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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Cidade estratégica para a República

Em diversas ocasiões, ter o controle militar de Santos se revelou de importância estratégica, nos anos da República, tanto que a cidade e seu porto já foram considerados zona de interesse nacional, com intervenções políticas e militares para assegurar esse controle, e em certos casos, quando a capital federal (até 1960 no Rio de Janeiro) corria o risco de ser tomada por forças revoltosas, as autoridades militares se transferiam para Santos ou usavam a cidade como base para sua ação.

A foto abaixo é de um desses momentos: foi feita em 12/11/1955, quando tropas do IV Regimento de Quitaúna chegam a Santos, em meio a uma tentativa de golpe de estado:

Tropas do IV Regimento de Quitaúna chegam a Santos (Foto: '100 Anos de República', vol. VI-1951-1958, Ed. Nova Cultural, São Paulo-SP,1989

Com o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 24/8/1954, tinha assumido o vice-presidente João Café Filho, disposto a promover as eleições presidenciais de 3/10/1955. Nesse pleito, Juscelino Kubitschek (da coligação partidária PSD-PTB) foi eleito presidente, tendo João Goulart (Jango) como vice. A diferença entre Juscelino e seu concorrente Juarez Távora (do partido UDN) foi de 459.733 votos, que corresponderiam aproximadamente ao apoio dos comunistas, segundo o jornalista Carlos Lacerda, que apoiava a UDN e queria por todos os meios impedir a posse dos eleitos.

No dia 8/11/1955, o presidente da Câmara Federal, deputado Carlos Luz, do PSD mineiro, assumiu interinamente como presidente, por estar doente o presidente João Café Filho (que tinha assumido em 24/8/1954, com o suicídio do presidente Getúlio Vargas).

Discursando no Rio de Janeiro em 1/11/1955, no enterro do general Canrobert Pereira da Costa, o coronel Jurandir Bizarria Mamede sugeriu um golpe militar. O general Henrique Duffles Teixeira Lott, ministro da Guerra, apresentou no dia 8, a Carlos Luz, o ultimato: se o coronel Mamede não fosse punido, ele se demitiria do Ministério da Guerra. Como Carlos Luz não puniu o coronel, e no dia 10 convidou o general reformado Álvaro Fiúza de Castro para ser o novo ministro, Lott entendeu que o presidente estimulava o golpe contra a posse de Juscelino e Jango, resolvendo dar o contragolpe que ficaria conhecido como "golpe da legalidade", pois defendia uma linha de extrema legalidade e queria garantir a posse dos eleitos em 3/10/1955.

Governo em Santos - Em poucas horas, cerca de 25 mil homens de Lott tomaram o Rio de Janeiro. Carlos Luz, Carlos Lacerda, Pena Boto, o coronel Mamede e os ministros Prado Kelly (da Justiça), Marcondes Ferraz (da Viação) e almirante Amorim do Vale (da Marinha) fugiram no cruzador Tamandaré, comandado pelo almirante Sílvio Heck.

Conta o historiador Hélio Silva que a intenção de Carlos Luz era estabelecer em Santos a sede do governo federal. Aliás, o brigadeiro Eduardo Gomes já tinha voado para a capital paulista, escoltado por bombardeiros da Força Aérea Brasileira, para conversar com o governador Jânio Quadros e convencê-lo a apoiar o governo Carlos Luz, dando a necessária cobertura para o Executivo Federal poder se instalar em Santos.

Conta Carlos Lacerda:

A guarnição da Marinha em Santos tinha comunicado ao ministro Amorim do Vale que estava solidária com o presidente Carlos Luz. E chegou também a notícia de que o Jânio Quadros pretendia resistir. A idéia era desembarcar em Santos, constituir um governo federal em São Paulo, presidido pelo Carlos Luz, com o apoio do governador Jânio Quadros (...)

Quando chegamos ao chamado canal da entrada da Baía de Guanabara, que fica entre a Fortaleza de Laje (...) e a Fortaleza de Santa Cruz, do outro lado da baía começaram de repente a atirar no Tamandaré. [Umas cinco horas depois, chegou], uma comunicação informando que a guarnição de Santos tinha aderido ao Lott. (...) Só poderíamos desembarcar pela força, debaixo de bala. (...) O Carlos Luz reuniu em volta da mesa os ministros, os oficiais presentes e eu, como deputado [para deliberar sobre o que fazer. Decidiu-se prosseguir viagem].

(...) Foi quando o coronel Mamede tomou a palavra: "Eu me submeto à decisão da maioria, mas me permito lembrar aos senhores que o Brasil não vai acabar hoje (...). Se houver um desembarque com derramamento de sangue, se houver a morte do presidente da República aqui presente (...), será o germe de uma guerra civil que poderá durar anos. Nós fomos derrotados hoje, mas há um futuro pela frente (...)". Com essas palavras, que eu não estou reproduzindo literalmente, mas cujo sentido foi exatamente esse, gelaram os ânimos.

Assim, na saída da baía da Guanabara, como tivessem começado a atirar no Tamandaré, Luz decidiu voltar ao Rio de Janeiro. O Congresso declarou-o impedido de exercer a presidência, dando posse como presidente interino a Nereu Ramos, presidente do Senado. Carlos Lacerda pediu asilo na embaixada de Cuba.

Em 21/11, Café Filho, já restabelecido da doença, foi também declarado impedido, por decisão do general Lott, então homem forte do regime. Lott também pressionou Nereu Ramos para decretar estado de sítio por 30 dias. O presidente Juscelino tomou posse no dia 31/1/1956.

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