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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL
Tempo de Carnaval (23-C)

A festa de Carnaval, em 1920
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Em 1920, o banho da Dorotéia ainda não havia surgido, e junto com o fox-trot nos salões, a folia era dominada pelos corsos, no Centro e começando a se expandir em direção ao Gonzaga, via Avenida Ana Costa. Assim foi registrada a folia carnavalesca daquele ano, pelo jornal santista A Tribuna (ortografia atualizada, mas mantidos os neologismos e gírias usados na época), na edição de 17 de fevereiro de 1920 (a Terça-feira Gorda):
 


Imagem: reprodução parcial da página original com a matéria

CARNAVAL

Continua animada a pagodeira - O corso de automóveis - Os bailes masqué - Os grupos e cordões

A pagodeira foi grossa e o pessoal, que estava seco para cair no mangue, entregou-se com coragem às delícias da festança.

Durante o dia notava-se certa frieza, havendo pouco movimento nas ruas.

Pouco a pouco, porém, o povo foi saindo de casa e, à tarde, as ruas do centro da cidade fervilhavam de gente.

À noite, no coreto adrede preparado no Largo do Rosário, a banda do Corpo de Bombeiros realizou um esplêndido concerto, executando um programa x-p-t-ó, que fez as delícias do pessoal que gosta do que é bom.

Máscaras espirituosas despertavam o riso do público com a sua interessante verve: porém apareceram alguns que, faça-me o favor, como diz o ditado, deviam ter metido a cara... não sei onde.

Também lá pelos arredores da cidade a saparia entregou-se com coragem à pagodeira e era bonito ver o pessoal berrar.

Era um verdadeiro delírio.

O Espião andou espiando lá pelo Cassino do Parque, Palace-Hotel, Miramar e outros pontos, encontrando tudo animado.

Os carros ornamentados surgiam como por encanto, repletos de elegantes pierrettes, que emprestavam grande realce à festança.

Nos clubes, então, a pandegoria atingiu as raias do delírio. Todos estavam firmes, de Rodo em punho, a bisnagar este e aquele, até que um dos combatentes, atacado de supetão, levava uma esguichada de éter nas vidraças e tinha que se render.

E o pessoal prorrompia num berreiro infernal.

À noite fui lá no

Cassino do Parque

ver o pessoal arrochar no can-can congeminético e enigmático.

Aquilo era uma gostosura.

Quando o Grupo do Zuza executou o Cá de ele?, a saparia caiu firme e com vontade de remexer.

Era uma delícia.

Dali toquei para a cidade e entrei no

Automóvel Club

que oferecia mais um pirambolético baile à jeunesse doré.

Encontrei lá dentro da maravilhosa caverna o pessoalzinho retorcido, mas fiquei triste; fiquei triste mesmo e até as lágrimas me vieram aos olhos.

Faltava a principal personagem, que no ano passado tanta alegria despertou nos apreciadores do Automóvel.

Era o Fosquinha, que este ano não sei para onde se meteu, que até agora não deu um ar de sua graça.

Mas o pessoal, vendo-me triste, carregou-me para o bar, e eu espantei os aborrecimentos com um delicioso chope.

O salão estava cheio e o pessoal, agarrado como estava ao remelexo, nem deu por mim, que logo me pus ao fresco e dei uma pernada até o

Coliseu Santista

que é o ponto de reunião do pessoal arreliento.

Recebido com todas as honras inerentes ao meu cargo de escrevinhador pelo meu amigo Queiroz, que, fantasiado à Chantecler, se salientava dos demais foliões, fui introduzido no salão.

Uma zoeira desgraçada quase me rachou os tímpanos ouvitórios e fiquei por alguns instantes meio bestificado ao ver aquela azáfama.

O pessoal, agarrado uns aos outros que nem carrapato ao lombo do gado, dava expansão ao espírito galhofeiro, retorcendo-se num maxixe gostoso.

Deitei uma olhadela pelo salão, vi num camarote o Brandão, dei-lhe um aperto de mão e ele interrogou:

- Você não dança, espião?

Cumprida a minha missão, saí, fui tomar café e, depois, sim, depois, é que a coisa foi boa.

Sabem por que digo assim?

Porque fui ao

Centro Espanhol

que também rendeu homenagens ao folgazão Momo, realizando um grande baile em sua sede social, que estava lindamente ornamentada, oferecendo um aspecto deslumbrante. O salão do centro, apesar de grande, era pequeno para dar agasalho aos inúmeros pares que ali foram para gozar as delícias da dança e da boa música.

Tocou uma excelente orquestra.

As danças, que se prolongaram até alta hora da madrugada, decorreram sempre no meio de grande entusiasmo.

Estive também na

União Portuguesa

que está resplendente, vendo-se alegres pares gozar um fox-trote cheio de congeminências.

A orquestra, repimpada lá num tronozinho ao canto do salão, executava o seu choro cheio de manemolência.

O pessoal, que não sentia canseira, desconjuntava-se todo. Era uma beleza vê-lo.

E  assim decorreu o baile até alta hora da madrugada.

Hoje haverá mais um grandioso baile na sede da União Portuguesa.

Grupo do Zuza - Este excelente grupo tem feito um figurão lá nos bailes do Cassino do Parque Balneário, com a execução dos seus magníficos lundus, tangos e maxixes cutubas.

O grupo do Zuza é composto de 10 figuras e tem um variado e excelente repertório, destacando-se a novela É isso mesmo, letra e música de quem a fez.

O grupo do Zuza, tripulando um caminhão artisticamente montado que, pela aprimorada confecção, se destacava dos outros que saíram à rua, fez uma passeata pela cidade executando sentimentais e estupafórdicos choros, que deliciaram o público.

Hoje, sendo o último dia dos folguedos, o grupo comparecerá ao baile do Cassino do Parque e para dar a nota, organizou um programa que é um primor.

Aproveita, rapaziada destorcida, que a coisa vai acabar.

Grupo dos Amarelinhos - O pessoal dos Amarelinhos deu ontem mais uma nota alegre aos folguedos, entoando durante a sua passeata interessantes modinhas genuinamente nacionais.

A saparia estava boa mesmo, demonstrando que é sacudida para a pândega.

Para hoje os Amarelinhos preparam uma imponente passeata, que vai ser corruscuba.

Grupo das Tesouras - Continua hoje a deliciar o público o alegre Grupo das Tesouras, de que fazem parte gentis senhoritas da nossa sociedade.

O caminhão das Tesouras apresentar-se-á lindamente ornamentado e vai fazer um sucesso.

Para esse fim já foram afiadas as ditas e prometem cortar com vontade a casaca do pessoal.

Aí, pessoal, cuidado com as Tesouras...

Coco Nortista - Incontestavelmente, o pessoal do Coco Nortista é bom mesmo.

Ontem, novamente o Coco Nortista saiu da sua caverna para alegrar os bons foliões desta terra com as suas toadas lá do sertão.

À frente do pessoal vinha o Basiliano, fantasiado de cearense, a cantarolar um sambinha gostoso e cheio de sentimentalismo.

O pessoal ouvinte gostou da coisa e pediu bis.

O versejador repetiu o samba 645 vezes, sempre com o mesmo sucesso.

Hoje o Coco fará uma passeata solene para a despedida do galhofeiro Momo.

Vilão Rio Branco - Este denodado conjunto carnavalesco obteve ontem mais um ruidoso sucesso.

A sua diretoria esteve ontem em visita à redação desta folha, e pediu-nos fazer público o agradecimento dessa sociedade ao cavalheiro que ofereceu uma medalha de ouro ao menino Manuel Rodrigues, valente batedor do Vilão Rio Branco.

Uruguai F. Club - Na sede desta sociedade esportiva haverá hoje, às 19 horas, um grandioso baile à fantasia, oferecido aos sócios e famílias.

O grande corso de hoje na cidade - A nota sensacional do carnaval santista será o grande corso de hoje na cidade.

A cidade, a parte velha do burgo, no último dia em que reina a doidivanas D. Folia, embonecar-se-á para assistir, sorridente, ao desfilar de todos os carnavalescos, novos e velhos, que no ano de 920 lhe entoam o último hino de glória. Todos os foliões, em automóveis, em caminhões, em carros, em bicicletas e moto-ditas, em aeroplanos, desfilarão, imponentemente, pelas praças e ruas centrais da cidade.

Como sempre se tem registrado, na terça-feira de carnaval a palma pertence à cidade e, assim, animação não faltará; as famílias deslocar-se-ão de suas casas para as janelas das ruas de percurso do imponente corso, e todos, à uma, sustentarão as mais renhidas e empolgantes batalhas, verdadeiros encontros encarniçados, de confete e serpentinas, de mistura com olorosos lança-perfumes.

Nas ruas de percurso do corso bandas de música abrilhantarão os folguedos.

O corso iniciar-se-á às 16 horas e prolongar-se-á até a meia noite, hora em que as bandas de música baterão em retirada defensiva para penates.

Para orientação de todos que concorrem a este corso, genuinamente santista, e que lembra as tradições da nossa terra, damos a seguir o itinerário: Praça Mauá, Rua General Câmara, Largo do Rosário, Rua 15 de Novembro (trecho novo), Rua São Leopoldo, Largo do Rosário, Rua do Rosário, Rua D. Pedro II, Praça Mauá.

As entradas de carros nas linhas serão feitas pela Praça Mauá e saídas pela Praça dos Andradas.

Os carros formarão linha dupla, a fim de facilitar os folguedos de carro para carro.

A fiscalização e organização do corso estão a cargo do sr. Antonio Franco, chefe da Polícia Municipal, coadjuvado por todos os inspetores seus auxiliares, praças de polícia etc.

O corso do Gonzaga - Atingiu grande animação o corso ontem realizado, o segundo do presente carnaval, na Avenida Ana Costa.

Apesar de ter sido começado tardiamente, o corso decorreu com muito entusiasmo, tendo constituído o clou dessa festa o belo caminhão Derby Club, dirigido pelo dr. Odilon Bezerra de Figueiredo.

Compareceram a esse corso lindas e vistosas carruagens, guarnecidas de gentis senhoritas, trajando brilhantes e custosas fantasias.

- Hoje, terceiro e último corso, às 17 horas, a que deverão comparecer numerosos automóveis.

A festa de hoje constituirá o maior sucesso do carnaval deste ano.


Imagem publicada com a matéria

Sapeca Choro! - O excelente Grupo Sapeca Choro!, sob a direção do maestro Belizário, saiu ontem novamente para a rua, fazendo um retumbante sucesso com a execução de belos e escolhidos números de seu vasto repertório.

O pessoal do Sapeca Choro tem conquistado as simpatias do público e ainda ontem demonstrou que é quera na arte de sapecar.

O sapeca veio até a nossa redação, onde executou, em homenagem ao Espião, o samba:

Cadê Ele?

O Veado, à meia noite
Vai bater na pedra mole,
Caçador segura o tiro
Que o Veado vai simbora.

Coro
Cadê ele?
Cadê ela?
Stá no poço
Da Padélia

Dona Maroca, outro dia,
Foi dizer ao Sacristão
Que seu filho dá pr'a padre
Só lhe falta proteção.

Cadê ele? etc.

Francisquinha, minha nega,
Foi caçar com harpuá,
Passou fogo na buzunga
Pensando que era preá!

Cadê ele? etc.

Há três coisas neste mundo
Que a mim só faz confusão
É o vapor andar na linha
Sem braço, sem pé, sem mão

Cadê ele? etc.

Chapéu de coco encorpado
Na cabeça de matuto,
Quatro morenas do lado
Nas águas de Pernambuco.

Cadê ele? etc.

Quando pego na viola,
Para cantar no baião
Parece que o mundo treme
De prazer e comoção.

Cadê ele? etc.

Quando repico a viola,
Quando canto no baião
O relógio da parede
Esquece da obrigação.

Cadê ele? etc.

Minha viola de pinho
Ninguém nela põe a mão,
Só põe a minha comadre
Que é muié do meu irmão.

Hoje o pessoal do Sapeca Choro! Fará as despedidas solenes ao rei da arrelia, executando um escolhido, variado e supimpa programa.

Caminhão do Derby Club - Fomos ontem agradavelmente surpreendidos por um gracioso grupo de senhoritas e cavalheiros que constituem o caminhão do Derby Club.

Esse carro, que é chefiado pelo dr. Odilon Figueiredo, possui uma esplêndida charanga.

À porta da nossa redação, as gentis senhoritas cantaram, com grande entusiasmo, a canção que começa com estes versos:

"Levanta o pé
Esconde a mão!
O amor sem ser leal",

etc.,... e termina com esta prosa:

"Ficamos entusiasmados com º.. não dou porque não posso, porque mamãe não deixa... Mamãe bem podia 'deixá'... o tédio [ou palavra semelhante, trecho de impressão borrada no jornal] é tão inocente..."

Uma fantasia original - Acha-se exposta, na vitrine da "Casa Edison", à Rua General Câmara, uma linda e original fantasia Gira-sol. Esse primoroso trabalho será vendido pelo sr. Roberto, por um preço convenientíssimo.

Sociedade Musical Colonial Portuguesa - Conforme noticiamos, realizou-se ontem o assustado, o qual decorreu animadíssimo. Distinguiram-se elegantes fantasias de pierrôs e pierrettes, que emprestavam à festa um brilho extraordinário.

Abrilhantou o festival um grupo musical da mesma sociedade.

Hoje, realiza-se mais um baile nos seus salões, que se prolongará até as 24 horas, despedida do carnaval do corrente ano.

Abrilhantará o festival um quinteto musical.

O Grupo do "À toa" - Chegou, enfim, a horinha do café com mingau. Terminada a fabricação da endromissa, o bando sairá hoje, à hora que o sol nasce e, de certo, que o esperará nascer quarta-feira.

O carro está o que se vai ver: melhor do que ele, diz o artista-borrador que o preparou, só ele mesmo.

O Noronha, que construiu a obra, será o piloto; o Frediano passará por piloto-filho; o Malfatti dará azeite às máquinas.

Os demais tripulantes são: Argemiro Silva, Mário Monteiro, Olegário C. Silva e Gercino Hugo Caparelli.

O veículo-aeroplanático, que conduzirá a macacada campineira com instalações em Santos, levantará o vôo às 17 horas, na Praça Mauá, e às horas de chegar, estará em frente à Tribuna, se não cair no caminho.

Foliões santistas - O presidente deste cordão pede o comparecimento de todos os foliões às 18 horas, para a passeata, na Praça Correa de Melo n. 5.

Sociedade Recreativa Espanha - A Sociedade Recreativa Espanha, desejando fechar com chave de ouro o carnaval de 1920, resolveu, em aditamento à série de bailes carnavalescos, efetuar o último, que será o "suco das suculências suculativas" e que será realizado hoje, encerrando-se com o mesmo o concurso que se acha aberto a fim de apurar-se qual a moça mais bela em 1º e 2º lugares, e qual o rapaz mais feio, também em 1º e 2º lugares, distribuindo-se, por essa ocasião, os respectivos prêmios.

Nessa mesma noite, será posto em execução o cômico Jogo da Piñata, muitíssimo conhecido na Europa, tendo vários prêmios, cada qual mais extravagante, sendo um divertimento próprio do carnaval.

Os dois grandes bailes de ontem

No Miramar - Constituiu mais um estrondoso sucesso o grande baile de ontem nos elegantes salões do Miramar.

No salão notamos, dentre a avultada concorrência, as seguintes senhoritas: Maria e Zizi Freire, Thaisa, Baby, Odette, Porchat, Ginoca Santiago, Olga Mesquita, Izaura Sportelli, Ida Tamagno, Zeila Zelinda, Almira Olgarina Sá e Souza, Judith Bittencourt, Gilda Sportelli, Maria José Roslindo, Carolina Antoniette, grupo de jóqueis, Carmita e Judith Hayden, Carminha Junqueira, Sylvia Sandall, Marina Caldeira, Maria José Barros, costume chinês; Marina Franco, Lily Edowes, Zizi Martins, Doralice Amaral, Palmeira Martins, Adelia Corte Real, Zilda Marques Pereira, Djelza, Dagmar, Mercedes Alfaya, Amarilia, Alicinda Oliveira, Nair Burlamaqui, grupo das que cortam, tesourinhas terríveis, Marianinha e Odette, Almerinda Freitas Guimarães.

No Parque Club - Foi, sem dúvida, uma das mais atraentes festas do carnaval deste ano, em Santos, a grandiosa matinê infantil de ontem nos elegantes salões do Parque Club.

A ela compareceu a petizada santista trajando esplêndidas fantasias, tendo havido distribuição de prêmios aos seguintes petizes:

Meninas
1º prêmio - Nair Santos (Índia)
2º prêmio - Dulce Rodrigues (Dançarina)
3º prêmio - Lucilla de Camargo (Musette)

Meninos
1º prêmio - Armando Campos (Chinês)
2º prêmio - Clay Presgreave do Amaral (Formiga)
3º prêmio - Marcello Camargo (Marcello Brebe).

Os salões dessa elegante sociedade foram também pequenos para comportar a enorme freqüência que teve a sauterie carnavalesca de ontem.

Um deslumbramento. O Deus da Folia encontrou ali a mais brilhante das consagrações.

A fina flor da sociedade santista encontrou, nos radiosos salões do Parque Club, maravilhosos motivos de diversões.

As batalhas de confete, lança-perfume e serpentinas, atingiram o apogeu. Em suma, o recorde de animação carnavalesca foi batido ontem pelo Parque Club.

Foi-nos possível colher os seguintes nomes: Alice Peixoto Duarte, Deolinda P. Proost de Souza, Nezita Peixoto Bueno Franco, Guiomar Peixoto, Marina Peixoto, Maria do Carmo, Helena Caiaffa, Virginia Caiaffa, Sylvia Hehl, Margot Hehl, viúva Adelaide S. Hehl, Maria Hehl Siqueira Siele, Lúcia Caiaffa, N. Lucillia Corrêa Amarante, mmes. Affonso Costa, Wallace Simonsen, Carlos Nunes, Alfredo Saules, Lindinha Correa, Lelia e Bella Rezende, Ocirema Lara.

Senhoritas: Helyette Millon, Elisabeth Miller, Dagmar Miller, Inah e Gyalma Catunda, Mathilde Souza Queiroz, Eliza S. De Araújo, Gleide Catunda, Marie Azevedo, Carmen Suplicy, Delta de Azevedo Marques, Andradina de Azevedo Marques, Marina Nunes Madeira, Maria Madeya, Dagmar Coelho, Margarida Tavares, Risoleta Peixoto Duarte, Odilla Peixoto Duarte, Nair Peixoto Duarte, Thereza Suplicy, Edith Costa, Zilota Assumpção, Helena Affonseca, Hyrene de Mello, Apresentação Salles, Sylvia Gomes, Conceição Gomes, Dorita Witaker, Leonor e Maria Angélica Carvalhaes, Marina Catunda, Laura e Heloísa de Moura Ribeiro, Gilberta Mendonça Costa, Gilda Sodré, Beatriz Guimarães, Odilla Peres de Campos, Carmen Teixeira, Maria Estella de Souza Queiroz, Zézé Leone, Helena P. de Campos, Nenê Leone, Sarah de Souza Queiroz, Therezinha Coelho, Elza Ruth e M. Antonietta Costa, Maria de Lourdes Madeira, Zulmira Moreira, Dulce Ferraz, Olga Assumpção, Lavínia Castello Branco, Zizi Martins, Sylvania Fontes Campos, Isa Fontes, Geraldina de Freitas Guimarães, Maria Antonia Fontes, Vitalina Antunes, Almerinda de Freitas Guimarães, Sara Martins, Ziloca Assumpção, Violeta Assumpção, Ednéa Cunha, Diloca Duarte e Maninha Martins.

- Hoje haverá uma estrondosa sauterie masqué, finalizando o tríduo da Folia.

O Hotel Parque Balneário servirá um finíssimo soupée, cujo menu foi irrepreensivelmente organizado.

Ecos

Segundo praxe, no dia de hoje será proporcionada folga ao pessoal da redação, administração e oficinas desta folha. Por esse motivo, A Tribuna deixará de circular amanhã.

* * *

Passaram ontem, em Jundiaí, 1.900 sacas de café, sendo 197 para S. Paulo e 1.703 com destino a esta cidade.

* * *

Do dr. Armando Tourinho, agente do Correio, recebemos a seguinte comunicação: "Em relação à local publicada em 6 deste mês, que diz respeito à caixa coletora de correspondência colocada à Rua Lucas Fortunato, cabe-me declarar-vos que esta repartição aguarda tão somente a remessa de caixas, já solicitadas, para que sejam substituídas as que estão em uso".

* * *

Comunica-nos o sr. José Antonio de Souza Penna, residente em S. José dos Campos, ter inaugurado uma linha de automóveis daquela cidade a Paraibuna, sendo as partidas desta cidade às 6 horas e de S. José às 11 horas.

O preço da passagem para uma pessoa é de 15$000, e a lotação é de três pessoas.

* * *

Na S. Paulo Railway estão retidos telegramas para: Francisco Cesario Azevedo, Pensão; Caetano Marques, Café Marítimo; Augusto de Souza, General Câmara s/n.
- No Telégrafo Nacional estão retidos despachos para: Vasconcellos; Marquez; Joaquim Violeta, São Carlos; deputado Joaquim Osório, bordo Itaquera.

Câmara Municipal - Por falta de número legal, deixou de realizar-se ontem a sessão ordinária da Câmara Municipal. [...].

Na mesma edição, artigo na primeira página, sem título:

Duros contrastes...

A cidade toda vibrava.

Nas praças, nos jardins, nas praias, nas ruas e avenidas, nos cinemas e cafés, nos clubes e nos teatros, por toda parte passava a gargalhar, loquaz e saracoteador, o Deus da Troça, da Folia, distribuindo a todas as almas felizes ou desconcertadas um pouco dessa alegria que ele armazena um ano todo e dá ao povo, aos ricos e pobres, aos graúdos e miúdos, aos prontos e armados, para o esbanjamento, para o desperdício, para a loucura, nestes três dias, em que o mundo manda o infortúnio descansar armas...

Quatro horas, cinco, seis, e o vozerio, o clamor a crescer, a derramar-se. Um transbordamento de desvarios.

Cruzavam-se serpentinas, até lá bem alto, como se as estrelas quisessem arrastá-las para, em enleios e remelexos, virem à terra dançar um maxixe com o Brandão Sobrinho, com a aquiescência do seu Viriato, está visto...

Mas, nem as serpentinas subiram, nem as estrelas desceram, o que, aliás, não impediu que no Guarani se despencasse o choro repinicado e barulhento, em deslumbrante apoteose.

A platéia começou a dançar nas cadeiras. Junto de mim, um tipo que se alojara na extremidade da primeira fila, pôs-se a resmungar e depois a rir. Eram umas risadinhas apertadas, recatadas, constrangidas. Mas o bailado cresceu e a sua alma requentada não se conteve: explodiu. E o desconhecido, arrancando o disfarce, ergueu-se desnorteado, como se quisesse varar o palco.

Segurei-o.

- Que é isso, homem?

E ele, voltando-se, reconheceu-me. Meteu-se apressadamente no embuço e, depois, ao meu ouvido, disse:

- Que não transpire isto...

Tirei-lhe uma esquerda e retorqui, espantado:

- Seu Fagundes, o senhor assim, alegre?!

É que o Fagundes há três dias perdera a mulher.

E eu que o vi chorar!

Fiquei absorto, fora de mim. Encarei-o de novo.

De fato, era o coronel, grande coração e nobre alma... De mim para mim, tive-o por louco.

Porém, Fagundes recomeçava a estrebuchar e a incomodar-me.

- Coronel - disse-lhe então - o senhor deve sair.

- Por quê? - retrucou ele. Isto está tão delicioso, menino!

Palavra, quando ouvi isto, tive nojo daquele homem. Levantei-me, saí.

Na rua, o delírio a crescer ainda mais. Momo, no seu reinado, chegava à culminância da loucura.

E eu, a vencer aquela multidão, passava-lhe quase indiferente, quando, a certa altura, um grupo mascarado formou parede, pôs-se a galhofar. Em meio ao barulho ensurdecedor, ouvi este resto de oratória do batuta do cordão:

..."A vida, meus senhores, é uma grande farsa".

Dentro de minh'alma vibraram essas palavras como se tivessem vindo dela mesma.

Ah! No reinado da loucura ainda a verdade vive.

Dei mais alguns passos: estava no Largo do Rosário. Queria um amigo ali, para dizer-lhe o que sentia.

A súbitas, metido numa veste rica, rebrilhando em miçangas e lantejoulas, uma estranha estendeu-me a mão:

- Toca aqui.

- Quem és?

- Sou a Fraternidade.

Mas na voz reconheci a alma negra que me sondava. Não me contive. Avancei, arranquei-lhe a máscara.

Era a Felonia em pessoa, o Corujinha em corpo e alma.

Ronalio Junior.