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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Porto tem muitas histórias divertidas

Do estranho pó oriental ao despertador que traiu o contrabandista...

Chegam a ser inacreditáveis - embora verdadeiras - muitas das histórias pitorescas reunidas pelos encarregados da repressão ao contrabando e à "pirataria" de cargas no porto santista.

Bóias inéditas - Essa foi contada por um capitão dos portos, na década de 1980: um submarino da Marinha Brasileira chegou de surpresa numa noite clara ao porto santista, submerso e só com o periscópio na linha d'água. Seu comandante notou estranhas bóias flutuando nas águas, ao longo do canal de navegação. Ordenou a emersão do submarino e o recolhimento dos tais pacotes: amealhou ao menos umas três dúzias de pacotes com videocassetes, acondicionados de forma a boiarem apesar do peso, que algum pirata (termo inadequadamente aplicado ao ladrão de cargas marítimas) havia descarregado de um navio mercante fundeado na barra (área de espera para atracação, na entrada da baía de Santos, junto ao mar aberto) para que seus cúmplices, com lanchas rápidas (voadoras) fizessem o recolhimento. Nesse dia, os piratas tiveram de gravar um final diferente para suas novelas...

Oficial... - Já existiram também situações de contrabando propiciadas pela própria falha nos procedimentos burocráticos, como no caso de multinacionais que descarregavam em Santos mercadorias destinadas ao porto de Paranaguá, evitando propositalmente a ida do navio àquele porto paranaense. Assim, a carga teria de ir por terra, nos contêineres lacrados, documentada na Alfândega por um documento com torna-guia: chegando a carga a Paranaguá, os fiscais paranaenses deveriam deslacrar os conteineres e conferir a carga, carimbando a torna-guia, a ser remetida de volta à Alfândega de Santos.

O truque era conseguir que a carga deixasse o porto santista, nesse trânsito por terra até o Paraná, com um modelo de documentação que não exigia a torna-guia (por ser destinado a mercadorias liberadas pela fiscalização no próprio porto de chegada): assim, nem os fiscais de Paranaguá saberiam da obrigação de conferir essa carga, nem os de Santos perceberiam que a mercadoria não seria conferida em Paranaguá. A carga, de valiosas peças eletrônicas, evidentemente nunca chegaria ao porto paranaense: era mesmo descarregada para armazéns situados na periferia da capital paulista.

Triplo uso - Em alguns casos, o contêiner chegava a Santos com produtos eletrônicos contrabandeados, tinha essa carga substituída por café brasileiro contrabandeado para o Paraguai e no vizinho país tinha novamente sua carga substituída por produtos contrabandeados para dentro das fronteiras brasileiras, otimizando assim triplamente o procedimento clandestino, bem nas barbas das autoridades dos dois países.

Despiste infeliz - Também aconteceu de um despachante santista denunciar aos fiscais da Alfândega que um seu colega estava recebendo mercadorias contrabandeadas. Os fiscais foram conferir, nada encontraram, e desconfiaram do denunciante. Dito e feito: o despachante estava recebendo ilegalmente dois contêineres com veículos importados e pretendia desviar a atenção dos fiscais para que a descarga fosse facilitada. Para o infeliz contrabandista/despachante melhor seria se tivesse ficado quieto...

Cama de gato - Outro caso - verídico, como os demais citados nesta página - foi o das camas de bordo com forro falso. Todo navio é inspecionado ao chegar ao porto procedente de outros países, ou quando está deixando o último porto de escala em território nacional, para a verificação da existência de clandestinos e contrabando. Navios construídos no Rio de Janeiro para várias armadoras nacionais tinham em certas cabines dos tripulantes um baú disfarçado sob as camas, com dimensões suficientes para abrigar um clandestino, ou cargas diversas que precisassem entrar ilegalmente no Brasil.

O truque foi descoberto pelo comandante Fernando Domingues Júnior, ex-oficial da Marinha de Guerra Brasileira que em fins dos anos 80 trabalhava para empresas particulares de inspeção. Ele notou a altura anormal do colchão - em relação à antepara que o protege de cair com o balanço do navio - e foi conferir, descobrindo assim um truque até então desconhecido por todos os fiscais alfandegários dos inúmeros portos de escala desses navios, nas Américas e na Europa.

Estas histórias, o editor de Novo Milênio colheu em primeira forma durante mais de 15 anos de jornalismo ligado às atividades marítimas. Mas, há histórias ainda melhores, como as relatadas por outros colegas em matéria do jornal santista Preto no Branco, edição de 31/7 a 30/8/1980:

Contrabando

(...) A tragédia e a comédia costumam andar juntas pelo cais ou vagarem, da mesma maneira, pela barra e ao redor das ilhotas. Quem sabe muito bem disso é o supervisor Neyder Barros, do Grupo de Vigilância, Busca e Repressão ao Contrabando (GVBRC), que já tem 28 anos de trabalho contínuo no combate ao contrabando no porto de Santos.

Ele viveu muitas histórias tristes, trágicas, que é capaz de lembrar uma a uma. Mas, como essas são as que, comumente, ganham as manchetes de jornais, pedimos a Neyder que selecionasse os casos mais cômicos do contrabando do porto da cidade. Aqueles que fizeram e continuam fazendo muita gente do meio rir bastante. Neyder foi gentil e, até, de próprio punho, escreveu as histórias alegres que guardou na lembrança. Vamos a elas:

HISTÓRIAS

Golpe de Mestre (Cuca) - Durante uma operação de busca, em navio de passageiros, um fiscal aduaneiro observou que um dos cozinheiros da embarcação acompanhava com excessiva atenção a toda a operação de vistoria nos camarotes, lavanderias e outras instalações e compartimentos. Intrigado com sua atitude e com o seu largo e altíssimo chapéu de mestre-cuca, o fiscal teve um repente de intuição. De supetão, arrancou-lhe da cabeça o chapelão e o resultado foi auspicioso: lenços de seda, bijuterias, frascos de perfumes e baterias para relógios, bem acondicionados, ali estavam, debaixo da cartola do sabujo cozinheiro. Ele ainda quis alegar que era mágico, mas, segundo seu comandante, nem como cozinheiro mexia bem com um coelho...

Batina milionária - Um bem falante e amável padre apareceu, certo dia, no porto de Santos. Depois de distribuir venerados santinhos aos trabalhadores e falar muito de Deus, o vigário, ao passar por uma das saídas do cais, deparou com um fiscal, que de longe e de há muito estava de olho nos seus passos. Durante a revista, não deu outra: valiosas barras de prata estavam costuradas sob a batina do benevolente ministro de Deus.

Quando os músicos dançam - O truque é velho nas virações do contrabando, mas sempre aparecem novos espertalhões para tentá-lo. Trata-se do grupo de músicos que, sobraçando estojos de violinos, saxofones etc., aparece pelo cais. Quando interpelados pelos fiscais e obrigados a abrir seus estojos para mostrarem suas qualidades artísticas, o esquema dança. Inevitavelmente, aparece a muamba, ao invés dos instrumentos, e os artistas, a essa altura, não conseguem nem demonstrar um mínimo de criatividade. Sempre apelam para a mesma e velha saída: "Mas quem é que foi que colocou esses negócios aqui dentro?..."

Sacrilégio - Ao revistar a bagagem de um imigrante oriental, um fiscal deparou com uma caixinha de madeira, contendo um pozinho muito esquisito. Intrigado com o troço, o fiscal tentou interrogar o seu portador, um pequenino chinês: não deu pé, porque um não falava a língua do outro e o outro não falava a língua do um. Impávido no cumprimento de seu dever, o fiscal deteve o chinês até, horas depois, ser localizado um intérprete. A essa altura, o fiscal já tinha, por várias vezes, cheirado o tal pó, chegando mesmo, numa delas, a tomar nos dedos uma pequena porção e prová-la com a língua. Mas o esclarecimento só aconteceu com o intérprete que, depois de ouvir o chinês, virou-se para o fiscal e explicou: "Essa caixinha de madeira é uma espécie de urna e o pó, que está dentro dela, são cinzas de antepassados desse marujo". No dia seguinte, um conhecido jornal sensacionalista abriu manchete: Fiscal devora família chinesa.

Sem atraso - O navio conduzia, entre outras mercadorias, caixas de despertadores. Vários estivadores, aproveitando a avaria de uma das caixas, esconderam, sob as vestes, alguns dos relógios. O azar de um deles, porém, foi pontual, pois, ao cruzar por um fiscal, já prestes a abandonar o navio, aconteceu o pior: o relógio desperta, com toda a estridência... Foi só chamar mais gente da fiscalização e ordenar que ninguém abandonasse a embarcação para que, minutos depois, fosse realizada uma boa "coleta" de relógios. Moral da história para o orgulhoso fiscal, depois do cumprimento da missão: "A Justiça tarda, mas não atrasa...".

Jornal mensal Preto no Branco, de Santos, edição de 31/7 a 30/8/1980

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