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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/03/01 22:44:56
Diário de Bordo (Recife-Manaus no navio Bianca) [5]
Do Capibaribe ao Amazonas

Um falso pedido de socorro

Carlos Pimentel Mendes (*)

Outro procedimento que perdeu importância com o advento do satélite de navegação é o uso do sextante, que entretanto é bastante incentivado no meio marítimo. O primeiro oficial de náutica Francisco Carlos Lopes lembra que esse instrumento é entretanto usado por questões de treino de segurança, pois torna-se valioso no caso de pane em outros sistemas de orientação.

Francisco Lopes manipula o sextante. O equipamento à sua direita é uma bússola, usada para orientar manobras do navio
Histórias dos pescadores - Ainda em relação aos aspectos de segurança da navegação, ele se mostra preocupado com a posição inclinada das janelas frontais de certas embarcações pesqueiras, que refletem o sol de forma que pode dar a impressão do envio, com espelhos, do pedido de socorro SOS (...---...). Isso precisaria ser mais fiscalizado pelas capitanias, o que não ocorre por falta de condições e até por dsconhecimento desse detalhe por pessoas da Marinha.

E um outro problema para a navegação é o atrevimento de certos pilotos de barcos de pesca, que insistem em atravessar de forma perigosa pela proa dos navios, em rota de colisão, obrigando grandes navios a navegarem em ziguezague. Também é comum o navio arrastar durante sua passagem redes de epsca, cabos e bandeirolas indicativas das gaiolas de pesca espalhadas em alto-mar pelos pescadores de lagostas. Tais artefatos normalmente só são percebidos quando não dá mais tempo de desviar e, nesse caso, azar dos pescadores...

Falando em pescadores, os marinheiros comentam que, além da lagosta e do camarão - fonte de recursos para os naturais da região - é comum a presença de peixes-voadores, logo seguidos pelos golfinhos. De fato, vários deles puderam ser avistados durante a travessia.
O sextante
Antigamente, as amuradas do convés eram vazadas, formadas por canos de ferro, e à noite, com as luzes acesas, os peixes-voadores apareciam em quantidade no convés, atraídos pela luz. Era um prato muito saboroso, que acabou quando as amuradas passaram a ser feitas com chapas inteiriças...

Não há possibilidade de pescar com o navio em movimento, e como é difícil ocorrer uma pane que obrigue à parada dos motores, os frustrados marinheiros-pescadores têm de se contentar apenas com a visão dos peixes e golfinhos pulando na água ao redor do navio. Para compensar, além das aves pescadoras e dos periódicos tubarões ("se alguém cair na água e houver tubarões perto, melhor ficar quieto para não atrair a atenção deles..."), pode também ser avistada alguma baleia esguichando seu famoso jato, com o filhote ao lado.

À noite, com um pouco de sorte, pode-se observar o fenômeno da ardentia, uma fosforecência do mar: são microorganismos à base de fósforo, brilhando na água, em noites sem luar...

(*) O editor de Novo Milênio fez esta viagem quando atuava como jornalista responsável pelo caderno semanal Marinha Mercante, publicado com o jornal O Estado de São Paulo. Esta matéria foi escrita a bordo do navio e publicada em 28 de agosto de 1990.