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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Russos ocupam o Mosteiro de São Bento

Ficaram 10 anos falando a língua natal e instalaram até uma capela ortodoxa

Éramos três amigos, estudantes de jornalismo, e subíamos apressados as escadas do morro do São Bento com medo de errar o caminho: aquele dia de 1968 começava a escurecer e um padre nos esperava para uma entrevista, que encerraria um trabalho que fazíamos sobre o antigo mosteiro que ia ser transformado em museu.

Entramos no pátio e então começamos a escutar aqueles sons exóticos, vozes suaves entoando um estranho cântico. Alteramos o passo e, sem nada dizer uns para os outros, fomos caminhando devagar, entre surpresos e extasiados, acima de tudo curiosos. Pé ante pé, entramos no mosteiro e foi então que os vimos.

Eram muito claros, muito louros, túnicas brancas sobre as roupas juvenis, velas acesas nas mãos, cantando defronte a um altar onde se viam místicas imagens. Ficamos ali parados, muito quietos, sem nada entender, até que, mais tarde, o padre que nos receberia esclareceria o mistério. Momento único, inesquecível, ficou para sempre gravado na nossa memória.

Mosteiro de São Bento em 1982

Foto: Sérgio Eluf

Dez anos antes daquele dia, os meninos russos que víramos chegavam a Santos, para viver no Mosteiro de São Bento. Mas, sua história começa em 1954, em Itu (SP), onde o jesuíta Felipe de Regis, numa iniciativa pioneira no Brasil, fundou o Colégio São Wladmir com o objetivo de abrigar filhos de refugiados russos que, após a Segunda Guerra Mundial, haviam saído de seu país pela China e Alemanha e acabaram vindo para o Brasil.

O colégio começou com 60 internos, só meninos e rapazes, e ficou em Itu apenas quatro anos. De lá transferiu-se para Santos, a convite dos beneditinos, que cederam o Mosteiro de São Bento para a instalação da escola.

E assim, aqueles loiros meninos vieram habitar aquele antigo refúgio religioso. Trouxeram com eles objetos típicos de sua terra (ou a terra de seus pais), seus costumes e tradições, não demorando em construir dentro do mosteiro uma capela ortodoxa. Tinham de 5 a 18 anos e estudavam em diferentes colégios: o São Wladmir funcionava apenas como pensionato, oferecendo, entretanto, aos internos, formação em língua, literatura, história, música e dança russas.

Viviam no mosteiro como num grande lar, com liberdade e disciplina. Só uma coisa lhes era exigida: dentro daquelas paredes só deveriam falar em russo. Para manter os laços com seu povo distante, suas origens e tradições.

Nos fins de semana, era uma festa: os pais vinham visitá-los e o mosteiro ficava lotado. As famílias dormiam numa casa - que hoje não existe mais - no pé do morro, e passavam os dois dias com os meninos. Nas datas tradicionais, como a Páscoa, a colônia russa de Santos e os parentes dos internos se reuniam no mosteiro para assistir à missa da meia-noite. Depois, conforme tradição ortodoxa, ceavam juntos e ficavam batendo papo e dançando até o dia amanhecer.

No último dia de cada ano, outra festa para os meninos: iam para Itanhaém (SP), onde a colônia se reunia no Seminário do Ipiranga e, junto com moças russas e suas famílias, cantavam e dançavam vestidos com trajes típicos.

Mosteiro de São Bento em 2001

Foto: Carlos Pimentel Mendes

Isso tudo durou dez anos. Com o tombamento do mosteiro e a criação do Museu de Arte Sacra, o São Wladmir teve que mudar-se para São Paulo. Os internos já eram poucos, menos de 20, e a maioria voltaria para suas casas, pois o São Wladmir deixava de ser pensionato para transformar-se em Centro de Apostolado.

Foi um tempo diferente para o mosteiro, povoado de vozes juvenis, cânticos exóticos, correrias de meninos, um ritmo de festa e de alegria...

Extraído da publicação Comunidade é onde nos sentimos bem, livrete especial da Mobil Oil do Brasil em comemoração ao 25º aniversário de sua Usina de Lubrificantes em Santos, 1982. Textos de Sônia Mateu L. de Abreu, foto preto-e-branco de Sérgio Eluf, foto colorida de Carlos Pimentel Mendes.

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