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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - Ribeiro Couto - BIBLIOTECA NM
Rui Ribeiro Couto (15-P)

Clique na imagem para ir ao índice desta obraUma das obras de Rui Ribeiro Couto é Histórias de Cidade Grande (Contos escolhidos), aqui transcrita em primeira edição digital, a partir do livro publicado em 1960 pela Editora Cultrix Ltda., da capital paulista, na série Contistas do Brasil. A obra faz parte do acervo de Rafael Moraes transferido à Secretaria Municipal de Cultura de Santos e cedida a Novo Milênio pelo secretário Raul Christiano para digitação/digitalização (ortografia atualizada nesta transcrição - páginas 169 a 179:

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Histórias de Cidade Grande

Ribeiro Couto

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O Egoísta

Participo-te o meu contrato de casamento.

Inácio esboçou um vago sorriso e falou com pena:

- Parabéns...

Aquele sorriso feriu-me. Os parabéns, na boca irônica de Inácio, esbatidos numa reticência, magoaram-me. O que o Rio fizera de Inácio!

Quase todas as noites, ali naquele bar, eu encontrava Inácio Gomes, médico, rico, inútil, diletante da ciência, diletante das mulheres, diletante da vida em geral. Sua companhia só me era agradável por um quarto de hora - o quarto de hora do chope, às onze e meia.

Nesse tempo eu estava namorando Carlotinha Novais. Tendo-a pedido agora, marcara o casamento para dezembro. Iríamos passar a lua de mel em Buenos Aires. Depois, provavelmente, daríamos um pulo aos Estados Unidos.l

- É idiota esse teu sorriso!

Então Inácio abriu a boca enorme numa gargalhada, achando ridícula a minha sensibilidade.

Dessa noite em diante evitei-o. No entanto, Inácio descobria-me e carregava-me para o bar. Divertia-se com o espetáculo do meu sincero amor.

Eu achava em Inácio Gomes o encanto das coisas detestadas. Ele encarnava aos meus olhos a mesquinharia dos falhados do sentimento. A sua fortuna nunca aproveitou a ninguém. Nem a sua inteligência. Nem a sua alma. Fazia viagens curtas à Europa com orçamentos minuciosos. (Sabia dos hotéis onde se pagava um franco de menos na diária.) Possuía livros ótimos nos quais ninguém punha as mãos. Separava, todos os meses, "uma verba de duzentos mil réis para o amor".

- Eu amo a preços módicos - acrescentava.

E, ainda por economia, morava com uns tios riquíssimos, dos quais esperava herdar.

Diante dele eu pensava, involuntariamente, em tantos homens que, não sendo ricos, nem tendo poder, movimentam as forças sociais, para o proveito de todos. Por exemplo, o criado que nos servia o chope. Estava destinado a ser um deles. Uma vez nos confiou que andava juntando dinheiro para montar uma padaria no Meyer. Quantas consequências, úteis a muitas pessoas, não adviriam disso!

Inácio, no entanto, era de um egoísmo atroz. E de uma avareza! Se eu precisasse de dez mil réis... Ora, não há a menor dúvida: o criado é que mos emprestaria. Aliás, eu é quem pagava o chope todas as noites.

É lógico: Inácio tinha horror ao casamento.

- Meu ideal é ser eternamente solteirão. É delicioso chegar à noite em casa, tomar um banho morno, vestir um pijama e ler os jornais, sozinho, quieto, numa larga cama, sem uma mulher que incomode, que faça queixas, que peça dinheiro para o dia seguinte.

Não lhe falassem do carinho de uma criatura constante. Ele se aborrecia com a perspectiva da constância...

Defendia ideias estúpidas e canalhas.

- A mulher, numa sociedade ideal, deve ter por função dar filhos ao Estado. O Estado manterá as mulheres fecundas. As que forem estéreis terão outra função. Função ainda mais importante!

Tenho lido e escutado muita coisa imbecil a respeito da mulher. É mesmo um dos assuntos prediletos dos chamados "homens de pensamento". A mulher é isto, a mulher é aquilo... Não sei se é porque não sou homem de pensamento, o caso é que nunca me ocorreu nenhum conceito genérico sobre ela. Diante de uma mulher eu sinto, sinto apenas não penso. E sinto simpatia, ou desejo, ou veneração, ou indiferença. Minha pobreza mental não me permite o voo luminoso das reflexões. Essa mediocridade, porém, me põe ao abrigo de filosofar, ou de propor sistemas sociais.

Creio, também, que é porque as mulheres têm tomado muito o meu tempo que ainda não me sobraram vagares para pensar nelas.

***

Não me casei em dezembro.

E o aparecimento de Sônia Marozoff, datilógrafa russa, foi um capítulo novo da minha existência de pequeno engenheiro.

Eu fora convidado para trabalhar numa estrada de ferro no sertão da Paraíba, e Carlotinha Novais, que é muito elegante, achara o sertão da Paraíba desagradável para a sua pessoa morar.

Aí surgiu Sônia Marozoff, bela e fatal. Exatamente como as russas de romance. Surgiu e absorveu-me.

Ao contrário de Carlotinha, Sônia sonhava com o sertão da Paraíba. Queria ir comigo. Tinha a avidez do desconhecido. Imaginava que veria tigres, leões e elefantes. E eu era obrigado a reduzir os seus sonhos às nacionais proporções de uma onça pintada.

Sônia Marozoff era deliciosa para um engenheiro no começo da carreira. Tinha a coragem do sertão.

Não era possível outra consequência: mandei uma carta a Carlotinha Novais, explicando as incompatibilidades presentes e irremovíveis das nossas pessoas: ela, tão carioca, tão adoravelmente elegante; eu, na iminência de desterrar-me num mato longínquo do Nordeste, homem do pesado...

Dias antes de embarcar encontrei Inácio.

- Participo-te que desmanchei o casamento.

Pensei que fosse abraçar-me por aquele ato que, na aparência, me incorporava derrotado às suas ideias.

Apenas sorriu com um leve desdém.

- Não importa. Você não escapará. Nasceu para o casamento.

Irritei-me, no íntimo. Como que ele adivinhava a ideia que começava a trabalhar-me no cérebro?

De fato, não posso compreender a vida de um homem sem a dedicação sistemática da mulher amada. Entretanto, ele dizia "para o casamento", como se a tendência honesta para a vida conjugal representasse uma inferioridade humilhante.

Inácio Gomes possuía-me. Parecia saber do meu segredo. Sim, eu estava tonto, ébrio de Sônia Marozoff. Não podia mais aceitar a existência sem ela. Daí ao casamento era um passo...

Nessa noite a linha que me separava de Inácio vincou-se mais. O homem que desvendou o mistério da nossa alma é nosso inimigo. Porque é um perigo... Não podemos iludi-lo. E não toleramos não poder iludir alguém.

Inácio contou à minha indiferença os seus novos projetos. Deixara a casa dos tios que, ultimamente, lhe censuravam as extravagâncias. Comprara um bangalô em Copacabana, pequeno e confortável. Instalara ali os seus livros, as suas poltronas de couro e uma velha alemã para o governo da casa. Estava, agora, perfeitamente à vontade. Como era agradável a vida!

***

Sônia Marozoff foi comigo para a Paraíba, desprezando as ultrajantes e descaradas propostas que lhe vinha fazendo, por carta, um sujeito que parecia ser o rico proprietário de um cinematógrafo.

Sônia tinha no sangue a aventura. E era honesta, ainda que tanta gente, da raça numerosa dos Inácio Gomes, não possa conceber a honestidade numa datilógrafa russa.

***

Não ficamos ricos como esperávamos. Apenas, após dois anos de construção de caminhos de ferro, sem caçadas de onça nem proezas, regressamos ao Rio, com Casimiro Nicolau nos braços, coradinho e gordo, alimentado pela teta eslava de Sônia, minha mulher.

Eu viera principalmente tentado pelo oferecimento de montar uma usina elétrica no Paraná. Acenavam-me com um contrato excelente.

De novo no Rio, verifiquei quanto estava mudado. Sim, eu nascera mesmo para o casamento. Não senti mais a tentação da vadiagem noturna...

Não obstante, uma noite deixei-me levar pelo desejo de uma meia hora de música e chope no velho bar do antigo hábito.

E Inácio Gomes ali estava, no mesmo lugar, com o mesmo jornal aberto diante dos olhos, com o mesmo chapéu e a mesma bengala atirados na mesma mesa.

Não demonstrou o mínimo espanto. Nem pelo meu bigode crescido ao sol do sertão. Como se me houvesse deixado na véspera.

Fez-me um aceno para que ocupasse a cadeira vazia a seu lado.

E sentei-me.

***

Aventura de um patifão. Inácio confessou com simplicidade, quase com candura, que de fato não se podia conceber maior canalhismo que o seu.

A moça era viúva. Todas as manhãs Inácio saía de casa para ir à cidade, onde costumava almoçar, por não ter outra coisa que fazer... (Inácio tinha um consultório, onde não apareciam clientes, à Rua da Assembleia. À porta havia uma placa: Dr. Inácio Gomes - Médico. A função única desse consultório resumia-se na única função de um divã). Ao ver aquele senhor de aparência séria, sempre bem vestido, com uma obesidade próspera esticando-lhe o paletó, seu coração de viúva tinha um doce pulsar.

Em suma, Inácio Gomes seduziu-a. Seduziu-a pela seriedade, pela compostura, pelos sonhos honestos que a sua pessoa inspirava a um coração de viúva.

Miloca morava com o pai e uma irmã casada, mais moça. Tiveram que usar de muita decência no namoro para evitar más interpretações.

Um dia, no consultório, Miloca surgiu acabrunhada:

- Inácio, estou grávida.

Inácio, refestelado no divã, sentiu um susto frio. Seria possível? Então um ódio cresceu nele contra a fecundidade inoportuna de Miloca. Ele, um homem que amava a liberdade, pai! Pai! Acusava Miloca de uma traição.

- Você é a culpada! Você mesmo quis o filho para me prender! Mas é trabalho perdido. Sou inimigo do casamento!

Levantou-se agitado, indo de um extremo a outro da sala.

Então Miloca, muito vermelha de vergonha, caiu chorando numa cadeira e falou entre soluços:

- Pois... pois eu vou mostra a você... a você... que não fui eu que quis... Eu vou abortar... Eu vou a uma... a uma parteira...

Inácio Gomes parou abalado. O último número do Mundo Médico trouxera um artigo seu sobre os profissionais do aborto provocado. Ele fazia um erudito estudo comparativo... Falava da Inglaterra, da Alemanha, da Itália, da Rússia, da França, da Espanha, de Portugal, mencionando casos, providências de governos e a guerra movida aos assassinos. Acabava chamando a atenção do Congresso Nacional com ênfase.

Estava aterrado. Miloca sacudia-se em soluços desesperados.

- Vou sim... Hei de mostrar a você que sou sincera... Não quero o seu mal...

Inácio Gomes deu-se por vencido; não havia outro meio de escapar à situação senão o aborto.

Teve repugnância de matar o filho... (E Inácio confessava essa repugnância, meio envergonhado de senti-la. Para ele, um homem forte não tem repugnâncias).

Resolveram ir a uma parteira que a polícia ameaçara prender, dias antes, invadindo-lhe a casa. Pela reportagem dos jornais tinham ficado sabendo do endereço.

Miloca saiu de lá, de táxi, para a sua casa de Copacabana. No dia seguinte estava morrendo.

A irmã de Miloca mandou a criada, de manhã cedo, bater à porta de Inácio. Que ele fosse depressa.

Miloca estava com febre álgida. A infecção processava-se, violenta.

O célebre professor Bertoldo, que Inácio chamou, teve uma opinião vaga. Sacudiu a cabeça, com dúvida.

A família, em círculo, palpitava de angústia, com os olhos nele. Sacudiu a cabeça outra vez... Era preciso esperar.

Vendo que Miloca morria, Inácio Gomes, agoniado pelo terror da possível denúncia in extremis, reuniu a família toda e prometeu, solenemente, que se Miloca se salvasse, casaria com ela. O pai, velho e silencioso, aprovou com uma inclinação da testa. A irmã chorava de pena e chorava de ternura, vendo que, se Deus quisesse, um futuro bonito se abria para Miloca... O cunhado, um moço com cara de tísico, desconfiara daquela moléstia súbita e nada dizia.

Por desencargo de consciência, Inácio foi buscar outro colega. Esse era um companheiro de turma, bonacheirão, sem nome científico, que exercia clínica nos subúrbios. Inácio confiava em que, morrendo Miloca, como era fatal, ele lhe passasse o atestado de óbito, silenciando sobre o crime.

O colega foi. Viu Miloca, examinou-a cinco minutos e receitou. Saiu logo. Tinha ainda que ver uma pobre mulher em Cascadura.

Um mês depois o célebre professor Bertoldo, ao tomar um bonde, abriu os olhos de espanto.

- Boa tarde, minha senhora!

Miloca ia tranquilamente para a cidade, saudável e risonha.

***

Habituado à formosa sutileza dos raciocínios, Inácio, na aflição mais lamentável, resumia para si mesmo o caso:

- Quero casar? Não. Devo casar? Sim. Logo, casarei.

E pôs-se a frequentar cabarés para aturdir-se. Mas a questão o atormentava:

- Não quero. Se não quero, não caso. Porém, devo. Se devo, caso.

Miloca era uma moça modesta, viúva de um relojoeiro falido. Não tinha instrução, nem horizontes. Seria um horror a vida em comum com ela - pensava Inácio. Não estava à altura de sua vasta biblioteca. Inácio Gomes sofria.

Amarante, que tinha uma farmácia na Rua Nossa Senhora de Copacabana, salvou-o.

Era também solteirão. Todos gostavam dele no bairro, porque dava remédio aos pobres e atendia os ricos com uns modos amáveis. Tinha os seus quarenta anos e no bairro vivia há mais de dez.

Na sua crise de consciência, Inácio abriu-se com Amarante. Contou-lhe, muito em segredo, a ligação com a viúva, o abordo, a infecção, a promessa sagrada diante da família e o arrependimento dessa promessa...

Amarante apenas sorriu, e disse:

- Não case.

- Quê? não casar? Mas a promessa solene ante a família reunida, na hora dramática em que Miloca parecia não escapar?

Amarante tornou a sorrir:

- Não case.

- Isso queria eu. Mas como? Qual o meio de fugir?

- O senhor ama essa moça?

- Ora, seu Amarante que pergunta! Foi uma ligação de acaso. Dessas coisas...

- Então não case.

E, confidencialmente, acrescentou:

- O senhor não foi o seu primeiro amante.

Inácio teve um choque. Ele desconfiava disso, porque no bairro falava-se da moça; mas ninguém apontava fatos concretos. E a sua vaidade queria que ele fosse o primeiro...

Não quis dar-se por traído diante do farmacêutico:

- Eu sabia, seu Amarante. Eu sabia, porque ouvi um falatório a respeito dela. Mas desde que prometi, a questão não é saber se ela é honesta ou não.

Então Amarante, para cortar cerce o caso, pôs a mão no ombro de Inácio e revelou:

- O primeiro amante de Miloca fui eu. O segundo, o Peres, da venda.

Inácio olhou fixo para Amarante: era calvo, balofo, pálido, com a cara toda raspada. Tinha gestos amolecidos, um todo vago de doente. Cheirava a medicamentos. Miloca pertencera aos braços do Amarante! E depois ao Peres, da venda!

Agradeceu secamente e saiu rápido.

Mandou a alemã à casa de Miloca; ela que fosse à cidade no mesmo instante; assunto grave.

No consultório, uma hora depois, Miloca perguntava aflita, atirando o chapéu sobre a mesa:

- Que foi que aconteceu, Inácio?

Torvo, ele foi logo ao âmago:

- Miloca, não casarei com você.

O abalo de Miloca!

- Não casarei. Quando empenhei a minha palavra, julguei que você tinha um passado honesto.

Miloca estava pálida. Olhou para ele com desespero e perguntou:

- E eu não tenho um passado honesto?

Inácio Gomes matou a discussão.

- Miloca, o Amarante da Farmácia foi seu amigo. E, depois dele, o Peres!

Miloca rolou no chão com um ataque.

***

Ele tinha influência na Saúde Pública e na Polícia e deu em perseguir Amarante. Perseguição insidiosa, constante e fatal. Por quê? Não sabia. Embirrara.

Denunciado por diversas vezes, Amarante gastou dinheiro com os processos. A polícia quase o levou à cadeia como vendedor de tóxicos a viciados.

Amarante estava acabrunhado. O bairro era solidário com ele, sabia-se que tudo era obra diabólica de Inácio. Fizeram um abaixo-assinado ao presidente da República.

Em todo caso, Amarante acabou falindo e desapareceu.

A revolta contra Inácio foi tumultuosa. Quando ele passava, sério, gordo, com o seu maço de jornais debaixo do braço, batiam-lhe com janelas. Uma portuguesa lavadeira atirou-lhe uma vez com esta:

- Olha o coisa à toa!

Inácio alugou o bangalô a uns ingleses e passou de novo para a casa dos tios.

A viúva, com o resto da família, mudara-se para Vila Isabel, desde o rompimento.

***

Eu olhava Inácio sem pestanejar, com uma serenidade absoluta. Aquele torpe egoísmo produzira a sua mais linda flor: uma canalhada embrulhadíssima e monstruosa. Como ele se sentia bem com essa obra!

- O que não compreendo, até hoje, é por que persegui o farmacêutico. Você compreende, aquele homem salvou-me, foi  meu amigo. Devo-lhe, indiscutivelmente, uma enorme obrigação. Deu-me coragem para reagir. No entanto, levei-o à falência, expulsei-o do bairro, naturalmente da cidade, provavelmente do país. Desgostei-o com a vida. Talvez se tenha suicidado.

Bebeu longamente o chope. Puxou do bolso uma carta e deu-ma. Li: "Inacinho. Não posso passar sem ti. Sofri muito, mas perdoo. Não posso esquecer-te. Miloca".

Teve um risinho vaidoso e sardônico:

- Não se pode ser bonito!

- É verdade -, assenti com indiferença.

Puxei do relógio: meia-noite! Pobre Sônia... E o menino que estava um pouco doente... talvez começo de sarampo...

Como eu me levantasse, ele protestou:

- É cedo. Conta agora alguma coisa da Paraíba.

Insisti no propósito de partir. De pé, arrumando o chapéu na cabeça, respondi com calma:

- Não tenho nenhuma novidade para contar.

Ele queria que eu falasse, que o distraísse.

- E aquela tua ex-noiva? Fizeste as pazes com ela? On revient toujours...

- Não, não fiz.

- Mas espera, homem! Por força hás de ter alguma coisa interessante para dizer. Que tal é essa Paraíba?

- Não vale nada.

- E as paraibanas?

- Também.

- Ora, impossível que não trouxesses de lá alguma paixão! Talvez até te hajas casado!

Queria saber muita coisa. Desta vez, encontrou-me fechado.

- Qual! O teu fim é mesmo o casamento!

- Talvez. Boa noite!

E saí.

Seria sarampo? Casimiro Nicolau preocupava-me.