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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Chaguinhas, o Tiradentes santista (2)

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No dia 27 de julho de 1821, irrompeu em Santos a revolta nativista chefiada pelo soldado Francisco das Chagas, mais conhecido por Chaguinhas, como lembra o falecido escritor Olao Rodrigues, em sua Cartilha da História de Santos (edição do autor, Santos, 1980):


Quartel em Santos onde eclodiu a revolta de Francisco das Chagas. Este prédio existia na Rua Visconde do Rio Branco e aqui é visto em foto de 1865 de Militão Augusto de Azevedo.
(albúmen com 11,0 x 17,3 cm – Acervo Museu Paulista)
Imagem reproduzida no livro Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo, de Gino Caldatto Barbosa (org.), Magma Editora Cultural, São Paulo/SP, 2004

"Foram os soldados ao movimento por não receberem soldo. Dominado o golpe, Chaguinhas assumiu plena responsabilidade, sendo julgado e condenado à forca em São Paulo. O Tiradentes santista mostrou-se altivo e sobranceiro durante a apuração dos fatos que deram movimento à Revolta, eclodida um ano antes da Independência, punidos também outros cabeças. O intrépido soldado santista teria sido enforcado na capital paulista em 20 de setembro de 1821, ou nos primeiros dias de 1822, segundo Costa e Silva Sobrinho (N.E.: historiador de Santos).

"Houve três tentativas, em que a corda se partiu, sendo usada uma outra, pedida a um tropeiro que passava pelas imediações, dizendo-se que o executado não fora o Chaguinhas, mas um indivíduo qualquer, pois houvera manifestação de piedade ou compreensão por parte da autoridade máxima, incumbida da execução, o grande santista Martim Francisco (N.E.: irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva). Houve também cinco enforcamentos em Santos, de outros cabeças do motim, entre os quais o soldado santista José Joaquim Lontra".

Cordas partidas - O ato ocorreu no local chamado Campo da Forca, "onde hoje fica, como estranha ou proposital ironia, a Praça da Liberdade", como recordou o historiador Francisco Martins dos Santos. Ele apresentou mais detalhes, em sua História de Santos:

"Uma circunstância, porém, revelou à posteridade, avisada e percuciente, a verdade da conspiração andradina. no momento em que, afastada a banqueta fatal, o corpo do Chaguinhas devia balouçar-se no espaço, rompeu-se a corda executória, lembrando ao povo como uma estranha e sobrenatural advertência, a injustiça do ato que se estava praticando, enquanto o clamor popular alava-se ao espaço em favor do perdão.

"Havia, desde tempos imemoriais, a praxe, velha lei humana, que em tais circunstâncias absolvia o condenado, mas o Governo Provisório mostrava-se surdo ao apelo da multidão.

"Romperam-se ainda mais duas cordas nas novas tentativas de execução, e o reclamo popular recrudescendo sempre em favor do soldado santista. Por fim, já às primeiras trevas da noite, um laço de tropeiro, que passava, deu solução à quarta tentativa efetuada, mas, aí, matando outro criminoso e não mais a Francisco das Chagas como ficou na suposição geral.

"Martim Francisco, com astúcia de brasileiro e combinado com outros patriotas do Governo, fornecera as cordas executórias de antemão seccionadas, o suficiente para que se partissem com o peso do corpo de Francisco das Chagas, realizando colateralmente a farsa da irredutibilidade governamental aos apelos do povo, para que se acreditasse, ainda mais, na verdade da execução e na coincidência do rompimento das cordas, tidas como em mau estado e substituídas com largos intervalos que visavam porém, e unicamente, contemporizar o espetáculo, deixando cair a noite em cujas dobras devia consumar-se a mistificação.

"Quando, pois, vieram as primeiras trevas, suficientes para esconderem aos olhos em geral os traços fisionômicos do condenado, foi trazido, sob o providencial disfarce da alva comum, outro homem para o instrumento da Justiça, que assim executou uma vítima, não porém a Francisco das Chagas que seguiu para Cuiabá, rumo ao pré-combinado esquecimento".

O autor da História de Santos cita como fontes J. J. Ribeiro, em Chronologia Paulista, 1º volume, página 692; Antônio Toledo Piza, em Chronicas dos tempos Coloniais, e o depoimento do Sr. Nuto Sant'Anna, acompanhado de uns documentos, publicado pelo O Estado de São Paulo, número de 30/7/1935, que "apesar de pretender negar estes fatos, só serviu para reforçá-los".

Francisco Martins dos Santos também se baseou no depoimento de seu tio, nascido em 1823 e citado pelo Sr. Nuto Sant'ana como feito ao velho Antônio Toledo Piza: "é a melhor confirmação às nossas afirmativas, porque se funda no que lhe teria transmitido seu pai o Comendador Antônio Martins dos Santos, companheiro dos Andradas e um dos elementos trabalhadores da Independência em Santos e S. Paulo".

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