Recebido apoteoticamente...

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Visita a S. Vicente - Terminado o almoço no Parque Balneário, o presidente da República de Portugal e sua comitiva rumaram para São Vicente, onde novas e vibrantes manifestações lhe foram tributadas.

São Vicente, a Celula Mater da nacionalidade, viveu assim, ontem, um dos seus maiores dias, ou mesmo o mais expressivo de sua história, mais emocionante e mais entusiástico. Imponente, calorosa e espontânea foi a manifestação do povo vicentino ao ilustre visitante. Desde o marco da entrada da cidade até a Praça 22 de Janeiro, o povo, colegiais, num só bloco, formavam em filas para saudar o general Craveiro Lopes.

O entusiasmo chegou ao apogeu quando o presidente da República de Portugal, em companhia do prefeito Luiz B. Ferreira, desceu do carro oficial na Praça 22 de Janeiro. Milhares de colegiais e povo, agitando bandeirinhas brasileira e portuguesa, aclamaram o presidente de Portugal, que se encontrava emocionado, já, com a recepção que tiveram em Santos.

Não desmentindo suas tradições, São Vicente foi um ponto alto nas recepções que o chefe da Nação portuguesa teve em todo o Brasil.

Na Praça 22 de Janeiro - Na Praça 22 de Janeiro estavam postados alunos dos seguintes estabelecimentos de ensino: Ginásio Estadual e Escola Normal "Martim Afonso", com 600 escolares e banda marcial; Grupo Escolar de São Vicente, com 800 alunos; Seminário São José, com 500; Ateneu São Vicente, com 200; Externato Ipiranga, com 170; Escolas Municipais com um total de 1.500 alunos, além de atletas do Clube de Regatas Tumiaru.

À entrada, aguardando a chegada do ilustre visitante, encontravam-se o sr. Antônio Bueno Capolupo, presidente da Câmara de São Vicente, acompanhado de todos os vereadores; monsenhor Geraldo Boroscki, padre Teófilo Fraile; dr. Sidnei De Mori, delegado de polícia; membros da Associação Comercial, pessoas de destaque nos meios sociais e esportivos de São Vicente.

Chegada do general Craveiro Lopes - Quando o carro oficial chegou à praça, espocaram os foguetes, que despertaram o entusiasmo do povo, que aplaudiu calorosamente o general Craveiro Lopes.

Descendo do carro, em companhia do prefeito de São Vicente, sr. Luiz B. Ferreira, e do general Porfírio da Paz, vice-governador do Estado, o general Craveiro Lopes dirigiu-se para o palanque armado junto ao monumento. À medida que o general caminhava, mais crescia o entusiasmo do povo nas manifestações de apreço e simpatia ao ilustre visitante, que acenava agradecendo a homenagem.

Após cumprimentar as autoridades e pessoas de destaque, o general Craveiro Lopes e sua comitiva subiram ao palanque, quando o Coral Vicentino, sob a direção do maestro Azevedo Marques, cantou os Hinos Nacionais Brasileiro e Português.

Nova e estrepitosa salva de palmas se ouviu, ao mesmo tempo que aviões da Base Aérea de Santos, em vôos rasantes, partilhavam da homenagem ao chefe da Nação portuguesa. Gritos de "Viva Portugal" e "Viva o Brasil" se ouviam partidos do povo, respondendo o presidente de Portugal com sorrisos e acenos.

Discurso do prefeito de São Vicente - Fez-se ouvir, a seguir, o sr. Luiz B. Ferreira, prefeito de São Vicente, que saudou o general Craveiro Lopes, em nome do povo vicentino, com o seguinte discurso:

"De Norte a Sul, todos os rincões do Brasil regozijam-se e se ufanam com a honrosa presença, em solo pátrio, do eminente governador da majestosa terra lusitana. São Vicente, porém, a todos os demais rincões sobreleva e excede, no seu ufanismo e no seu júbilo incontidos, porque, neste solo imortalizado pelo Destino Histórico, fundaram os portugueses, com Martim Afonso de Souza, a primeira célula viva do nosso amado Brasil! São Vicente constituiu-se celula mater da nacionalidade brasileira, por obra e graça desse varão português, ilustre e bravo, cuja memória cultuamos imorredouramente.

"Séculos se passaram desde aquele dia radioso da fundação de São Vicente por Martim Afonso de Souza. Mas, enquanto se escoava o tempo na ampulheta eterna, Portugal, alpendre original da Europa, já tão coberto de glórias, ainda mais se engrandecia no conceito universal. E São Vicente, onde um lusitano, com o gesto dadivoso que é peculiar à índole portuguesa, lançara com carinho uma boa semente, sempre e sempre encontrou, no desenvolvimento da História, sobejos motivos para o crescente orgulho de haver sido o receptáculo daquela semente abençoada, trazida com tanto amor e com tanto carinho, de lá onde a terra se acaba e o mar começa, de Portugal, Jardim da Europa a Beira-Mar Plantado!

"Revivemos hoje aquela data longínqua. Encontram-se novamente, agora, neste mesmo solo, sob este mesmo céu, Portugal e o Brasil, irmanados pela mesma língua, pelo mesmo sentimento cristão, pelas mesmas tradições de cultura, confraternizam-se, neste momento, sob o nosso respeito e a nossa homenagem, o pendão auriverde e o verde-rubro estandarte. Vibram de entusiasmo a alma brasileira e a alma portuguesa, neste encontro que é um carinhoso aconchego de amigos, um amplexo comovente de irmãos. Chega-se a sentir, no espaço, tal a magnitude deste congraçamento, a invisível presença dos nossos antepassados, como se quisessem também eles testemunhar este momento grandioso!

"Pois seja, neste luminoso instante, nesta atmosfera de envolvente fraternidade, quando palpitam com êxtase os corações vicentinos pela envaidecedora presença do eminente visitante - seja este o momento em que São Vicente, pelos seus Poderes Constituídos, representantes do povo, dos seus anseios, das suas tradições, concretize o sonho de distinguir, com o título de cidadão vicentino, o nobre Chefe da Nação Portuguesa!

"Queira, Excelentíssimo Senhor General Higino Craveiro Lopes, receber os agradecimentos efusivos desta terra pela honra insigne que se dignou conceder-lhe, visitando-a!

"Queira, Excelência, acolher as manifestações de carinho deste povo ligado a Portugal pelos mais estreitos laços históricos e afetivos!

"Queira, Excelência, aceitar, para orgulho nosso e como testemunho de imperecível amizade, o diploma que em nome do Município tenho a subida honra de vos conferir - o título de Cidadão de São Vicente".

Cidadão vicentino - Logo a seguir foi entregue ao general Francisco Higino Craveiro Lopes um pergaminho considerando-o "Cidadão Honorário de São Vicente".

Oferta da colônia portuguesa - Também se fez ouvir, em nome da colônia portuguesa de São Vicente, o sr. Noé Magalhães Vaz, que pronunciou belo discurso, fazendo um retrospecto da história de São Vicente, que terminou dizendo não haver duas histórias na comunidade luso-brasileira. "Sempre, brasileiros e portugueses foram unos e felizes, dentro da grandeza das duas pátrias, porque ambas têm no seu sagrado pavilhão os sinais do céu, o Cruzeiro do Sul e as cinco chagas de Cristo".

Ao general Craveiro Lopes foram entregues um cartão de prata e outro, ofertado pelos portugueses de S. Vicente, e um outro pergaminho.

Agradeceu o general Craveiro Lopes - Em feliz improviso, o general Craveiro Lopes, bastante emocionado com a calorosa manifestação, pronunciou as seguintes palavras:

"Visita, pela primeira vez na História, a Celula Mater do Brasil, um chefe de Estado de Portugal.

"Neste soleníssimo momento eu gostaria de deixar aqui impregnada para todo o sempre a profunda emoção de que me sinto invadido.

"Evoco com o respeito imposto pelos séculos a grandiosa figura quinhentista de Martim Afonso.

"Vejo na penumbra do passado a sombra das caravelas procurando abrigo neste porto.

"Mas sinto também que todo esse passado heróico revive nas glórias do presente e se projeta decididamente nos imperativos do futuro. É que afinal os dois povos continuam abraçados, forjando ainda e sempre o seu mesmo destino.

"O título de Cidadão de São Vicente que v. excia. acaba de me conferir é honra muito grande que tanto me desvanece e que profundamente agradeço.

"Saúdo na digna pessoa de v. excia, com todo o meu afeto e gratidão, o povo vicentino".

Visita ao marco comemorativo - O general Craveiro Lopes, acompanhado de sua comitiva e autoridades brasileiras, visitou, depois, rapidamente, o marco comemorativo junto à "Pedra do Mato".