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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [17]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho informa, nas páginas 155 a 161, a seguir reproduzidas (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte


Homens de imprensa: 1) Dr. Fernando Mendes de Almeida (Jornal do Brasil); 2) Dr. J. Carlos Rodrigues (Jornal do Commercio); 3) Dr. Francisco Rangel Pestana (fundador do Estado de São Paulo); 4) Salvador Santos (Gazeta de Notícias); 5) Oscar Lopes (O Paiz); 6) João de Souza Lage (O Paiz); 7) Dr. Edmundo Bittencourt (Correio da Manhã); 8) Dr. Candido Mendes de Almeida (Jornal do Brasil); 9) Irineu Marinho (A Noite)
Foto publicada com o texto, página 156

A imprensa

pós duas tentativas logo abafadas, a imprensa teve, no Brasil, a sua fundação oficial no ato de d. João VI, de 13 de maio de 1808, que instalou a Imprensa Régia, hoje Imprensa Nacional.

Com efeito, já em 1707 houvera uma tentativa no Recife e outra, mais tarde, em Minas Gerais, para a instalação da imprensa no Brasil.

O governo da metrópole lusitana, porém, não viu com bons olhos esse surto e arreceou-se da influência provável que poderia ter o jornal, como fator de independência política. As suas incipientes tipografias foram, pois, irrevogavelmente suprimidas.

Houve, além disso, uma tipografia, no Rio de Janeiro, que gozou do apoio e da proteção da autoridade. Referimo-nos à tipografia de Antonio Isidoro Gomes da Fonseca, que foi, assim, o patriarca da imprensa brasileira. Em meados do século XVIII, com a autorização de Gomes Freire de Andrade, conde de Bobadella, governador do Brasil, começou Gomes da Fonseca a editar alguns trabalhos. Pouco tempo gozou o patriarca da imprensa, no Brasil, do privilégio, vindo a sofrer a sorte das outras a sua tipografia,que também foi mandada fechar.

A metrópole não podia ver com bons olhos essas tipografias, donde, com a multiplicidade e o prestígio da palavra impressa, poderiam surgir causas de enfraquecimento do seu poder, com a educação do povo e a agitação das idéias. E os temores da metrópole tinham grande razão de ser, no ponto em que pressentiam o grande papel das tipografias na evolução social e política do Brasil, principalmente sob a modalidade do jornal.

Com efeito, entre os grandes centros de irradiação de todas as campanhas e debates que se travaram, no Brasil, o jornal teve ação principal. Por outro lado, o jornalismo foi para os grandes homens do país uma espécie de universidade das idéias, onde fizeram armas, conquistaram prestígio e se aprestaram para as grandes missões d'Estado a que estavam fadados.

O movimento liberal português, cujos efeitos determinaram o grito da Independência e o definitivo rompimento com a metrópole, pela completa nacionalização política do Brasil, na abdicação de 7 de abril, de que resultou assumir o cetro um imperante brasileiro; os debates ardentes e apaixonados dos dois grandes partidos em que se dividiu a política do Império; a campanha da Abolição e a da proclamação da República - foram obra da instigação e da propaganda pelo jornalismo.

Ao mesmo tempo vemos passar por ele, como pelo contato duma pedra de toque indispensável, as individualidades de mais destaque, não só na política como na literatura. Pode-se afirmar que nenhum homem público brasileiro ou literato do século XIX dispensou esse degrau para subir à notoriedade, como uma indispensável etapa da glória.

Instituição contemporânea, por assim dizer, da descoberta do Brasil, o invento de Guttenberg foi o elemento mais decisivo no progresso e na evolução do grande país, quase seu irmão gêmeo, na data do seu nascimento para a civilização. Deve surpreender, entretanto, à primeira vista, tal fenômeno, em contraposição à falta dum correspondente grau de expansão e divulgação do jornalismo, porque, embora providos de todos os elementos mais modernos, não só intelectual como materialmente, os jornais brasileiros ainda não alcançaram uma circulação proporcional à população do país. Tal fenômeno tem uma parte da sua explicação na psicologia do surto da imprensa, no Brasil.

A imprensa brasileira não teve, desde o seu aparecimento até muitos anos depois, o caráter de indústria da publicidade. Os jornais surgiam como elementos de propaganda das idéias, para a defesa de princípios políticos, cujos interesses nenhuma relação tinham com a feição industrial das empresas desta espécie. O seu escopo era menos informar do que fazer adeptos e arrastar opiniões ao credo que cada qual defendesse.

Isto se nota no jornalismo que defendeu e combateu calorosamente a independência até o rompimento do derradeiro laço que ainda prendia o império livre ao reino português, com a abdicação de d. Pedro I. Foi igualmente partidário e propagandista o jornalismo que, no segundo império, acompanhou os dois grandes partidos, liberal e conservador. Finalmente, foi o jornalismo ardente e inflamado das idéias e princípios, o grande fator da Abolição e da República.

No meio dessa imprensa de paixões e de debates calorosíssimos, só se destacava, pela sua imparcialidade fria e superior aos acontecimentos políticos, o tradicional Jornal do Commercio, a maior força de opinião, no Brasil, com uma linha de serenidade imperturbável, em apoio, não deste ou daquele governo, mas do princípio que qualquer deles representava, o da autoridade legalmente constituída ou pelo menos bastante consolidada para cumprir a sua tarefa de manter o equilíbrio e a ordem.

Era já um órgão diferente da modalidade unânime dos outros, mas não era ainda a indústria jornalística da notícia. A sua diferença consistia no alheamento querido e proposital de co-participação moral em qualquer das correntes e paixão que revolviam a opinião e incandesciam os debates. Não comentava fatos nem idéias: expunha, submetendo os mais ardentes assuntos a uma média de temperatura inalterável, característica pela imutabilidade das suas seções e do tom a que obedeciam todas as notícias, nascendo, dessa frieza e desse alheamento a tudo quanto fosse debate apaixonado, o seu formidável prestígio, que passou a fronteira e atravessou o Atlântico.

O seu noticiário, que se atinha à mais oficial das fontes de informação, chegava ao extremado escrúpulo dos seus clássicos "consta". De tal sorte isso se acentuou que passaram a ser tidas como certas e assentadas as notícias que o Jornal do Commercio precedia dessa expressão pouco positiva. Em suas linhas gerais, tem ele conservado essa atitude, sendo sempre órgão mais ou menos meio oficial, transigindo apenas, no tocante a reformas, o quantum antis para não ficar em anacronismo, na sua época.

Antes do Jornal foi publicada na Imprensa Régia - criada pela necessidade de veicular e tornar públicas as notícias e medidas de caráter oficial, editando também várias obras originais brasileiras e traduções - a Gazeta, depois Gazeta do Rio e finalmente Diario do Governo.

Os artigos eram submetidos à censura prévia; e isto durou até a revolução liberal portuguesa de 1821, quando foi suprimida legalmente a censura, embora ela continuasse a existir, de fato. Nesse mesmo ano saiu o Jornal de Annuncio. Vieram depois o Conciliador do Reino Unido, o Despertador Braziliense, e outros, nenhum deles de publicação constantemente diária. Nestas condições, o primeiro jornal a aparecer foi o Diario do Rio de Janeiro, que viveu até 1878.

As proximidades da independência trouxeram a público uma infinidade de jornais de títulos mais ou menos arrogantes, apesar da sua feição efêmera resumindo a paixão dominante no momento. Foi em 1826 que o francês Emilio Seignot Plancher fundou o Spectador Brazileiro que, a 8 de outubro de 1827, passou a ser o Jornal do Commercio.

Eram seus contemporâneos 11 jornais, dos quais se destacava a Aurora Fluminense, dirigida por Evaristo Ferreira da Veiga, que exerceu decisiva influência na abdicação de Pedro I e acontecimentos que então se desenrolaram. Foi uma época de jornalismo violento e descomedido, feito num tom de acidez e virulência. Daí por diante, multiplicaram-se as tipografias, surgiram jornais e mais jornais, ora agudamente combatentes, ora ferinamente humorísticos, sem preocupação alguma com a censura que já nem tentava embargar essa linguagem.

Depois das tentativas do Globo e do Cruzeiro no sentido de explorar outro veio de publicidade, pondo um pouco de lado o jornalismo doutrinário, surgiu a Gazeta de Noticias. Foi em meio dessa imprensa, ou de corres excessivamente carregadas, ou profundamente incolor, que apareceu a primeira tentativa com êxito, duradoura, do jornalismo de informação, abrindo largas portas à reportagem.

A Gazeta de Notícias representa esse marco decisivo da evolução do jornalismo no Brasil. Desde os seus primeiros números, assumiu a Gazeta um aspecto que variava segundo a importância e a sensação das notícias, por esse critério classificadas na ordem das páginas. A par disso, criou-se, com ela, uma nova espécie de humorismo, ainda pouco conhecido num meio onde o humor era a sátira envenenada alternando com asa tremendas catilinárias que se atiravam os órgãos apaixonados, em volta da serenidade impassível do Jornal do Commercio. Era o que se poderia chamar o humorismo imparcial, com um traço de leveza e o pouco fundo de maldade, que não podia ter a sátira agressiva que a paixão acerava.

Em torno da Gazeta se agruparam três jornalistas corajosos, Ferreira de Araujo, Henrique Chaves e Emmanuel Carneiro. Esses três espíritos de eleição, dos quais os dois primeiros foram os mais graciosos cultores da ironia, no jornalismo brasileiro, deram à Gazeta uma feição original e nova, de modo a constituir o novo órgão uma verdadeira surpresa para os leitores, surpresa agradável de que lhe resultou, então, uma retumbante popularidade.

Além disso, era o jornal mais barato, o que facilitava a sua rápida circulação. Foi uma injeção de vivacidade álacre e sem as irritações costumeiras, que se inoculou no organismo da imprensa diária, fazendo hoje zangar a uns, irritando amanhã os adversários daqueles, recebida por todos com a condescendência que se tem para uma boa palestra, embora um pouco alfinetante.

Ao lado do velho Jornal, começou a Gazeta a viver a vida do jornal pelo jornal, porque, é preciso notar-se, com uma imprensa numerosa, cheia de jornais de existência mais ou menos efêmera, mas que não cessavam de aparecer à luz da publicidade, com os títulos mais explicativos, às vezes, da corrente de paixões ou interesses políticos que representavam, estes jornais não viviam do leitor; ou representavam os interesses gerais de um partido, ou pessoas de seus diretores.

Com essa numerosa imprensa, o número de leitores era escasso, pois nunca serviam a interesses coletivos do grande público. A tais condições só o Jornal do Commercio satisfazia, mas principalmente à classe comercial e aos homens de negócios, pela feição de preferência comercial e financeira das suas notícias. A Gazeta foi feita exclusivamente para o leitor, para o grande público, sem, contudo, se alhear dos grandes debates que agitavam a opinião.

Outros jornais vieram na rota da Gazeta de Notícias, inspirados pelo seu exemplo e animados pelo seu êxito; e entre estes se destacou superiormente a Gazeta da Tarde, pelo combate que nela deram à escravidão as penas eloqüentes de José do Patrocinio e Ferreira de Menezes, e nas campanhas abolicionista e republicana, O Paiz, que ainda existe.

A República determinou, nos seus primeiros tempos, um forte desequilíbrio de que se ressentiu muito a imprensa que, no torvelinhar das paixões, sofreu diversos empastelamentos, sendo destruídas as tipografias de vários dos seus jornais. A animosidade política, excitada por ambições violentas, faz com que, infelizmente, esses atentados grosseiros não tenham ainda desaparecido de todo, embora, há muitos anos já, o jornalismo do Rio de Janeiro não sofra tais violências.

No Amazonas o Quo Vadis, em Pernambuco o Diario de Pernambuco, e na Bahia três jornais duma só vez, estes cinco, ainda em 1912, foram empastelados por causa da política. É, porém, de esperar que a crescente civilização do Brasil acabe reagindo contra tais processos.

No Império, houve um atentado contra a imprensa, mas a sua vítima não inspira outra simpatia a não ser a provocada pela natureza do delito. Apulchro de Castro era redator de um pasquim soez, O Corsario, que atacava a honorabilidade e a família daqueles cujos atos criticava. Tantas irritações acumulou que afinal foi assassinado.

Em 1862, começou a ser publicado o Diario Official, no qual aparecem todos os atos do Governo. Já dissemos que o jornalismo foi a escola dos nossos principais grandes homens. Com efeito, foi nele que os dois Rio Branco, Joaquim Nabuco, Quintino Bocayuva, Ruy Barbosa e tantos outros fizeram as suas primeiras armas, na fase do jornalismo político e social do segundo Império. No advento da independência, vemos José Bonifácio, Evaristo da Veiga e mais alguns lançando mão do jornal para tribuna de defesa das suas idéias e de combate aos males reinantes.

A imprensa diária tem sido no Brasil a reveladora da grande maioria dos brasileiros notáveis, mesmo os que se destacaram na literatura como José de Alencar, Bernardo Guimarães, Joaquim Manuel de Macedo, e modernamente, todos quantos escrevem, com pouquíssimas exceções, têm passado para o livro, com uma escala forçada pelo jornalismo.

Dedicados exclusivamente ao jornalismo toda a sua vida, contam-se Justiniano José da Rocha; José do Patrocínio, o apóstolo da redenção dos escravos; Ferreira de Menezes; Ferreira de Araujo; Henrique Chaves etc.... Lopes Trovão, que fez também jornalismo intenso e vibrante, ao tempo da propaganda da República, foi sempre muito mais tribuno da propaganda falada do que jornalista. Quintino Bocayuva foi o luminar brilhante dessa propaganda, pelas colunas de O Paiz, belo e vigoroso espécime de jornalismo de idéias e princípios, que teve nas vizinhanças de 1889 uma importância capital e é ainda hoje um dos melhores órgãos da imprensa carioca.

Impõe-se também, aqui, uma referência especial a outro tipo de jornalista, Alcindo Guanabara, hoje senador e ainda diretor d'A Imprensa, do Rio de Janeiro. Alcindo  Guanabara possui as melhores qualidades do ofício, manejando-as ao sabor de um talento poderoso. A sua feição predileta é a dum humorismo amável e um tanto grave, que acusa a sua origem na lição dos mestres ingleses. É cronista tão brilhante quão temível polemista. Com uma longa vida de jornalismo, acompanhou-lhe a evolução e, espírito adiantado, tem-se adaptado a todas as formas novas do seu progresso.

Mais ou menos oriundos da mesma época, poderemos citar Olavo Bilac e Guimarães Passos, este já morto, ambos cultores cintilantes do humorismo. O primeiro tornou-se também um cronista apreciadíssimo. Conquanto diletante no jornalismo, o dr. Nuno de Andrade deu grande brilho ao pseudônimo Felicio Terra, com que subscreveu crônicas magistrais, no Paiz.

Falamos apenas dos que são considerados hoje os velhos da imprensa. Mas a nova geração oferece as revelações mais brilhantes, contando-se às centenas as aptidões, nesta ou naquela especialidade, para o ofício.

Depois da tentativa da Gazeta de Noticias, a mais arrojada e que mais êxito obteve foi a do Jornal do Brasil, cujas tiragens chegaram a ser de 50.000 exemplares, o que, no Rio de Janeiro, é considerado extraordinário.

O Jornal do Brasil conseguiu esse resultado abrindo a entrada, na sua parte editorial, ao público, quer  pelo registro das queixas de toda gente, contra autoridades etc., quer dando grandes proporções aos fatos, acumulando detalhes e minúcias, publicando retratos etc. Nomes e mais nomes, grandes títulos sobre notícias exploradas até os mínimos detalhes, registro de tudo quanto fosse "queixa do povo" - uma hábil mistura, em suma, do jornalismo ianque com o Petit Journal de Paris.

Depois do Jornal do Brasil, o grande sucesso jornalístico do Brasil foi o Correio da Manhã, aliando, a uma minuciosa parte informativa, uma vibrante nota de opinião política e uma colaboração assinada por escritores de grande nomeada no país. A sua carreira foi excepcionalmente rápida e a sua popularidade tem sido sempre crescente.

Existem mais, atualmente, no Rio de Janeiro, os seguintes órgãos matutinos: a Imprensa, de Alcindo Guanabara, muito informativa, com largo noticiário; o Diario de Noticias, fundado na oportunidade da última campanha eleitoral, na qual defendeu a candidatura do dr. Ruy Barbosa à presidência da República; a Folha do Dia, nascida da mesma causa, defendendo a candidatura do marechal Hermes da Fonseca.

Os vespertinos são os seguintes: A Noticia, jornal que timbra na amabilidade do tom dos seus comentários, norma de que raramente se afasta; A Tribuna, jornal mais atento à política do que à indústria do noticiário; O Seculo, jornal de oposição; a Gazeta da Tarde, jornal político; e finalmente a edição vespertina do Jornal do Commercio, com o espírito d'imparcialidade do Jornal matutino, um pouco demolidor, notabilizando-se a sua grande campanha em prol da reorganização do Exército e da Armada, na qual propugnou pelo contrato de instrutores estrangeiros. Explorando o gênero leve e faceto do comentário, faz carreira e ganha prestígio entre os seus leitores.

Como os jornais da tarde saíam normalmente às 2½ da tarde e, não sendo pequena, na cidade de vida intensa, a série de atos a noticiar, por várias vezes se tentou o jornal da noite, mas sem grande resultado. Ultimamente, porém, surgiu o Correio da Noite, que tem vivido, saindo às seis da tarde e, pouco depois, A Noite, que é um excelente jornal, aparelhado de todos os requisitos necessários a um órgão moderno. Como quase todos os outros, publica, ao lado do texto, numerosas fotogravuras.

Todos eles se dedicam essencialmente ao noticiário , que é minucioso na medida do possível. O Jornal matutino conserva ainda a unidade dos títulos, em uma só coluna, mas os outros freqüentemente abrem duas e mais colunas e não dispensam a multiplicidade dos títulos. Assim o jornalismo passou quase exclusivamente para o domínio da reportagem, e a própria nota ou feição de oposição é, não raro, constituída pela expressão ou intenção que o repórter dá às suas notícias.

Depois da República, o jornalismo do tempo dos dois grandes partidos monárquicos teve um recrudescimento ardente, com a campanha presidencial de que resultou assumir o governo da República o marechal Hermes da Fonseca. Formaram-se duas correntes que, embora não constituíssem duas forças de princípios contrários, deram margem a brilhantes debates. Essas duas correntes eram a dos civilistas, partidários da candidatura Ruy Barbosa, e a dos hermistas, partidários da candidatura Hermes, denominados por aqueles militaristas. Os civilistas diziam defender a investidura civil da primeira magistratura do país, vendo no advento dum oficial do Exército a perspectiva do predomínio militar. Os hermistas, antes de mais nada, negavam o caráter militarista do seu candidato, o qual, em contraposição com as acusações que faziam ao seu nome, declarava pretender ser "o mais civil dos presidentes".

Havia assim, em face uma da outra, uma corrente com programa, idéias e princípios nitidamente definidos, e outra que, sem fazer corpo de doutrina das qualidades que o civilismo lhe imputava, sustentava a campanha adversa pela negativa formal dessas idéias. O seu maior cuidado era colocar paralelamente as duas candidaturas no terreno político, quando os civilistas a classificavam como uma contingência forçada do poder militar, ansioso por galgar o poder e instalar-se no predomínio do país. Não havia, aliás, entre os civilistas, poucos militares, como entre os hermistas não eram em pequeno número os civis.

Apesar dessa falta de definição nítida de programas, a causa apaixonou grande parte do país e daí resultou uma brilhantíssima e intensa campanha de imprensa. Mas isto constitui um episódio na história da imprensa brasileira, que hoje tem profundamente o caráter de indústria de publicidade, entre a notícia e o anúncio.

Uma criação original, entretanto, conta a indústria do jornalismo, no Brasil. É a seção de publicações a pedido, instituição que não existe em nenhum outro jornalismo do mundo. Nessa seção, escreve quem quer e - dentro de certos limites - o que quer, com a responsabilidade do seu nome e pagando a tanto por linha.

Foi o Jornal do Commercio o criador desse gênero, como uma espécie de compensação à sua frieza e à sua imparcialidade. Pelos a pedidos do Jornal do Commercio passam todos os grandes debates nacionais; ali se discutem questões políticas, médicas, jurídicas ou simplesmente pessoais, ora de modo elevado e conceituoso, ora em termos agressivos e violentos.

O apuro material da confecção dos diários é perfeito. Alguns deles, como o Jornal do Commercio, o Jornal do Brasil e O Paiz, acham-se instalados em palácio próprio na Avenida Rio Branco. O Brasil pode se orgulhar de possuir uma imprensa culta e num adiantado grau de progresso material e intelectual.

É grande o número de mentalidades dedicadas ao jornalismo, como Alcindo Guanabara, Eduardo Salamonde, Medeiros e Albuquerque, Felix Pacheco, Irineu Marinho, Manuel da Rocha, Ernesto Senna, um dos mais antigos repórteres e autor de vários livros de reportagens interessantes; e a lista se tornaria longa, se procurássemos enumerar todos os jornalistas notáveis.

O dr. José Carlos Rodrigues, que começou a sua carreira jornalística, há muitos anos, com o Novo Mundo, revista que editava nos Estados Unidos, dedicada ao Brasil, é atualmente o diretor do Jornal do Commercio. Cabe também aqui uma referência ao dr. Fernando Mendes, pela feição característica que deu ao Jornal do Brasil, que fundou e dirige, e outra ao dr. Edmundo Bittencourt, por igual motivo, quanto à feição combatente que deu ao seu Correio da Manhã.

O jornalismo humorístico ilustrado, no Brasil, evoluiu também na mesma proporção desde o Mequetrefe, o Mosquito e mais modernamente o D. Quixote, este de Angelo Agostini, impressos a uma só cor, até o Fon-Fon, Careta, Revista da Semana, O Malho e outros que atualmente se publicam.

A par disso, editam-se algumas revistas científicas e literárias, notando-se, porém, muito menor interesse, da parte do público, por essa espécie de imprensa. O governo publica boletins e revistas dos seus vários serviços, principalmente no Ministério da Agricultura.

O gênero magazine é também explorado, tendo atingido hoje um alto grau de aperfeiçoamento. Como espécimes desse gênero, temos a Illustração Brazileira, a Leitura para todos e ultimamente duas magníficas edições ilustradas do Jornal do Commercio que, nestes últimos anos, entrou afoitamente por um caminho de reformas e progresso, conservando as suas tradições a linha equilibradamente conservadora e a ordem imperturbável de suas seções; telegramas nacionais e estrangeiros, constituindo estes o melhor serviço jornalístico de informações internacionais; a colaboração; a gazetilha com o noticiário uniformemente com um só título; as "várias notícias", com informação de mais importância e lá um ou outro comentário, tanto mais raro quão sensacional; noticiário oficial;, os célebres a pedido e os anúncios que se acumulam por páginas e páginas, em composições artísticas e letras enormes.

As duas novas edições ilustradas do Jornal são o Jornal Illustrado e o Jornal de Modas, ambas de publicação mensal e que, no apuro da impressão magnífica, podem figurar entre os mais bem feitos magazines.

É este em traços gerais o aspecto do jornalismo que atingiu tão alto grau de progresso, no Rio de Janeiro.

Nos Estados, porém, não teve a imprensa o mesmo desenvolvimento, e muito se distancia da perfeição do jornalismo carioca. Só a imprensa diária de S. Paulo e do Rio Grande do Sul segue mais de perto a da Capital Federal, no seu progresso. Fora dali, poucos são os estados onde se exerça o grande jornalismo, no sentido moderno do termo, e muitos aqueles onde o jornalismo está positivamente atrasado, sendo de notar-se, a par disso, um número de jornais muito pequeno, em relação ao desenvolvimento e progressos locais.

Entretanto, há jornais por toda a parte, e até o Território do Acre já tem dois: o Acre e o Cruzeiro do Sul. Mas esse jornalismo ainda é, na maioria dos casos, o que se fez no primeiro e em parte do segundo Império, um jornalismo apaixonado, mantido com sacrifício pelos interessados, e que deixou de se subdividir em liberal e conservador para ser, agora, governista ou de oposição.

No Amazonas, foi a imprensa introduzida no ano de 1852, sendo o seu primeiro jornal a Estrella do Amazonas. Hoje, são os principais jornais - A Folha do Amazonas, o Amazonas e o Jornal do Commercio, órgão que mais se aproxima, ali, do jornal moderno, embora extremamente partidário, como os outros.

No Pará, o nível de progresso é mais alto, representando-se o jornalismo pela velha Provincia do Pará, um dos melhores jornais do Brasil, o Jornal e a Folha do Norte, além d'outros. A imprensa foi inaugurada no Pará em 1821, com O Paraense, surgindo dos debates que precederam a Independência.

Teve grande importância o estado do Maranhão nos primórdios da imprensa brasileira, fornecendo ao país larga cópia de profissionais brilhantes, entre os quais se salientaram Odorico Mendes, Sotero dos Reis, Moraes e Silva, João Francisco Lisboa, Joaquim Serra, Arthur Azevedo e outros muitos. O primeiro jornal maranhense foi O Conciliador. Hoje, o seu principal e mais antigo órgão de publicidade é A Pacotilha.

No Piauí, o movimento jornalístico é pequeno, salientando-se O Piauhy.

A imprensa teve início, no Ceará, por ocasião da revolução republicana de 1817, fundando-se, entre outros, o Diario do Governo, que teve a vida efêmera daquela república de pouca duração. Restabelecida a legalidade, foram os seus redatores fuzilados. Sem progresso de importância, prosseguiu a sua imprensa, salientando-se pelo tom apaixonado A Republica e o Jornal do Ceará.

Pouca importância têm a imprensa do Rio Grande do Norte e a da Paraíba, como a de Sergipe e de Alagoas, com os mesmos característicos de quase exclusiva preocupação política.

Em Pernambuco, mais importante foi o surto, pois aí se formou um grande núcleo de mentalidades que deram grande incremento ao jornalismo. Na sua capital, Recife, se publica o Diario de Pernambuco, jornal mais antigo do Brasil pela data do seu aparecimento, embora não tenha tido a regularidade ininterrupta de publicação do Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, que, desse ponto de vista, pode reivindicar o título de decano da imprensa brasileira.

Data a introdução da imprensa, em Pernambuco, da revolução de 1817, extinta pelo triunfo da metrópole contra a República do Equador e restabelecida em 1821. O Diário de Pernambuco iniciou a sua publicação a 7 de novembro de 1825; o Jornal do Commercio, com o título de Spectador Brazileiro, começou a ser publicado em 1826, tomando o título que ainda conserva a 1 de outubro de 1827. Atualmente, além do Diario, existem, em Pernambuco, o Jornal do Recife, a Provincia, o Pernambuco, o Jornal Pequeno e outros.

O primeiro jornal que teve a Bahia foi o intitulado Idade de Ouro do Brazil, publicado a 7 de janeiro de 1812. Hoje, conta o Diario de Noticias, Gazeta do Povo, Diario da Bahia, reconstituído depois de empastelado num conflito político, e outros.

No Espírito Santo, o jornalismo que pouco tem progredido, divide-se em governismo e oposição.

No estado do Rio de Janeiro, destacam-se os jornais de Niterói e de Campos, dois centros de publicidade, onde se faz, ainda que modestamente, o jornalismo moderno.

No Paraná e em Santa Catarina, não há jornais de grande importância, salientando-se a circunstância da existência de vários órgãos redigidos em alemão, devido à grande afluência, hoje, ali, de colonos germânicos.

Em Goiás e Mato Grosso, o jornalismo é quase nulo. Em Minas Gerais, tem ele grande desenvolvimento de número, sem cultivar muito as qualidades do grande jornalismo. Entretanto, destacam-se como centros de publicidade, pela melhor confecção e maior adiantamento dos seus jornais, Juiz de Fora e a capital Belo Horizonte.

Em 1807, houve uma tentativa malograda de jornalismo, em Minas Gerais, sendo a imprensa definitivamente introduzida no estado em 1824, com o Correio do Itacolomy. Hoje, publicam-se, entre outros, o Diario de Minas e o Minas Geraes, de Belo Horizonte, o Jornal do Commercio e o Pharol, de Juiz de Fora, havendo ainda mais órgãos nestas duas cidades e em outras do estado.

Resta-nos falar da imprensa de S. Paulo e do Rio Grande do Sul, onde ela já atingiu o nível estável de indústria organizada. Não deixa de ser notável que S. Paulo, uma das províncias mais consideráveis do Brasil, e que tão importante papel desempenhou nos movimentos da Independência, relativamente só muito tarde, depois da Bahia, do Maranhão, de Pernambuco, do Pará, do Ceará, isto é, em 1827, tivesse jornal.

Foi, com efeito, a 7 de fevereiro desse ano, que o dr. José da Costa carvalho, futuro marquês de Monte Alegre, deputado, senador, ministro e presidente do Conselho, e um dos regentes do Império, publicou em uma tipografia própria o Farol Paulistano, primeiro jornal que teve S. Paulo. Saía esse jornal paulista às quartas e sábados; não tinha assinantes; e vendia-se avulso a 80 réis. Viveu de 1827 a 1832.

O primeiro mestre da arte tipográfica em S. Paulo, e impressor do Farol, foi o espanhol José Maria Roa; e a tipografia, depois melhorada, onde se imprimia o jornal, denominava-se Imprensa de Roa & Cia. e do Farol Paulistano. Na mesma tipografia, se publicavam O Observador Constitucional (1829-1832), o Novo Farol Paulistano (1831), o Federalista (1832) e o Justiceiro (1834-1835).

O segundo jornal paulista foi o Observador Constitucional, do célebre médico e liberal italiano, dr. João Baptista Libero Badaró, assassinado por motivos políticos, pois tomara parte grande nas agitações políticas da época, em 1830. Neste ano, foi criada pelo governo da província uma tipografia, que se denominou Nacional, para a publicação dos atos do governo. O primeiro diário que teve S. Paulo foi o Correio Paulistano, aparecido em 1854. É o decano, hoje, da imprensa paulista.

Da capital, passou lentamente a imprensa para as outras cidades e povoações da província. Apareceu em Santos em 1848 e só pelos anos de 1860 em outros pontos. Dos anos de 1870 para cá, desenvolveu-se muito e é hoje, pelo número de jornais, ao menos, a imprensa paulista uma das mais consideráveis no Brasil. A da capital, S. Paulo, vem talvez, ela importância, recursos, tiragem e circulação, logo após a do Rio de Janeiro.

Teve o estado de S. Paulo, até 1896, em 86 das suas localidades, 1.536 jornais e outras publicações jornalísticas, cabendo à capital 664 e a Santos 130. Publicam-se hoje na cidade de S. Paulo o Correio Paulistano, o Estado de S. Paulo, o Commercio de S. Paulo, o Diario Popular, a Platéa, o Império, a Gazeta, A Tarde etc.

Já em 1828 existia em Porto Alegre, no Rio Grane do Sul, uma tipografia, com o nome de Rio Grandense. Dela saiu, no mesmo ano, o Constitucional Rio Grandense, que foi, parece, o primeiro jornal publicado na província.

Da imprensa do Rio Grande de 1846 para cá, não temos notícias precisas. Sabemos que é um dos estados em que ela mais se tem desenvolvido, sendo rara a cidade, sertaneja ou ribeirinha, que não tenha o seu jornal.

Além das localidades mencionadas, tiveram imprensa, daquele ano ao de 1880, as seguintes: Itaqui, Jaguarão, Pelotas, Cruz Alta, S. Gabriel, Caçapava, Bagé e Taquari. Hoje, já o jornalismo do Rio Grande do Sul se incorporou à maneira moderna, embora ainda vibrando de paixão política. É expoente mais expressivo da sua evolução O Diario, recentemente fundado em Porto Alegre, e que rivaliza com os melhores jornais provincianos do Brasil e do Prata.

A indústria do jornalismo exige grandes capitais, contando-se por milhares de contos os empregados em cada uma das empresas como o Jornal do Commercio, o Jornal do Brasil, a da Tribuna, que mantém mais quatro publicações semanais e mensais, O Paiz e outras. Algumas destas editam almanaques, gênero que tem seu principal representante no velho Almanach Laemmert, importantíssimo repositório de informações de toda a espécie.

Como se vê desta exposição muito resumida, a imprensa tem largo desenvolvimento no Brasil. Entretanto, em poucos Estados ela progrediu até o nível do jornalismo moderno e, nestes lugares, com especialidade a capital da República, os seus progressos materiais são extraordinários. Infelizmente, nem todos esses esforços têm a compensação que o seu aperfeiçoamento exige, pois os números de circulação chegam a ser ridículos, para uma população superior a 20.000.000 de habitantes. Isso, aliás, ainda mais significa o esforço do jornalismo do Brasil que, com um núcleo importante de grandes órgãos, que nada ficam a dever, em progresso e aperfeiçoamento, à imprensa das mais cultas capitais, mantém um serviço de publicidade e de informação superior ao meio em que não é das mais remuneradas.

Há muitas associações de classe na imprensa do Brasil, sobressaindo as corporações tipográficas. Durante muito tempo, porém, os encarregados da parte intelectual dos jornais não conseguiram agremiar-se. Várias tentativas feitas neste sentido fracassaram. Só logrou êxito definitivo a Associação de Imprensa, do Rio de Janeiro, que vai conquistando grande importância e dispondo dum prestígio cada vez mais forte.


Vendedores de jornais
Foto publicada com o texto, página 158

O Jornal do Commercio - No conceito geral do país, como por consenso unânime na imprensa brasileira, o Jornal do Commercio é o mais importante órgão de publicidade do país. Esta primazia se estriba não só na sua importância material, na grande soma de recursos de que dispõe, na abundância e excelência das suas informações e texto de colaboração, na sábia direção que tem sempre tido, como ainda na sua grande antiguidade.

O Jornal do Commercio é, de fato, o mais antigo dos jornais brasileiros atualmente existentes, depois apenas do Diario de Pernambuco, que apareceu dois anos antes dele (em 1825), mas que, sobre ser um jornal de província e, por isso, naturalmente menos ligado às grandes vicissitudes da vida nacional, teve diversas interrupções de publicidade, devido às quais não pode contar tantos anos de existência ativa como o Jornal.

A verdadeira data de aparecimento do grande órgão - que em todo o Brasil é também denominado, com certo orgulho nacional, "o velho órgão" - foi objeto de controvérsias históricas, em que intervieram os mais distintos historiadores e cronistas do país, e mesmo alguns curiosos bibliógrafos estrangeiros.

Ainda a esse respeito publicou recentemente um interessante folheto o coronel Ernesto Senna, cuidadoso investigador de velhos documentos e o mais antigo dos atuais redatores do Jornal, no qual parece ter ficado definitivamente estabelecido que o Jornal do Commercio, com este nome, apareceu pela primeira vez em 1º de outubro de 1827, isto é, cerca de cinco anos após a proclamação da independência do Brasil e um ano após a reunião solene da primeira Câmara dos Deputados e o primeiro Senado do Brasil. Essa data, aliás, era a já anteriormente fixada pelo dr. Carlos de Laet, bem como pelo sr. Arrigo Zettery, num opúsculo publicado na Itália.

Este carinho histórico aplicado à investigação exata do aparecimento do Jornal basta para mostrar o acatamento de que ele goza no país. Mas ele tem ainda outra significação, que vem a ser a importância representada pela publicação dessa folha na vida nacional do Brasil; pois não há exagero em dizer-se que a história do Jornal do Commercio acompanha, paralelamente às vezes, outras vezes confundida com ela, toda a história do Brasil como país independente, de sorte que um historiador que consultasse cuidadosamente os arquivos do Jornal ficaria provido com os mais completos e os mais fiéis documentos da vida brasileira, desde 1827 até os nossos dias.

Nesse ano de 1827, publicavam-se no Brasil cerca de trinta periódicos, quando apareceu no Rio de Janeiro o Jornal do Commercio, editado, em pequeno formato, por Emile Seignot Plancher. A população da cidade não excedia então de 100.000 habitantes, e o Jornal do Commercio não contava então com mais de 400 assinantes. O espírito moderado e criterioso dos seus fundadores fez com que o Jornal, desde o seu início, se abstivesse de uma intromissão muito ativa nos tumultos políticos que se seguiram à independência do país: a sua função limitava-se quase a registrar os fatos ocorrentes, publicando desde então, com o grande atraso natural naqueles tempos, correspondências da Europa, que eram no Brasil de grande interesse e repercussão.

Pode-se dizer que, guardadas as proporções de tempo e de progresso, essa norma dos fundadores do Jornal do Commercio tem sido a seguida até hoje por todos os seus sucessores; e se a abstenção não é hoje tão sistemática como em tempos passados, é que também a vida política do país se intensificou por tal forma, sobretudo após a descentralização do Governo, trazida com a República federativa, que o Jornal faltaria á sua função de registrador da vida nacional, se não interviesse, por vezes, com a sua opinião ponderada, e por isso mesmo recebida sempre com acatamento, para demonstrar os erros ou apontar as virtudes de certos fatos políticos, de acordo com os interesses coletivos da Nação.

Fundamentalmente, porém, o Jornal do Commercio é hoje, como ao tempo de sua fundação, um órgão de informações do país e do estrangeiro, divorciado de quaisquer agrupamentos partidários, para ser, quanto possível, o expoente da opinião moderada do país em face de todos os atos e fatos da vida nacional.

Num artigo histórico, publicado pelo Jornal em 1º de outubro de 1908, para comemorar o 81º aniversário da sua fundação - particularmente assinalado pela sua mudança de casa e completa remodelação material dos seus serviços - a história do Jornal do Commercio é dividida em quatro períodos: de 1827 a 1840, de 1840 a 1864, de 1864 a 1890 e de 1890 a nossos dias.

O primeiro período compreende os três primeiros anos de fundação do Jornal, completados pelo decênio agitadíssimo da Minoridade de d. Pedro II. Nesse período, fecundo em grandes feitos e grandes homens, modelou-se a nacionalidade brasileira com as formas com que chegou até a República, e foi nesse tempo que a imprensa brasileira se mostrou mais forte e mais combatente.

Sem se envolver nas pequenas intrigas políticas da Regência, o Jornal do Commercio registra cuidadosamente os últimos feitos da guerra Cisplatina, as aclamações esperançosas ao menino imperador, as notícias da situação agitada nas províncias e os debates animadíssimos do Parlamento.

Proclamada a Maioridade de Pedro II, foi no Jornal que  Bernardo Pereira de Vasconcellos, o gênio político do seu tempo, publicou a sua exposição dos fatos e conluios que haviam precedido à revolução palaciana-parlamentar.

No segundo período, a história do Jornal confunde-se com a do Reinado. Junius Vileneuve, que adquiriu a empresa em 1832, chamou à sua cooperação Francisco Picot, um administrador arguto, e Manoel Moreira de Castro, um jornalista avisado. Picot e seu substituto, Emilio Adet, chamaram para colaboradores os escritores mais notáveis desse período, e todos os estadistas do Segundo Reinado passaram pela redação do Jornal: José Maria da Silva Paranhos (visconde do Rio Branco), Francisco Octaviano (visconde de Jequitinhonha), Domingos José Gonçalves de Magalhães, Porto Alegre, Francisco de Paula Brito etc.

Os seus colaboradores efetivos de 1840 a 1864 foram Justiniano José da Rocha, o mais completo jornalista do seu tempo, grande conhecedor da língua portuguesa, e Joaquim Manoel de Macedo, historiador e um dos mais populares romancistas do Brasil.

Data desse período a introdução dos romances -folhetins nos jornais de Paris; e o Jornal do Commercio publicou em suas colunas Os Mysterios de Paris, O Judeo Errante, Os Miseraveis, que despertaram grande curiosidade pública, aumentando consideravelmente a sua circulação.

É também desse período o extraordinário desenvolvimento que teve a seção ainda hoje existente sob a rubrica A pedidos, aberta a todas as opiniões pessoais e a todos os interesses particulares lesados, como a todos os desabafos, garantindo assim, de fato, a liberdade de imprensa, apenas limitada pelas leis e o decoro da linguagem.

Ainda nesse período de 1840-64, prosseguiu a atividade política; e nas colunas ineditoriais do Jornal do Commercio se feriram as mais rudes polêmicas e escaramuças precursoras da paz. Os próprios governos se serviam dessas franquias, e já, de 1860 em diante, enviavam ao Jornal entrelinhados tendentes a sondar a opinião pública sobre os seus intuitos ou prepará-la para eles.

Sem se imiscuir nas lutas partidárias, embora governamental por índole, o Jornal refletia a austeridade geral do povo, limitando-se a narrar os fatos com o maior escrúpulo de imparcialidade. Já então Moreira de Castro fora substituído na direção por seu sobrinho, o dr. Luiz de Castro, escritor de gosto, e Emilio Adet, na administração, por Leonardo Caetano de Araujo, cuja prudência e parcimônia muito contribuíram para a prosperidade financeira da empresa.

Terminada a guerra do Paraguai, o Brasil entrou em caminho das grandes reformas que marcaram os três últimos lustros do reinado de Pedro II. Por esse tempo, começavam a ter grande incremento os A pedidos, onde, ao lado dos escravagistas que formigavam contra a imprensa abolicionista, figuram os nomes de Joaquim Nabuco, Ruy Barbosa e José Avellino, um entrelinhista mestre.

Em 1889 é proclamada a República, trazendo nova gente, novas leis, novas práticas. O Jornal do Commercio mudou também de direção com a mudança de regime. Em 17 de outubro de 1890, assumiu a direção e gerência da folha o dr. José Carlos Rodrigues, um espírito britânico servido por uma iniciativa ianque, o qual, tendo sido 30 anos correspondente do Jornal nos Estados Unidos e em Londres, o adquiriu por compra, com mais 23 associados, por 3.500:000$000.

Apoiado sobre a solidez financeira e o prestígio tradicional que asseguraram ao Jornal os seus predecessores, o dr. José Carlos Rodrigues soube infundir-lhe uma vida nova, introduzindo nele tantos melhoramentos materiais e refundindo por tal forma o seu texto, que esta é sem dúvida a fase de vida mais intensa do velho órgão brasileiro.

Alguns conservadores extremados não deixaram de ver com certo desgosto a infusão de vida nova no Jornal do Commercio, a sua intromissão um pouco mais freqüente nos debates sobre os acontecimentos políticos; mas a verdade é que o Jornal, conservando a sua índole e a sua função, apenas evoluiu com a sociedade a que serve, acompanhando-a, porque, para as instituições sociais, parar é morrer.

Relativamente ao texto, o dr. José Carlos Rodrigues promoveu um grande desenvolvimento das informações do país, convidou colaboradores estrangeiros e deu particular expansão ao serviço telegráfico do exterior, em que o Jornal despende grandes somas, caras como são as taxas de telegramas da Europa para a América do Sul.

Da excelência do serviço telegráfico do Jornal, que além de minuciosamente informativo, é uma crônica diária e desenvolvida de toda a política internacional, é testemunha a condecoração mandada levar ao dr. José Carlos Rodrigues pelo imperador do Japão, que julgou assim recompensar os bons serviços prestados ao nome japonês pelo Jornal do Commercio, com a divulgação minuciosa de todos os feitos da guerra russo-japonesa.

Na parte material, o atual diretor do Jornal, depois de dotá-lo com os mais aperfeiçoados materiais de composição e impressão, não hesitou mesmo em transferir o velho órgão da velha casa em que aparecera à Rua do Ouvidor, para um monumental palácio mandado construir na Avenida Central, acompanhando ainda nisso a evolução da cidade, que arrasou as velhas ruas estreitas e as velhas casas baixas e escuras, para abrir avenidas largas e levantar construções arejadas.

A construção do edifício, para a qual foi necessário fazer-se uma dispendiosa expropriação de terreno, foi contratada com os srs. Antonio Jannuzzi, Irmão & Companhia, pelo preço de Rs. 1.293:000$000. A superfície total do terreno ocupado pelo edifício do Jornal é de 1.059 metros quadrados, estando o edifício dividido em sete pavimentos, além de três que formam a sua torre, o que tudo somado dá uma área de construções superior a 6.900 metros quadrados.

A disposição interna do edifício foi fixada pelo próprio dr. José Carlos Rodrigues, e ela compreende, no sétimo andar, um magnífico salão de festas e concertos. As comunicações dentro do edifício são feitas por quatro ascensores elétricos, para transporte de passageiros, e por um serviço especial de tubos pneumáticos, para transporte dos originais de composição, que são por esse meio transmitidos de um andar para outro, e da redação para as oficinas, que funcionam num grande anexo ao edifício da Avenida. O serviço de iluminação elétrica é feito por uma rede de canalização de aço, alimentando um total de 114 circuitos independentes, controlados por chaves parciais. Há uma extensão de cabos e canalizações de aço atingindo cerca de 19.500 pés.

Para se formar idéia do pessoal efetivo do Jornal, que é muito superior, em número, a 500 homens, basta dizer-se que existe uma Associação dos Empregados no Jornal do Commercio, em excelentes condições financeiras.

As edições do Jorrnal variam habitualmente entre 12 e 24 páginas de oito colunas com 230 linhas por coluna; as edições especiais de aniversário e de Natal têm chegado mesmo a 80 páginas. Em 1909, o Jornal do Commercio resolveu dar também uma edição vespertina de quatro páginas habituais, cujo texto, muito mais leve que o da edição matutina, permite ao velho órgão, conservando embora unidade perfeita de orientação, desdobrar-se numa dupla feição, ocupando-se, em forma ligeira, de assuntos que não comportava a sua austeridade tradicional.

Em 1912, iniciou a publicação dum suplemento, o Jornal Illustrado, uma perfeição de arte gráfica, que é distribuído gratuitamente aos assinantes de ano da edição matutina, bem como um Jornal de Modas, mensal, para os leitores da edição vespertina.

As funções de secretário ou redator-gerente - que é no Jornal do Commercio uma espécie de sub-diretor - estão a cargo do sr. Felix Pacheco, deputado federal pelo Piauí e membro da Academia Brasileira de Letras. São gerentes comerciais da empresa o sr. João Baptista Lopes, que se ocupa dos interesses do Jornal na Europa, residindo em Paris, e o comendador Antonio Ferreira Botelho, que muito tem contribuído para dar à empresa a solidez financeira em que ela assenta.

Na composição de seu numeroso corpo de redatores, repórteres, colaboradores e correspondentes, tem sabido o Jornal combinar habilmente a ponderação e proficiência de jornalistas amadurecidos na profissão com o sangue novo de moços, cujo talento e particulares aptidões lhe parecem merecer encaminhamento e estímulo. Tendo lançado um grande empréstimo, facilmente coberto, para aquisição de material e de terreno e construção do novo edifício, a situação financeira do Jornal é a mais próspera possível e perfeitamente garantida pelo favor público.

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O edifício do Jornal do Commercio
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O Paiz - O Paiz surgiu em 1º de outubro de 1884, fundado por João José dos Reis Junior, que o instalou em casa própria e procurou fazer um jornal moderno, bem redigido e excelentemente aparelhado. Nessa casa, especialmente construída e junto ao antigo prédio do Jornal do Commercio à Rua do Ouvidor, que era a rua tradicional da imprensa, esteve O Paiz até transferir-se, em 1906, para o prédio atual da Avenida Central, hoje Rio Branco. Foi o primeiro jornal localizado nesta Avenida.

Teve como primeiro redator-chefe o dr. Ruy Barbosa, que se retirou poucos dias depois. Sucedeu-lhe Quintino Bocayuva, o "príncipe da imprensa brasileira", que nele permaneceu, dirigindo-o, até 1901, com o interregno da sua passagem pelo Governo Provisório da República, durante o qual a sua influência ainda se fazia sentir no jornal. Depois de Quintino Bocayuva, o Paiz teve como redator-chefe o sr. Eduardo Salamonde, um dos seus mais antigos redatores, até 1906, e a seguir Alcindo Guanabara (1906-1907). Daí para cá, a direção do Paiz foi exercida imediatamente pelo sr. João de Souza Lage, que já era, de muito, figura preponderante no jornal, exercendo sucessivamente a redação política os srs. Nuno de Andrade e Pedro Moacyr, Mario Cattaruzza (falecido), Nuno de Andrade (novamente), Lindolpho Azevedo (interino) e de novo Eduardo Salamonde, redator atual.

Retirando-se em 1890 João dos Reis Junior, passaram pela direção da empresa, desde então coletiva, figuras destacadas como Quintino, Manoel Cotta (morto em 1900 no jornal, quando esperava a tiragem), Antonio Leitão (falecido), Jovino Ayres (falecido), Rodolpho Abreu, Bellarmino Carneiro, Eduardo Salamonde e outros e, nos terradeiros temos, José Barbosa, os drs. Franklin Sampaio, Xavier da Silveira (os dois falecidos) e Maximiano de Figueiredo, comendador J. Ferreira Sampaio e João Lage.

O Paiz contou na redação, desde o início, experimentadas penas, colaborando nele, nos primeiros tempos, publicistas como Joaquim Nabuco, Joaquim Serra, França Junior, Pinheiro Chagas (de Portugal), Corina Coaracy, Arthur Azevedo e Urbano Duarte.

O Paiz fez denodadamente as campanhas do Abolicionismo (1884-1888), da Questão Militar, da República, da defesa do governo legal, com o marechal Floriano, contra a revolta de 1893-1894, e tem dado brilhantes combates em várias questões políticas e sociais. A sua fase de mais intensa popularidade foi a de 1888 a 1895, quando o diretor Manoel Cotta fazia inscrever no cabeçalho da folha: "Órgão de maior circulação da América do Sul". É hoje ainda uma das folhas de maior influência na opinião. Está instalada em um dos mais belos palacetes da Avenida Rio Branco, cujo custo foi aproximadamente de Rs. 2.000:000$000.

Gazeta de Noticias - Fundada a 2 de agosto de 1875, pelo grande jornalista Ferreira de Araujo. Iniciou no Brasil o jornal barato, o jornal de ampla informação a bon-marché. Mas era redigido pelos melhores escritores do Brasil, de modo que, através da sua já longa existência, ficou sendo o jornal-tipo do Rio, em melhoramentos materiais e inovações do serviço de informação.

Foi o jornal que iniciou a interview, a reportagem fotográfica, a caricatura diária, o que deu a fórmula da reportagem moderna. Ferreira de Araujo era um grande espírito. Assim, fez aparecer no seu jornal a geração literária mais ilustre que o Brasil tem tido: Alberto de Oliveira, Olavo Bilac, os poetas máximos; Aluizio Azevedo, Coelho Netto, d. Julia Lopes de Almeida, os notáveis romancistas; cronistas, humoristas etc.

A Gazeta de Noticias começou com três diretores que eram associados, Ferreira de Araujo, Henrique Chaves e Emmanuel Carneiro. Em 1890, transformou-se em sociedade anônima, tendo como presidente Ferreira de Araujo, que morreu alguns anos depois. Atualmente, são seus diretores os srs. Manoel da Rocha, um dos mais perfeitos jornalistas brasileiros, e Salvador Santos.

A Gazeta de Notícias continua a ser, com os progressos da imprensa contemporânea, o mesmo jornal de grande e brilhante informação. A edição é normalmente de 8 a 20 páginas, dando semanalmente um suplemento em francês para os seus leitores estrangeiros, Le Brésil économique, e um suplemento ilustrado a cores. Os principais redatores são os srs. Oliveira Rocha, João do Rio, Carlindo Lellis, Nogueira da Silva, Sebastião Sampaio. Tem como colaboradores os maiores nomes da língua portuguesa: Ramalho Ortigão, Madeiros e Albuquerque, Oliveira Lima, Olavo Bilac, assim como grandes escritores estrangeiros, entre os quais Max Nordau.

Jornal do Brasil - O Jornal do Brasil é publicado diariamente, no Rio de Janeiro, em seu edifício, sito à Avenida Rio Branco, 110 e 112, a mais alta construção existente atualmente na cidade. Fundado em 1891, foi seu primeiro redator-chefe o finado conselheiro Rodolpho E. de Souza Dantas, pouco tempo depois substituído pelo também falecido dr. Ulysses Machado Pereira Vianna, que, por sua vez, foi substituído pelo conselheiro Ruy Barbosa, atualmente senador federal, representando o estado da Bahia; e como houvesse no Rio de Janeiro, em 1893-1894, uma grande sublevação das forças navais, o Jornal do Brasil foi suspenso e vendido aos srs. Mendes & Cia., que, em 1902, o transferiram à Sociedade Anonyma Jornal do Brasil, que é, atualmente, proprietária do jornal. Desde 1894 são redator-chefe do Jornal do Brasil o dr. Fernando Mendes de Almeida, e redator gerente o dr. Candido Mendes de Almeida.

O programa do Jornal do Brasil é de completa independência política. Não está filiado a partido algum e é seu propósito ser o maior centro de informações dos fatos passados na capital e nos estados do Brasil e em todo o mundo. Diferentes campanhas sustentou o Jornal do Brasil, bastando citar a do reatamento das relações diplomáticas entre o Brasil e Portugal; a da pacificação do Sul; a movida contra o monopólio dos gêneros de primeira necessidade; a da reforma eleitoral; a oposição à supressão  de Legação junto à Santa Sé, à decretação do divórcio, à obrigatoriedade da vacina.

Além do cotidiano, o Jornal do Brasil edita semanalmente um belo magazine ilustrado e a cores, a Revista da Semana, com 32 páginas pelo menos e, anualmente, o Annuario Illustrado do Jornal do Brasil, forte volume de 400 páginas, de informações úteis e de amena leitura.

Correio da Manhã - Foi este jornal fundado, a 15 de junho de 1901, pelo dr. Edmundo Bittencourt, seu proprietário e diretor. É órgão independente, político combativo e advoga todas as causas que traduzam interesses exclusivamente populares, donde lhe vem a força moral que exerce na opinião pública. Neste jornal têm colaborado algumas das mais brilhantes penas do jornalismo brasileiro, como Manoel Victorino, Carlos de Laet, Affonso Celso, Coelho Netto, Medeiros e Albuquerque, Souza Bandeira, José Verissimo e outros. O Correio da Manhã, que é um dos jornais mais noticiosos da imprensa brasileira, insere gravuras de todos os fatos e homens notáveis do momento. É redator-chefe do Correio da Manhã o dr. Leão Velloso (Gil Vidal), e da redação fazem parte algumas figuras de destaque no jornalismo fluminense. O Correio da Manhã tem representantes em todas as cidades importantes do Brasil e também no estrangeiro.

A Noticia - Fundada em 1894. Jornal da tarde. Os jornais vespertinos eram até essa época exclusivamente políticos, compostos exclusivamente contra os ministros, os partidos. Em jornais da tarde, fez o abolicionista José do Patrocinio a sua grande obra da redenção dos escravos. Mas esse jornalismo da tarde na capital do Brasil só teria um símile: o mesmo jornalismo em Portugal.

Quem fundou a Noticia foi o sr. Manoel da Rocha, criando no jornalismo da tarde o jornal de informação. O seu sucesso foi assegurado pelo serviço telegráfico sobre a guerra de Cuba. Os primeiros telegramas de uma e duas colunas pareceram ao público um bluff. Foi preciso a exibição dos despachos da agência telegráfica, e no dia seguinte o Jornal do Commercio - "o Times do Brasil" - transcrevia os telegramas com elogios. Desde esse dia A Noticia estava feita. De ano para ano, o seu êxito aumentou, chegando a sua renda a ultrapassar os lucros de qualquer outro grande jornal do Brasil. Tem sido várias vezes líder de situações políticas, sem esquecer o seu caráter de informação completa.

A Noticia é propriedade dos srs. Manoel da Rocha e Salvador Santos. Tem como colaboradores os srs. Medeiros e Albuquerque, José Verissimo, Coelho Netto, João do Rio, Olavo Bilac, da Academia Brasileira, e como principais redatores os srs. Oliveira Gomes, J. Britto, A. Barbosa. A direção é do ilustre jornalista sr. Manoel da Rocha.

A Noite - É este um dos jornais mais populares do Rio de Janeiro. Tendo aparecido a 18 de julho de 1911, o seu êxito foi, por assim dizer, imediato e desde logo se consolidou na aceitação e na simpatia do público. Raros exemplos haverá, na imprensa brasileira, de vitória tão rápida e tão segura. O capital da empresa era modestíssimo (menos de Rs. 100:000$000), mas a capacidade do fundador e diretor, sr. Irineu Marinho, e dos seus companheiros, moços como ele e cheios de energia, supriram a falta de elementos ordinariamente indispensáveis.

É um jornal moderno, de última hora mesmo, onde o maior número de notícias se encontram, interessantemente exploradas e comentadas, no menor espaço possível. Tendo começado com um velho material, conforme lho impunham os minguados recursos, A Noite pôde, com menos de um ano de existência, adquirir novas máquinas de impressão e linotipos, montar oficinas de gravura, empregar automóveis nos seus serviços de rua etc. Este jornal constitui, pois, um belo exemplo de esforço inteligente e boa vontade bem aplicada.

O Estado de S. Paulo - O primeiro número do jornal A Provincia de S. Paulo, hoje Estado de S. Paulo, apareceu a 4 de janeiro de 1875. A folha pertencia a uma associação comanditária, composta de políticos, industriais e comerciantes, na maioria filiados ao partido republicano. Eram redatores principais os drs. Francisco Rangel Pestana e Americo de Campos, ambos já conhecidos pelas suas idéias republicanas. Embora refletisse as opiniões políticas de seus redatores, o jornal não se apresentou como órgão partidário. Pugnando pelos interesses materiais da região em que se publicava, dedicava especial atenção à agricultura, às indústrias, à imigração, à viação férrea, à instrução pública etc.

Em 1880 passou a Provincia de S. Paulo a ser propriedade do seu redator principal, dr. Rangel Pestana, continuando o dr. Americo de Campos como redator. Assumiu então uma feição mais nitidamente republicana, tomando parte ativa na propaganda em prol do estabelecimento da República no Brasil. Em 1884, entrando para sócio da empresa o dr. João Alberto Salles, retirou-se da redação o dr. Americo de Campos. Não tardou, porém, o novo sócio em se retirar também, ficando único proprietário o dr. Rangel Pestana.

Em 1886, entrou como redator-gerente o dr. Julio de Mesquita, que cooperou fortemente para o progresso do jornal com o seu talento literário, o seu entusiasmo e, depois, com seu capital. Em 1888, já o jornal tinha definitivamente firmado a sua posição na imprensa paulista. A sua circulação atingia a dez mil exemplares. A 15 de novembro de 1889 via a Provincia de S. Paulo realizado o ideal político, com a proclamação da República no Brasil. As províncias do Império foram convertidas em estados da federação republicana; e então o nome do jornal se mudou para Estado de S. Paulo.

Tendo sido eleito senador federal pelo estado de S. Paulo, deixou o dr. F. Rangel Pestana o cargo de diretor em 1890, a fim de assumir o seu posto no RIo de Janeiro. Em conseqüência, dissolveu-se a firma proprietária, Rangel Pestana & Cia., sendo o jornal adquirido pela Companhia Impressora Paulista. Continuou, porém, na direção, o dr. Julio de Mesquita. A referida companhia teve curta duração: dissolveu-se em 1892. A empresa, nesse ano, foi adquirida pela firma J. Filinto & Cia., da qual faziam parte o dr. Mesquita e o sr. José Filinto da Silva, sócio-gerente, que, poucos anos depois, cedeu a sua parte àquele.

Já por esse tempo a folha pedia todo o caráter político, tomava a feição industrial própria do jornalismo contemporâneo, e entrava numa fase de excepcional prosperidade econômica. Em 1900 passou o Estado de S. Paulo a ser propriedade duma sociedade anônima, constituída pelo seu diretor, dr. Julio de Mesquita, com o capital social de Rs. 350:000$000. Esta organização permitiu ao importante diário expandir as suas forças, melhorar as suas instalações e conquistar a magnífica posição de que hoje goza.

O Estado de S. Paulo, com 38 anos de existência, é hoje um grande jornal moderno. Publica diariamente de 16 a 32 páginas, das quais duas ocupadas por telegramas de todos os países do mundo. Tem sucursais em Lisboa e Roma, assim como no Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras. Entre os seus colaboradores, figuram alguns dos mais ilustres escritores brasileiros e estrangeiros. A sua tiragem normal vai a 35.000 exemplares. A sua renda líquida atinge mais de Rs. 300:000$000 por ano. E, atualmente, cuida de edificar prédios especiais para a sua redação e oficinas, onde será instalado o maior prelo da América do SUl, construído especialmente pela fábrica Marinoni, de Paris.

O dr. Julio Cesar Ferreira de Mesquita, diretor e redator-chefe do Estado de S. Paulo, nasceu em 1862, na cidade de Campinas, filho do abastado capitalista Francisco Ferreira de Mesquita e d. Maria Conceição Ferreira de Mesquita, ambos portugueses. Muito criança ainda, foi com seus pais para Portugal, onde fez os estudos de instrução primária e secundária; e, voltando ao Brasil, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, recebendo em 1883 o grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.

Prodigiosamente ativo e essencialmente democrata, dispondo de sólidos conhecimentos literários, adotou o dr. Julio de Mesquita a carreira da imprensa e hoje é considerado, com justiça, um dos primeiros jornalista da sua época. Republicano histórico, tomou parte saliente em todas as assembléias e reuniões de seu partido, que, na capital precederam o advento da República; e, proclamada esta, a 15 de novembro de 1889, foi, pela Junta Governativa eleita em São Paulo a 16, incumbido das funções de secretário do Governo Provisório. Eleito deputado ao Congresso Constituinte do Estado, foi nomeado primeiro secretário dessa importante corporação legislativa, e aí sempre empregou a sua palavra e o seu voto na defesa das soluções democráticas.

Dado o golpe de estado em 3 de novembro de 1891, declarou-se o dr. Julio de Mesquita em franca oposição ao governo do dr. Americo Braziliense e resignou o seu mandato político. Reeleito deputado ao Congresso do Estado nas legislaturas ordinárias de 1892-1894, 1895-1897, 1898-1900, foi na Câmara, até 1910, o líder da maioria republicana.

Em 1894, foi eleito deputado ao Congresso Nacional, mas, por motivos políticos, teve necessidade de resignar o mandato, preferindo voltar à sua cadeira de deputado ao Congresso Paulista. Convocada e reunida a Constituinte Paulista, a fim de se proceder à reforma constitucional, nos termos da Constituição de 14 de julho de 1892, tornou-se o dr. Julio Mesquita o chefe ou o membro mais influente da cisão manifestada no seio do Congresso, cisão da qual resultou o adiar-se a reforma apresentada e discutida.

O dr. F. Rangel Pestana, um dos fundadores do jornal, foi um ilustre professor, jornalista e homem de Estado, nascido em 1839, na vila de Iguassú (Estado do Rio de Janeiro). Recebeu o grau de bacharel em 18655, na Faculdade de Direito de São Paulo. Durante o período do seu curso acadêmico, redigiu vários jornais: o Futuro, o Tymbira e a Epocha. Em 1865, foi nomeado redator-chefe do Diario Official, órgão do Governo, no Rio de Janeiro. Nesta cidade fundou e redigiu dois jornais políticos: a Opinião Liberal e o Correio Nacional (1866-70). Em 1870, foi um dos principais fundadores do Partido Republicano. Nesse mesmo ano, dedicou-se ao magistério, criando a Escola do Povo, com outros companheiros. Em 1874, mudando-se para Campinas, foi professor em vários colégios e, em seguida, dirigiu um colégio para o sexo feminino em São Paulo.

Em 1875 fundou A Provincia de S. Paulo, jornal de que foi redator-chefe até 1890. Em 1884 e 1885, foi eleito deputado à Assembléia Provincial de São Paulo, onde se distinguiu pela sua campanha em favor da instrução popular. Proclamada a República em 1889, fez parte do Governo Provisório do Estado de São Paulo. Em 1890, foi um dos redatores do projeto de Constituição Federal do Brasil, fazendo parte duma comissão de cinco membros. Eleito senador nesse ano, passou a residir no Rio de Janeiro. Em 1893, deixou o Senado, para assumir o cargo de vice-presidente do Banco da República do Brasil, cuja presidência exerceu em 1895. Em 1899, foi eleito deputado à Câmara Federal, pelo estado do Rio de Janeiro, e, um ano depois, vice-presidente deste mesmo estado. Faleceu a 17 de março de 1903, membro do Senado Federal, representando a sua terra natal.

O dr. Americo de Campos nasceu na cidade de Bragança (Estado de São Paulo) a 12 de agosto de 1838. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo, foi promotor público em Itu no ano de 1861. Em 1865, mudando-se para a capital, dedicou-se ao jornalismo como redator do Correio Paulistano, até 1874. Em 1867, redigiu também o Cabrião, semanário ilustrado, do qual era desenhista o notável caricaturista Angelo Agostini. Foi um dos fundadores do jornal A Provincia de S. Paulo, em 1875, conservando-se como redator desse importante diário até 1884, quando fundou o Diario Popular, com José Maria Lisboa. Em 1890, abandonando o jornalismo, exerceu o cargo de cônsul geral do Brasil em Nápoles. Neste posto, faleceu em janeiro de 1899.

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