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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - VISITANTES
Presidente português Craveiro Lopes (7)

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Em visita às principais cidades brasileiras com significativas comunidades portuguesas, em 1957, o presidente Craveiro Lopes, de Portugal, também esteve em Santos, onde foi festivamente recebido. No dia seguinte, o jornal santista A Tribuna publicou, em 18 de junho de 1957, uma terça-feira  (exemplar no acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP - ortografia atualizada nesta transcrição) -continuação:

Recebido apoteoticamente...

[...]

O domingo do presidente Craveiro Lopes na capital do Estado - S. Paulo, 16 (Asapress) - Prosseguem as demonstrações de simpatia das autoridades e do povo de São Paulo ao presidente Craveiro Lopes. Iniciando o programa de hoje, domingo, o chefe da Nação portuguesa recebeu das mãos do reitor da Universidade de São Paulo o título de Honoris Causa, em solenidade realizada às 9 horas no Palácio dos Campos Elíseos.

Às 9,30 horas, o general Craveiro Lopes, acompanhado do governador do Estado, compareceu à catedral metropolitana, na Praça da Sé, para assistir à missa. Uma compacta multidão, agitando bandeirinhas do Brasil e de Portugal, aclamou o chefe de Estado português à porta do templo, onde s. excia. chegou em carro aberto do governo do Estado, precedido de batedores da Força Pública envergando o uniforme de gala.

Em outro automóvel, chegaram, a seguir, as srs. Berta Lopes, primeira dama de Portugal, e Eloá Quadros, primeira dama do Estado, e logo depois os srs. general Porfírio da Paz, vice-governador do Estado; Ulisses Guimarães, presidente da Câmara dos Deputados; Paulo Cunha, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal e senhora; Quintanilha Ribeiro, chefe da Casa Civil do governador; Mário Pimenta de Moura, delegado regional do Trabalho em S. Paulo, e outras autoridades.

O presidente Craveiro Lopes e o governador Jânio Quadros e respectivas esposas assistiram ao Santo Ofício com genuflexório no presbitério, a poucos passos do altar-mor, privilégio exclusivo dos chefes de Estado. Foi oficiante dom Antonio Siqueira, primeiro bispo auxiliar, acolitado pelos monsenhores João Favesio e Castro Nery. Momentos antes de dar início à celebração, d. Antonio Siqueira fez a saudação oficial em nome do cardeal-arcebispo de São Paulo, lembrando que os seis primeiros bispos de São Paulo foram portugueses e que a criação da diocese de São Paulo foi obra de Bartolomeu de Gusmão, "o brasileiro que mais terras deu a Portugal".

Terminada a missa, assistida por grande massa popular, que lotou tanto a nave central como as partes laterais da catedral, o presidente Craveiro Lopes e o governador Jânio Quadros, deixando os seus lugares, foram cumprimentar o oficiante e em seguida se retiraram do templo, à cuja saída o chefe da nação portuguesa foi alvo de nova manifestação popular.

A cerimônia desta manhã na catedral metropolitana de São Paulo, que é a maior das Américas e a única do mundo que possui altar de granito, teve significação histórica, pois o atual cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, tem em Pedro Álvares Cabral um de seus ancestrais.

No Museu do Ipiranga - Às 10,30 horas, ou seja, meia hora antes do horário determinado, o general Craveiro Lopes depositou uma coroa de flores ao pé do Monumento da Independência. Apesar de ter antecedido um pouco a chegada do chefe do governo luso, milhares de pessoas assistiram à homenagem do general Craveiro Lopes, que chegou àquele local histórico, junto às margens do Ipiranga, em companhia do governador Jânio Quadros e outras altas autoridades civis, militares e eclesiásticas. À sua chegada e à saída do Monumento do Ipiranga, o general Craveiro Lopes foi delirantemente aplaudido por milhares de populares, notadamente elementos da colônia lusa aqui radicada.

Inauguração de novo hospital - Apesar do excessivo policiamento e de todas as dificuldades acarretadas pelo serviço de trânsito, milhares de pessoas compareceram às 15 horas à Rua Maestro Cardim, a fim de assistir à cerimônia de inauguração do Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência, em ato que foi presidido pelo general Craveiro Lopes.

O chefe do governo português se fez acompanhar, nessa solenidade, por altas autoridades civis, militares e eclesiásticas. À mesa que presidiu os trabalhos tomaram parte, além do general Craveiro Lopes, sua esposa, d. Berta Lopes, a esposa do governador, d. Eloá Quadros, o governador Jânio Quadros, o prefeito Adhemar de Barros, o ex-governador Altino Arantes, o cardeal-arcebispo dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, o vice-governador Porfírio da Paz, o presidente do Banco do Brasil, sr. Sebastião Paes de Almeida; o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, sr. Paulo Cunha; e o embaixador de Portugal, sr. Antônio de Faria.

Abrindo os trabalhos, falou o sr. José Ermírio de Morais, presidente da Sociedade Portuguesa de Beneficência. Falou a seguir o sr. Altino Arantes e, por último, o general Craveiro Lopes, que manifestou a satisfação pela oportunidade de presidir à inauguração da grandiosa organização hospitalar, que é o maior hospital particular da América do Sul.

O general Craveiro Lopes teve oportunidade de entregar, em nome do governo luso, um mimo à Sociedade Portuguesa de Beneficência, que comemorará em breve seu primeiro centenário. Em nome da entidade, o sr. José Ermírio de Morais entregou ao chefe do governo luso um diploma de sócio honorário, bem como uma placa de bronze. Igual homenagem foi prestada ao governador Jânio Quadros, ao chanceler Paulo Cunha e ao sr. Altino Arantes.

Cumprimentos do corpo consular - A solenidade de inauguração do novo hospital foi precedida de um ato simples, no Salão Dourado do Palácio dos Campos Elíseos, em que o presidente Craveiro Lopes foi cumprimentado pelo corpo consular de São Paulo. O ato contou com a presença, entre outras autoridades, do governador Jânio Quadros, vice-governador Porfírio da Paz, sr. Paulo Cunha, ministro dos Negócios Estrangeiros, e oficiais graduados da Força Pública. O primeiro a cumprimentar o chefe da Nação portuguesa foi o decano do corpo consular, sr. Sanchez Concha, do Peru, que também fez a saudação em nome dos cônsules presentes.

No Instituto Histórico e Geográfico - Às 17,30 horas, em prosseguimento ao seu intenso programa de visitas, o general Craveiro Lopes compareceu ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, a fim de presidir a inauguração de uma exposição de livros, imagens religiosas, gravuras e quadros da época de D. João III. O chefe do Executivo luso chegou à sede do Instituto em companhia do governador Jânio Quadros, do embaixador Macedo Soares, ministro do Exterior; almirante Ivano Guimarães; brigadeiro Alves Cabral; General Edgard Amaral e outras altas autoridades civis e militares.

Em companhia do governador, o general Craveiro Lopes, após cortar a fita simbólica de abertura da Exposição, percorreu demoradamente o salão, onde estão expostos numerosos documentos relativos à época de dom João III.

O ilustre visitante foi recebido no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo pelo presidente desse órgão, sr. José Pedro Leite Cordeiro, e outros diretores.

Entrevista à imprensa paulistana - S. Paulo, 17 (Asapress) - O presidente Craveiro Lopes recebeu, às 19 horas de hoje, no Salão Vermelho do Palácio dos Campos Elíseos, a imprensa para uma entrevista coletiva.

Uma legião de jornalistas, repórteres radiofônicos e fotógrafos compareceu à entrevista, bem como cinegrafistas e emissoras de televisão.

Inicialmente o general Craveiro Lopes fez uma saudação à imprensa dizendo que não podia passar por São Paulo sem recebê-la. Expressou a seguir a sua satisfação em visitar São Paulo, cujo "ritmo de vida e trabalho é qualquer coisa de notável".

"Estou encantado com tudo o que tenho visto e pelas construções que se espalham pela cidade, pode-se conceber que, em pouco tempo, ainda maior será a sua projeção na vida econômica do Brasil. Levo de todas as partes do Brasil as mais gratas recordações.

"A população brasileira compreendeu, e bem, quais são os laços que prendem este país a Portugal. E neste mundo desavindo é agradável que dois povos se juntem para enfrentar, com maior poder de resistência, a vida moderna, tão difícil e cheia de momentos de ansiedade.

"Quero ressaltar, aqui, o carinho e a amizade de Portugal pelo Brasil, o seu interesse constante pelo que aqui se passa. As alegrias do Brasil também o são de Portugal".

Antes de passar à segunda parte de sua entrevista, quando se poria à disposição dos jornalistas, para quaisquer perguntas, o general Craveiro Lopes, mui significativamente, lembrou que a sua situação perante a constituição portuguesa era diversa daquela que se observa no Brasil, mas que confiava nos jornalistas e aguardava com calma e confiança.

Um jornalista perguntou qual foi, entre tantas, a recordação mais agradável que s. excia. levaria do Brasil.

Respondeu o general Craveiro Lopes: "São tantas as recordações que é muito difícil apontar uma, que mais funda impressão me causou. Talvez, entretanto, possa apontar um instante, que, não sendo diferente, pode destacar-se entre outros - foi em Ouro Preto, durante a celebração do solene Te Deum. Durante todo o tempo em que durou a cerimônia, senti uma grande e inesquecível emoção. O homem, que ali estava, representava uma pátria e ao ver que tudo em torno lembrava a terra portuguesa, recolheu-se perante Deus, sinceramente emocionado, certo de que tudo quanto aqui deixaram os portugueses estava bem entregue".

A pergunta seguinte referiu-se ao Tratado de Amizade e Consulta, assinado entre o Brasil e Portugal, e sobre a sua influência nas relações entre os dois países.

Teve, então, o general Craveiro Lopes, oportunidade de reafirmar o que já dissera no Rio, isto é, que o tratado de há muito já existia nos corações dos brasileiros e portugueses, só faltando um instrumento que decidisse os sentimentos comuns dos dois povos e que consistiu no acordo ora assinado.

Salientou os acontecimentos que serviram para estreitar ainda mais as relações entre Brasil e Portugal. O primeiro foi a atitude do governo brasileiro, com relação à província de Goa, e o segundo, os pontos de vista defendidos pelo Brasil na ONU, pontos de vista justos, que se ajustam à verdade e à razão.

O entrevistado, a seguir, foi interpelado sobre se o tratado em questão trouxera melhorias às relações econômicas entre os dois países.

Mais uma vez recordou o chefe da nação portuguesa o que afirmara na capital da República, ou seja, que Brasil e Portugal dispõem dos mesmos produtos e, por isto, era muito difícil que qualquer acordo pudesse trazer vantagens para ambas as partes neste terreno.

De certa forma, porém, Portugal, sempre que houver possibilidade, estará disposto a satisfazer o Brasil não somente quanto a assuntos econômicos, como em quaisquer outros, consubstanciados no tratado.

Um repórter perguntou se estava havendo empecilhos à imigração portuguesa para o Brasil. Respondeu o general que não há a mínima dificuldade neste sentido, embora ressaltasse que também as possessões portuguesas necessitassem de braços, porque o trabalho ali também é intenso, principalmente em Angola e Moçambique. A propósito, disse que os jornalistas deveriam volver suas vistas para aquelas províncias para atestar o progresso vertiginoso que ali se opera.

Solicitado a dar suas impressões sobre o governador Jânio Quadros, respondeu que julga a pessoa do chefe do Executivo paulista corretíssima, do qual terá a mais grata lembrança. Aproveitou a oportunidade para expressar de público os seus agradecimentos pela maneira fidalga com que o governador do Estado e sua senhora receberam o primeiro mandatário de Portugal e sua esposa, bem como os membros de sua comitiva.

E com esta pergunta o presidente Craveiro Lopes deu por encerrada sua entrevista, não sem antes agradecer o comportamento dos jornalistas presentes, aos quais apresentava o sr. Paulo Cunha, ministro das Relações Exteriores de Portugal, para outras indagações, que porventura quisessem fazer.

A principal pergunta feita ao chanceler português foi sobre o que achava das instituições políticas do Brasil.

Respondeu que, a julgar pelos homens, tinha que julgá-las boas. Entretanto, a título de observação, disse não considerar ideal a acumulação de responsabilidades sobre uma só cabeça, como acontece no Brasil.

Referiu-se, então, ao sistema adotado em Portugal, onde dois homens distribuem entre si a carga de responsabilidades, cada qual, claro, dentro das atribuições que lhe foram conferidas pelos dispositivos legais.

Homenagens ao visitante - São Paulo, 17 (Asapress) - Toda a cidade de São Paulo, nos últimos três dias, esteve voltada para as homenagens ao general Craveiro Lopes, presidente de Portugal, ora em visita oficial a este Estado.

Inclusive as emissoras modificaram seus programas de auditório, apresentando números especiais relativos a Portugal, nos quais se sobressaíram os artistas portugueses que ora atuam no Brasil.

Encontro Jânio-Ademar - São Paulo, 17 (Asapress) - A presença do general Craveiro Lopes em São Paulo polarizou todas as atenções do povo deste Estado, inclusive dos círculos políticos que, nos dois últimos dias, interromperam inteiramente seus trabalhos ligados à política partidária.

Aliás, a presença do chefe do governo lusitano, com sua simpatia contagiante, propiciou o primeiro encontro, embora em caráter formal e protocolar, entre os srs. Jânio Quadros e Ademar de Barros, cujas divergências políticas já se tornaram célebres. Por ocasião desse encontro, verificado no Palácio Campos Elíseos, quando o prefeito foi buscar o presidente português para o banquete no Teatro Municipal, o general Craveiro Lopes, sabendo das dissensões políticas entre os srs. Jânio Quadros e Ademar de Barros, fez questão de posar, nas fotografias, entre ambos, afirmando: "Quero ser o traço de união entre os dois grandes políticos brasileiros".

Incidente entre o prefeito e um oficial - S. Paulo, 17 (Asapress) - Um vespertino local comenta hoje um incidente havido entre o prefeito Ademar de Barros e o oficial da Força Pública que dirigia a escolta do general Craveiro Lopes.

Adianta-se que em conseqüência da demora havida na cerimônia de inauguração da Praça Craveiro Lopes, o comandante da escolta, por sua própria conta, decidiu cancelar outras visitas do chefe do governo português, a fim de conduzir a comitiva do ilustre visitante ao Palácio dos Campos Elíseos, onde, às 16 horas, o presidente português deveria estar com o governador Jânio Quadros.

Diz o referido jornal que, já na escadaria do Palácio, o sr. Ademar de Barros, manifestando aborrecimento com a atitude do oficial, disse-lhe: "Ainda teremos de nos encontrar..." Ao que o tenente redargüiu: "Pois não, excelência. Meu nome é tenente Wilson Vasconcelos. Onde e quando vossa excelência quiser".

O referido oficial fez também questão de fazer alarde de sua prepotência, por ocasião da inauguração do grandioso hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência. Postado numa das portas que dão acesso ao salão onde o general Craveiro Lopes, em companhia do governador Jânio Quadros, iria presidir a cerimônia, o tenente impediu a entrada dos jornalistas e fotógrafos, não aceitando as explicações desses profissionais, que tinham uma missão a cumprir. Diante da insistência dos jornalistas, o tenente da Força Pública terminou convidando-os, inclusive, a se retirarem de frente à porta.

[...]



Anúncio em saudação ao presidente português, da Companhia Antarctica Paulista
Imagem: reprodução de A Tribuna de domingo, 16/6/1957, página 4
(Acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)

 


Anúncio em saudação ao presidente português, da Câmara de São Vicente
Imagem: reprodução de A Tribuna de domingo, 16/6/1957, página 18
(Acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)

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