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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - COLISEU
Coliseu: teatro, cinema e elefante branco (11)

Após mais de uma década, enfim a reinauguração
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Chegou o dia da inauguração. Um caderno especial sobre o teatro foi publicado pelo jornal santista A Tribuna, em sua edição de quarta-feira, 25 de janeiro de 2006:
 

Nuno lembra o frisson que a peça causou
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Primeiras cenas de nu chocaram

Da Reportagem

Como não tinha sentido, no Brasil, a bandeira dos EUA, eles saíam debaixo de um pano branco que representava a paz. Durante a cena, na platéia, ouvia-se um sonoro "Ooooooh!". O elenco estava nu.

O que é muito comum nos tempos atuais, em 1970 causou enorme frisson. Vários dias antes já era o assunto mais discutido nas rodinhas de quem apreciava teatro: Hair viria para o Teatro Coliseu.

"Na verdade, o nu era o apelo principal da peça. E a gente fazia numa boa. Como também havia influência do movimento hippie, tudo isso despertava mais a curiosidade. Uma coisa é saber que há nu, outra é vê-lo no palco", lembra o ator santista Nuno Leal Maia.

"Foi maravilhoso representar no Coliseu, por ser em Santos e um dos mais importantes teatros do Brasil. Foi minha estréia nele, já que, antes, o freqüentei somente para assistir a filmes", conta o ator.

Nuno Leal Maia não participou dos movimentos teatrais amadores. Ele foi para São Paulo fazer a Escola de Arte Dramática (EAD), da USP, fez teste para Hair, passou, mas ficou de stand by. "Um dia me telefonaram. A peça estreou em outubro de 1969 e eu entrei em fevereiro de 1970. Minha estréia já foi como profissional".

Fazer a peça, conta, era muito bom, não somente pelo texto e pela direção de Ademar Guerra, mas por ser muito assistida. "Somente quando a gente fazia matinê, no meio de semana, no Rio, o teatro não lotava".

Sobre o colega Ney Latorraca, Nuno conta que ele entrou depois, em substituição ao ator Laerte Morroni (já falecido e que encantou os mais velhos fazendo também o Garibaldo, na série infantil Vila Sézamo). "Ele fazia a mulher que saía da platéia e subia no palco".

Em férias, Nuno Leal Maia terminou seu ciclo, após quatro anos, na novelinha Malhação. É comum a troca de elenco, tanto que também saíram Cristiana Oliveira, Paulo Betti e o santista Oscar Magrini.

"Estou querendo, para março, montar uma peça. Sou contratado da Globo, mas não fui sondado por nenhum autor ou diretor para fazer novela. Espero que até o Carnaval isso não aconteça. Preciso descansar".

Em seus planos estão o retorno ao Teatro Coliseu. "A Cidade merece ter o teatro de volta por tudo o que ele significa para a cultura. Seria uma honra poder pisar novamente no palco. Vou pensar nisso".


Neyde viu o teatro perder seu brilho
Foto: divulgação, publicada com a matéria

Sonhando com mais uma noite

Da Reportagem

"Minha relação com o Teatro Coliseu, inicialmente, foi afetiva. Criança, minha mãe me contava a história de um tio (Álvaro Castro) que todo sábado apresentava, no palco, um episódio de Família do Matraca, um tipo de Família Trapo, no qual ele era o protagonista. Eu não era nascida", revela a atriz e diretora de teatro santista Neyde Veneziano.

Como atriz, ela estreou no Coliseu em 1965, com as peças A Crômica e O Cristo Nu, ao lado de Jandira Martini, Ney Latorraca, Elias Tambur, Marli Nunes e Rubens Ewald Filho, entre outros, em montagens do Teatro Escola, da Faculdade de Filosofia. "O Coliseu já estava decadente, mas a gente se sentia nas nuvens".

Neyde Veneziano revela que está aguardando com muito orgulho a reinauguração, pois entende que, muito mais do que um imóvel, ela resgata a história da Cidade, mostra que ela não é somente praia e Porto, mas também cultura.

"Não sei como será o agendamento, mas gostaria muito de voltar ao palco do Teatro Coliseu. Tenho um espetáculo pronto, que traz de volta o melodrama, E o Céu Uniu Dois Corações. Com ele vamos participar do Festival Profissional de Teatro de Curitiba. Na verdade, maravilhoso, mesmo, seria a gente montar um peça com todos os atores santistas (Ney, Jandira, Serafim, Sérgio Mamberti e os mais novos). Nem que fosse só para uma noite".


A atriz com Ney, Soffredini e Tambur
Foto: divulgação, publicada com a matéria

Santistas participaram do lendário musical Hair

Da Reportagem

"O espelho de uma cidade são seus teatros. Se eles são bons, a cidade é boa". A análise é de um filho da terra: Ney Latorraca, muito feliz pela recuperação do Teatro Coliseu.

Para ele, é uma vitória da população e tem importância nacional, afinal de contas trata-se de um patrimônio cultural de inestimável valor, no nível dos teatros municipais de São Paulo e Rio de Janeiro. "Todos ganham: as pessoas, a Cidade, a classe artística, a cultura do País. Poucos teatros, no mundo, são como o Coliseu".

Ney Latorraca
Foto: divulgação, publicada com a matéria

O santista começou no teatro amador com a peça Pluft, O Fantasminha, no Colégio do Canadá, dirigido por Serafim Gonzalez. Depois, integrou o grupo Teatro Escola, da Faculdade de Filosofia. Sua estréia (como amador) no Teatro Coliseu foi com os textos O Cristo Nu e A Crômina (de cromo, cor), de Carlos Alberto Soffredini, que também assinava a direção.

"Foi fantástico, emocionante. Estávamos pisando o Coliseu, um templo nos moldes dos teatros municipais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Outra coisa que mexeu com a gente foi a disposição da platéia, bem diferente da dos teatros convencionais".

Depois, Ney foi à luta atrás do profissionalismo em outras terras: São Paulo e Rio de Janeiro. Voltou ao Teatro Coliseu somente em 1970, com a então polêmica peça Hair, com direção de Ademar Guerra, na qual os atores ficavam nus no palco. "A gente ia fazer apenas uma apresentação e ficou uma semana em cartaz. Foi demais. E na minha terra".

Contente com o desfecho sobre o Coliseu, o ator santista não tem papas na língua ao falar em como o imóvel deve ser usado. "Somente para teatro, música clássica e dança. Nada de shows de rock (com esse pessoal que quebra o palco), formaturas ou festas sociais".

Ao saber que espetáculos de qualidade comprovada, como Bibi In Concert e Ópera do Malandro estão na programação, ficou satisfeito. Ele também tem o desejo de retornar ao Coliseu.

"Com as gravações da novela (Bang-Bang) fico com a cabeça nas nuvens. São muitas horas à disposição da equipe técnica, não dá para pensar em nada. Mas quando acabar, quero escolher um espetáculo para levar ao Coliseu. Pode até ser uma seleção de cenas de Irma Vap, cujo filme estréia em março".


Ney Latorraca (ao centro) estava no elenco de Hair que veio ao Coliseu
Foto: arquivo pessoal, publicada com a matéria

Um grande pianista quer voltar, agora como regente

Da Reportagem

Ele perdeu os movimentos das mãos em um acidente, afastando-se do piano. Mas jamais abandonaria a música. O pianista João Carlos Martins, agora regente, virá a Santos em maio, à frente da sua orquestra, a Sinfônica Bacchiana.

"Espero que seja em concerto no Teatro Coliseu. O solo de piano será do maestro Luís Gustavo Petri, regente da Orquestra Sinfônica Municipal. É só nessa ocasião que ele toca piano", revela Martins.

Para ele, a vontade de ocupar o palco do teatro é emocional e histórica. Foi lá que, pela primeira vez na vida, se apresentou junto com uma orquestra, já que o Municipal de São Paulo estava em reforma. Antes, havia tocado no Teatro Colombo, que não tinha a importância do Municipal e nem a do Coliseu.

De acordo com João Carlos Martins, seu primeiro concerto na Cidade foi em 1956, durante o festival comemorativo dos 200 anos de nascimento de Mozart. "Foi com a Orquestra Sinfônica de Santos, com regência do maestro Moacir Serra. Toquei a 27ª em Si Bemol Maior. Eu tinha 15 anos. Nervoso? Não. Eu já tinha feito recitais individuais e entrava no palco como um leão. É com esse espírito, aliás, que estou de volta".

A apresentação foi organizada pela Comissão Municipal de Cultura. "A platéia estava lotada e engravatada. Foi emocionante. Pretendo reviver esse sentimento no Coliseu". 


João Carlos Martins pretende tocar no Coliseu em maio
Foto: divulgação, publicada com a matéria

As crianças também podiam assistir às óperas e operetas

Da Reportagem

Algumas lembranças jamais são esquecidas. Para a atriz santista Jandira Martini, uma delas a faz retornar aos 8 anos. "Desde pequena eu ia assistir a óperas no Coliseu, e uma das que mais me impressionaram foi a Tosca".

Ela conta que naquela época não havia censura, então, era comum a presença de crianças no teatro. Mais tarde, Jandira passou a freqüentá-lo para assistir a peças teatrais.

A atriz santista teve, ainda, o privilégio de pisar o palco. Foi quando fez parte do grupo Teatro Escola, da Faculdade de Filosofia, com as peças Cristo Nu e A Crômica (de Carlos Alberto Soffredini), ao lado dos amigos Ney Latorraca, Eliana Rocha, Neyde Veneziano e outros.

"Foi em 1965, o teatro já não era o mesmo, mas para nós foi um imenso prazer, pois pisávamos num dos primeiros teatros construídos no Brasil. Era como se a gente estivesse se apresentando no Teatro Municipal de São Paulo. Ainda havia a pintura no teto, as cortinas..."

A restauração do imóvel merece elogios por parte da atriz, para quem a preservação do patrimônio, indispensável à cultura, em geral recebe pouca atenção das autoridades governamentais. "Claro que gostaria muito de voltar a me apresentar no Coliseu".


Com 14 anos, Jandira Martini assistiu à Tosca. Mais tarde participou de várias peças
Foto: divulgação, publicada com a matéria

Um incentivo à cultura e à auto-estima da Cidade

Da Reportagem

"O Teatro Coliseu tem uma conhecida história de extraordinárias apresentações. Lembro-me de uma, na noite de 25 de janeiro de 1940 (há 66 anos), do fantástico Leonid Massine, sucessor de Nijinsky, dirigindo Le Spectre de la Rose e Scheherazade, com o Ballet Russe de Monte Carlo". A recordação é do maestro Gilberto Mendes.

Ele também fala, com reverência, do que presenciou um ano depois com o Ballet Russe do Coronel de Basil. "Ambos os grupos haviam surgido da divisão do mitológico Ballet Russe de Diaghilev, após sua morte, e traziam as roupas e cenários originais de Bakst e Benoit, que hoje estão no Museu da Dança, em Londres. Devido à guerra na Europa, excursionavam pelas Américas", explica o maestro.

Depois que a II Guerra Mundial terminou, outro mitológico dançarino desembarcou no palco do Teatro Coliseu, Harald Kreutzberg, considerado o mestre da dança expressionista.

O maestro Gilberto Mendes também se recorda da apresentação de Desejo, de Eugene O'Neill, na histórica encenação de Os Comediantes. E de Il Fratello Inamorato, ópera de Pergolesi, com o Angelicum de Milano, bem como óperas da temporada de São Paulo, que desciam a Santos trazendo cantores, orquestra, cenários e roupas do Teatro Municipal de São Paulo. E, ainda, um dos maiores compositores do século 20, o genial Villa-Lobos, regendo sua obra.

"O mais importante na reabertura do Coliseu é que ela pode reanimar a auto-estima da Cidade, há muito tempo decadente culturalmente e voltada para uma concorrência com as cidades vizinhas na promoção de um turismo brega, de shows de praia, em vez de concorrer com Paraty, Londrina e Joinvile em turismo de alta cultura, o que sempre foi sua missão. O pouco que resta, como nosso querido Cine Arte Posto 4, não recebe o apoio que merece. Santos tem uma história a preservar. O Brasil começou por aqui".


Gilberto Mendes viu balés memoráveis, concertos e óperas
Foto: divulgação, publicada com a matéria

Primeiro concerto será da OSMS, para 900 convidados

Da Reportagem

A Orquestra Sinfônica Municipal de Santos, com regência do maestro Luís Gustavo Petri, é a principal atração da estréia do novo Teatro Coliseu. Do concerto participarão ainda a pianista Beatriz Alessio, o coral Collegium Musicum de São Paulo, Rosana Lamosa (soprano), Ednéia de Oliveira (mezzo soprano), Fernando Portati (tenor) e José Gallisa (baixo). No programa, o Concerto para Piano e Orquestra nº 23 em Lá Maior, K 488, de Mozart, e a Sinfonia nº 9 em Ré Menor op. 125, de Beethoven.

Outras atrações serão a Camerata de Violões Heitor Villa-Lobos e o grupo de seresta Alma Brasileira, em performances nas outras dependências do teatro. Haverá ainda exposição fotográfica de Ernesto Papa, sobre as várias fases da restauração.

Entre os convidados, a noite será especial para Edith Pires Gonçalves Dias, autora do livro Santos de Ontem, que contém um capítulo inteiro sobre o Teatro Coliseu.

"Estou vivendo uma ansiedade enorme. O Coliseu possui valor histórico, artístico e social com o peso de quase 100 anos. Recuperá-lo era um dever, uma resposta do poder público, um prêmio à Cidade", entende.


Edith Pires escreveu sobre o Coliseu...
Foto: Carlos Marques, publicada com a matéria

Orgulho - "Uma emoção forte, um imenso orgulho, porque estamos concluindo um projeto complexo, que fez parte de quatro governos municipais. E nós também fizemos a nossa parte, injetando R$ 5 milhões. O Coliseu é teatro com alma santista, mas tem caráter nacional, devido à sua importância", revela o prefeito João Paulo Tavares Papa.

Agora, o ele está empenhado em tomar todas as medidas necessárias para o bom funcionamento do teatro, como a criação de uma Organização Social para cuidar da agenda e, mais o importante, captar recursos.

"Manter um teatro do porte do Coliseu não é fácil. E como é um equipamento que tem tudo para trazer os grandes espetáculos, com nomes famosos, tenho certeza de que o empresariado vai nos prestigiar".


...e prefeito Papa supervisionou a reforma
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria

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