Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0184e.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 06/29/03 22:15:29
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS ANDRADAS
Os Andradas (2)

Na obra conjunta História de Santos/Poliantéia Santista, os pesquisadores Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti compilaram resumos biográficos sobre vários dos componentes ilustres da família de José Bonifácio, inclusive ele mesmo (reproduzida abaixo). O leitor deve estar atento para não confundir, apesar do nome semelhante, a figura de José Bonifácio o Moço, com a de seu tio, o Patriarca da Independência:

Inauguração de monumento aos Andradas, na Praça da Independência, em 7/9/1922
Foto de cartão postal da época, colorida manualmente

José Bonifácio de Andrada e Silva, Conselheiro (O Patriarca) - José Bonifácio nasceu em Santos, a 13 de junho de 1763. Os seus primeiros estudos foram realizados com o seu próprio pai (coronel Bonifácio José de Andrada) e com o frei D. Manoel da Ressurreição.

Com 14 anos seguiu para São Paulo, onde fez o curso de humanidades, seguindo depois para o Rio de Janeiro e, de lá, para Portugal, onde, com a idade de 20 anos, entrou para a Universidade de Coimbra, formando-se em Direito Civil e Filosofia.

Seguiu para Lisboa, onde já era conhecido como literato, e foi recebido pela Academia Real de Ciências, da qual ficou fazendo parte, até ser, mais tarde, seu secretário perpétuo.

Em 1790 seguiu José Bonifácio em viagem por toda a Europa, na peregrinação científica que devia torná-lo o mestre do futuro, acompanhado então de Manoel Ferreira da Câmara Bittencourt, também brasileiro. Antes de partir, ele apresenta à Academia Real de Lisboa a sua primeira Memória sobre a pesca das baleias.

Durante dez anos viajou e estudou por quase toda a Europa, sendo aluno de Lavoisier, em Paris, de Chaptal e Fourcroy, de Jussicu e Hany. Em Freyberg, teve por mestre: Werner, Lempe, Kohler, Kjozsch, Freiesleben, Lampadins entre outros; estudando oritognosia, geognosia, montanística, matemática pura e aplicada, teoria das máquinas, direito e legislação de minas, ensaios químicos dos minerais, química prática, metalurgia e outras ciências.

Da sua comissão de estudos pela Europa, a que o mandou Martinho de Mello, ministro de D. Maria I, pelo receio "de que fosse fazer uma revolução no Brasil", como afirma Mello Moraes em sua História do Brasil-Reino e Brasil-Império (Tomo I, pg. 193), deixou ele, em cada ponto do velho mundo, diversas Memórias, que escreveu sobre variados assuntos, sendo admitido como sócio em todas as academias de Ciências do seu tempo.

Em setembro de 1800, voltou a Portugal, sendo nomeado lente de Metalurgia na Universidade de Coimbra, cargo que exerceu por alguns anos, sendo também intendente geral das Minas e Metais, superintendente do Rio Mondego, de Obras Públicas de Coimbra, e desembargador do Porto.

Invadido Portugal pelas forças de Napoleão, José Bonifácio deixou um pouco as ciências, para servir na guerra, como comandante do Corpo Acadêmico, onde se destacou. Uma vez livre o território português, foi nomeado intendente de Polícia da cidade do Porto, e logo depois, em 1812, era eleito secretário perpétuo da Academia Real de Ciências, em seguida à publicação dos escritos de reconhecido mérito.

Durante sua estada em Paris, de 1790 em diante, José Bonifácio viveu o ambiente revolucionário da chamada "Capital do Mundo", entre as declarações de Jean-Jacques Rousseau, os gestos de Rouget de Lisle e Chernier, as doutrinas de Diderot e Condorcet.

Era esse homem que parecia convir a Thomaz Antonio da Villa Nova Portugal, o ministro de D. João VI, no Rio de Janeiro, o mesmo que, por ocasião da aclamação daquele Rei, lhe falara claramente, mostrando que a união do Brasil com Portugal não podia durar muito tempo, acrescentando: "Aonde Vossa Majestade ficar será seu; a outra parte há de perder", ao que o Rei respondeu: "Pois perca-se Portugal".

Foi esse homem, pois, que, "havendo-se resolvido à nomeação de um brasileiro para ajudante do ministro assistente ao despacho, e que só depois de dar provas da sua fidelidade no exercício deste novo emprego fosse elevado a Ministro de Estado em uma das repartições para a qual se mostrasse mais habilitado, escolheu, para seu ajudante, a José Bonifácio de Andrada e Silva, que se achava então em Coimbra, para onde fez expedir ordem (sem dizer para quê) que fosse José Bonifácio enviado ao Rio de Janeiro".

A Regência de Portugal não obedeceu a tal ordem; representou e fundava a sua representação no perigo que lhe parecia dever correr a paz pública se José Bonifácio voltasse ao Brasil. Era isso uma tradição antiga, que datava de Martinho de Mello, ministro da Marinha e de Ultramar no reinado de Dª Maria I, que a tinha calado no ânimo dos homens de Estado de Portugal. A Regência obedeceu contudo à segunda ordem que foi expedida em palavras terminantes, e José Bonifácio chegou ao Rio de Janeiro em 1819.

Apesar de quanto pretendem afirmar certos cronistas, as aspirações separatistas de José Bonifácio, com se vê no escritor português Latino Coelho, em seu Elogio Histórico de José Bonifácio, páginas 36/37, aparecem reveladas já nos discursos acadêmicos do grande santista e nos derradeiros tempos da sua estada em Portugal, convencido, como sempre esteve ele, de que a emancipação de sua terra, até então estreitamente recatada pelo egoísmo da metrópole, era uma necessidade impreterível, e para isso punha em paralelo as condições políticas da colônia americana com as enraizadas e abusivas instituições da velha Europa, certo de que, lá, nenhuma influência teocrática poderia empecer ou amesquinhar a civilização.

Parece, todavia, que a idéia fixa de José Bonifácio era começar o seu trabalho pela província natal, e, desta forma, vemo-lo naquele mesmo ano, em Santos, dando início, com seu irmão Martim Francisco, à sua famosa Viagem Mineralógica pela Província de São Paulo, em prêmio do que D. João VI agraciou-o com o título do Conselho.

Achava-se em São Paulo, quando, no dia 23 de junho de 1821, o povo e a tropa, cansados das tentativas recolonizadoras do Governo de Portugal, depois da retirada de D. João VI do Brasil, reuniram-se em comício no largo da Câmara Municipal, procedendo por aclamação à eleição do Governo Provisório para dirigi-los.

Exigida a presença de José Bonifácio, a ele foi confiada a indicação daqueles que deviam compor o novo governo paulista. E então, da sacada do Paço Municipal, ele foi ditando os nomes que julgava aptos aos cargos, sendo todos aceitos pela multidão.

Coube-lhe a vice-presidência imposta por todos, desde que não aceitava a presidência, mas, de fato, foi ele o presidente, que, a 24 de dezembro do mesmo ano, reunia todos os membros do Governo para em nome do povo dirigir ao príncipe regente a enérgica representação, que operou, no ânimo de D. Pedro, a resolução de ficar no Brasil (declarada no dia 9 de janeiro de 1822) e de organizar o ministério de 16 do mesmo mês de janeiro em que as pastas do Reino e Negócios Estrangeiros foram incumbidas a ele, José Bonifácio.

José Bonifácio não assistiu ao "Fico" entretanto; nessa ocasião se achava em viagem de Santos para o Rio de Janeiro, em deputação da Província de São Paulo, a fim de lhe reiterar o pedido de permanência já feito anteriormente por escrito.

Diz Mello Moraes, em sua obra já referida, que José Bonifácio seguiu correndo a costa em uma canoa de voga, até Itaguaí, onde chegou no dia 16. A princesa Dª Leopoldina, que ali se achava, na Fazenda Santa Cruz, foi quem primeiro deu a notícia a José Bonifácio da sua nomeação de ministro, nomeação que ele não quis aceitar, mas que acabou aceitando, por insistência da mesma princesa.

Através dessa mulher, diz o Conselheiro Drumond, confidente da princesa, que lhe confiava a correspondência mantida com José Bonifácio, pôde ele realizar os seus ideais como sonhara, fazendo a obra da Independência brasileira, tal como foi feita, sem fragmentação da nossa unidade territorial, a que ele chamava a "famosa peça inteiriça de arquitetura social".

A 23 de agosto de 1822, realizava-se no Palácio de São Cristóvão a famosa reunião ministerial sob a presidência de Dª Leopoldina, ausente D. Pedro, que se achava em São Paulo, levado elos últimos acontecimentos e a conselho de José Bonifácio.

Naquela reunião ficou resolvida a Independência do Brasil, "com o D. Pedro ou sem ele", como diz a famosa carta da princesa ao esposo, e que foi alcançá-lo nas colinas do Ipiranga, carta essa que, junto a outra de José Bonifácio e aos despachos das Cortes de Lisboa, gerou a exaltação do príncipe, criando o gesto separatista de 7 de setembro de 1822.

Eleito depois deputado à Assembléia Constituinte brasileira, foi José Bonifácio nomeado membro da comissão encarregada de elaborar o respectivo projeto da Constituição, que não foi adotada em virtude dos acontecimentos que se seguiram, e trouxeram como resultado a queda do ministério de que fazia parte, a 17 de julho de 1823, colocando-se então em oposição ao novo governo.

Outros queriam colher as palmas de tudo aquilo que ele preparara e fizera. De José Bonifácio partiu a primeira voz abolicionista, denunciando a crueldade da escravidão e os males que ela fatalmente causaria à formação da nossa raça, à nossa sociedade e à nossa própria evolução, registrados na sua famosa Representação sobre a escravatura, apresentada à Assembléia Constituinte do Império do Brasil em 1823 e impressa em Paris, em 1825.

A 12 de novembro de 1823, com a dissolução da Assembléia Constituinte, foram José Bonifácio e seus irmãos Martim Francisco e Antônio Carlos presos e deportados para a França.

Cinco anos passou na França o Patriarca, desafogando as saudades do exílio em poesias quase todas escritas sob o pseudônimo Américo Elíseo, enquanto para sustentar a sua família se desfazia das suas coleções mineralógicas.

O Governo Imperial julgou necessário tão longo desterro, receando a sua presença capaz de derrubar um trono, e proibindo formalmente o seu regresso à pátria, já no começo de 1828.

Somente a 23 de julho do ano seguinte, a galera Phoenix repatriava o exilado do Luconia. Aguardava-o o imperador, com manifestações de profunda ternura, no esforço de ostentar sincero arrependimento da sua inqualificável conduta. Mas as desilusões do Patriarca o levam a procurar o retiro onde a Abdicação o foi buscar para a tutela do novo imperador.

No País se alastrava a desordem e a revolta, vivendo o Brasil um dos períodos mais graves da sua história. A energia do futuro regente não conseguia o restabelecimento da ordem. Exaltados e restauradores sucessivamente se agitavam, até que aqueles, em violento esforço contra os restauradores, promovem desordens diversas, coroadas a 15 de dezembro de 1833 por uma marcha ao palácio imperial, onde prenderam José Bonifácio, que é enviado em custódia para a Ilha de Paquetá.

Destituído da tutela do jovem soberano, foi o Patriarca da Independência processado e julgado como conspirador, sendo absolvido.

É ali, por fim, na Ilha de Paquetá, que já lhe servira de prisão, que José Bonifácio de Andrada e Silva, na cidade de São Domingos de Niterói, a 6 de abril de 1838, morre, aos 75 anos de idade.

Deixou editadas mais de 70 obras, de caráter científico e literário, assim como numerosos manuscritos.

Monumento aos Andradas, na Praça da Independência, meados do século XX
Foto reproduzida do acervo do futuro Museu dos Transportes de Santos

Títulos e cargos de José Bonifácio

Bacharel em Filosofia e Bacharel em Direito Civil e Ciências Naturais, pela Universidade de Coimbra (1787);
Membro da Academia Real de Ciências de Lisboa (1787);
Membro da Sociedade Filarmônica de Paris (1791);
Membro da Sociedade de História Natural de Paris (1791);
Membro da Sociedade dos Amigos das Ciências Naturais de Berlim (1797);
Membro da Academia Real das Ciências de Estocolmo (1797);
Doutor em Direito, por carta régia de 15 de abril de 1801, com capelo oferecido pelo Rei.
Cavalheiro da Ordem de Cristo, por carta régia de agosto de 1801;
Membro da Academia Real das Ciências de Copenhague (1801);
Membro da Academia Real das Ciências de Turim (1801);
Membro da Sociedade Werneriana e Sociedade Lenneana de Londres (1802);
Membro da Sociedade de Ciências Físicas e História Natural de Gênova (1802);
Membro da Sociedade de Ciências Filosóficas de Filadélfia (1802);
Professor de Metalurgia na Universidade de Coimbra (1803);
Intendente de Polícia da Cidade do Porto (1806);
Desembargador da Relação e Casa do Porto (1806);
Coronel do Batalhão dos Estudantes de Coimbra, contra as forças de Napoleão na invasão de Portugal (1808);
Superintendente do Rio Mondego e Obras Públicas de Coimbra (1807);
Fundador da Sociedade Marítima de Lisboa (1807);
Secretário Perpétuo da Academia Real de Ciências de Lisboa (1812);
Membro da Sociedade Geológica de Londres (1815);
Membro da Sociedade Werneriana de Edimburgo (1815);
Membro da Sociedade Mineralógica de Sena (1815);
Sócio-correspondente do Instituto de França e Academia das Ciências de Paris (1819);
Conselheiro de Estado - Carta Régia de 1820:
Vice-presidente do Governo Provisório da Província de São Paulo (1821);
Ministro do Estado do Reino e Negócios Estrangeiros. Carta Régia de 16 de janeiro de 1822;
Ministro do Império. decreto de D. Pedro I (1822);
Conselheiro de Estado (1822);
Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil (1822, 18231 a 1838);
Grão-Mestre do Grande Oriente Unido do Brasil (1822 a 1831);
Vice-presidente da Assembléia Constituinte (maio de 1823) e depois seu presidente (junho de 1823);
Deputado à Assembléia Constituinte por São Paulo (1823);
Deputado à Assembléia Geral pela Bahia (1824);
Tutor dos filhos menores de D. Pedro I (6 de abril de 1831);
Membro da Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro (1832) e outros de menor importância.

Chegam quase a uma centena os historiadores, cientistas, escritores e poetas que discorreram sobre a grande personalidade de José Bonifácio de Andrada e Silva, em várias partes do mundo, como também sobre os seus irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco, dentre eles - Humboldt, Pierre Larousse, Azevedo Marques, Joaquim Manuel de Macedo, Barão do Rio Branco, J. F. Sigand Teixeira de Vasconcelos, Damasceno Vieira e muitos outros de não menos destaque.

Inúmeras são as homenagens a ele prestadas em todas as latitudes, em praças, ruas e monumentos públicos, ou denominações de escolas, estabelecimentos profissionais, científicos etc.


Homenagem oficial cívico-religiosa ao Patriarca da Independência, realizada  nas escadarias do Palácio José Bonifácio, sede da Prefeitura Municipal de Santos,
em 8 de setembro de 1979 (dia da Padroeira de Santos, Nossa Senhora do Monte Serrat)
Foto: pelo editor de Novo Milênio