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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ESTRADAS
Via Anchieta (4)

Matéria publicada no jornal santista A Tribuna, em 22 de abril de 2007:


Idealizada no início do século passado, como alternativa ao Caminho do Mar,
rodovia é, ainda hoje, corredor essencial para o escoamento de carga
para o porto de Santos e o Pólo Industrial de Cubatão
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Marco do desenvolvimento da Baixada, Anchieta faz 60 anos

Empreendimento, que contribuiu para alavancar mercado imobiliário e consolidar pólo industrial de Cubatão, continua desempenhando papel fundamental no tráfego

Luiz Gomes Otero
Da Redação

Inaugurada há exatos 60 anos, a Pista Norte da Via Anchieta pode ser apontada como um dos marcos mais importantes da história do desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista.

O empreendimento, considerado um dos mais arrojados executados pelo Governo do Estado, contribuiu para alavancar o mercado imobiliário, sobretudo na região da orla, que passou a ser ocupada por novos edifícios de apartamentos, além de servir como corredor essencial para o escoamento de carga para o Porto de Santos e para o Pólo Industrial de Cubatão, função que ainda desempenha nos dias de hoje.

Na época, a Via Anchieta serviu como uma espécie de alento para compensar o fechamento dos cassinos determinado pelo Governo Federal. Santos, que havia perdido o público visitante de alto poder aquisitivo, que freqüentava as casas de jogos, passou a receber um novo público que, desta vez, passou a desfrutar um novo tipo de lazer mais voltado para a classe média.

A faixa da orla começou a vivenciar um processo de intensa ocupação. Diversos edifícios passaram a ser erguidos nesta área do Município.

Em 1938, a população santista era estimada em 180 mil pessoas. No início dos anos 80, já havia saltado para 416 mil pessoas, totalizando um aumento de mais de 100% no período.

O mesmo fenômeno começa a se repetir hoje, em uma proporção menor. Depois da inauguração da segunda pista da Rodovia dos Imigrantes, a Cidade vive uma espécie de segundo boom imobiliário, desta vez, voltado para o público de maior poder aquisitivo. Diversos empreendimentos de alto padrão foram iniciados, aquecendo o setor da Construção Civil.

O historiador da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), José Dionísio de Almeida, lembra que, antes da abertura da Via Anchieta, a descida da Serra era feita pelo antigo Caminho do Mar ou Estrada Velha, hoje interditado para o tráfego de veículos. "Vale dizer que, no início, esta antiga [estrada] ainda continuou sendo bastante usada, porque não havia pedágio".

Para ele, a Via Anchieta, pela sua arquitetura e importância para a economia, mereceria ganhar o status de patrimônio histórico, como aconteceu com a Estrada Velha. "Para a época, foi um tipo de arquitetura bastante avançada, cuja eficácia se comprovou pela sua durabilidade. A estrutura permanece até hoje suportando o tráfego pesado".

O professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Santos (UniSantos), Fábio Serrano, disse que as mudanças foram sentidas logo nos primeiros anos. "Este novo público veio atraído pela facilidade proporcionada pela Anchieta, que diminuiu o tempo do percurso entre a Baixada Santista e a Capital. Aliado a esse fator, veio a expansão da indústria automobilística. Diversas montadoras se instalaram ao longo da rodovia".

Serrano lembrou que, apesar da aparente harmonia com o meio-ambiente, os efeitos da construção da Via Anchieta na Serra do Mar foram devastadores. "Entretanto, não há como negar a sua importância no processo de consolidação do Pólo Industrial de Cubatão, que passou a contar com um corredor de carga importante".


A Via Anchieta, em cartão postal da época de sua construção: devastação na serra
Imagem: acervo do professor e pesquisador Francisco Carballa

A primeira do Brasil com trechos em túneis

A Via Anchieta foi projetada na primeira metade do século passado. E começou efetivamente a ser construída a partir do dia 9 de julho de 1939, tendo sido a primeira do País a contar com trechos em túneis. No total, o complexo viário conta com pistas duplas, 58 viadutos, 18 pontes e cinco túneis.

A primeira pista (Norte) foi inaugurada no dia 22 de abril, data do descobrimento do País e também de nascimento do então governador do Estado, Adhemar de Barros, que participou da carreata de inauguração da obra e foi recepcionado em Santos com um almoço no Parque Balneário Hotel.

Um ano depois de sua inauguração, a rodovia havia recebido uma média de 830 mil veículos. Quatro anos depois, o número saltou para 1,9 milhão de automóveis. Como a Pista Sul foi inaugurada somente em 9 de julho de 1953, a Pista Norte funcionava com mão dupla.

Hoje, a estrada recebe a maior parte do tráfego pesado que passa pelo Sistema Anchieta/Imigrantes (SAI). Só em 2006, 5,5 milhões de caminhões passaram pela rodovia, respondendo pelo transporte de 76 milhões de toneladas de cargas. O volume é o maior registrado pela Ecovias, concessionária que administra o Sistema Anchieta/Imigrantes (SAI). Um sinal claro de que a via é ainda um corredor essencial para a economia da região.


A Via Anchieta, em cartão postal da década de 1950: viadutos na serra do mar
Imagem: acervo do professor e pesquisador Francisco Carballa

Investimento este ano será de R$ 24 mi

A Ecovias vai investir R$ 24 milhões este ano na Via Anchieta, como forma de garantir a segurança e manutenção da estrada, que continuará a desempenhar o papel de concentrar o tráfego mais pesado de veículos.

O diretor-superintendente da Ecovias, Humberto Gomes, diz que a proposta consiste em priorizar a segurança na estrada, que ainda concentra um alto índice de acidentes. "Já evoluímos bastante, com a colocação de vários dispositivos, como os tachões reflexivos. Mas ainda há muitos pontos que precisam ser executados".

Uma novidade anunciada foi a ampliação do sistema de monitoramento por câmeras ao longo da rodovia. "Pretendemos garantir a cobertura completa da via dentro de um prazo de até quatro anos".

O gerente de atendimento ao Usuário da Ecovias, Sidnei Torres, explica que a função desempenhada pela Via Anchieta é essencial para garantir as operações de tráfego. "É graças a ela que podemos implantar as operações Subida e Descida, por exemplo".

Para comemorar a data, a Ecovias promove hoje, a partir das 8h30, um desfile com automóveis antigos que percorrerão a rodovia até o alto da Serra, onde haverá uma festividade.

Programação festiva

8h30
início da concentração dos veículos antigos no Km 10 e recepção aos convidados
9h30
Início do desfile com destino ao Km 40 (Pátio de descanso)
10h30 Recepção dos convidados. Palavras das autoridades presentes
11h30 Exposição de fotografias antigas
12h00 Encerramento
Fonte: Assessoria de imprensa da Ecovias


Trecho da Serra, na Via Anchieta, na década de 1950
Imagem: acervo do professor e pesquisador Francisco Carballa

Frases:

1.300 espécies animais, além de 20 mil espécies de plantas, habitavam a área onde foi construída a rodovia.

"A Via Anchieta continua cumprindo uma função estratégica e importante dentro do Sistema Anchieta-Imigrantes" - Humberto Gomes, diretor-superintendente da Ecovias.

"Naquela época eu tinha 28 anos e muitas responsabilidades caíram sobre os meus ombros" - Fernando Guilherme Martins, engenheiro civil que trabalhou na construção da Pista Sul de 1950 a 1953.

"A maior lição da Anchieta, para mim, foi a de que nós não devemos olhar para trás, e sim planejar o futuro" - Fernando Guilherme Martins, engenheiro civil.

A estrada e o desenvolvimento econômico

Comentário, por Romeu Magalhães (*)

Nasci em Vila Fabril, bairro do antigo Distrito de Cubatão, no ano de 1938. E pude conferir de perto a construção da obra da Via Anchieta, bem como a extensão de sua magnitude.

Com 9 anos de idade, eu costumava me reunir com os amigos na beira da estrada. E até ajudava os trabalhadores a controlar os burros de carga que eram utilizados para transportar o material de aterro. O volume de carros que passava naquela época era infinitamente menor do que o que vemos passar diariamente hoje.

De lá para cá, o que se viu foi o franco desenvolvimento da Baixada Santista como um todo. Se Santos vivenciou uma grande expansão imobiliária e aquecimento do setor do comércio, Cubatão, que se emanciparia dois anos depois, ganhou um Pólo Industrial que até hoje é considerado um dos mais importantes do País.

Durante os seis mandatos que exerci como vereador na Câmara de Cubatão, lutei para que a população que vive nos bairros-cota, que cresceu a partir da construção da pista, pudesse contar com um tratamento digno, com água encanada tratada e urbanização.

Na verdade, esta é uma questão em que o Governo Estadual se mostrou ausente ao longo de todos esses 60 anos. E que precisa ser revista não só com o controle de sua expansão, mas também com a adoção de uma política social justa, capaz de garantir uma qualidade de vida compatível para os ocupantes das moradias já consolidadas.

(*) Romeu Magalhães foi vereador em seis legislaturas e atualmente é assessor parlamentar da Câmara de Cubatão.


Trecho da Serra, na Via Anchieta, na década de 1950
Imagem: acervo do professor e pesquisador Francisco Carballa