Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0100b87.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/1624/10 23:09:36
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BAIRROS DE SANTOS - SÉCULO XXI - [37]
Caneleira

Leva para a página anterior da série

Publicado em 23/8/2010 no jornal A Tribuna de Santos, página A-3


TRADIÇÃO E FUTEBOL SÃO AS REFERÊNCIAS DA CANELEIRA - A Caneleira - bairro que abriga o estádio do Jabaquara - conserva traços do período colonial, representados pelas ruínas de um dos primeiros engenhos de açúcar do País. O nome Caneleira surgiu em função de uma árvore que havia, no início do século 20, na esquina do antigo Caminho de São Jorge. Naquela época, o bairro compreendia um conjunto de sete fazendas. Hoje, o principal problema são as rotineiras enchentes

Imagem: reprodução parcial da primeira página de A Tribuna de 23/8/2010

História e futebol são referências

Caneleira abriga as ruínas de um dos primeiros engenhos de açúcar do País e é sede de um dos clubes mais tradicionais da Cidade

Luiz Gomes Otero

Da Redação

Um bairro que conserva traços do período colonial, representados pelas ruínas de um dos primeiros engenhos de açúcar do País, mas que ainda enfrenta problemas crônicos causados pelas rotineiras enchentes.

Essa é a realidade da Caneleira, que tem no futebol um de seus pontos de referência. É no bairro que fica o estádio do Jabaquara Atlético Clube, o tradicional Leão da Caneleira, antes conhecido como Hespanha, que revelou craques de nível de Seleção Brasileira, como o atacante Álvaro Valente e o goleiro bicampeão mundial, Gilmar dos Santos Neves (1958/1962).

O nome Caneleira surgiu em função de uma árvore que havia no início do século 20, na entrada do bairro, na esquina do antigo Caminho de São Jorge. Naquela época, o bairro compreendia um conjunto de sete fazendas.

A árvore não existe mais. Em reportagem publicada no ano 2000, moradores antigos disseram que a antiga caneleira acabou apodrecendo e foi derrubada. Mas, apesar disso, o nome do bairro não foi alterado.

E a realidade atual é bem diferente dos tempos iniciais da formação do bairro. O volume de tráfego de veículos aumentou substancialmente nas últimas três décadas

A Avenida Francisco Ferreira Canto, que une o acesso aos morros da Caneleira e da Cachoeira com a Avenida Nossa Senhora de Fátima, se transformou em um importante corredor viário. Não por acaso, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) colocou um semáforo em um dos cruzamentos da avenida.

E na avenida, ao lado do Estádio do Jabaquara, reside um exemplar da produção rural que existiu no bairro. Trata-se da antiga Chácara do Espanhol, um terreno com cerca de cinco mil metros quadrados de área, onde há um grande bananal cultivado sem o uso de agrotóxicos.

A propriedade pertenceu a Luiz Mendes Fernandes, que morreu há cerca de oito anos. Seus três filhos mantêm a tradição da chácara e comercializam a banana cultivada no local.


Estádio do Jabaquara é atração. Mas os moradores também convivem com os problemas de enchentes em dias de chuva. Prefeitura promete investir para solucionar o problema

Foto: Walter Mello, publicada com a matéria

Enchentes - Como acontece nos bairros vizinhos da Zona Noroeste (ZN), a Caneleira sofre com a deficiência de seu sistema de drenagem. Basta uma chuva mais forte para surgirem vários pontos de alagamento, principalmente nos dias de maré alta.

A Prefeitura pretende eliminar o problema com a execução do Programa Santos Novos Tempos, que prevê várias intervenções e obras na Caneleira e nos demais bairros da ZN.

Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento e Assuntos Estratégicos, Márcio Lara, serão construídas no bairro duas torres e um reservatório para reter as águas de chuva, popularmente conhecido como piscinão. "O programa prevê ainda a construção de um conjunto habitacional (Caneleira 4) e a consolidação das outras unidades".

A construção do conjunto está a cargo da Companhia de Habitação da Baixada Santista (Cohab). Serão 680 unidades, que atenderão famílias cadastradas no Mangue Seco e Vila Telma. Além disso, serão consolidadas outras 680 moradias na região do Dique da Vila Gilda.

Moradores

2.807 habitantes

é a população estimada da Caneleira, segundo o censo do IBGE realizado em 2000

 


As ruínas do Engenho dos Erasmos, construído no início do século 16, estão abertas à visitação pública

Foto: Walter Mello, publicada com a matéria

Engenho virou base de pesquisa da USP

Símbolo do período colonial, o Engenho de São Jorge dos Erasmos, localizado na Caneleira, abriga hoje uma base avançada de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). A grande atração do local, no entanto, são as ruínas de um dos primeiros engenhos de açúcar do país, cuja data de construção remonta a 1534.

A expedição de Martim Afonso de Souza a São Vicente em 1532 pode ser considerada o ponto de partida para a indústria açucareira no Brasil. Segundo citação do padre Simão de Vasconcelos, a Capitania de São Vicente foi a primeira a cultivar cana-de-açúcar. E foi exatamente na Vila de São Vicente onde se produziu o primeiro açúcar no Brasil.

Nessa época, o governador da capitania precisou arrecadar recursos para o engenho que seria construído em 1534. A sociedade se desfez quando Martim Afonso viajou para as Índias e seus sócios negaram recursos para dar continuidade aos investimentos na manufatura açucareira. Em 1540, o engenho acabou comprado pela família de Erasmos Schetz.

Originários de Franconi ou Aachen, atual área de fronteira entre Holanda, Bélgica e Alemanha, os Schetz iniciaram suas atividades comerciais na região por iniciativa do patriarca Coenraedt Schetz, pai de Erasmos.

No século 16, Erasmos Schetz aparece como fundador de uma empresa em Leipzig. Seus negócios na Alemanha envolviam uma casa bancária, seguros marítimos e minas de cobre e prata. Em seguida, suas atividades comerciais estenderam-se até Antuérpia, Bruxelas e Amsterdam.

Existem divergências em relação à data exata em que o Engenho São Jorge dos Erasmos teria sido construído. Historiadores como Maria Regina da Cunha Rodrigues e Pedro Taques de Paes Leme apontam o antigo Engenho do Governador como sendo o primeiro da Capitania de São Vicente (1533). Francisco Martins dos Santos afirma que foi o segundo (1534-35); e Basílio de Magalhães e Paul Meurs acreditam que o Engenho dos Erasmos foi o terceiro empreendimento desse tipo a ser construído na região.

Em 1943, os terrenos com as ruínas foram adquiridos por Otávio Ribeiro de Araújo, que loteou a propriedade e doou o Engenho São Jorge dos Erasmos à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, no ano de 1958.

Tombado em 1955, o engenho é o único exemplar que restou na Baixada Santista. Suas ruínas foram testemunhas dos tempos em que a indústria açucareira era produto essencial nos negócios e no cotidiano da Capitania de São Vicente.

O engenho pode ser visitado tanto pelos estudantes como pelo público em geral. O portão de acesso fica na Rua Alan Ciber Pinto. A entrada é gratuita e o telefone para agendamento prévio é o 3203-3901.

Personagem

Isalmar Aparcida Lucindo de Souza - 43 anos


Trabalhando há oito anos no setor administrativo do Jabaquara Atlético Clube, Isalmar passou a dedicar a maior parte do tempo do dia para o clube que sempre torceu. Ela conta que sempre teve uma relação próxima com a colônia espanhola da Baixada e sempre que pode vai conferir os jogos do seu querido Jabuca. "É a minha maior alegria da vida"

Foto: Walter Mello, publicada com a matéria

Jabaquara mantém a tradição

Outro símbolo da Caneleira é o Jabaquara Atlético Clube. A tradicional agremiação, conhecida também como Jabuca, mantém no bairro o seu estádio e sua sede social E é referência para quem passa pelo local.

O nome Jabaquara é uma referência à origem do clube, fundado em 1914 por um grupo de jornalistas (N.E.: na verdade, eram jornaleiros, ou vendedores de jornal, do então chamado Largo do Rosário) descendentes de espanhóis em um campo de futebol da Avenida Rangel Pestana. Tinha o nome de Espanha Foot-Ball Club e as cores amarela e vermelha na bandeira.

Em 1939, o clube adquiriu um terreno na Ponta da Praia. E mudaria de nome três anos depois, quando o governo federal proibiu que as agremiações fossem batizadas com nomes de países.

Naquela ocasião, os sócios se reuniram e optaram por homenagear o bairro de origem do clube. Essa época coincide com o período áureo da agremiação, que derrotou os chamados times grandes do Estado: Santos, São Paulo, Corínthians e Palmeiras. Foi nessa época que surgiu a expressão "Pôr o Jabaquara em campo", que é cultuada até os dias de hoje.

Um dos craques revelados pelo Jabaquara foi o goleiro Gilmar dos Santos Neves, que faria história no futebol, conquistando duas copas do mundo (1958 e 1962) e dois títulos mundiais pelo Santos (1962 e 1963). Gilmar também foi atleta do Corinthians.

A vinda para a Caneleira foi idealizada em 1961 e se concretizou em 1964. O estádio, situado na Avenida Francisco Ferreira Canto, tem capacidade para 7.500 pessoas. O clube disputa atualmente a Segunda Divisão do Campeonato Paulista.

Veja o bairro em 1982
Veja Bairros/Caneleira

Leva para a página seguinte da série