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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CINEMA
O cinema em Santos (7)

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A cidade de Santos voltou no século XXI a ser escolhida pelos produtores cinematográficos. Um exemplo foi o filme Querô, baseado em obra do santista Plinio Marcos, como foi relatado no caderno Galeria do jornal santista A Tribuna, em 21 de dezembro de 2004:
 


Os meninos, achados por olheiros em toda a Cidade, são testados
durante oficinas realizadas pela produção da Cadeia Velha
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

CINEMA
Eles podem se tornar atores mirins

Continua a procura por um menino que possa atuar no filme Querô

Da Reportagem

A caçada continua. A frase, à primeira vista, pode soar como título de filme de aventura, mas na verdade descreve um drama bem real, que também tem suas raízes no cinema: trata-se da escolha do ator mirim que viverá o protagonista do filme Querô, baseado na obra do dramaturgo santista Plínio Marcos (veja quadro).

A procura, que começou em junho de 2003, já teve na mira milhares de meninos. Cerca de 600 foram encaminhados para testes de vídeo e cadastro fotográfico digital, e 40 participaram de quatro oficinas realizadas na Cadeia Velha. Cada uma dessas oficinas teve de 10 a 15 participantes, mas ainda não foi o suficiente: haverá outras em janeiro.

"Nós achávamos que seria fácil encontrar o Querô", confessa o diretor do filme, Carlos Cortez. De modo geral, o personagem é um menino branco, entre 12 e 15 anos, que viveu nos cortiços do Centro de Santos. "Visitamos os lugares mais desfavorecidos, pensando que acharíamos muitos Querôs", conta Cortez.

Esse otimismo baseou-se em dados da Associação dos Cortiços, que apontam a população dessas habitações como sendo composta por cerca de 80% de adolescentes. "Só que, desse número, grande parte é de meninas", diz.

Outro entrave é que nem todos nasceram atores, e Querô é um personagem difícil. "No começo do filme, o espectador deve querer pegá-lo no colo, e, do meio pra frente, ficar com medo dele", descreve Cortez. Uma característica que transcende o simples perfil físico.

"Em janeiro vamos colocar mais gente na produção e concentrar ainda mais a procura. Queremos encontrá-lo em Santos", explica Cortez, alegando respeito e fidelidade à obra do autor santista, que concebeu o personagem e escreveu a peça aqui.

Retrato dos excluídos - "Plínio Marcos foi o dramaturgo que deu voz a quem não tem voz", resume Cortez, lembrando o que o próprio escritor dizia: "Nem Deus olha pelos meus personagens".

Em 1995, Cortez e Plínio Marcos escreveram juntos um roteiro, Vida de Cais, baseado na obra Artista da Ralé, do próprio Plínio. "Dois anos depois, saímos atrás de dinheiro", bem raro na praça. "Os mais sinceros, abrem completamente: investir em Plínio Marcos, eu?!".

Em 2004, isso já não acontece. "Querô é a obra mais famosa dele, e tem muito a ver com o momento que estamos vivendo. As empresas estão se interessando".

Orçamento - Mas a participação maior ainda é do Estado, através da Secretaria de Cultura. "A secretaria de Santos também está colaborando, com uma pequena parte". Recentemente, a Caixa Econômica Federal também aderiu ao projeto.

O orçamento das filmagens é de R$ 2,4 milhões. Só que, para captação de recursos, vale apenas o preço da produção inteira, que é de R$ 3,5 milhões. "Isso faz com que as dificuldades aumentem um pouco, pois há uma lei que diz que, no mínimo, 60% do dinheiro da produção precisam estar na conta, antes das filmagens começarem", explica Cortez.

Cinema brasileiro - Na opinião de Cortez, o período é ótimo para o cinema brasileiro. Segundo ele, em pouco tempo houve o renascimento do cinema nacional. "Na época do Collor, não havia nada. Não havia iniciativa privada investindo, nem laboratórios".

Ele cita os vários prêmios conquistados e a projeção de filmes recentes como provas disso. "Cidade de Deus estava lá, concorrendo ao Oscar".

Cortez diz, inclusive, que conversou bastante com Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus. "Ele me deu muitas dicas do processo". De acordo com o cineasta, as similaridades entre os dois filmes estão no processo de formação dos atores e no roteiro, deixado em aberto, "para captar a intenção dramática dos meninos".


Carlos Cortez quer um ator de Santos, onde nasceu o personagem
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Experiência não é tudo, diz preparadora

Descobrir a vida que existe em cada um. É como Fátima Toledo, preparadora de atores, descreve a essência de seu trabalho. Atriz, com formação em comunicação, ela já trabalhou em 25 filmes. O primeiro foi Pixote e um dos mais recentes, Cidade de Deus.

"São exercícios que partem do físico, para despertar as emoções", explica. Mas não quaisquer emoções, e sim aquelas que representem a essência dos personagens.

Fátima divide o trabalho, basicamente, em três fases. "Na primeira, você conhece o ator, os seus níveis de emotividade". É nessa fase que se descobrem os tipos de exercício a serem aplicados a esse ator em particular, para atingir os resultados emocionais pretendidos.

"Na segunda fase, introduzimos o ator no universo do filme". Os exercícios se voltam, então, para o ambiente da história. Na terceira fase, o trabalho é todo feito em cima do roteiro do filme.

Fátima diz que os exercícios mudam de acordo com a pessoa, e não existem diferenças entre atores mirins e adultos. "Eu tenho um compromisso com o ser humano. As pessoas têm uma vivência própria, não como adulto ou criança. Às vezes,um garoto de favela tem uma história mais real, mais profunda, do que um adulto qualquer".

 

Às vezes é melhor escolher atores sem experiência

 

A única diferenciação, segundo Fátima, é entre o trabalho com um ator profissional e outro, estreante. Por incrível que pareça, segundo ela, é mais fácil lidar com o não profissional. "Os profissionais já vêm de uma escola formal, precisam ser desconstruídos primeiro".

Querô, no caso, vai aglutinar os dois elementos: um ator mirim e não profissional. "O personagem é um garoto solitário. Ele não tem ninguém, representa o abandono. Tenho que buscar, nele, essa solidão que todo mundo traz em si".

Para isso, um dos recursos apontados por Fátima é isolar o ator, o que pode parecer desumano e até perigoso. "Mas não oferece perigo", ela esclarece. "É tudo controlado. Por exemplo: se o sentimento é raiva, ela é canalizada na filmagem, não permanece".

Às vezes, nem tudo sai como o previsto. Fátima lembra de uma ocasião em especial, numa oficina em Cuba. "Era um exercício no qual uma pessoa se deita sobre o abdome de outra, para despertar a pressão, o que aconteceu até demais. A atriz começou a ter uma crise de choro".

Fátima interrompeu imediatamente o exercício. "Então eu compreendi que eles já vivem numa pressão constante, e isso aflorou de forma muito forte".

A preparadora diz que trabalha pelo filme e por si mesma. "Eu faço o que me apaixona". Quanto ao método empregado no trabalho, garante que não há mistério. Chega a afirmar que qualquer pessoa poderia ser um preparador de atores, bastando para isso observar o ser humano. "O método vem da paixão", resume.


Fátima procura a emoção genuína que existe em cada um
Foto: João Vieira, publicada com a matéria

Saiba mais

O livro Querô foi escrito por Plínio Marcos nos anos 70. Totalmente ambientado em Santos, conta a história de Jerônimo, filho de Piedade, prostituta que entra em desespero ao saber-se grávida. Ao dar a luz, desesperada, decide se afogar numa lata de querosene, daí o apelido do garoto.

Adolescente, precisando se virar para sobreviver, acaba seduzido pela marginalidade. Comete pequenos furtos, até ser internado num reformatório. Ao sair, sonha com uma vida melhor, tenta arrumar trabalho, mas acaba se envolvendo novamente no crime. Então, entram em cena dois policiais corruptos que o chantageiam, levando o menino, sem saída, a cometer um crime terrível.

No livro, assim como no filme de Cortez, Querô, em seu leito de morte, conta a sua vida a um jornalista que escreverá a Reportagem Maldita.

À espera de uma oportunidade


Felipe, Richard, Rubens, Igor, Marcelo e Rafael
Fotos: Nirley Sena, publicadas com a matéria

Felipe da Silva Santos, 15 anos

Morador de São Vicente, diz que foi descoberto pelos produtores quando estava a caminho da praia. "Eu queria seguir carreira no surf. Quando me abordaram, não acreditei".

Richard Iniesta Berovelli, 15 anos

"Estava sentado na esquina de onde eu moro quando eles me acharam". É de Santos e não tinha planos para o futuro. "Ia deixar a vida escolher por mim". Agora, quer fazer filmes.

Rubens Marlon da Cruz, 13 anos

Estava na porta da escola, quando foi descoberto. Duas semanas depois, foi chamado pelo diretor. "Pensei que era sujeira". É de Cubatão e tem três irmãos.

Igor dos Santos Fernandes, 13 anos

"Eles entraram na classe e disseram que queriam meninos da altura certa. Eu falei que era o mais bonito", sorri. Mora em Santos, no Ilhéu Alto. Queria trabalhar com informática. Agora, quer ser ator.

Marcelo Evandro de Arruda Silvestre, 13 anos

Também descoberto em Cubatão. "Meus pais acham que é melhor do que ficar na rua. Se der certo, tudo bem". Antes do cinema aparecer em sua vida, queria ser jogador de futebol.

Rafael Eduardo da Silva Pereira, 14 anos

"Antes, queria tocar violão e bateria", diz o guarujaense. Com o encaminhamento para a oficina, tudo mudou. "Agora o que eu quero é fazer filmes".

Na época do início das filmagens, esta matéria foi publicada na seção Galeria do jornal santista A Tribuna em 11 de maio de 2005:


No casarão que abriga a produção, uma equipe de 50 pessoas trabalha em cada detalhe... 
Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria

CINEMA
Filmagem de Querô começa dia 17

47 meninos de Santos foram selecionados para o filme, entre eles, o próprio Querô

Elcira Nuñez y Nuñez
Da Reportagem

Terminou a procura pelo garoto franzino que carrega doçura e ódio no olhar. Depois de mais de 800 testes, três garotos - há um preferido - foram encontrados e um deles será o protagonista de Querô, filme do diretor Carlos Cortez baseado em obra homônima de Plínio Marcos. Com duração de seis semanas, as filmagens começam dia 17. Até lá o produtor Caio Gullane terá o nome definido.

"Estamos testando esses garotos. Um dos três será o Querô. Já temos um preferido, mas, se será ele ou não o protagonista, vai depender de sua reação aos exercícios propostos", diz o produtor, que mantém os nomes dos meninos no mais absoluto sigilo.

Até a decisão final há mais de uma semana pela frente, já que o garoto não participará dos primeiros dias de filmagens. "O importante é que queríamos encontrar o garoto em Santos, e encontramos", conta orgulhoso.

Para o elenco, 47 meninos da Cidade foram selecionados, após participarem de diversas oficinas culturais desenvolvidas desde agosto do ano passado. Atualmente, os atores ensaiam em um casarão, que se transformou na base de toda a equipe. Há um mês ocupando o local, diversos departamentos cuidam para que tudo saia dentro das condições ideais de uma produção com a assinatura da Gullane Filmes, que realizou longas consagrados, como Carandiru e Bicho de Sete Cabeças.

Para isso, uma equipe de primeira está a postos. No Departamento de Artes, Frederico Pinho, que cuidou dos cenários de Domésticas, está atento aos objetos que serão utilizados nas filmagens, e a figurinista Cris Camargo, a mesma de Central do Brasil, Terra Estrangeira e Carandiru, com a ajuda de Foquinha, escolhe as roupas.

Além dos 47 meninos que atuarão no filme - 37 em papéis menores -, a equipe conta com cerca de 50 pessoas da Cidade, auxiliando em diversas áreas, da cozinha ao transporte, passando pela assistência de produção e a direção.

No elenco principal estão confirmados Maria Luísa Mendonça, que viverá a mãe de Querô; Ailtom Graça, como um amigo do protagonista; e Milhem Cortaz, amigo do reformatório. "A participação de Bete Mendes não está acertada, por causa de sua agenda".


... de figurinos e cenários que vão ser utilizados a partir da semana que vem
Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria

Pesquisa de locação - Uma das dificuldades, segundo Caio Gullane, foi a busca das locações. "Algumas devem sofrer adaptações cenográficas, para ganhar a cara de que o filme precisa".

A pesquisa de locação, a cargo de Paulo Saponiaki e Ricardo Trhu, teve início há dois meses. "Fomos a cortiços e bares. As pessoas foram muito gentis emprestando locais para serem filmados. Alguns precisaram de adaptação, pintura, texturização".

Servirão também de cenário as catraias e os corredores de vagões. "Haverá muitas cenas com trem, próximo ao Porto. Isso tudo não seria possível sem o apoio da Codesp, do grupo Libra e da MRS. Com eles como apoiadores, vamos conseguir filmar no Porto e na linha férrea, com os vagões disponibilizados".

Vocação para o cinema - Para Caio, Santos possui vocação para o cinema. "A Prefeitura nos abriu as portas. Além do apoio no primeiro momento do filme, está nos dando apoio para hospedagem e nos linkando (N.E.: ligando, vinculando) com toda a Cidade. Querô pode ser a sementinha de uma film comission" (N.E.: comissão de cinema).

Serão seis semanas de filmagens. O primeiro dia será no cortiço. "Vamos filmar cerca de 12 horas por dia. Nas duas primeiras, das 8 às 18 horas, durante três semanas, à noite, das 17 às 4 horas; e as duas últimas, novamente de dia. Tudo vai variar em função do cronograma e das condições do tempo".

A preparação do elenco envolveu diversas atividades, desde oficinas de origami, para desenvolver a concentração, até aulas de capoeira, para melhorar a agilidade. Uma das últimas foi desenvolvida no casarão, com a participação do artista plástico David Abdo Benetti. "Eles coloriram algumas paredes, o que serviu para unir o grupo. Isso é muito importante".

Querô estará concluído até o fim do primeiro semestre de 2006. Após as filmagens, começarão o processo de montagem e, em seguida, de edição do som. "O conceito da trilha sonora do diretor Carlos Cortez virá dos ruídos do filme, do porto, do trem".

Querô deve ganhar o mundo. Fabiano Gullane, irmão de Caio e sócio na produtora, quer apresentar o filme no Festival de Cannes. "A produção quer também inserir o projeto em uma mesa de discussão sobre crianças e adolescentes, a ser desenvolvida pela Unicef no próximo ano (N.E.: 2006). É um vínculo sócio-cultural do projeto".

Para que todo esse processo tenha continuidade, o produtor busca novas parcerias. "Queremos estender o trabalho das oficinas e trabalhar com crianças, adolescentes e jovens. Através de uma ONG, o casarão onde estamos pode se tornar um centro artístico".


Caio Gullane diz que a decisão final sobre o protagonista vai depender dos próximos exercícios
Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria

MEMÓRIA

Um menino branco, de 12 a 16 anos, que vive nos cortiços do Centro de Santos e que, para sobreviver, acaba sendo levado para o caminho da marginalidade. Essa é a história de Jerônimo, filho de Piedade, uma prostituta que entra em desespero ao saber que está grávida. Ao dar à luz, desesperada, ela decide se afogar em uma lata de querosene. Daí nasce o apelido do garoto solitário.

A busca de um menino com essas características, que se adequasse à trama do filme, foi longa. Desde junho do ano passado (N.E.: 2004) foram percorridos diques, morros, favelas, palafitas. Foi um processo lento, que contou com a realização de várias oficinas, desde origami até capoeira.

Na primeira fase, o objetivo principal era partir do físico para despertar as emoções. Na segunda, os meninos foram introduzidos no universo do filme, e na última fase o trabalho foi todo feito em cima do roteiro.


Foto: Nirley Sena, em 15/2/2004, publicada com a matéria

O início das filmagens também foi registrado pelo Diário Oficial de Santos, na edição de 18 de maio de 2005:

"Querô"

O filme Querô, do diretor Carlos Cortez, baseado na obra homônima de Plínio Marcos, começou a ser rodado ontem e seguirá até o final de junho, com filmagens em diversos locais (internos e externos) da Cidade.

Segundo o produtor Caio Gullane, as gravações de ontem contaram com 55 pessoas da equipe, mais o elenco. As cenas foram gravadas na Rua João Pessoa, entre as ruas Frei Caneca e Itororó. Participaram das filmagens dois garotos santistas, Maxsuel de Souza e Igor Calaze.

Querô conta a história de um jovem órfão que busca melhores condições de vida e tem no elenco Maria Luísa Mendonça, Aílton Graça e Milhem Cortaz. As gravações tiveram apoio da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e a Polícia Militar. O evento tem apoio da Prefeitura Municipal.


Foto: Antonio Vargas, publicada com a matéria


Imagens: folheto de divulgação do filme, em 2008 (frente e verso)

 


Imagens: telas do espaço de divulgação do filme no site de um banco, em 2008

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