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HISTÓRIAS E LENDAS DE S. VICENTE - BIBLIOTECA - Na Capitania de S.V.
Washington Luís e a capitania vicentina (20)

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Além de governador paulista e presidente do Brasil, Washington Luiz Pereira de Souza foi escritor e historiador, sendo responsável pela construção dos monumentos históricos do Caminho do Mar, na subida da serra entre Santos e São Paulo, em 1922, para comemorar o centenário da Independência do Brasil.

Uma das suas mais importantes obras foi esta, Na Capitania de São Vicente, publicada em 1956 (um ano antes da morte do autor) pela Livraria Martins Editora, da capital paulista. Com 341 páginas mais 7 introdutórias, a obra foi impressa pela Empresa Gráfica Revista dos Tribunais, também de São Paulo.

O exemplar de número 956 foi cedido a Novo Milênio para digitalização, pela Biblioteca Pública Alberto Souza, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, em maio de 2010. Páginas 245 a 262, com ortografia atualizada:

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Na Capitania de São Vicente

Washington Luís

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Capítulo XIX - Nicolau Barreto

Chegando a um sertão do Brasil, onde escassearam os víveres e onde, segundo informações de um indígena aprisionado, havia muitas tribos selvagens, conforme narra o roteiro de Guilherme Glymmer, a bandeira de André de Leão regressou a S. Paulo, sem descobrir minas e sem cativar índios.

Sendo pequena em número, 60 a 70 homens, e com poucos mantimentos, a bandeira não ousou prosseguir no descobrimento, nem fazer a guerra ao gentio numeroso e inimigo, que lá se achava.

A causa, pois, do insucesso dessa expedição foi sua organização deficiente em pessoal e em mantimentos, causa facilmente removível diante da pertinácia de d. Francisco de Souza, absorvido completamente em descobrir as minas de ouro e prata, já procuradas desde o Norte do Brasil, não trepidando ele em deixar a sede do governo, na Bahia, para vir encontrá-las partindo do Sul. Promoveu ele a organização de outra expedição muito mais numerosa e convenientemente abastecida, de modo, a devidamente explorar e descobrir a região tão procurada.

Essa outra expedição teria sido composta na sua maioria com moradores da vila de S. Paulo, mas também com moradores das outras vilas da capitania, e com os de outras capitanias sobre as quais se estendia a jurisdição do governador geral, e mesmo com gente da comitiva deste, pois que S. Paulo, naquele tempo não poderia, sozinho, organizar uma bandeira com 300 homens brancos.

O seu comando foi confiado a Nicolau Barreto, irmão de Roque Barreto, nessa época, capitão-mor-loco-tenente pelo donatário Lopo de Souza.

Compôs-se ela de cerca de 300 homens brancos, de índios auxiliares e escravos, nela tomaram parte os padres João Álvares e Diogo Moreira, como capelães da tropa, e mais o pe. Gaspar Sanches (Inventários e Testamentos, vol. 1º, pág. 489 e vol. 21, pág. 18).

Organizou-se a bandeira com parecer de d. Francisco de Souza, com ordem e mando do capitão-mor-loco-tenente Roque Barreto e a requerimento das Câmaras, e partiu depois da substituição de d. Francisco de Souza no governo do Brasil (Atas, vol. 2º, pág. 130; Reg. Geral, vol. 7º, págs. 113 e 114).

Azevedo Marques na sua Cronologia, pág. 224, informa que:

"em agosto de 1602 parte de S. Paulo para o sertão numerosa bandeira ao mando de Nicolau Barreto, em direção de Mogy das Cruzes, com o fim ostensivo de descobrir ouro. Dela fizeram parte pessoas importantes daquela época, tais como Simão Borges de Cerqueíra, fidalgo da Casa Real, Ascenso Ribeiro, Pedro Leme, Manuel Preto, Francisco de Alvarenga e outros."

Cita como fonte dessas informações o inventário de Ascenso Ribeiro, no cartório de órfãos de S. Paulo. Este inventário de Ascenso Ribeiro não foi encontrado no Arquivo Público do Estado de S. Paulo, por mais cuidadosas que tivessem sido as pesquisas feitas por Manuel Alves de Souza, encarregado pelo Governo do Estado de S. Paulo, de traduzir, copiar e publicar os inventários lá recolhidos do Cartório de Órfãos, e desejoso esse paleógrafo de cumprir as instantes recomendações que lhe haviam sido feitas.

Outros inventários, porém, publicados pelo Arquivo, vieram esclarecer, precisar e preencher lacunas da breve, contudo preciosa, notícia recolhida por Azevedo Marques.

Assim o inventário de Brás Gonçalves (Inv. e Test., vol. 11, pág. 9 e segts. e o de Manuel de Chaves, idem, V. 1º, pág. 459 e segts.) confirmaram a existência da bandeira comandada por Nicolau Barreto; ela porém partiu, não em agosto, mas nos princípios de setembro, porque esses dois bandeirantes, que nela tomaram parte, ainda se achavam em S. Paulo nos primeiros dias de setembro, e aí assinaram, neste mês, setembro, documentos de dívida, com o fim de obter recursos pecuniários para a entrada que fizeram na companhia de Nicolau Barreto (Inv. e Test., vol. 1º, pág. 486, vol. 11, pág. 17).

A partida em princípios de setembro se confirma na vereança de 8 desse mês na qual o único vereador do ano de 1602, restante na vila, Josepe de Camargo e o povo "por não haver oficiais e se irem todos os mais fora, elegem dois juízes, um vereador e um procurador do conselho que sirvam na ausência dos mais" (Atas, vol. 2º, pág. 109).

É lógico supor-se que indicando o mês de agosto para a partida da bandeira, Az. Marques se tenha apoiado em documentos de dívida, idênticos aos que se encontram nos inventários de Braz Gonçalves e de Manuel de Chaves, e que permitem agora marcar a partida da bandeira para princípios de setembro. Essa diferença de poucos dias para a partida não invalida a informação amplamente confirmada.

No seu livro História da Companhia de Jesus (vol. 1º, pág. 189 em nota) o padre Pablo Pastells transcreveu em nota, e na íntegra uma carta do padre Justo Mancilla van Surck, escrita da Bahia, a 2 de outubro de 1629, ao geral da Companhia de Jesus, em que descreve com cores vivas, e, com palavras veementes, acusa de crueldade os costumes paulistas de então, dizendo que "no ano de 1602 (?) foi de S. Paulo a buscar e trazer índios Nicolau Barreto, com licença de seu irmão Roque Barreto, capitão da terra, com capa de descobrir Minas".

Assim, quer com documentos municipais, quer com os jesuíticos, se mostra não haver dúvida alguma quanto à ida de Nicolau Barreto ao sertão, com "cerca de 270 a 300 homens", e mais índios escravos.

Acrescenta Azevedo Marques que a bandeira partiu em direção a Mogi das Cruzes. Quis ele designar não o destino, mas o itinerário e o fez pelo nome atual de uma das primitivas paragens que anteriormente foi chamada Mogi, designação que não ignoram os que cuidadosamente estudam a toponímia de S. Paulo.

É ele, mesmo, Azevedo Marques, que, sob o verbo Mogi das Cruzes, nos seus Apontamentos, informa que, em tempos remotos, tal localidade se denominou Bogi, que se transformou em Mogi com o acréscimo das Cruzes, porque no adro da primeira matriz, que lá houve, existiram plantadas três cruzes. Aí Braz Cubas, segundo ainda o mesmo informante, tinha uma fazenda de cultura em terreno compreendido em uma grande sesmaria obtida em 1560, e que começava abaixo da serra e ia até o cimo. Era uma paragem, bem conhecida na época da partida da bandeira, essa de Bogi, nome corrompido em Mogi, e mais tarde transformado em Mogi das Cruzes. Pedro Taques conta que foi Braz Cardoso o fundador da povoação de Mogi das Cruzes, em 1602, ereta vila em 1º de setembro de 1611 (História da Capitania de S. Paulo).

Bogi... Mogi... são modificações da mesma voz pronunciada pelos índios tupis e que eram grafadas conforme permitiam as poucas letras dos escrivões da época. É freqüente, nas Atas da Câmara, nos testamentos, no Registro das Sesmarias, encontrar-se o nome da mesma localidade ou duma mesma tribo indígena, escrito de macio diferente, na mesma página, nas páginas seguintes, e, em anos subseqüentes, como já disse, podendo-se ver as transformações de tal nome até a sua fixação atual.

Nas concessões de datas de terras nessa paragem se pode acompanhar a evolução dessa palavra, até se consolidar na atual Mogi das Cruzes.

Assim (livro 1 de Sesmarias, publicação do Arquivo de S. Paulo) o capitão-mor Gaspar Conquero concedeu a 24 de janeiro de 1609 a Francisco Vaz, terras pelo "... ombiaci para a banda da Paraíba, defronte de uma serra que se chama Tapeti, no Boixi miri (vol. 1º, pág. 38).

A 10 de novembro de 1609 o mesmo Gaspar Conquero deu a Fulano Rodrigues, morador em S. Paulo, uma légua de terra na banda dos campos de Utacurubitiva no caminho "que Gaspar Vaz fez e que vai para Boigi mirim a saber partindo da barra dum rio que se chama Guayoó... e correrá avante até dar no Rio Grande de Anhembi" (idem, vol. 1º, pág. 66)

A 27 de fevereiro de 1610, ainda Gaspar Conquero concedeu uma sesmaria ao clérigo João Álvares, natural da vila de S. Paulo, filho e neto de conquistadores, assistente em Boigi-mirim, uma légua de terra em quadra, que começará a partir pelo caminho para o dito rio da Paraíba e fica... para o Rio Anhembi (idem, v. 1º, pág. 90).

A 1º de abril de 1610, mais uma vez esse capitão-mor concedeu a Domingos Agostin em Boigi-Mirim uma légua de terra do outro lado do Anhembi partindo com Gaspar Vaz (idem, vol. 1º, págs. 91 e 92).

A 15 de março de 1611, Amador Bueno, morador em S. Paulo, em petição ao capitão-mor Gaspar Conquero, declarando que está informado que junto a Maria Álvares, dona viúva, mulher que foi de Manuel Eianes, perto de S. Miguel, aldeia dos índios, estão terras devolutas para a banda de Mogi, as pede etc. (idem, vol. 1º, pág. 145).

Por Aguiar Barriga é concedida em Mogi-Mirim, a Manuel da Siqueira e a Francisco Bicudo, moradores em S. Paulo, filhos e netos de povoadores e conquistadores, uma légua de terras, nas cabeceiras do padre João Alvres e outros, que com elas partem, rio acima em Taquaquecetiba no termo da vila de Santa Ana da outra banda do Anhembi (idem, vol. 1º, págs. 252 e 253).

A 4 de janeiro de 1641 é concedida a João Portes de El Rey e outros, filhos e netos de povoadores e conquistadores desta capitania, na vila de Santa Ana das Cruzes de Mogi-Mirim duas léguas de terras de matos daninhos pelo rio arriba à mão esquerda do Rio Anhembique (idem, vol. 1º, pág. 418).

Nessas sete sesmarias – das quais as duas primeiras trazem a data de 1609, época muito próxima à da partida da bandeira de Nicolau Barreto – nessas sesmarias o nome e escrito de diversas maneiras; mas as indicações locais, que o acompanham como a Serra Tapeti, que fica na vizinhança de Mogi das Cruzes, o rio Anhembi, a barra do Rio Guaiaó, a aldeia de S. Miguel, Tacuaquecetuba (acidentes geográficos e povoações intermediárias entre S. Paulo e Mogi das Cruzes), Boacica, o Rio Paraíba, as confrontações coincidentes com Gaspar Vaz e com o padre João Alvres, levam a identificar, sem dúvida alguma, Boigi, Mogi, Mogi-Mirim com Sant-Anna das Cruzes de Mogi-Mirim e afirmar que Mogi-Mirim, antiga povoação que se fez na sesmaria de Braz Cubas, fundada por Braz Cardoso, criada vila em 1611, elevada a cidade em 1855, é a atual Mogi das Cruzes.

Avisadamente andou Az. Marques indicando em 1872, época em que escreveu os seus Apontamentos, "Mogi das Cruzes" como sendo a direção da bandeira de Nicolau Barreto, porque, se o fizesse com o nome contemporâneo da entrada, estabeleceria confusão com uma outra localidade, mais tarde chamada, e ainda hoje, "Mogi Mirim", situada próxima ao Rio Mogi-Guaçu, afluente do Rio Pardo.

Os documentos locais da vila de S. Paulo dão elementos seguros para se concluir que a diretriz da bandeira foi Mogi das Cruzes.

O documento, já aqui citado, inserido em nota pelo padre P. Pastells, no volume 1º da sua citada História da Companhia de Jesus na Província do Paraguai, às páginas 189 a 191 em nota, e consistente como disse em uma carta do pe. Justo Mancilla van Surck, datada da cidade do Salvador, Bahia, a 2 de outubro de 1629, dirigida ao Geral dos Jesuítas, narra que

"O pe. Francisco Carneiro contou que no ano de 1602 (?) saiu de S. Paulo a buscar e a trazer índios Nicolau Barreto, irmão de Roque Barreto capitão da terra, com o fim ostensivo (com capa) de descobrir minas e levou em sua companhia 270 portugueses e 3 clérigos. Acrescenta que uns quarenta deles encontraram por aqueles montes com uns índios cristãos, que, enviados por nossos padres de Vila Rica do Espírito Santo, tinham ido buscar seus parentes e trazê-los para as nossas aldeias e, com efeito, levavam para lá umas 700 almas; porém os portugueses tomaram todos, não obstante os índios cristãos lhes dizerem que eram enviados dos nossos padres e que perto havia muitos outros índios infiéis, que poderiam ser levados".

Na sessão de 24 de novembro de 1602 (Atas, vol. 2º, pág. 113) em requerimento e protestação ao capitão-mor Diogo Lopes de Castro, a Câmara declarou que "eram ido dez homens ou mais pelo rio abaixo em busca de algumas peças (índios) e que lhes poderia suceder matarem-nos"..., declaração que se torna mais explícita, quando em seguida fez escrever "que a sua notícia era vindo, como dez ou doze homens que estavam em seguimento de Nicolau Barreto, capitão, que Roque Barreto, capitão que foi desta capitania, mandou ao sertão, mudaram de viagem e se foram pelo rio Anhembi abaixo, aonde lhes pode suceder muito mal com os matarem" e "que é necessário e será grande serviço de Deus mandar em seu seguimento 15 ou 20 homens... e os tirar d’algum perigo em que podem estar"... (Atas, vol. 2º, pág. 114).

Evidentemente o fato narrado por Pastells é o mesmo referido pela Câmara de S. Paulo; o mesmo ano de 1602, a mesma expedição sob o comando de Nicolau Barreto com três clérigos, a mesma circunstância, de uma parte que se destacou do corpo principal da bandeira. Esses dois documentos se completam. Há apenas pequena discordância quanto ao número dos homens, que se separaram da bandeira, discordância facilmente explicável.

O padre Mancilla alude a cerca de 40 homens, a Câmara de S. Paulo se refere a uns 10 ou 12. Nenhum deles quis dar, nem o poderia fazer, o número exato desse destacamento. O padre Mancilla não sabia, de ciência própria, o fato de 1602. Escrevendo 27 anos depois, e da Bahia, a ele se referiu por o ouvir ao padre Francisco Carneiro, que possivelmente aumentou o número das pessoas, componentes do destacamento.

A Câmara de S. Paulo, contemporânea e interessada no fato, sugeriu menor número para facilitar o capitão Roque Barreto a prestar o auxílio de 20 ou mais homens para juntá-los aos 10 ou 12 que tinham ido rio abaixo, o que provavelmente foi feito, e faz coincidir aproximadamente os dois efetivos indicados para o destacamento. Essa circunstância tem porém, pouca importância, desde que em ambos está bem caracterizada a bandeira de Nicolau Barreto em 1602, da qual se separou uma parte.

Do trecho transcrito da obra do pe. Pastells vê-se que o destacamento, que se separou da bandeira de Nicolau Barreto, encontrou "por aqueles montes 700 índios que iam sendo levados para Vila Rica do Espírito Santo", a fim de serem catequizados nas aldeias que lá existiam. Como se lê os 700 índios, aprisionados nessa ocasião, pois, não estavam na Província do Paraguai; ao contrário, eram para lá levados por índios já cristianizados. Eram os padres jesuítas do Guairá – que vinham "chasser dans nos terres", poderia dizer o cabo da bandeira.

O aprisionamento foi feito nos montes do vale do Tietê, onde habitavam os tupiniquins. Ambas as entradas, quer a mandada pelos jesuítas, mencionada na obra de Pastells, quer a que se referiu Azevedo Marques, tendo por objetivo buscar gentio, motivo da luta entre a catequese religiosa e a cativação colonial, se haviam de encontrar nos sertões da capitania de S. Vicente, nos quais ambas penetravam.

Se o destacamento tivesse ido ao Guaíra, o padre Mancilla indicaria essa circunstância, como, também, sem dúvida alguma, mencionaria a presença de Nicolau Barreto, se ele lá tivesse ido com a sua bandeira.

É claro que não se limitaria a transmitir a informação do pe. Francisco Carneiro, ex-reitor do Colégio do Rio de Janeiro. Afirmaria o que teria ouvido in loco aos padres das reduções do Guairá, porque ele foi um deles e dos mais zelosos, desde 1628 [1]

A Câmara Municipal da pequenina vila de S. Paulo seiscentista, situada na colina entre o Tamanduateí e o Anhangabaú, informa que dez ou doze homens, que estavam em seguimento de Nicolau Barreto, mudaram de viagem e foram pelo Rio Tietê abaixo.

Ora, visto desse S. Paulo quem mudou de viagem pelo rio, deixando a companhia de Nicolau Barreto e foi pelo Tietê abaixo, evidentemente tomou a direção de Barueri, de Pirapora, de Itu etc., foi em suma em direção ao Rio Paraná para o Oeste.

A tropa de Nicolau Barreto, que não mudou de direção, não poderia ir para o Oeste, porque então toda ela mudaria de direção; não seguiria para o Sul, porque logo chegaria ao litoral, nem para o Norte porque logo esbarraria com as então ínvias serras da Cantareira, Atibaia, Bragança, contrafortes da Mantiqueira, que, se fossem transpostas, dariam também caminho para as nascenças do Rio S. Francisco.

A bandeira de Nicolau Barreto, portanto, só poderia ir para Leste, e indo para Leste foi em direção a Mogi das Cruzes. E é lógico que para lá fosse, porque mais numerosa em homens e bem apercebida de víveres, e organizada com parecer de d. Francisco de Souza, fosse buscar as minas de ouro e prata, por este governador obstinada e ardentemente procuradas, e que se supunham situadas nas nascenças do Rio S. Francisco, não atingidas por André de Leão.

É natural que seguisse para o mesmo sertão já percorrido sem êxito por André de Leão, em busca das minas desejadas. Era uma nova tentativa que se realizava para o mesmo fim.

Era lógico que o fizesse; porque esse roteiro, já conhecido e já em parte trilhado recentemente nessa época, levava às nascenças do Rio S. Francisco.

E foi por aí que seguindo, sem dúvida alguma, o mesmo roteiro de Glymmer, atingiu afluentes do Rio S. Francisco já atingidos pela bandeira de André de Leão. A identificação no terreno deve ser a mesma.

Após cerca de cinco meses de marcha, a bandeira de Nicolau Barreto, a 17 de fevereiro de 1603, chegava ao Rio Guaibií, e nesse dia e no arraial de Nicolau Barreto, Braz Gonçalves assinou um documento a Domingos Barbosa no valor de 3 cruzados (Inv. e Testamentos, vol. 21, pág. 32), atingindo depois o Rio Paracatu.

Nos valiosos Prolegômenos à História do Brasil, de frei Vicente do Salvador, no capítulo IV, Capistrano de Abreu, não obstante reconhecer a excelência dos dois ensaios feitos por Orville Derby, a respeito das entradas de André de Leão e de Nicolau Barreto, publicados na Revista do Instituto Histórico de S. Paulo, põe em dúvida que Nicolau Barreto tivesse chegado ao Rio Paracatu, afluente do alto S. Francisco, e que lá tivesse aprisionado índios temiminós. Para essa dúvida indica o episódio de Manuel Preto vindo do Guairá (em 1606-1607) ter encontrado temiminós no caminho e cita o volume 2º das Atas de S. Paulo na página 184. O fundamento dessa dúvida, tenho a ousadia de dizer, não me parece procedente.

Nesse volume das Atas, nas páginas indicadas está transcrito o requerimento de Gaspar Nunes, então, a 7 de janeiro de 1607, procurador do Conselho da Vila de S. Paulo, no qual textualmente declarou que "ele estava informado que Manuel Preto trouxera muitos temiminós que vinham de suas terras em busca dos brancos, os quais vinham de pazes e ele Manuel Preto, vindo de Vila Rica (no Guairá), os encontrara no caminho e os trouxera à sua casa".

Por esse requerimento se vê que os índios temiminós não estavam no Guairá, pois que iam de suas terras, e era justamente Manuel Preto que vinha de Vila Rica, situada no Guairá. O encontro se deu no caminho, em lugar que não está determinado, mas que deve ser o caminho de Guairá para S. Paulo. Ora, pela carta, que Pastells transcreve em nota no volume 1º da História da Companhia de Jesus na Província do Paraguai (vol. 1º, pág. 191, em nota), vê-se que os padres fundadores das reduções jesuíticas no Guairá mandavam índios já cristianizados buscar seus parentes para levá-los para as reduções do Guairá. Manuel Preto, vindo de Guairá, poderia encontrar esses temiminós que em pazes procuravam os brancos. Principalmente, é de notar-se, que esse encontro se deu em 1606-1607, após a expedição de Nicolau Barreto que desbaratou os temiminós. Havia temiminós por toda a parte, o que era natural, dado o seu estado nômade.

Havia temiminós em Guairá, fugidos de S. Paulo e são eles mencionados depois da entrada de Nicolau Barreto.

Na sua longuíssima Relação de sucessos ocorridos em Guairá, a 6 de fevereiro de 1629, D. Luís Cespedes y Xeria [2] refere textualmente "saque destas ditas Reduciones Y de la Vila Rica numero de indios tupis, temiminos peis largos, carijós todos estes venidos de la villa de Sam Pablo y su jurisdicion, estado del Brasil hydos de sus amos por la esclavitud que aliá teniam e casados en estas partes despues que vinieron a ellas..."

Não é de estranhar, pois, antes o fato é confirmado, que Manuel Preto, vindo do Guairá, tivesse encontrado no caminho temiminós, pois que estes fugiam de S. Paulo para evitar o cativeiro.

Os temiminós, por conseqüência, encontrados por Manuel Preto em 1607, não eram de Vila Rica no Guairá, mas para lá se dirigiam.

Os cronistas, mais ou menos coevos da entrada de Nicolau Barreto, se referiram aos temiminós e os localizaram para os lados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e centro da atual Minas Gerais na direção da Bahia, pelo Rio S. Francisco.

João de Laet fala dos tamominos habitando o governo do Espírito Santo, ferozes e cruéis (Descrição das Índias Ocidentais – l. 15, Cap. 14).

Fernão Cardim também fala nos timigminós, que moravam no Espírito Santo (Princípio e Origem dos Índios, R. I. H. G. B., vol. 57, pág. 207, 1ª parte).

José de Anchieta se refere aos temiminós do Espírito Santo (R. I. H. G. B., vol. 8º, pág. 258).

Em A. Knivet há referências a tomimenos "dos quais se receavam quando voltavam do Rio Paraíba para o Rio de Janeiro" (R. I. H. G. B., vol. 41, pág. 185).

Thevet chama-os de teminous e Jean de Léry de tenreminou.

Simão de Vasconcelos (Crônicas, l. 1º, nº 204 e 205) narra que o padre Braz Lourenço, por 1555, tendo notícia que, nas partes do Rio de Janeiro, andavam em guerra duas nações de índios os chamados uns temiminós e outros tamoios, que se destruíam, tratou com Vasco Fernandes Coutinho, senhor da capitania do Espírito Santo, que se estendia para o Oeste, de oferecer agasalho ao principal dos temiminós, chamado Maracaiá Guaçu. Mas acrescenta o mesmo Simão de Vasconcelos (idem, l. 2º, nº 46) que os temiminós em 1555, em lutas uns com os outros e com os portugueses, tornaram às brenhas do sertão a viver como feras.

É o mesmo Simão de Vasconcelos que afirma (Crônicas, l. 1º, das Notícias, nº 47, pág. XLVIII, 2ª edição) que os temiminós se encontravam entre as nações indígenas, que assenhoreavam toda a paragem do Rio S. Francisco até a Bahia. É incontestável que havia temiminós no alto S. Francisco, rio acrescenta ele (lugar indicado nº 44, 46, pág. XLVII) cujo

"nascimento é aquela famosa alagoa feita das vertentes de águas das serranias do Chile e Peru, donde dissemos procediam os rios Grão Pará e da Prata..." "Suas campinas vêm a ser outros Campos Elíseos, ameníssimas, fertilíssimas,..." "Corre por terras minerais ricas de ouro, prata, salitre, buscadas essas minas por mandado de alguns governadores", mas até agora não achadas..." "guardando o tempo do descobrimento dessas riquezas para quando o sábio autor da natureza, que aí as criou."

Transcreveu Simão de Vasconcelos, nesse tempo de escassos conhecimentos geográficos, as lendas em curso, e profetizou os descobrimentos de Fernão Dias, o caçador de esmeraldas.

Mas o que não pode ser posto em dúvida é que os índios americanos do Sul eram nômades.

A sua condição de nômades impelia-os para todas as partes. O fato, pois, de serem encontrados temiminós no caminho de Vila Rica a S. Paulo, não exclui a certeza de que eles, em 1602, estivessem ou tivessem estado no alto S. Francisco.

Ao tempo em que Capistrano de Abreu levantou essa dúvida – 1918 – só haviam sido publicadas as Atas da Câmara Municipal de S. Paulo. Só dois anos depois, em 1920, começou o Arquivo do Estado de S. Paulo a publicação dos Inventários e Testamentos, que varre qualquer incerteza a respeito.

A nova publicação de documentos antigos, que jaziam ignorados, veio elucidar e desmanchar muitos pontos de nossa História, até há pouco aceitos, tornando verdadeira a tese de Villemain de que "l'histoire est toujours à refaire".

Se, em 1918, já tivessem sido publicados os Inventários e Testamentos, Capistrano não apresentaria essa dúvida; ou se já a tivesse apresentado, com o seu espírito largo e elevado, culto e consciencioso, sem mesquinhas vaidades literárias, seria o primeiro a desfazê-la, reconhecendo que as bandeiras paulistas haviam em 1603 chegado ao Rio Paracatu e nessa região aprisionado temiminós.

Não teve o grande mestre da História do Brasil oportunidade de ler e analisar os inventários de Martim Rodrigues (vol. 2º, pág. 5 e seguintes), de Manuel de Chaves (vol. 1º, pág. 459 e seguintes), de Braz Gonçalves (vol. 21, pág. 5 e seguintes) de Belchior Carneiro (vol. 2º pág. 111). Nesses inventários – documentos velhos, mas só publicados em 1920 – teria ele a ocasião de, modificando a sua opinião, refazer nessa parte a nossa História.

Nesses documentos se vê que Martim Rodrigues fez o seu testamento em 12 de março de 1603, estando no sertão do Rio Paracatu escrito por Manuel de Soveral, escrivão da bandeira de Nicolau Barreto, no arraial de descobrimento de minas de ouro, prata e mais metais, assinando como testemunhas Antônio Gonçalves David, Sebastião Peres Calheiros, Diogo de Oliveira Gago, Francisco Ferreira, Francisco Alves Correia, Miguel Gonçalves e Manoel Machado, membros da bandeira citada (vol. 2º, pág. 21 a 27).

Manuel de Chaves, outro soldado dessa bandeira, doente de uma flechada recebida dos gentios tupiães, começou o seu testamento a 22 de março de 1603, terminado a 30 do mesmo mês (idem, vol. 1º, pág. 461) e morreu no sertão do Rio Paracatu a 2 de abril de 1603, onde foi iniciado o inventário de seus bens de sertanista, no rancho de Domingos Dias, seu irmão, no arraial do Capitão Nicolau Barreto, sertão e Rio de Paracatu (idem, vol. 1º, pág. 459).

De 17 de fevereiro de 1603 a 4 de abril do mesmo ano, Nicolau Barreto explorou, pelo menos, o sertão do Rio Guaibií e do Rio Paracatu, porque nesse último dia ainda no sertão do Rio Paracatu, onde estava aposentado, mandou vender em leilão a fazenda lançada no inventário de Manuel de Chaves (idem, vol. 21, pág. 459) e nesse dia e nesse sertão, "se iniciou o inventário de Braz Gonçalves, perante o mesmo Nicolau Barreto, capitão-mor do arraial do descobrimento das minas de ouro e prata e mais metais (Inventários citados).

A 2 de abril de 1603, no sertão do Rio Paracatu iniciou-se o inventário de Manuel de Chaves, e a 4 do mesmo mês se realizou a venda de seus bens, nesse sertão do Rio Paracatu, onde estava aposentado com o seu arraial o capitão Nicolau Barreto (vol. 1º, pág. 464).

A 29 de junho de 1603, no sertão e limites que povoam os índios temiminós, perante o capitão Nicolau Barreto, no arraial do descobrimento de minas de ouro e mais metais, se iniciou o inventário de Braz Gonçalves, o moço (vol. 21, pág. 9). Antes, a 29 de junho do mesmo ano, nesse mesmo sertão Braz Gonçalves, o moço, fez o seu testamento, no qual há referência expressa à entrada do Rio Guaibií (Rio das Velhas)................... onde corimataí [3] (algumas palavras roídas) (vol. 22, pág. 11 e 14).

A 14 de agosto de 1603, ainda no sertão e limites que povoam os gentios temiminós, na tranqueira onde estava o Capitão Nicolau Barreto com o seu arraial, lavrou-se um termo em que Domingos Dias, irmão de Manuel de Chaves, e dele testamenteiro, desobrigou Salvador Pires do compromisso assumido por Duarte Machado (idem, vol. 1º, pág. 472).

Em 8 de março de 1604, vencidos os índios e estabelecida a paz no acampamento, os padres João Alvres e Diogo Moreira, capelães do arraial de Nicolau Barreto, passaram recibo das missas cantadas e rezadas por alma de Manuel de Chaves (Inv. e Test., vol. 1º, pág. 489). Esses padres fizeram parte da bandeira de Barreto.

Seis dias depois, a 14 de março de 1604, Antônio Rodrigues Velho, o Araa de alcunha, o repartidor dos índios temiminós escravizados no sertão, na companhia de Nicolau Barreto, distribuiu a Antônio Gonçalves Davide um temiminó cujo nome era Jaguare metara mirim (Inv. e Test., vol. 2º, págs. 151 e 152).

Nessa distribuição, coube ao espólio de "Braz Gonçalves, o moço, três homens, três mulheres e duas crianças e mais um rapaz, magros, que estavam tais, como os mais que nesse sertão se repartiram da nação temiminó, que foram entregues a Braz Gonçalves, o velho, para levá-los aos herdeiros, por não haver quem os comprasse e não haver outro remédio para os pôr em arrecadação" (vol. 22, págs. 19 e 20), em 14 de março de 1604.

Conhecidas as circunstâncias que trouxeram d. Francisco de Souza à Capitania de S. Vicente, isto é, o descobrimento de minas de metais preciosos no alto rio S. Francisco, e a pertinácia que nesse intento pôs, só se pode concluir que a bandeira de Nicolau Barreto, seguiu o mesmo itinerário da de André de Leão, e que foi identificado por Orville Derby.

Difícil é determinar com precisão o lugar que esses temiminós então habitavam. Como os demais índios do Brasil esses temiminós, como se sabe, eram nômades; e mudando continuamente de habitação, vagavam pelo interior do Brasil. Mas em 1603 estavam nos sertões vizinhos do Rio Paracatu e Rio das Velhas.

No seu testamento de 30 de março de 1603, Manuel de Chaves declarou que se achava doente de uma flechada que lhe eram os tupiães. Isto significa que além dos temiminós encontraram também os tupiães.

Em setembro e outubro de 1604, são iniciados respectivamente na vila de S. Paulo, os inventários legais de Braz Gonçalves e Manuel de Chaves, aos quais estão juntos os inventários feitos no sertão do Rio Paracatu nos limites onde povoavam os índios temiminós. Estas duas últimas datas mostram que em setembro e outubro de 1604 já a bandeira, carregada de escravos temiminós se achava de volta no povoado.

Depois da entrada de Nicolau Barreto, nos diversos inventários, publicados pelo Arquivo do Estado de S. Paulo, se encontram descrições de índios temiminós e tupiães da entrada de Nicolau Barreto, como se pode ver no de Belchior Carneiro (vol. 2º, pág. 111) e do de Martim Rodrigues Tenório (vol. 2º, pág. 13).

O Rio Paracatu, diversas vezes mencionado no inventário de Manuel de Chaves e no testamento de Martim Rodrigues Tenório, se identifica por si mesmo, conserva o mesmo nome até hoje, é um dos afluentes da margem esquerda do Rio São Francisco; o Rio Guaimií [4] é identificado por Ovillle Derby, "com pouco risco de errar", disse ele e repetimos ainda, com o Rio das Velhas ou Guaicuí, afluente da margem direita do mesmo S. Francisco (R. I. H. G. de S. Paulo, vol. 8º, pág. 400), nas proximidades da Serra de Corumbataí, nome mencionado, segundo Teodoro Sampaio, nas proximidades do rio (Inv. e Test., vol. 26, págs. 11 e 14).

Era já a vitória que permitia as investigações para descobrimento das minas. Mas a bandeira não as descobriu nem delas trouxe notícias, só aprisionou índios temiminós e tupiães.

Lá já teria chegado a notícia que o novo governador geral, Diogo Botelho, que substituíra d. Francisco de Souza, mandara correr bando apregoando severíssimas penas em que iam incidir os sertanistas, depois de devassas ameaçadoras.

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Nicolau Barreto, o cabo da famosa bandeira de 1602, era irmão de Roque Barreto e de Francisco Barreto, e os três eram filhos de Álvaro Barreto, morador no Rio de Janeiro, e que se verifica nos inventários de Francisco Barreto (Inv. e Test., vol. 2º, pág. 241) nos quais Álvaro Barreto é feito curador de seus netos, filhos de Francisco Barreto.

Segundo Silva Leme, Genealogia Paulistana, vol. 7º, pág. 440, Nicolau Barreto foi casado com Lucrécia Moreira, filha de Jorge Moreira e Isabel Velho. Este Jorge Moreira foi um dos mais antigos moradores e povoadores da Capitania de S. Vicente, tendo sido almotacé em Santo André da Borda dos Campos (Atas de Santo André, pág. 67) e juiz e vereador de S. Paulo. Foi uma das principais pessoas da terra até 1599.

No volume 16 dos Inventários e Testamentos, pág. 441, há um inventário de Nicolau Barreto, feito em 1664; talvez um descendente ou parente do capitão.

Roque Barreto foi capitão-mor de S. Vicente, por Lopo de Souza, em 1602, foi depois vereador da Câmara de S. Paulo em 1604 (Atas, vol. 2º, pág. 143). Continuou a viver em S. Paulo, onde obteve datas e sesmarias depois de deixar o cargo de capitão-mor, que ocupava na capitania.

Francisco Barreto viveu em S. Paulo, casou-se com Maria Jorge, filha de Gonçalo Madeira e de Clara Parente, moradores de S. Paulo. Tomou parte em diversas entradas ao sertão. Em 6 de março de 1607, "no porto de Pirapetingui, estando de partida a descer gentio" faz o seu testamento em que declara o seu casamento, deixando uma filha pequena e a mulher grávida.

O seu inventário é iniciado em S. Paulo a 20 de agosto de 1607. Sua viúva casou-se em segundas núpcias com Pero Nunes, morador no Ipiranga.

Do resultado dessa entrada não houve notícia. Parece que ela desapareceu inteira no sertão.

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Pelos inventários de Braz Gonçalves, de Manuel de Chaves, de Belchior Carneiro, de Ascenso Ribeiro, de Martim Tenório e de algumas deduções, mais ou menos procedentes, podem-se mencionar muitos nomes, dos que constituíram a bandeira:

1 – Nicolau Barreto (capitão da entrada) (vol. 21, pág. 5)
2 – Manuel de Soveral (escrivão da entrada) "
3 – Pe. João Álvares (capelão da tropa) "
4 – Diogo Macieira (capelão da tropa) "
5 – Pe. Gaspar Sanches [*] "
6 – Braz Gonçalves, o moço "
7 – Braz Gonçalves, o velho "
8 – Baltazar Gonçalves, o velho "
9 – Baltazar Gonçalves, o moço "
10 – Domingos Gonçalves "
11 – Francisco Nunes Cubas "
12 – Jorge João (alferes da companhia Diogo Gonçalves Lasso) (R. Geral, vol. 7º, pág. 79) "
13 – Jorge Rodrigues "
14 – Antônio Pinto "
15 – Manuel Paes "
16 – João Bernal "
17 – João Morzelho "
18 – Antônio de Andrade "
19 – Matias Gomes "
20 – Luiz Eannes Grou (Luís Yanes) "
21 – Antônio Luiz Grou (vol. 1º, pág. 459)
22 – Antônio Pedroso (vol. 21, pág. 5)
23 – Baltazar de Godoy "
24 – Simão Borges de Cerqueira "
25 – Duarte Machado "
26 – Geraldo Correia "
27 – Paschoal Leite "
28 – Paulo Grum ou Quim "
29 – José Gaspar Sanches "
30 – Sebastião Peres Calheiro "
31 – Manuel Affonso "
32 – Rafael de Proença "
33 – Fernando Nobre (vol 1º, pág 459)
34 – Domingos Dias "
35 – Manuel de Chaves "
36 – Pero Nunes "
37 – Aleixo Leme "
38 – Bento Fernandes "
39 – .......... Leme "
40 – Mateus Neto "
41 – Antônio Bicudo "
42 – Manoel Mendes Allemão "
43 – André de Escudeiro "
44 – Francisco de Siqueira "
45 – Pero Martins "
46 – Domingos Fernandes "
47 – Lourenço da Costa "
48 – Nicolau Machado "
49 – Antonio Pedro "
50 – Francisco Ribeiro "
51 – Lourenço Nunes "
52 – Manoel Rodrigues "
53 – Salvador Pires "
54 – Simão Leite "
55 – Diogo Peneda "
56 – João Dias "
57 – Henrique da Cunha Lobo "
58 – Estevam Ribeiro "
59 – João Gago "
60 – Ascenso Ribeiro (Az. Marques, Cronologia, p. 602)
61 – Pero Leme "
62 – Manuel Preto "
63 – Francisco Alvarenga "
64 – Martim Rodrigues Tenorio (vol. 2º, págs. 26 e 27)
65 – Antonio Gonçalves Davide "
66 – Antonio Ferreira "
67 – Manoel Machado "
68 – Francisco Alves Correa "
69 – Diogo de Oliveira Gago (vol. 2º, págs. 26 e 27)
70 – Miguel Gonçalves "
71 – Francisco Ramalho (Tamarutaca) (vol. 5º, pág. 251)
72 – Simão Jorge "
73 – Belchior Carneiro (vol. 2º, pág. 111)
74 – Antônio Rodrigues Velho (Araa) (vol. 2º, pág. 155)
75 – Afonso Sardinha, o moço [**] "

[*] Como se vê, houve um terceiro padre na expedição.

[**] Azevedo Marques, na sua Cronologia, 1604, diz que nesse ano de 1604, Afonso Sardinha, o moço, fez testamento no sertão escrito pelo padre João Alvres. O padre João Alvres realmente esteve no sertão no ano de 1604, na bandeira de Nicolau Barreto. Se Affonso Sardinha fez testamento em 1604, escrito pelo pe. João Alvres no sertão, só poderia ser no sertão onde se achava o pe. João Alvres, com a tropa de Nicolau Barreto. Afonso Sardinha, pois, fez parte da bandeira de Nicolau Barreto.


[1] Na cópia inserida na nota do pe. Paulo Pastells, encontra-se, após o milênio "1602", uma interrogação, entre parênteses, o que parece por em dúvida o ano da entrada de Nicolau Barreto. Não sei se a dúvida aparece no escrito de pe. Pastells ou de pe. Mancilla. Que a entrada de Nicolau Barreto foi realizada em 1602, não pode sofrer dúvidas à vista dos documentos aqui citados. Essa dúvida, porém, pode aparecer e certamente refere-se a aprisionamento de índios que iam sendo levados em 1602, para as missões jesuíticas do Guairá, porque estas só começaram em 1607, com os padres Maceta e Cataldino, e foram organizadas pelo pe. Antônio Roiz de Montoya depois de 1610, isto é, anos depois da bandeira de Nicolau Barreto.

A província jesuítica do Guairá recebeu organização formal em 1607, mas lá já havia começado a catequese, como se infere dessa nota. Mas antes mesmo das missões do padre Roiz de Montoya, já os jesuítas mandavam buscar índios no sertão de S. Vicente para os cristianizar nas suas reduções.

[2] Anais do Museu Paulista, vol. 1º, pág. 244, Documentos Espanhóis do Arquivo de Sevilha, mandados copiar por Afonso D’Escragnolle Taunay, quando diretor do Museu Paulista, e nos Anais deste Museu publicados por sua diligência e iniciativa.

[3] Corumbataí. Repare-se que Teodoro Sampaio, no seu livro já citado, à pág. 90, ensina que a Serra de Corumbataí estava próxima ao Rio das Velhas.

[4] Teodoro Sampaio, no seu livro O Tupi na Geografia Nacional – Glossário, pág. 206, escreve "Guaimihy, por guaymi-y, o Rio das Velhas, Minas Gerais. Em documentos de 1600 e 1603 o grande afluente da direita do Rio S. Francisco é chamado Guibihy".

O b em tupi é sempre, ou quase sempre, nasalado (mb) e, como todas as articulações primitivas dessa língua, não era bem pronunciado; e muitos ora ouviam mais o m e outros mais o b, desaparecendo, às vezes, daí o escrever Guabihy e Guaimihi. O mesmo fenômeno se observa na palavra Mogi , que ora se encontra, escritos com M - Mogi e ora com B - Boigi. E na toponímia, em S. Paulo, ainda se encontra a forma mb, como na forma tão conhecida da povoação Mboy, próxima à cidade de S. Paulo, que se pronuncia comumente Embu.

Couto de Magalhães, no seu livro O Selvagem (pág. 13), já chamando a atenção dos estudiosos da língua tupi para o M e B que freqüentemente se substituíam nessa língua, aconselhava que esses estudiosos deveriam sempre ler as palavras em voz alta para julgar o sentido das palavras pelo som que ouvissem e não pela letra que vissem. Em suma, a língua tupi não estava ainda fixada quanto à sua pronúncia, o que fazia variar a sua escrita.