Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0171b6.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/22/06 11:50:52
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Clubes
Clube XV (2-f)

Leva para a página anterior
Ao completar seu centenário, o Clube XV teve sua história publicada em quatro páginas do primeiro caderno do jornal santista A Tribuna, em 12 de junho de 1969:
 
[...]

Ainda em tempo de flor...

Vai terminando o século XIX. E o XV continuava representando sua influência altamente civilizadora no nosso meio social. Crescendo com a cidade, modificando-se de acordo com a época, sem contudo ceder um palmo quanto às normas de fidalguia e elegância que se impusera, foi o Clube XV, em Santos, o dispensador generoso de alegria, o ponto querido dos namorados, aos quais propiciava encontros românticos, em soirées "rose", "jaune", "blanche", festas coloridas de tons suaves, como os suaves costumes de então.

Essas soirées eram ricas fantasias. O salão era transformado num buquê, variando a qualidade, o turbilhão de flores, conforme o tom da festa - rosas, cravos brancos, camélias... As flores, os vestidos... Tudo igual!

Do lado de fora, geralmente em 2 coretos que partiam das sacadas do Clube e atravessavam a rua, as bandas tocavam, pondo frêmito de entusiasmo na alma do poviléu que se aglomerava lá fora, aos beijos do sereno.

À porta, irrepreensivelmente encasacada, postava-se a comissão de recepção, amável e risonha. No salão, a orquestra de Henrique Trindade já brilhava em gavotas, lanceiros, mazurcas, polcas, valsas e quadrilhas.

Até a condução, naqueles bons tempos, prestava homenagem ao Clube em suas noites de gala. As caleças e landôs, da conhecida "Cocheira do Jacó", iam, contratadas pelo Clube, buscar as famílias dos sócios e convidados. E lá apareciam elas, brilhantes, com o cocheiro em grande uniforme, teso na boléia. No pingulim, um tope vistoso, onde as cores do XV se repetiam arrogantemente.

Alguma gente, no sabor da velhice, ainda hoje há de se lembrar disso tudo, num fechar de olhos saudoso, repousante...

E vêm os passeios, os bailes, e voltam os concertos.


A sede na Rua Amador Bueno, esquina de Rua Constituição, ocupada no período de 1894 a 1919
Foto publicada com a matéria

Na sua notável contribuição à cultura artística, oferece ainda o Clube XV, em 1898, à cidade, o Grupo Mozart - conjunto de piano e cordas formado de amadores, sócios do Clube.

Nos salões do XV, em agosto, realiza-se o 1º concerto sob a regência de Adolfo von Sidow, e mais o concurso de cavalheiros e senhoritas da nossa melhor sociedade, como Henrique Trindade (depois regente), com. Virgílio Pereira e as virtuoses Eulina Pacheco, Zilda Pereira, Oraída Mendes, entre outros.

Os programas feitos com capricho incluíam obras de Mozart, Auber, Bach, Gounod e outros clássicos.

Era o Grupo Mozart o único no gênero, em Santos, e por tantos bailes e saraus deliciou a gente daquele tempo, sempre arrancando sonoros elogios.

Em 1899 exclamava um cronista:

"Parece impossível que ainda durem os concertos do Clube XV e isto porque no meio santista as tentativas de arte têm vida efêmera. São visíveis os progressos do Grupo Mozart".

E adiante:

"Suponhamos, por um momento, que acabavam estas festas tão intelectuais do Clube XV - que nos restaria? O câmbio e o café? São excelentes distrações até as 3 horas da tarde. Mas depois?"

Para grande júbilo, o "Mozart" foi-se consolidando cada vez mais, e teve vida relativamente longa.

Já que passamos por 1898, gostaríamos de registrar o 29º aniversário do XV, porque afinal...

"Aos Vinte e Nove do grande
Quinze que já foi à História,
um bravo em que a alma se expande,
ao vinte e nove - Honra e Glória!"

(Block - Folhinha do Diário de Santos).

 ... O grande baile, do grande dia, maior brilho obteve devido ao reforço do Grupo Mozart, que sublimou o ambiente. O distinto filólogo dr. Castro Lopes, comparecendo à festa, deixou também uma poesia, de sua lavra, dedicada ao XV, e que por isso à sua história pertence. Vamos a ela:

                          Ao Clube XV

A porta aberta está, hóspede, entrai,
Música, flores, luzes e alegria!
Dizem que hoje uma festa se anuncia,
Dai-me o braço e comigo caminhai.

Percorrei os salões, e observai,
A fina sociedade em harmonia,
Que se diverte em tão faustoso dia,
E crê somente que em progresso vai!

É este o templo verdadeiro d'arte!
Porque anos vinte e nove já contou
Com ele a glória louros só reparte.

Mas quereis talvez saber quem vos guiou?
Quem o braço vos deu? Di-lo-ei à parte.
Sabei-o agora: "O Club XV" eu sou!

E mais um atrativo a diretoria do Clube XV propicia aos seus associados. No mês de setembro, a direção de Augusto Filgueiras, reunindo parte da rapaziada amadora do tradicional "Grêmio Dramático Arthur Azevedo". Lá estavam entre outros o Mimi Alfaya, Alfeu Silva, Pio Coelho, Paulo Filgueiras e David Ferreira.

O elenco, disposto a apresentar finas comédias e espetáculos literários, tomou o nome de "Grupo dos Conspícuos", e teve duração.

Aliás, não é de ontem nem de hoje que o Clube XV cuida de apresentar o bom teatro.


"Carnet" de danças do 35º aniversário - exemplo dos tempos de flores
Foto publicada com a matéria

Pioneiro no esporte também

É digno se registrar que dentro do Clube, com elementos entusiastas, é que se forma o 1º clube de futebol da cidade, o Club Athlético Internacional, em outubro de 1902, que adota as cores do XV.

Dick Martins (Henrique Porchat de Assis), o liderador, Eduardo Machado, Quintino Ratto, Raul Schimdt e outros jovens que participaram do 1º jogo, nas areias do Boqueirão da Barra, eram quinzistas, e fanáticos.

Foram estes mesmos rapazes, em 1896, que contagiados pela nova moda - o ciclismo - formaram o famoso Velo Sport Club, para a prática desse esporte, sendo portanto a sua diretoria toda composta de sócios do XV.

Também o Velo usou em suas flâmulas o ouro e azul da velha sociedade.

Pablo Casals no Clube XV

Pablo Casals, esse extraordinário violoncelista, esse gênio de renome mundial que hoje vive a glória de seus 92 anos, veio certo dia ao nosso cantinho santista.

Foi lá pelos idos de 1903, depois de vitoriosa tournée pelo Rio e São Paulo, que Casals, mais o violinista português Moreira de Sá, e o pianista inglês Harold Bauer, chegaram a Santos para dar um concerto, no Real Centro Português, em 12 de julho.

A imprensa, ao apreciar o concerto do dia 12, o fez revoltada; doída com o pouco caso da população com tão insignes artistas. Pouco mais de 50 pessoas compareceram ao ato. "Por quê? De nada valiam a fama e reputação de que fizeram preceder os ilustres concertistas?"

Como único consolo, restou saber que o auditório era pequeno, mas seleto e de alto valor.

Apoiando o pensamento dos jornais cá da terra, o Clube XV resolve requisitar os virtuoses, conclamando o povo a ouvi-los em seus salões e, como era seu costume, colocava o produto da renda em benefício do Asilo de Órfãos.

Não poderia a população fazer ouvidos moucos aos apelos da Arte e da Caridade. A noite de 24 de julho foi inebriante: encheu, foi sucesso.

Pablo Casals, nas sonatas e romanzas de seu exuberante violoncelo, mostrou-se insuperável. Assim também o Moreira de Sá e o Bauer.

Mais um instante dourado. Glória ao Clube XV!


[...]
Leva para a página seguinte da série