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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
O "Quebra Lampiões" (3)

Em 23/12/1884, santistas quebraram a iluminação pública para protestar pelas manobras políticas inglesas com o abastecimento de água
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A notícia da revolta foi assim apresentada, na primeira página do jornal paulistano A Província de São Paulo (antecessor de O Estado de São Paulo), do dia seguinte, quarta-feira, 24 de dezembro de 1884, exemplar no Acervo Estadão (ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da pág. 1 de A Província de São Paulo de 24/12/1884 (nota: coluna 4)

Os acontecimentos em Santos

Acabo de saber por telegrama das violências praticadas contra o material da iluminação a gás, e de transporte por carris de ferro, serviços explorados pela City of Santos Improvements Company Limited, da qual sou o advogado.

Não acredito que o motivo de tão irregular procedimento seja o invocado - regularização de penas d'água. (N.E.: pena d'água era a cota básica de água fornecida a um domicílio).

Em virtude do contrato da companhia com a câmara municipal e com a expressa autorização desta, regularizou a companhia o fornecimento de água nas casas, por meio de penas, dando quinhentos litros de água em 24 horas.

Já se havia regularizado perto de 150 penas em outras tantas casas, quando um indivíduo se opôs com armas a que se tocasse no encanamento que fornece água à casa de que ele é inquilino.

O gerente suspendeu todo o serviço, chamou-me a Santos e depois de haver empregado todos os meios para que tudo se concluísse em paz, voltei a S. Paulo sábado, assegurando tornar terça-feira para fazer prosseguir no serviço de regularização das penas, com a minha presença em Santos; pois que se queixavam do modo pouco cortês por que procediam os empregados da companhia.

De então para cá, nada fez a companhia senão publicar no Diario de Santos o anúncio que faço transcrever em seguida, e que revela o seu empenho em caminhar em paz, sem ofender de modo algum a população.

Sabia-se que, para evitar conflitos, o exmo. sr. dr. chefe de polícia, que estivera, por este motivo, em Santos, voltaria amanhã, sem acompanhar-se de força, porque a ninguém de bom senso é lícito acreditar que se revoltem duas mil pessoas por motivo tão fútil; acrescendo que não há mais de seiscentas casas servidas de água por encanamento nelas, e apenas quatro ou cinco indivíduos prometem resistir à regularização das penas, pretendendo-se com direito a ter água sem conta nem medida.

Assegura-se-me que o juiz municipal concederá embargo nas obras da companhia, a requerimento daqueles que invocam a posse do serviço d'água por canalização particular e sem medida.

Manifestei sempre que obedeceria a toda e qualquer intimação judicial, por mais injusta que me parecesse, preferindo regular as questões pelos meios legais, a responder às injúrias e ameaças dirigidas ao gerente da companhia particularmente, e pela imprensa.

De nada fora intimada a companhia e nada também fez esta, depois que os operários foram obrigados a suspender o serviço da regularização da pena na casa de que é inquilino o dr. Garcia Redondo (N.E.: o engenheiro carioca Manuel Ferreira Garcia Redondo foi um dos fundadores do Núcleo Republicano em 1879. Escritor e poeta, participando nos jornais O Commércio de Santos e Diário de Santos, chegou a Santos em 1876, nomeado pelo governo imperial para superintender as obras de reconstrução da Alfândega. Projetou e construiu o Teatro Guarani).

O que pois podia motivar os acontecimentos de hoje?

Asseguro que o gerente da companhia é homem da mais fina educação, e incapaz de provocar por qualquer modo tais violências.

Seguindo agora para Santos, comprometo-me a dar ao público notícia dos fatos que possam esclarecer as causas destes acontecimentos que todos deploramos, mas que a companhia, repito, não provocou.

Lins de Vasconcellos

The City of Santos Improvements Comp. Limited

O gerente da City of Santos Improvements Comp. Limited, desta cidade, abaixo assinado, previne aos srs. consumidores d'água desta companhia, que, tendo de fazer o serviço de regularização das penas dos srs. consumidores, pede aos mesmos que facilitem o referido serviço. Pede mais aos mesmos senhores desculpa no caso de ser forçado a cortar a comunicação d'água àqueles que se recusarem a esta regularização, esperando que tal não aconteça em virtude de ser a execução de seu contrato. Santos, 20 de dezembro de 1884 - H. K. Heyland, gerente.


Imagem: reprodução parcial da pág. 1 de A Província de São Paulo de 24/12/1884, coluna 4

Nova informação só apareceria na página 2 do jornal paulistano A Província de São Paulo do sábado, 27 de dezembro de 1884, exemplar no Acervo Estadão. Em coluna com notícias procedentes de Santos, informa o jornal (ortografia atualizada nesta transcrição):


Imagem: reprodução parcial da pág. 2 de A Província de São Paulo de 27/12/1884 (nota: coluna 4)

Os acontecimentos em Santos

- A propósito dos acontecimentos ultimamente havidos naquela cidade, escreve o Diario à última hora:

"A cidade até a hora em que escrevemos conservou-se pacífica e é de esperar que o povo continue tranquilo compreendendo que não pode haver liberdade sem ordem.

"Continuamos a pedir a sua excia. o sr. dr. chefe de polícia que proceda com a maior prudência e ao povo a calma necessária para evitar conflitos cujas consequências não podemos prever".