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HISTÓRIAS E LENDAS DE BERTIOGA
Quando Bertioga passou a decidir sozinha (5)

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Uma radiografia de Bertioga, no ano em que definiu a sua emancipação política, foi apresentada em uma série de matérias do jornal santista A Tribuna. Esta quinta parte foi publicada em 13 de junho de 1991:
 


A gente simples de Caiubura e Caroara pretende continuar ligada diretamente a Bertioga
Foto: Roberto Konda, publicada com a matéria

BERTIOGA E O FUTURO
Crença no futuro atrai moradores de outras cidades

Humberto Challoub e Mário Jorge

Ajudar na construção da nova cidade, preservando a tranqüilidade comum dos pequenos lugarejos, mas criando o leque de oportunidades encontrado nos grandes centros. Esse, sem dúvida, é um dos principais objetivos dos novos habitantes de Bertioga, que chegam atraídos pela possibilidade de transformar aquela região no novo eldorado, um lugar onde a esperança ainda é uma das boas razões para se viver.

Desse sentimento também compartilham os antigos moradores de Caroara e Caiubura, que habitam justamente a área que atualmente é motivo de disputa judicial envolvendo questões limítrofes. Para eles, voltar a pertencer ao Município-sede já não faz nenhum sentido.

Carlos Roberto e Míriam: vida tranqüila 
e desejo de participar do processo de construção da nova cidade
Foto: Carlos Marques, publicada com a matéria

A possibilidade de poder viver com tranqüilidade e dispor, ao mesmo tempo, dos prazeres proporcionados pelas atividades culturais e de lazer oferecidas pelas cidades próximas, principalmente por Santos e São Paulo. Esse foi um dos principais fatores que atraiu, para Bertioga, o jovem casal Míriam e Carlos Roberto Caticipis.

Apesar de ambos terem nascido em Santos, eles já viveram experiências em localidades distantes, como em Florianópolis e na vila residencial do Projeto Jari, no trecho da Floresta Amazônica que pertence ao Estado do Pará. "Talvez seja por isso que pegamos gosto de vier em lugares tranqüilos, onde a natureza ainda se mostra forte", diz Míriam.

A "vida cigana", como eles mesmos definem, foi motivada em função da profissão de Carlos Roberto. Formado em Engenharia Elétrica, ele teve que cavar oportunidades em outras regiões do País. Hoje, no entanto, ele exerce a função de gerente do setor de Água e Esgoto da Riviera de São Lourenço, enquanto Míriam trabalha na administração do shopping (N.E.: centro comercial) instalado no local.

Além da atividade dentro da Riviera, Carlos Roberto também presta serviços de instalação e manutenção de redes elétricas em residências e estabelecimentos comerciais. O que ganham é suficiente para garantir uma rotina de vida saudável.

Morando na casa que antes só era utilizada para abrigar a família durante os finais de semana, Carlos Roberto e Míriam se sentem como pioneiros e mantêm viva a esperança de ver Bertioga ser transformada em uma cidade modelo, "que poderá servir de exemplo a outros lugares".

O planejamento e a preservação do meio-ambiente são fatores considerados por eles como imprescindíveis para garantir qualidade de vida às novas gerações de bertioguenses. "Não podemos deixar que ocorra com Bertioga o que aconteceu com as cidades da Baixada".

A vontade de participar no processo de construção da nova cidade também está traduzida no interesse de conhecer as propostas dos políticos que disputarão vagas na futura Câmara e Prefeitura. Para tanto, inclusive, ambos estão providenciando a transferência dos títulos de eleitor, para que possam ter o direito de escolher os próximos governantes.

O amor por Bertioga já exorcizou o espírito cigano do casal, que pretende fazer da futura cidade a morada definitiva.


Conceição e Stanley: trocando o conforto do centro urbano
pela vida pacata junto à fauna e flora nativas
Foto: Carlos Marques, publicada com a matéria

Trocar um apartamento de cobertura na movimentada Avenida Adhemar de Barros, em Guarujá, dispondo de conforto e ampla rede de serviços públicos, por uma chácara num bairro tipicamente rural de Bertioga, foi a alternativa encontrada por Stanley Leal de Castro e sua mulher, Conceição Ramos, a fim de encontrarem a tranqüilidade necessária "para quando chegar a velhice".

Stanley e Conceição estão juntos há 17 anos e há três resolveram morar no bairro do Caiubura, no Distrito. Ali, convivem diariamente com a natureza plena, com imensas áreas verdes, morros e até o pequeno Rio Caiubura.

A área da chácara tem 10 mil m², onde Stanley e Conceição criam galinhas, patos, coelhos, pássaros e cachorros, além das diversas plantações (cana, maracujá, mexerica, abacaxi e outras). Quatro empregados auxiliam na limpeza e manutenção dos animais e hortas.

Stanley foi sargento-enfermeiro do Exército durante pouco mais de 18 anos, quando saiu para cuidar apenas da farmácia que possuía. Ele diz que a mudança de cidade teve um outro motivo: implantar uma espécie de creche no local, para crianças carentes, com ensino profissionalizante. "É preciso tirar esses meninos da rua e ensinar-lhes uma profissão".

Esse desejo somente não foi levado adiante devido aos problemas que enfrentaram com uma enchente, logo no segundo dia de residência fixa em Bertioga. É que antes da nova casa, o casal possuía uma outra chácara a cerca de 100 metros da Rodovia Rio/Santos, no mesmo bairro.

Os dois mudaram-se em 20 de fevereiro de 88 e, um dia depois, foram surpreendidos com fortes chuvas que inundaram toda a chácara. Perderam livros, alguns móveis e quase a vontade de permanecer no Caiubura.

Mas não desistiram. Eles trataram de juntar as economias que guardavam e ergueram outra chácara perto do morro. Conceição fazia trabalhos ligados à assistência social nas áreas carentes de Guarujá e hoje é a presidente da Sociedade de Melhoramentos do Caiubura. Ela afirma que mesmo com a "dureza" de cuidar da casa, aliada às dificuldades estruturais do local, não troca a região por áreas mais desenvolvidas.

Conceição, de 45 anos, tem uma filha de 25 do primeiro casamento, que reside com o pai, em Santos, enquanto Stanley, de 54, tem três filhos, "já criados e encaminhados". Quando bate a saudade, diz Stanley, "os meninos aparecem por aqui".


Ilustração: Seri, publicada com a matéria

A questão dos limites territoriais entre Santos e Bertioga pode comprometer o processo plebiscitário de maio último. Isso devido à ação direta de inconstitucionalidade que a Prefeitura de Santos ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF), no ano passado, contra o Artigo 2º da Lei Complementar Estadual nº 651.

A ação ainda não foi julgada e, segundo fontes da própria Administração Municipal, quando houver a manifestação dos juízes e se o resultado for favorável à sede, o plebiscito corre o risco de ser anulado.

A polêmica está em torno dos eleitores dos bairros situados na área pretendida pela Prefeitura, que participaram da consulta popular. Itatinga, Caroara e Caiubura situam-se no território abrangido pela Lei Municipal 607, de outubro de 89.

Pelo dispositivo, a área de Santos passou de 271 km² para 474 km², enquanto que o Distrito teve sua região reduzida de 842 km² para 279 km². O limite, então, passaria a ser o Rio Itapanhaú, desde o ponto em que adentra o território do Município, na divisa com Biritiba Mirim, até sua foz, no Canal de Bertioga. No entanto, com a Lei Complementar 651, o Distrito recuperou seu traçado original anterior à promulgação da Constituição Federal, em 88.

Ao ingressar com ação no Supremo, a Prefeitura argumenta que a legislação estadual não pode interferir na autonomia do Município. O secretário municipal de Assuntos Jurídicos, Nelson Fabiano Sobrinho, chegou a afirmar várias vezes que a votação no STF deveria acontecer antes do plebiscito "a fim de não comprometer a legitimidade da consulta".

Em Bertioga, líderes emancipacionistas não acreditam na anulação do plebiscito. Eles entendem que o número de votos dos moradores dos três bairros, se excluído, não seria suficiente para prejudicar o resultado favorável à autonomia. A consulta teve 3.698 votos a favor da separação contra 179.

À parte a polêmica sobre a possibilidade de anulação do plebiscito, moradores do Caroara e Caiubura, que votaram pela autonomia do Distrito, manifestaram o desejo de permanecerem vinculados ao território bertioguense.

Em geral, eles olham com desconfiança a real disposição de a Administração santista em promover melhorias nos respectivos bairros. Argumentam, por exemplo, que os três núcleos ficariam em segundo plano pela Prefeitura de Santos.

A comerciante Gilda Batista Raymundo mora há três anos no bairro do Caiubura e diz lamentar as poucas obras realizadas no local pela Subprefeitura de Bertioga. "A nova cidade, ao contrário, vai implementar serviços e providenciar as condições de que o bairro precisa".

O aposentado Manoel Vieira Silva reside em Guarujá e possui uma chácara na região. Ele defende a continuidade de ligação do Caiubura com Bertioga. Manoel Vieira cita que os impostos aumentaram muito na área, "sem que houvesse qualquer benefício aos moradores".

Como eles, Joaquim do (N.E.: trecho faltante no original) definida, ele acha o bairro dará "um salto no tempo", recebendo o tratamento adequado pelo futuro ocupante da Prefeitura.

No Caroara, também, a opinião de moradores é semelhante. O aposentado Nelson Pinto Machado reconhece que a Subprefeitura fez "coisas boas" no bairro. Porém, observa que a distância entre Santos e a região dificultaria a locomoção de homens e máquinas para as obras necessárias.

Os caseiros Eduardo Pinheiro e José Rodrigues da Silva defendem a mesma idéia. Resumem seus argumentos, lembrando que Caroara tem ligação territorial com Bertioga e não há motivos para haver separação.