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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ESTRADAS - BIBLIOTECA
Pequeno histórico da Mayrink-Santos (22)

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Em 1962, foi publicado em Sorocaba/SP este livro de 200 páginas (exemplar no acervo do historiador santista Waldir Rueda), composto e impresso nas Oficinas Gráficas da Editora Cupolo Ltda., da capital paulista (ortografia atualizada nesta transcrição):

Pequeno histórico da Mayrink-Santos

Meus serviços prestados a essa linha entre Mayrink e Samaritá

Antonio Francisco Gaspar

[...]


2ª PARTE - ESTUDOS E CONSTRUÇÃO
XXII - Do meu diário... Serviços na Serra

Rio dos Campos - 1934 - No domingo, 14 de janeiro, tendo pernoitado no vagão da turma telegráfica em Rio dos Monos, fui a Rio dos Campos e fiz instalação de um aparelho telegráfico no interior de uma casa de madeira. Ficou pronto esse serviço às 12 horas. Às 13,40 horas, chegou um trem especial conduzindo um grande número de funcionários dos escritórios de São Paulo. Estava entre eles o telegrafista sr. José Ribeiro da Silva, que fez a experiência do aparelho e funcionou muito bem com Dúvidas. Almocei com esses funcionários no carro-restaurante, sob a direção do sr. Angelo de Felippe, em companhia dos srs. excursionistas.

Depois de fazer-se uma visita às obras da construção da ponte 5, que achava-se ainda nas fundações, os excursionistas embarcaram no trem especial que partiu às 15 horas do Rio dos Campos, de volta para São Paulo. O pessoal estava todo satisfeito com essa excursão, autorizada pelo dinâmico dr. Gaspar Ricardo Júnior, diretor da Sorocabana.

Eu pernoitei no vagão da turma para no dia seguinte, a pé, ir ao S. 22, 5ª seção, chefe dr. Tomé Passos. Forte cerração, a 3 metros de distância, nesse dia, não se enxergava nada. Chegando ao escritório do dr. Passos, examinei e deixei o telefone funcionando. Almocei no acampamento com os trabalhadores. Esse local, tinham-no batizado com o sugestivo nome: Bairro da Saudade. Dali, avistava-se o mar alto, as ilhas Alcatrazes, Queimada Pequena e Queimada Grande. Quando não estava nublado, a imensidão do Atlântico, via-se a olho nu grandes navios quando demandavam para a Argentina. A 5ª seção foi, naquele tempo, um delicioso recanto da serra de Paranapiacaba, devido à altitude sobre o nível do mar. Hoje, ao escrever estas linhas, sinto saudade desse trecho da Mayrink-Santos.

Regressando a pé a Rio dos Monos, ao passar próximo onde hoje está localizada a estação Evangelista de Souza, joguei fora minhas botinas rotas e calcei outras que levava numa pequena mala. Ali eu pernoitei e no dia seguinte tomei um caminhão particular, nº 339, chofer sr. José Teize. Copiosas chuvas caíam sobre essa zona às 15 horas. No caminho, devido às chuvas, o caminhão encalhou por diversas vezes. Chegamos à Capela do Socorro às 18 horas. Tomei o bonde em Santo Amaro e às 19 horas estava em São Paulo. Fui pernoitar em São Caetano do Sul, casa de minha irmã Carolina Siqueira.

Novamente, em 14 de agosto desse 1934, no trem de lastro locomotiva nº 119, segui de Mayrink a Rio dos Campos e desmontei o aparelho telegráfico e às 16 horas vim instalá-lo num vagão velho (hoje é onde está Evangelista de Souza). Pernoitei nesse vagão. No dia seguinte ficou funcionando às 17 horas. O primeiro telegrafista que inaugurou esse aparelho foi o sr. Otávio de Campos, removido de Rio dos Campos para ali. No dia seguinte, às 7 horas, fui a pé à 5ª seção e dali numa caminhoneta ao S. 20. Desci até o S. 16, 4ª seção, chefe dr. Nobre Mendes. Examinei o telefone que estava com defeito e retornei ao S. 22. Às 17 horas estava em Monos e dali, numa locomotiva, fui pernoitar em Dúvidas. Na manhã seguinte, de Dúvidas a Santo Amaro, em ônibus. De bonde a São Paulo. De M. 3, a Sorocaba.

Seria longo relatar todos os serviços que fiz dentro do trecho da 5ª seção, porém não esqueço que instalei um telefone para o dr. Tertuliano Souto, engenheiro no S. 20, e outro telefone para o dr. Argeu Pinto Dias, em sua casa próximo à ponte 5.

Para o sr. Oity M. Freitas, encarregado da estrada de rodagem de quase todos os trechos da linha entre os SS. e os PP., instalei um telefone num rancho às margens do rio dos Monos. Esse setor estava também a seu cargo. Instalei esse telefone em 28 de março de 1934. Eu e Casemiro Busk, tomamos em um sábado, ali, um caminhão, e fomos a Santos pernoitar. No dia seguinte, fomos à praia Gonzaga tomar banho de mar. Almoçamos um suculento arroz com camarão e regressamos a Rio dos Monos e continuamos a lida na Mayrink-Santos.


Feitor Casimiro Busk - avançamento dos trilhos entre Dúvidas e Monos.
Linha Mayrink-Santos em 19-8-1933
Imagem e legenda reproduzidas do livro

A Sorocabana conservava na Mayrink-Santos um perfeito serviço de Profilaxia, entregue ao sábio e competente dr. Humberto Pascale, que desempenhava o cargo de médico-chefe.

Podia-se assegurar que o estado dos acampamentos em todos os setores da construção esteve sempre satisfatório, a cargo do dr. Pascale e seus auxiliares, cuja orientação desse incansável médico, no serviço da Profilaxia, era otimamente executada com todo carinho.

Eram mui satisfatórios os resultados obtidos com o serviço de Higiene e Profilaxia na malária, tendo-se tornado até obrigatório ao pessoal trabalhador e famílias o uso do quinino. Quando estivesse no setor S. 4 a serviço, recebia de um médico uma caixinha contendo cápsulas de quinino.

Entre mais de dois mil casos de malária, que houve nessa ocasião, foi registrado apenas um óbito.

Procedeu-se, também, em certo ano, à vacinação anti-variólica no pessoal, e quando a febre amarela se manifestou no Rio de Janeiro, foram tomadas providências no sentido de prevenir a entrada da mesma no serviço da linha.

Dez casos de peste bubônica verificaram-se nos trechos P.9, P.10 e P.11, e desses casos, três foram fatais. As rápidas medidas profiláticas postas em execução puseram termo a esse surto epidêmico.

O dr. Humberto Pascale teve a satisfação de cumprir à risca o seu elevado posto de médico-chefe até o ano da inauguração da Mayrink-Santos.

A não ser o surto epidêmico verificado no ano de 1935, no trecho S.3 e propagado ao S.4, em que a porcentagem da malária subiu e desceu, o mais correu tudo em ordem.

Aos srs. dr. Humberto Pascale, seus auxiliares, guardas sanitários e mais funcionários do Serviço de Profilaxia e Higiene, os quais cumpriram em seus postos o desempenho dessa árdua tarefa, cumpre-me aqui neste capítulo salientar o encorajamento que tiveram esses diligentes servidores, que muito fizeram pela grandeza da Mayrink-Santos.


Sr. Alfredo Silva, feitor da turma telegráfica em Rio dos Campos,
sala provisória dos aparelhos telegráficos, em 13-1-1934
Imagem e legenda reproduzidas do livro


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