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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL
Tempo de Carnaval (25)

Uma festa caracteristicamente santista
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A história de como surgiram os banhos de Dona Dorotéia foi relembrada por um dos criadores do evento, nesta matéria de 14 de fevereiro de 1993, um domingo, dia do banho, pelo jornal santista A Tribuna (página A-12):
 


Lorde Gorila, um dos criadores...

Foto por Walter Mello e legenda publicadas com a matéria

Dona Dorotéia reúne foliões na Ponta da Praia

Da Editoria Local

O tradicional desfile Dona Dorotéia, vamos furar aquela onda? acontece hoje, a partir das 15 horas, na Avenida Bartolomeu de Gusmão, na Ponta da Praia. Realizada pelo Clube de Regatas Saldanha da Gama, a edição deste ano terá pela primeira vez o apoio da Secretaria de Cultura (Secult).

O desfile contará, mais uma vez, com um de seus criadores, o funcionário público estadual aposentado Luiz Vieira de Carvalho, o Lorde GOrila, que atualmente mora no Rio de Janeiro.

A abertura oficial da patuscada será feita pela Corte Carnavalesca, seguida das apresentações especiais das Penosas do Itararé e Nereidas Tricolores. Depois, pelos não-patuscos, desfilam: Caciques do Macuco, Foliões Vascaínos, Maria Infância e Mocidade Alegre do Estuário.

As Raparigas do Último Gole, com o tema As Raparigas do Último Gole nos Jardins da Dinda. Deus nos Acuda!, abrem a apresentação da categoria patuscos. A seguir, desfilam: A Bola Vai Rolar, Grêmio Recreativo UTI, Loucas de Guarujá e Jardim da Casa da Dinda (N.E.: a Casa da Dinda era a nababesca residência em Brasília do presidente Fernando Collor de Mello, muito comentada na época).

O encerramento da festa, cuja concentração será defronte do Aquário Municipal, estará a cargo do trio elétrico Leite Moça e da Banda Sol Nascente. A patuscada tem apoio da Prefeitura e da Polícia Militar.

Lorde Gorila - Ele tem duas filhas, duas netas, cinco bisnetos e uma tataraneta. Nasceu em Petrópolis (RJ), mas morou em Santos de 1919 a 1927, quando foi para Ribeirão Predo e, dois anos depois, novamente para o Rio, onde reside até hoje, no bairro de Copacabana. Perto de completar 90 anos (em março), a animação contagiante continua a mesma da época de juventude. Alegre, descontraído e antigo malandro das rodas de samba cariocas freqüentadas por Pixinguinha, o funcionário público estadual aposentado Luiz Vieira de Carvalho, o Lorde Gorila, poderá ser visto hoje fantasiado de mulher no Banho da Dorotéia, brincadeira que ajudou a fundar, na década de 20. Ontem à noite, ele foi homenageado pela Prefeitura.

- Como surgiu a Dorotéia?

- Anos antes de 1923, eu e mais cinco amigos, todos sócios do Saldanha, costumávamos tomar banho de mar fantasiados de mulher, um domingo antes e durante o Carnaval em frente ao clube, onde havia uma praia naquela época. Resolvemos organizar um desfile no ano de 23 para agrupar mais gente e socializar a festa. Um dos sócios conseguiu três caminhões, que enfeitamos com bambus. Contratamos a banda Gaita Galega e fundamos o bloco da Dorotéia.

- Qual a origem do nome?

- Havia uma peça no Teatro Guarani, com o humorista Pinto Filho, que fazia o personagem de um cabo de polícia. Em uma das cenas ele se dirigia para uma mulher embaixo de um guarda-sol e ele lhe perguntava: Dona Dorotéia, vamos furara aquela onda? Houve, no grupo, quem não quisesse o nome, por achar muito comprido, mas venceu meu argumento de ser algo diferente.

- Como foi a aceitação?

- Naquele ano, desfilamos da Ponta da Praia ao José Menino, e as pessoas iam entrando. Com o passar dos anos a festa foi crescendo, mas eu voltei para o Rio.

- A brincadeira, hoje, está muito diferente da que vocês idealizaram?

- Digamos que o espírito sim, porque as fantasias de mulher permaneceram.

- Houve anos em que o sr. não veio. Foi por causa dessa descaracterização?

- Me entristece ver o que está acontecendo. Antes, a brincadeira era sadia e familiar; a juventude tem outra visão do que é diversão. Mas a solidão foi o maior motivo. Os amigos foram morrendo e perdi a motivação. Não há mais ninguém da minha época vivo.

- Havia outra atividade carnavalesca santista que o sr. gostasse?

- Lembro com carinho do Bloco Flor do AMbiente, do Santos FC, na época do Urbano Caldeira. Era muito animado.

- Como bom folião que mora na capital do Carnaval, o sr. sai em alguma escola de samba?

- Não. É um espetáculo bonito, rico, mas não tem nada de samba. Daquele samba do malandro de morro, como havia no Bloco Bola Preta, do qual eu participava com meu amigo Pixinguinha. O bom era a roda de samba, nos bares, nos becos, onde eram compostos lindos sambas.

- Aproveitando que o sr. está no Rio desde 1929, e em Copacabana, bairro tradicional das noites cariocas, como se sente vivendo em uma das capitais mais violentas do País?

- É horrível. Ninguém mais sai depois das 18 horas. O pior são os menores de rua, que assaltam até mesmo com garrafas quebradas. Copacabana perdeu o charme e não apaixona mais, assim como o Rio. Não se vê um prédio ou casa sem grade, e nem isso adianta. Gosto de Santos. Ainda dá para andar na praia.


...do tradicional desfile-patuscada, recebe homenagem hoje. Na foto, ele é o segundo à direita

Foto: reprodução de arquivo, por Reinaldo Ferrigno, e legenda, publicadas com a matéria

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