Clique aqui para voltar à página inicialESPECIAL: Revolução de 1932
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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/13/06 14:58:35

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A revolução, 22 anos depois

Em edição especial comemorativa, o jornal santista A Tribuna registrou, em 9 de julho de 1954 (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda):


Reprodução parcial da matéria original

UMA DAS PÁGINAS IMORTAIS DA HISTÓRIA PAULISTA
São Paulo no ano do seu quarto centenário comemora a epopéia constitucionalista de 32

Retrospecto do que foram os 82 dias de luta pela restauração do Império da Lei, desde o primeiro momento em que São Paulo se levantou "coeso por um Brasil forte e livre" - Os manifestos e a ação militar e patriótica "Pela imediata reconstitucionalização do país"

A história encarregou-se de comprovar que a evolução humana se processa em função das leis. Desde o estado religioso, onde as leis evangélicas normalizam as condutas, até o estado moderno, onde a lei elaborada é o reflexo do grau evolutivo de cada nação, os dogmas, os costumes, as normas jurídicas, os direitos sociais vêm constituindo as grandes fases da civilização. Substituem-se regimes políticos, revezam-se sistemas econômicos, superam-se as experiências, trocam-se os governos, mas não é possível mudar a forma de estruturá-los, de aplicá-los ou de aboli-los.

É justamente sob este aspecto que a revolução paulista cristalizou-se como um grande símbolo nas conquistas da história. Povo ainda sem suficiente amadurecimento para compreender as verdadeiras causas de suas comoções internas, o brasileiro não viu, na revolução de 1930, a medíocre agitação de políticos que apenas disputavam o poder sobre um caos econômico, cujas origens eram bem diversas da simples posição de homens ou situação de partidos políticos.

Entretanto, em 1932, o paulista viu que alguma coisa de absurdo estava sendo feita: uma ditadura sem lei. O povo se levantou. Pouco importa se políticos acalentassem ambições para usufruir vantagens do heroísmo popular. Nada pode existir sem lei. Em nossa época, como afirma Georges Ripert, as leis são tratados de paz entre forças diversas, mas tratados continuamente examinados e revistos.

O paulista sentiu essa verdade. A revolução, no ideal do povo, não tinha um objetivo político ou um rumo econômico. Era revolução pelo direito que não fora concedido e devia ser conquistado! E foi tamanho o entusiasmo popular reunindo homens, mulheres e crianças, que a revolução não esteve longe de ser uma epopéia, porque toda a gesta é escrita pelos povos que marcham cantando para morrer em conquista de glória. Tem havido guerras civis. São Paulo fez uma guerra cívica. A grandeza de 9 de Julho reside nisto, porque o tempo há de corroer a mesquinhez dos interesses políticos para que o símbolo resulte puro e enorme. Símbolo feito de sangue e de sol, para a invocação da liberdade e da lei!

***

Baseados unicamente no noticiário da época, evocando o espírito paulista de 1932, publicamos, resumidamente, os principais acontecimentos durante os oitenta e dois dias de luta pela Lei:

9 de julho - Nas primeiras horas da noite, um grupo de homens armados aproxima-se do Q.G. da 2ª Região, para assaltá-la. A guarda não oferece resistência e confraterniza-se com a tropa assaltante. O general Euclides Figueiredo assume o comando da 2ª R.M. O cel. Marcondes Salgado, comandante da Força Policial de São Paulo, une seus homens às tropas federais daquela região militar. Estão formadas as forças revolucionárias. É enviado um ultimatum ao governo: renunciar ou ser deposto!

10 de julho - O general Isidoro Dias Lopes dirige um manifesto ao povo paulista - Pedro de Toledo renuncia ao cargo de interventor e é aclamado governador de São Paulo. - O 6º Regimento de Cavalaria de Santos adere ao movimento constitucionalista. - Mato Grosso, Minas, Paraná, Santa Catarina hipotecam solidariedade aos revolucionários.

11 de julho - A Tribuna entra em circulação, com a seguinte manchete: "São Paulo, numa demonstração de vibrante civismo, levanta-se coeso por um Brasil forte e livre".

12 de julho - A ditadura proíbe as navegações para todos os portos do Estado paulista. - Forma-se em Santos a Milícia Civil. - Chega a São Paulo o general Klinger, comandante da R. M. de Mato Grosso.

13 de julho - As mulheres paulistas se congregam para apoiar a luta pela lei. Trezentas senhoras reúnem-se na Cruz Vermelha e oferecem-se para trabalhar no campo da luta. - Tropas mineiras e paranaenses rumam para São Paulo e aderem à revolução.

14 de julho - A primeira luta é travada, em Cunha, entre forças civis e fuzileiros navais vindos de Parati. - Santos Dumont lança um apelo em favor da constitucionalização do país.

15 de julho - O general Isidoro Lopes percorre as zonas de operações. - Há intensa animação e entusiasmo. - Todos dispostos a morrer pela lei e pela liberdade. - Momentos iniciais da grande epopéia.

16 de julho - A condessa Álvares Penteado faz um donativo de dois mil contos à revolução. - São organizados em Santos os batalhões dos reservistas, dos operários e a "Legião Negra".

17 de julho - No Rio Grande do Sul o P. L. rompe com o interventor e iniciam-se fortes agitações políticas. - Ibrahim Nobre fala ao povo de Santos, pelo microfone da Rádio Clube. - O Exército Constitucionalista já conta com cem mil homens e avança em direção de Pinhal, Bragança, Piquete e Itajubá.

18 de julho - Trezentos rapazes santistas seguem para São Paulo. - O exército paulista avança nas frentes fluminense, mineira e paranaense. - Chegam notícias de que a Marinha não hostilizará a revolução constitucionalista.

19 de julho - Destróiers enviados pela ditadura nada atentaram contra o porto de Santos. Parecem confirmadas as notícias sobre a decisão da Armada. - Chegam a São Paulo as tropas do 11º B. C. de Mato Grosso.

20 de julho - No Rio de Janeiro, as tropas ditatoriais são vaiadas na rua. Há enérgica intervenção da polícia governista, chefiada por João Alberto.

21 de julho - Entram em circulação os bônus pró-constituinte. - A ditadura inicia a propaganda, em todo o território nacional, dizendo que se trata de uma revolução comunista e que São Paulo se encontra em poder de estrangeiros, principalmente comunistas italianos.

22 de julho - Tropas paulistas tomam Itajubá. - Os estudantes do Rio realizam um comício e são espancados pela polícia. - Isidoro Dias Lopes visita Santos.

23 de julho - Morre em Santo Amaro, no campo de treinamento, vítima de uma explosão de morteiros, o coronel Júlio Marcondes Salgado. - Herculano de Carvalho assume o comando da Força Pública. - Morre, no Guarujá, o inventor Santos Dumont.

24 de julho - Debandam as tropas ditatoriais em Cunha e no Túnel da Mantiqueira. - Estudantes paranaenses chegam a São Paulo, viajando a pé. - Realiza-se em Santos uma gigantesca passeata cívica. - O sr. João Neves da Fontoura chega a São Paulo, prometendo a solidariedade do Rio Grande do Sul.

25 de julho - Trezentos soldados governistas passam para as forças revolucionárias. - Há uma forte esperança de que a revolução estará vitoriosa dentro de poucos dias.

26 de julho - Chegam notícias de que o 12º R. I. de Belo Horizonte havia aderido à revolução. - Reina, em Minas, entusiasmo a favor da causa esposada por São Paulo.

27 de julho - Tornam-se sangrentas as batalhas do Túnel da Mantiqueira, local em que, mais tarde, seria consagrado o heroísmo do soldado revolucionário.

28 de julho - Repetem-se, com freqüência, terríveis combates na serra da Bocaina. - Aviões da ditadura voam sobre Santos, sem provocar alarme na população. Tentam bombardear, sem sucesso, os centros fabris do Cubatão. - O major Lísias Rodrigues assume o comando das Forças Aéreas de São Paulo.

29 de julho - Não se realiza a anunciada adesão do Paraná. - Tropas paulistas se empenham em duros combates nas fronteiras paranaenses.

30 de julho - Em todas as frentes a situação é favorável aos soldados da lei. - Recuam as tropas ditatoriais. - Santos envia mais um contingente de tropas, formado de reservistas do Tiro Naval, Falange Acadêmica, Batalhão de Reserva e Voluntários.

31 de julho - Anuncia-se um comício monstro no Rio. João Alberto ameaça metralhar a população.

Cel. Palimércio de Rezende, um dos chefes militares de 32

Gal. Euclides de Figueiredo, um dos dirigentes da Revolução, comandante do Setor Norte

Fotos publicadas com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)

1 de agosto - A ditadura recua em Itararé e ataca violentamente em Cunha. - O comandante do couraçado São Paulo recusa-se a transportar tropas ditatoriais. - Força e violência são empregadas contra as manifestações populares no Rio.

2 de agosto - Estudantes cariocas protestam contra a atitude de João Alberto. - Apenas São Paulo e Mato Grosso continuam pegando em armas.

3 de agosto - Klinger e Isidoro dirigem novo ultimatum à ditadura. - Há tréguas em todas as frentes de batalha.

4 de agosto - Reiniciam-se as lutas. - São Paulo trabalha intensamente pela revolução. - Todas as indústrias restringem-se à fabricação de materiais de guerra.

5 de agosto - A Cruz Vermelha de Santos segue para a linha de frente. - Inicia-se, em nossa cidade, a subscrição para a campanha do "Capacete de Aço".

6 de agosto - Batem em retirada as tropas governistas do Sul. - Os paulistas são recebidos em triunfo nas cidades do Norte do Paraná. - Começam a chegar as primeiras notícias das façanhas do trem blindado.

7 de agosto - Dia calmo nas frentes de batalha. - Pedro de Toledo dirige a palavra ao povo. - Há grande confiança e ardor no ânimo paulista.

8 de agosto - Realiza-se no Rio de Janeiro a "Parada do Silêncio". - Milhares de pessoas desfilaram pela Av. Rio Branco, em protesto mudo contra a ditadura.

9 de agosto - É lançada a campanha do "Ouro para a vitória". - O general Klinger fala ao povo de São Paulo. - Cresce, com intensidade espantosa, a campanha do Capacete de Aço.

10 de agosto - O sr. Artur Bernardes, de Minas, manifesta-se a favor da revolução. - O general Isidoro Dias Lopes fala à imprensa e afirma que, após a vitória, a primeira providência será o voto secreto.

11 de agosto - É inteiramente mobilizado o parque industrial paulista. - No Túnel, a luta torna-se cada vez mais sangrenta. - Chegam reforços ditatoriais.

12 de agosto - Os constitucionalistas conseguem repelir violentos ataques dos ditatoriais, mas sofrem grandes baixas em Queluz. - De Santos para São Paulo, segue a 1ª Companhia do Batalhão Operário.

13 de agosto - Na fazenda "Pedro Morais", os soldados santistas travam violento combate com as forças do Catete. - Esportistas de Santos entregam a São Paulo suas medalhas de ouro. - No Ceará a imprensa afirma: "São Paulo é um braseiro de civismo".

14 de agosto - Os constitucionalistas atacam em todas as frentes. - No Rio há novo choque entre polícia e estudantes. - Entra em experiência o primeiro material bélico fabricado em São Paulo.

15 de agosto - Presos 39 soldados da polícia de Pernambuco, declararam, em São Paulo, estar convencidos de que combatiam comunistas e estrangeiros. - É impressionante a dedicação da mulher paulista na retaguarda. Estão incansavelmente em todas as partes: oficinas de costura, nas indústrias e nos hospitais.

16 de agosto - Góes Monteiro, comandante-em-chefe das tropas da ditadura, telegrafa a Klinger condenando a revolução constitucionalista. - Aumenta o entusiasmo dos paulistas - Cresce a campanha do ouro - O Clube Internacional de Regatas de Santos oferece, ao governo do Estado, todo o seu arquivo de medalhas.

17 de agosto - As tropas do Catete atacam violentamente os setores de Cunha e Queluz. É comovente o heroísmo com que os paulistas defendem suas posições. - Na zona do Porto de Taboado é destroçado um batalhão ditatorial.

18 de agosto - Em Silveiras, o Batalhão da Reserva Naval de Santos resiste a um violentíssimo bombardeio da artilharia do Catete. - São abatidas as primeiras forças goianas que marcharam contra Mato Grosso. - O Clube Saldanha da Gama, de Santos, oferece todas as suas medalhas à campanha do Ouro para a Vitória.

19 de agosto - É grande o entusiasmo em todas as linhas onde se encontram os soldados que se batem pela lei. - Artur Bernardes se esforça para levantar o movimento constitucionalista em Minas. - Há pânico no Rio. - Inicia-se em São Paulo o que viria a ser o aspecto mais comovente da revolução: os batalhões infantis.

20 de agosto - Revolta-se a guarnição do forte de Óbidos, no Pará. - O cap. Otelo Franco, do estado maior das forças ditatoriais, adere à luta pela lei. - Cunha e Queimada são violentamente atacadas pela Ditadura.

21 de agosto - Há encarniçados combates na frente fluminense. Os rapazes paulistas e mato-grossenses combatem com heroísmo inédito. Em São Paulo, mulheres e crianças trabalham, dia e noite, na confecção de capacetes de aço.

22 de agosto - É realizado, no Rio, novo comício pró-constituição. A polícia encarrega-se de desfazê-lo com o emprego de gás lacrimogêneo. - Chegam notícias de que haverá levante na capital federal, mas apenas São Paulo e Mato Grosso continuam pegando em armas.

23 de agosto - Sangrentos combates em Cunha. - Há equilíbrio de posições. - A campanha do Capacete de Aço atinge a 1.187:676$500, equivalentes a 79.179 capacetes. - Inicia-se a mobilização agrícola. Em Santos, a população assiste ao comovente desfile de batalhões infantis angariando donativos para os soldados da lei.

24 de agosto - Em Rifaina, soldados mineiros aderem ao Exército constitucionalista, levando todo o material de que dispunham - A ditadura ataca forte nas regiões sulinas de Fundão, Guapiara e Capão Bonito.

25 de agosto - No Rio generaliza-se o uso da gravata preta, o que queria dizer: "Estou com São Paulo". - Não há levante.

26 de agosto - As tropas ditatoriais avançam em direção de São José do Rio Pardo e Mococa. - Em Cunha, os constitucionalistas destroem os novos contingentes de tropas da ditadura. - O Catete lança "bônus" para financiar sua defesa.

27 de agosto - Grande vitória paulista em Cunha. - Em Eleutério e Itapira as forças ditatoriais pressionam violentamente.

28 de agosto - A aviação paulista castiga rudemente as tropas de Getúlio. Chegam a atacar o Q. G. de Góis Monteiro. - Os batalhões infantis continuam desfilando pelas ruas: a população assiste de lágrimas nos olhos.

29 de agosto - A campanha do ouro para a vitória é reconhecida de utilidade pública. - Em Coxim, em Mato Grosso, os constitucionalistas avançam. - São Paulo suporta ataques fortíssimos em Mococa e Caconde.

30 de agosto - A ditadura aumenta seus ataques no setor Oeste. - Itapira é objeto de constantes e sangrentas investidas. - A valentia dos constitucionalistas é uma página épica. - O governo paulista adota o Brasão de Armas de São Paulo.

31 de agosto - Os chefes militares constitucionalistas começam a inquietar-se, pois as tropas revolucionárias entram em defensiva. - Em todas as frentes recrudescem-se os ataques da ditadura. - Entretanto chegam notícias de que rebentou um levante constitucionalista no Rio Grande do Sul. - Não se realiza o movimento promovido em Minas Gerais.

1 de setembro - As forças de São Paulo conseguem avançar em Itapira. - Há duras batalhas na zona do Fundão, onde os paulistas sofrem terríveis baixas. - A campanha do capacete de aço atinge a 1.430:210$000.

2 de setembro - Novas notícias chegam do Rio Grande do Sul, afirmando que lá se processa o levante contra a ditadura. - As tropas paulistas continuam combatendo com maravilhoso entusiasmo.

3 de setembro - De Minas nada mais se diz. - Apenas alguns boatos sobre inquietações em Juiz de Fora. - Do Rio Grande do Sul continuam chegando notícias de que os gaúchos se levantaram sob o comando de Raul Pila, Borges de Medeiros, Batista Luzardo e Lindolfo Color.

4 de setembro - Em São José do Rio Pardo, as forças do Catete atacam violentamente. - Os paulistas se percebem inferiores em número e em armas. E não recuam. São superiores em ideal.

5 de setembro - Minas se manifesta mais uma vez. Estudantes mineiros solidarizam-se com seus colegas de São Paulo. - Enquanto isto, em Santos, o forte de Itaipu é bombardeado.

6 de setembro - Novas notícias chegam a São Paulo, afirmando que o movimento constitucionalista toma vulto no Pará.

7 de setembro - Nas trincheiras festeja-se o Dia da Independência. Em Silveiras aviões do Catete cometem um crime bárbaro, metralhando mulheres e crianças nas praças, nas ruas e nos quintais.

8 de setembro - A ditadura avança em Mogi-Mirim. Há combates encarniçados. - Em Casa Branca os paulistas resistem, num esforço sobre-humano, às investidas incessantes das tropas do Catete. - Em Cunha e em Buri, há combates encarniçados.

9 de setembro - O dr. Pedro de Toledo e o general Klinger falam ao povo através da Rádio Record. Palavras de confiança, esperança e fé na causa esposada por São Paulo.- No túnel da Mantiqueira, Sampaio, com 2 mil homens, resiste a uma tropa de sete mil homens comandados por Eurico Dutra.

10 de setembro - Em Amparo, as forças do Catete são violentamente atacadas. Num só combate, os paulistas fizeram 400 prisioneiros. - Em Batedor, travou-se um combate a arma branca que durou a noite inteira.

11 de setembro - Os paulistas retomam São João da Boa Vista. - Os ditatoriais perdem Porto Murtinho, em Mato Grosso. - Chegam notícias sobre o movimento no R. G. do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais. - Mas apenas São Paulo e Mato Groso continuam lutando.

12 de setembro - Num esforço acima das possibilidades militares, os paulistas retomam Cascavel e Mococa. - Em todas as frentes a ditadura pressiona com violentos ataques.

13 de setembro - As tropas do Catete atacam, cerradamente, toda a zona da Mogiana. - Recuam os soldados paulistas. - Notícias de Minas afirmam que Artur Bernardes prepara tropas para atacar o Rio.

14 de setembro - Há um fortíssimo contra-ataque dos constitucionalistas na Zona da Mogiana. - Os ditatoriais retiram-se para Minas, nas cidades de Guaxupé, Arceburgo e Guaranésia. - Realiza-se uma trégua inexplicável no Vale do Paraíba.

15 de setembro - A ditadura bombardeia Jundiaí e Campinas para causar pânico à população civil. - Suspeita-se que alguns oficiais da Força Pública de São Paulo, sob o comando de Herculano de Carvalho, mantêm ligações com o general Góis Monteiro.

16 de setembro - Em Capão Bonito dá-se o combate mais renhido do dia. - Tropas paulistas conseguem infiltrar-se nas fronteiras de Minas.

17 de setembro - Chegam notícias de que, no Rio Grande do Sul, o general Zeca Neto entrou em luta com as tropas da ditadura. - São Paulo continua a ser "um braseiro de civismo". Homens, mulheres e crianças, incansáveis.

18 de setembro - Campinas é rudemente bombardeada. Os paulistas avançam em Amparo. - A ditadura ataca na zona fluminense. O Túnel da Mantiqueira resiste e ninguém passa.

19 de setembro - Em Piquete, os ditatoriais pressionam violentamente. - Escasseiam as munições dos constitucionalistas. - O governador Pedro de Toledo torna a dizer às tropas: "Sustentai o fogo, que a vitória é nossa!"

20 de setembro - A ditadura reforça suas tropas nas fronteiras de Minas. - Em Amparo, já quase sem munições, os paulistas empregam artimanhas militares e conseguem deter o avanço dos ditatoriais.

21 de setembro - Causa repulsa no Brasil inteiro o fato de que aviões da ditadura bombardeiam cidades abertas, sem objetivo militar, sacrificando mulheres e crianças. - Herculano de Carvalho, em completo segredo, ultima os entendimentos com o Q. G. de Góis Monteiro.

22 de setembro - A ditadura bombardeia Campinas, Casa Branca e Limeira. Aviadores paulistas, revoltados, atacam o campo de pouso dos aviões ditatoriais, destruindo os aparelhos que bombardearam Campinas.

23 de setembro - Guaratinguetá é rudemente bombardeada pela ditadura. Não há notícias dos movimentos constitucionalistas nos outros Estados. - Apenas São Paulo continua se batendo pela lei.

24 de setembro - A ditadura avança em Amparo. É impressionante a bravura dos defensores da lei: morrem e não recuam. - Nada mais se diz do Rio Grande do Sul.

25 de setembro - Tropas paulistas, numa dedicação suprema, conseguem deter o avanço dos ditatoriais em Amparo. - Enquanto isto, o comandante Herculano de Carvalho conclui as negociações com Góis Monteiro.

26 de setembro - Reina em Campinas o temor de que os ditatoriais possam invadir a cidade, pois sabe-se que os contingentes da Força Pública deixaram de combater por ordem de seu superior.

27 de setembro - Todas as forças paulistas estão com o mesmo entusiasmo inicial. Apenas a Força Pública se retraiu inexplicavelmente.

28 de setembro - Herculano de Carvalho finalmente revela suas negociações com Góis Monteiro. - Cessa-se a luta. - Negocia-se o armistício. - Falam em paz digna para São Paulo e Klinger assina um documento que é mais uma escritura de escravo do que um trato entre forças militares. Falou-se em continuação da luta. Era tarde. A lei estava enterrada nas trincheiras, com a única esperança de florescer mais tarde, porque fora regada com sangue.

Embaixador Pedro de Toledo

General Bertoldo Klinger

Fotos publicadas com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)

Os chefes da Revolução Constitucionalista foram vários, em diversos setores. Encarnou, contudo, o poder civil, expressão que foi da fórmula "civil e paulista" para o governo de S. Paulo, o embaixador Pedro de Toledo. Mais do que o chefe de um governo exigido por S. Paulo, o embaixador Pedro de Toledo, na sua provecta idade, manteve em sua mais alta definição e irredutibilidade de um comando, o de um povo em revolta pela restauração do domínio da Lei.

O general Bertoldo Klinger foi o chefe militar da revolução. Do Q.G. da Rua Cons. Crispiniano, em S. Paulo, desde os primeiros dias do movimento, o general Klinger colocou a ditadura em uma prova dura e longamente suportada: era "a espada em continência à lei".

O comandante Júlio Marcondes Salgado, figura varonil de soldado, chefe da Força Pública, foi a mais destacada das vítimas do movimento constitucionalista, como militar. Sua fé, seu entusiasmo, a irradiação de uma personalidade talhada para o comando, faziam daquele que São Paulo tornou um general, depois da morte, uma das figuras mais fascinantes do movimento.


Cel. Júlio Marcondes Salgado
Foto publicada com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)

A Revolução Constitucionalista

Insere-se a revolução paulista de 1932, como sua principal designação o indica, numa tomada de consciência de ordem jurídica, embora basicamente política a sua resultante.

Interpretemos o acontecimento nas suas seqüências originais: a República se fundara na organização político-constitucional que teve em Rui Barbosa seu grande codificador. A obra de 1891 deixara uma data em que era comemorada a Constituição, o 24 de fevereiro. A revolução de 1930 encarna o liberalismo na sua essência, mas fez emergirem forças ocultas que, em consonância com a montante internacional dos totalitarismos, iam aproveitar a situação criada com a suspensão das garantias que um governo provisório assumia, revolucionariamente.

A uma certa altura dos acontecimentos, pode-se vislumbrar a separação das águas: os delegados do governo provisório passavam a interventores. A permanência no poder era a sua meta.

O processo histórico que gerou a Aliança Liberal não estava encerrado. Os germes da liberdade prosseguiam trabalhando, subterraneamente, e mais uma vez verificava-se que tal estado de coisas não estava nos sonhos dos cidadãos capacitados para julgar os fatos políticos, como a primeira República a muitos, também, desiludira, fazendo-os confessar que essa não era a República dos seus sonhos.

Então, no desenvolvimento da revolta criada pela permanência do que caberia apenas constituir-se uma transitória passagem, devia ser São Paulo, onde a consciência jurídica e a expansão econômica determinavam diretrizes alertadoras da opinião nacional, que modelaria a expressão desse movimento libertador.

O processo histórico foi levado assim aos seus objetivos finais: malgrado as suas veleidades, a força de que dispusera, os intuitos deformados que emprestou à revolução, o governo provisório seria derrotado, curvando-se às contingências, adotando a reconstitucionalização do país, não obstante as aparências de poder mandar para o exílio os chefes e os participantes mais destacados do movimento. O sangue derramado fecundou a semente lançada nos oitenta e dois dias do movimento constitucionalista.

Este ano, entretanto, a capital paulista festeja o seu quarto centenário de fundação, e o movimento de 1932, ao ser comemorado na incidência dessas quatro centúrias decorridas, surge-nos como uma das páginas imorredouras, da fé e da força de ação da gente paulista. A finalidade nacional do movimento foi muito bem expressa na legenda que ficou em sua fulguração latina, afirmando que pelo Brasil tudo devia ser feito. O fato, que não transbordou das divisas paulistas, levava o mesmo impulso do sonho bandeirante de servir ao Brasil. E São Paulo viveu, grandiosamente, essa epopéia, levantou-se com a "espada a serviço da Lei" e palpitou com as suas esperanças, e lançou-se a caminho das trincheiras e sofreu o pó das derrotas e amargou o exílio, a separação, mas altaneiramente suportou todas as dificuldades. O resultado final fora obtido, para o Brasil, através dos sacrifícios paulistas.

Podemos afirmar hoje, transcorridos vinte e dois anos daquelas jornadas, que a revolução constitucionalista preservou o Brasil de cinco anos de escravidão política. Durante esses cinco anos, as forças antidemocráticas e contrárias à organização política baseada nas liberdade públicas, viram-se de novo encorajadas pela exemplificação dos totalitarismos. O Estado Novo de 1937 não teve, mesmo assim, coragem de estabelecer o seu domínio fora da pauta constitucionalizadora, embora esta completamente controvertida, desde a outorga à execução dos desígnios do despotismo, que se fez à margem da lei. Conservou-se a aparência da Constituição.

O exemplo de São Paulo, entretanto, foi e é um apelo permanente à eterna vigilância com que se paga a liberdade. E nesta data, que coincide, no ano do quarto centenário da cidade fundada por Nóbrega e Anchieta, motivos bastantes têm os paulistas e os brasileiros para olhar para trás e, fixando-se nos rumos traçados pela esteira marulhosa da Revolução Constitucionalista, acreditarem no futuro de uma pátria onde os germes da reação ditatorialista devem ser sempre combatidos pela vitalidade, cada vez mais amadurecida, de uma consciência íntima e pragmática do inestimável valor das liberdades públicas, que defendemos de armas nas mãos em 1932, e que colocaremos sempre acima de nossas vidas, como um bem jamais relegado a plano inferior, ideal dos que sonharam esta pátria sempre maior e mais rica, a integrar-se com a sua grandeza nos destinos mais altos da humanidade.


A bandeira paulista fez-se um símbolo
que arrastava os entusiasmos populares nas grandes jornadas de 1932
Foto publicada com a matéria (cor acrescentada por Novo Milênio)