Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cultura/cult050e.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/30/11 21:20:06
Clique na imagem para voltar à página principal
CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - P. MARCOS
Plínio Marcos (5)

Leva para a página anterior

Escritor "maldito", teatrólogo, Plínio Marcos nasceu em Santos em 29/9/1935 e morreu na capital paulista em 19/11/1999, um ano depois de receber o título de Cidadão Emérito da Câmara Municipal de Santos. Amigo de Patrícia Galvão, com quem trabalhou junto na peça Barrela, Plínio tem um marco de homenagem no Centro de Cultura de Santos, que aliás recebeu o nome daquela escritora e jornalista. Dez anos após seu falecimento, o semanário santista Jornal da Orla publicou, na edição de 14 e 15 de novembro de 2009, páginas 6 e 7:


Foto publicada nas edições impressa e eletrônica do Jornal da Orla, em 15/11/2009

15/11/2009 - Cultura
Uma década sem Plínio Marcos

Marco Santana

A aparência rude, tosca até, ocultava o brilhantismo daquele cara barbudo, com roupas amarrotadas e jeito desleixado. Como ninguém, era capaz de traduzir em palavras a realidade nua e crua das quebradas do mundaréu, onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos. Marujos, pistoleiras, trombadinhas, gogozeiros, morféticos... Estavam todos lá, nas crônicas e peças de teatro. E com —muito— estilo.

Plínio Marcos escrevia quando estava incomodado. Tanto que começava e só parava quando a obra estava completamente pronta. Eram páginas e páginas de uma tacada só.

Nascido em 29 de setembro de 1935, tentou ser jogador de futebol, mas não deu. Depois, durante cinco anos, trabalhou no circo —era o palhaço Frajola. Até que se descobriu no teatro. Na verdade, descoberto, por Patrícia Galvão, a Pagu. Foi ator, chegando até a estrelar em novelas da TV. Mas foi escrevendo que revelou todo seu tale
nto.

"Barrela" (1958), "Dois Perdidos Numa Noite Suja" (1966), "Navalha na Carne" (1967), "Quando as Máquinas Param" (1972) e "Querô" (1979), obras que são esmagadores socos no fígado da intolerância, hipocrisia e omissão da sociedade. Durante a ditadura militar, foi implacavelmente perseguido. Ele mesmo se divertia ao contar um encontro seu com um censor:

Plínio— Por que me censurou?

Censor— Porque suas peças são pornográficas e subversivas.

Plínio— Mas por que são pornográficas e subversivas?

Censor— São pornográficas porque têm palavrão. E são subversivas porque você sabe que não pode escrever com palavrão e escreve.

Tal perseguição fez com que merecesse, no sentido pleno da palavra, a condição de marginalizado. Suas obras não vendiam nas livrarias e, por isso, ele mesmo as oferecia nas portas de teatro e em bares e restaurantes. "Compre que eu prometo morrer logo para valorizar", divertia-se. Nos últimos anos de vida, passou a se dedicar também à leitura de cartas de Tarô.

Em 1998, acabou enfiado em mais uma polêmica, quando o diretor Marco Antônio Rodrigues tentou montar a peça "O assassinato do anão do caralho grande" e foi impedido pelo prefeito da época, Beto Mansur, e a secretária de Cultura, Wilma Therezinha. Defendeu-se nas páginas deste Jornal da Orla. Meses depois, ofereceu-se para ser colunista do jornal. "Quero falar para a minha cidade e sei que no Jornal da Orla vou ter total liberdade", argumentou.

E escreveu, durante dez meses. Exibia em sua "Janela Santista" personagens divertidos e malditos, situações inusitadas, cruéis e cômicas. Produziu até quando a saúde permitiu. No começo de novembro de 1999, sofre dois derrames e foi parar na UTI do Instituto do Coração. Só saiu de lá morto. Faleceu no dia 19. Seu corpo  foi cremado e as cinzas lançadas ao mar na Ponta da Praia, em uma emocionante homenagem.

Mas podes crer que sua alma ainda está por aí, perambulando pelos corredores do Copam ou as ruas do Macuco, sentado na arquibancada vendo seu Jabuca jogar, à mesa predileta no Gigheto ou vendo os peladeiros disputando bola na Ponta da Praia.


Reprodução parcial da capa do Jornal da Orla de 14 e 15 de novembro de 2009

Este texto foi originalmente publicado na edição de 21/11/1999, do Jornal da Orla, que o republicou em 19/11/2009:

19/11/2009
Janela Santista - Plínio Marcos

Valeu, Plínio!

Morreu às 16h da sexta-feira, dia 19, no lncor, em São Paulo, aos 64 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos, o dramaturgo santista Plínio Marcos. Considerado um dos maiores nomes na história da dramaturgia brasileira, Plínio teve um enfarte e sofreu dois derrames nos últimos meses.

Desde 23 de outubro, após apresentar urna crise convulsiva, ele encontrava-se sob tratamento intensivo na Unidade Clínica de Coronariopatia Aguda do hospital. O prefeito de Santos, Beto Mansur, decretou luto oficial, no sábado, dia 20, no município. Atualmente, Plínio Marcos - casado com a jornalista Vera Artaxo - escrevia a coluna Janela Santista para o Jornal da Orla, único jornal do país que vinha publicando seus artigos, além da revista "Caros Amigos". Ele, aliás, reclamava do pouco espaço que conseguia na mídia.

Considerado um autor "maldito", Plinio tinha acabado de lançar seu livro de contos O Truque dos Espelhos (Una Editora), tendo sido capa de revista Cult em outubro. Para o teatro, a primeira peça escrita pelo dramaturgo foi A Barrela, em 1958, que já lhe rendeu os primeiros problemas com a censura, "fantasma" que o acompanhou praticamente durante toda a sua carreira. "São 40 anos subvertendo e resistindo à prostituição intelectual a que muitos se submetem para conquistar o mercado", disse na entrevista à Cult, mantendo-se fiel ao seu estilo.

Dois Perdidos Numa Noite Suja e Navalha na Carne foram suas peças de maior êxito. O sucesso Plínio dizia ter conhecido apenas em sua participação como ator na novela Beto Rockfeller, nos anos 70.

Torcedor do Jabaquara, fanático por futebol, Plínio Marcos autoproclamava-se um "buscador da verdade". Além de dramaturgo foi estivador, funileiro, jogador de futebol e palhaço de circo. Não concluiu o primário, o que provocava urna outra autodenominação: "Sou um escritor analfabeto, o analfabeto mais premiado do Brasil". Sem nunca perder sua veia de provocador, ele não se considerava um revoltado. "Não tenho mágoa da vida. Sou um anarquista com urna obra para subverter a humanidade, transformando-a com o estímulo da independência e da autoconfiança", dizia.

Leva para a página seguinte da série