383, S. Paulo; Osvaldo Torres, 30 anos, Marapé; Altair Augusto Ramos, 21 anos, Rua Paraná, 201; José Raimundo Nascimento, 38 anos, Morro Marapé, ligação 1; Daniel Ferreira Barbosa, 28 anos, mesmo local; Paulo Pereira de Lima, 33 anos, Linha da Máquina; Joaquim Muniz, 28 anos, Areia Branca; Hercílio Manuel de Jesus, 21 anos, Rua S. Francisco, 248; Américo Souza, 40 anos, Rua Princesa Isabel, 249; Benedito Helena Paula, 39 anos, Rua Carvalho de Mendonça, 851; José de Souza Ferraz, 29 anos, Rua Particular Galvão, 48; Luiz Simões Rato, 26 anos, Rua Carvalho de Mendonça, 541; Maria Torres (criança), Morro do Marapé; Valdomiro Melo, 22 anos, André dos Santos, 23 anos, Morro de S. Bento, 99; Ivan Targino da Costa, 20 anos, Avenida Campos Sales, 108; Marlene Rodrigues, 19 anos, Av. N. Sra. de Fátima, 385; Ozmelino Rosa Torres, 55 anos, Morro do Marapé; João dos Santos, 52 anos, Vila S. Bento, 42; Agostinho Esmeraldo Freitas, 16 anos, Moura Ribeiro, 192; Albertino Ribeiro Leite, 28 anos, Rua Godofredo Fraga, 230; Sebastiana Vitória da Costa, Morro do Marapé; Luís Porfírio de Oliveira, 32 anos, Rua Rodrigo Silva, 1977; Osvaldo Conceição, 49 anos, Rua General Câmara, 176; José Raimundo, 32 anos, Av. Moura Ribeiro, s/número; Mário Aparecida Oliveira, 32 anos; Rua Armando Sales Oliveira, 150; Joaquim Simões Miranda, 24 anos, Alto da Serra; José de Sena Sales (bombeiro), residente à Rua Clovis, 421, em S. Paulo; Rafael Martins, 48 anos, Rua Senador Dantas, 49; Benedito Carvalho, 30 anos (bombeiro), Praça Clóvis Beviláqua, 145 S. Paulo; Pedro Gomes, 56 anos, Rua Senador Feijó, 352; Lourenço Gomes de Souza, 22  anos (bombeiros), Rua Antonio de Barros, 2.607 em S. Paulo; Valdemar Marques de Almeida, 32 anos; Eugênio Melo, 28 anos, Rua Comendador Martins 61; Ana Rita Tomaz, 24 anos, Morro do Pacheco, 90; Benedito Serafim, 57 anos, José Jacinto do Rego, 49 anos, e Antonio Tertuliano, 40 anos, estes três últimos feridos num desmoronamento de terras no sítio Saco do Funil, no Guarujá.

Número total de feridos, 102, sendo internados 20. Entre os feridos acima relacionados encontram-se vítimas dos desmoronamentos e pessoas que se acidentaram em conseqüência da tempestade de sábado para domingo, em todos os pontos da cidade.





A MORTE RONDA O MARAPÉ - Em menos de um mês, o bairro do Marapé foi duramente castigado por deslizamentos dos morros de Santa Terezinha e Embaré. Terra e pedra, em camadas consideráveis, novamente se projetaram sobre humildes habitações, destruindo-as e sepultando, vivas, vidas inocentes. As fotografias foram colhidas quando se procediam às operações de desentulho. Na última, um jovem examina os poucos salvados de um dos lares tão abruptamente atingido ela carga de terra e pedra
Fotos e legenda publicadas com a matéria

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