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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - RIOS & RIACHOS
Rio Conrado atrapalhou o Escolástica Rosa (16)

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Quem visita Santos e encontra apenas alguns canais artificialmente construídos, talvez nem imagine a grande quantidade de rios que caracterizou a geografia local, muitos dos quais até hoje correm por caminhos subterrâneos, com seu traçado esquecido. É o caso do Rio Conrado, ou Rio do Conrado, hoje totalmente esquecido, que seguia seu traçado sinuoso pela atual Avenida Epitácio Pessoa, formando uma lagoa pantanosa na parte de trás do terreno onde em 1º de janeiro de 1908 foi inaugurado o Instituto Dona Escolástica Rosa.

E foi por ter justamente causado inúmeros problemas às obras que os prédios daquela instituição precisaram ser elevados cerca de 60 cm do solo, para não serem alagados nos períodos de alta das águas, sendo também necessário aterrar o verdadeiro pântano ali formado, tornando a área salubre para o funcionamento de uma instituição escolar.

Os detalhes desse problema, uma planta do terreno e uma rara foto onde o rio é visto por volta de 1906 foram assim incluídos na Monographia escrita por Júlio Conceição, testamenteiro de João Octávio dos Santos e executor da obra do Instituto, entre 1900 e 1907 (ortografia atualizada nestas transcrições):


O Rio Conrado, nos fundos do terreno do Instituto D. Escolástica Rosa, direção da atual Av. Epitácio Pessoa
Foto
publicada na Monographia de Júlio Conceição

"(...) Como todos sabiam e foi verificado posteriormente, mesmo durante as construções, as águas da lagoa existente no local, em certas épocas do ano, atingiam a cozinha do antigo prédio da chácara, que foi demolido para em seu lugar se construir a residência do diretor do Instituto, do pessoal e para outras dependências. (...)

"As obras de saneamento para desvio das águas que a Câmara Municipal pretendeu fazer ali naquele charco, lá estão à vista de quem quiser, inutilizadas por completo, e o Rio Conrado sempre no seu velho curso.

"Essas obras constavam do fechamento de um bueiro por onde passava o rio para a chácara de João Octávio, a 200 metros mais ou menos do edifício, no caminho da antiga linha de bondes.

"(..) A Comissão Sanitária, unanimemente, foi de parecer que ali 'era impróprio para um asilo de crianças ou qualquer estabelecimento congênere, sem prévia execução de grandes obras de saneamento na referida zona'.

"Quanto à Comissão do Saneamento, as informações solicitadas não foram dadas por escrito pelo seu digno chefe, porém lembro-me bem dos dados e informes colhidos no escritório da Comissão, por mim conjuntamente com o então sr. provedor da Santa Casa, diante dos mapas, estudos e explicações que ali nos foram ministrados (...)"

"É assim que verificamos ser aquele um dos pontos mais baixos do solo santista e de dispendiosíssimo saneamento, atingindo as marés a lagoa ali existente, conforme atestam no local alguns exemplares de mangue, além dos nítidos estudos da referida Comissão.

"Essa lagoa, segundo os dados oficiais colhidos, é de 1.600 metros quadrados; seu fundo acha-se cerca de 2 metros mais baixo que a alta maré, sendo no ponto de saída para o mar, junto à linha de bondes da praia, de 1 metro abaixo da alta-maré, de maneira que as águas ficam estagnadas na lagoa e só as chuvas torrenciais podem, em parte, levá-las para o mar.

"A superfície de 1.600 metros coberta por ocasião das altas marés, na baixa-maré se reduz a 800 metros quadrados, que ficam duas vezes por dia descobertos, cheios de matérias orgânicas e detritos vegetais em decomposição.

"A edificação do antigo prédio, na sua parte mais elevada, o corpo principal, estava 50 cm acima da alta maré, segundo as quotas ns. 98.500 dos estudos da Comissão do Saneamento e 99.860 da Companhia de Docas de Santos. (...)"


Detalhe da planta de número 74 mostra o Instituto e o Rio Conrado formando uma lagoa nos fundos do terreno, em área hoje atravessada pela Avenida Epitácio Pessoa, então denominada Rua do Encanamento ou Caminho Velho
Imagem publicada na Monographia de Júlio Conceição


Detalhe da planta de 1903 da Comissão de Saneamento mostra o trecho hoje ocupado pelos bairros da Ponta da Praia e Aparecida, vendo-se no alto as praias e na parte inferior esquerda as margens da Ilha de São Vicente que dariam lugar a futuras instalações do Porto de Santos. Entre as linhas de nível, as marcas no trecho centro-direito da imagem mostram o Rio Conrado.
Imagem: Comissão de Saneamento de Santos, 1903


Detalhe de outra versão da planta de 1903 da Comissão de Saneamento mostra o mesmo trecho, destacando o traçado do Rio Conrado, começando no centro da área hoje delimitada plos canais 4 e 5, como se verifica também na Planta de Saneamento de 1905, de Saturnino de Brito.
Imagem: Comissão de Saneamento de Santos, 1903


A nascente do Rio Conrado aparece mais próximo da praia do Embaré, neste detalhe de uma planta incluída no Atlas de Saneamento de 1895, acompanhando o Caminho para a Ponta da Praia. No canto esquerdo da imagem, o Caminho Velho da Barra corresponde à atual Rua Osvaldo Cruz.
Imagem: Atlas de Saneamento, 1895

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