Segunda-feira, 21 de Março de 2005, 06:56
LAZER
Ilha das Palmas, lugar de encanto e amizade

Propriedade do Clube de Pesca de Santos, o local recepciona 800 sócios

Antes mesmo de iniciar a travessia, dá para ver o aviso no quadro: "Deixe aqui seu diploma de doutor. A partir do embarque, somos todos amigos". A partir daí, não é difícil imaginar como é o clima entre os freqüentadores da Ilha das Palmas, um dos mais belos recantos de Santos que reúne beleza, amizade e muita alegria.

Água limpa, muito verde, peixes de diversas espécies. Essas são algumas das peculiaridades dos cerca de 15 mil metros quadrados da Ilha das Palmas, de propriedade do Clube de Pesca de Santos (CPS), em Guarujá. Diferente da maioria dos clubes santistas, o CPS, com 71 anos de vida, goza de excelente saúde financeira e proporciona aos seus 800 sócios encontros memoráveis na Ilha todos os fins de semana. "Aos domingos, chegamos a receber mais de 500 associados, fora os convidados", calcula o vice-presidente da entidade, Álvaro de Carvalho Júnior.

O acesso à Ilha das Palmas é feito por barco. Partindo da Ponta da Praia, em 15 minutos, é possível aportar no local. Ao chegar, todos se cumprimentam como grandes amigos; tanto os que já se conhecem quanto os que nunca haviam se visto antes. "É um bonito costume nosso, afinal, somos como uma família", observa Álvaro.

Como não podia deixar de ser, as varas de pescar estão presentes em todo o entorno da Ilha. Robalos, garoupas, corvinas, pampos, peixes-espada e até polvos fazem a alegria dos amantes da pescaria. Há, porém, quem prefira aproveitar para tomar sol, mergulhar, nadar, nas piscinas e no mar, freqüentar a sauna, jogar cartas ou mesmo pôr a conversa em dia. Essa receita, há anos, não falha. Em pouco tempo, toda a Ilha está tomada por homens, mulheres e crianças.

Ao lado da Ilha, fica o Sítio Canhema, que também é de propriedade do Clube de Pesca. O sítio, uma reserva ecológica coberta pela mata atlântica, está praticamente intocado, e preserva sete fontes de água mineral, usada para abastecer a própria Ilha. Além disso, o recanto possui estação de tratamento de esgoto. "Tem gente que afirma que já viu até jaguatirica lá", comenta Álvaro de Carvalho Júnior.

É inegável que o forte dos associados é saber festejar. Não é à toa que as festas da Ilha das Palmas são muito conhecidas pela animação e requinte. A mais tradicional delas, a de São Pedro, o padroeiro do Clube de Pesca, acontece em junho. A festa já chegou a receber quatro mil pessoas e, recentemente, foi incluída no calendário de eventos do Estado, pelo governador Geraldo Alckmin.

O Clube de Pesca de Santos tem um número limite de sócios, 800. Novos associados só são admitidos a partir da morte ou desfiliação de outro. E para fazer parte desta "família", é necessário ser indicado por alguém que já seja membro do quadro associativo.

Funcionário-padrão - Exatos 43 funcionários zelam dia e noite pela Ilha das Palmas. O mais antigo deles é o gerente geral Anísio Francisco da Costa. Anísio começou aos 14 anos, lavando pratos. Muito conhecido pelos associados, Anísio se casou, construiu uma vida e envelheceu trabalhando na Ilha.

Para ele, o segredo do sucesso é o carinho e a dedicação que sente pelo lugar. Diretores e ex-dirigentes têm respeito por ele. Todos costumam dizer que Anísio é o homem mais importante de lá. Afinal, em 46 anos de casa, acompanhou 23 mandatos de presidentes do Clube de Pesca. Todos passam, ele fica.

Personalidades - A diretoria do clube possui um livro onde se registram as presenças de personalidades na Ilha das Palmas. Nele, há mensagens de personalidades em geral, políticos, artistas e empresários, como o cientista Albert Sabin, o governador Mário Covas, o pintor Armando Sendin, e o atleta do século 20, Pelé.

Segunda-feira, 21 de Março de 2005, 06:56
Tradição proíbe mulheres aos sábados

Uma das características mais conhecidas da Ilha das Palmas é a proibição da presença das mulheres aos sábados, determinação que consta do estatuto do Clube de Pesca. Neste dia, é instituído um verdadeiro Clube do Bolinha no lugar.
A decisão foi, no passado, motivo de rixa entre maridos e esposas, mas hoje é compreendida por elas.

"É chato desperdiçar o sábado sem vir para cá, mas normas são normas", conforma-se Neide Pires, freqüentadora há sete anos. Ela e a filha, Simone Inácio, aproveitam as quintas, sextas e domingos para desfrutar um pouco da Ilha, mas propõem uma contrapartida: "Por que não criar o Clube da Luluzinha, reservando um dia da semana só para nós"?

O vice-presidente, Álvaro de Carvalho Júnior, explica que não há mistério nas atividades de sábado. "É só um dia em que os homens ficam mais à vontade, cantam, bebem, contam piadas, não se faz nada de mais. Mantemos isso mais por uma questão de tradição. Na década de 30, quando da fundação do Clube de Pesca e da formulação da norma, era comum as mulheres não participarem de atividades sociais. Hoje é diferente, mas optamos por seguir essa regra".

Porém, hoje, o estatuto do Clube está um pouco mais flexível. Em algumas comemorações já se admite a presença delas aos sábados. Um bom exemplo disso pode ser observado nos próximos dias, na Páscoa.

A revista comemorativa do Jubileu de Prata do Clube traz uma citação que tranqüiliza as mulheres mais desconfiadas: "Aos sábados, há apenas quatro damas desfilando sorrateiramente entre os homens, dividindo com eles os momentos de descontração e alegria. São as damas de copas, paus, espadas e ouro".