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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM... - BIBLIOTECA NM
1938 - por Victorino Prata Castello Branco (2)

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Clique na imagem para voltar ao índice deste livroAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Em 1938, era editado na capital paulista, o livro Santos - Resumo Histórico e Geographico para uso das suas escolas e collegios, de Victorino Prata Castello Branco, com 66 páginas e ilustrações de T. Mendonça, sendo um exemplar da obra conservado na biblioteca da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos (SHEC). Esse trabalho é aqui integralmente reproduzido, com ortografia atualizada:

Santos

Resumo histórico e geográfico para uso das suas escolas e colégios

 

Victorino Prata Castello Branco

Ilustrações de T. Mendonça

S. Paulo - 1938


Brasão de Santos

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1ª parte: Resumo histórico

Antecedentes históricos

1 - Descoberto o Brasil, a 22 de abril de 1500, pelo almirante Pedro Álvares Cabral, tratou d. Manoel, o Venturoso, rei de Portugal, de mandar uma expedição explorar a nova terra e verificar o seu valor.

2 - Essa primeira expedição saiu de Portugal em maio de 1501, chefiada por André Gonçalves, notabilizando-se por ter dado nomes aos principais acidentes geográficos das costas da nova terra.


André Gonçalves denomina "de São Vicente" a última ilha visitada em sua viagem exploradora

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3 - E como o nome a cada acidente era sempre o do santo do dia, a 22 de janeiro de 1502, a última ilha em que desembarcaram os primeiros exploradores foi denominada "de São Vicente".

4 - São Vicente ainda foi visitada em 1503, sem resultado prático, por Gonçalo Coelho, que por aqui passou chefiando a segunda expedição exploradora das novas terras descobertas.

5 - Daí para diante, abandonada, São Vicente só era visitada por piratas e corsários estrangeiros, que vinham buscar pau-brasil para vendê-lo nos empórios europeus.

6 - Já no reinado de d. João III passou por São Vicente, em 1516, Cristovam Jaques, chefiando uma expedição guarda-costas, e de novo, em 1526, com uma expedição já de caráter militar.

7 - Resolveu, então, d. João III, anos depois, em 1530, colonizar as terras descobertas por Cabral e nomeou Martim Afonso de Souza, grande guerreiro e navegador português, chefe dessa expedição colonizadora.

8 - A 22 de janeiro de 1532 entrou Martim Afonso de Souza pelo canal da Bertioga, desembarcando a Oeste da ilha Engaguassu, no porto de São Vicente, onde iniciou o seu trabalho colonizador. (N.E.: o diário de bordo, elaborado por seu irmão Pero, desmente essa afirmação, informando que as embarcações entraram diretamente na Baía de Santos).

9 - Nesse tempo já era São Vicente um dos pontos mais conhecidos do litoral, figurando nas primeiras cartas e nos roteiros mais antigos, vivendo mesmo ali alguns portugueses em convívio com os naturais.

10 - Entre esses portugueses podemos citar João Ramalho e Antonio Rodrigues, porque ambos, possuindo grande ascendência sobre os selvagens, vieram em muito facilitar os primeiros trabalhos de Martim Afonso de Souza.


Martim Afonso de Souza desembarca em São Vicente

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São Vicente

1 - Desembarcando em São Vicente, Martim Afonso de Souza deu começo à cidade, construindo as primeiras casas, um fortim e uma capela. Fortificou também a ilha de Santo Amaro, junto à Barra da Bertioga.

2 - Fez demarcar a área da nascente povoação em datas iguais que foram distribuídas aos colonos e deu começo à cultura da cana de açúcar que trouxera da ilha da Madeira.

3 - Construiu também, no meio da ilha, um engenho, movido a água, para que todos os colonos o aproveitassem e, com isso, deu grande incremento à produção de açúcar e aguardente.

4 - E quando a ilha de São Vicente já produzia vários produtos, Martim Afonso organizou uma empresa mercantil que se encarregava de exportá-los para as outras capitanias e mesmo para a Europa.

5 - Organizou por fim a ordem política e civil da colônia, nomeando juízes do povo, escrivães, meirinhos, almotacéis etc. Fez uma igreja maior e nomeou o padre Gonçalo Monteiro pároco da florescente freguesia.

6 - A vila de São Vicente, sob a administração de Martim Afonso, desenvolveu-se extraordinariamente, concentrando-se nela todo o movimento econômico e comercial da ilha e da redondeza.

7 - Martim Afonso, depois de visitar o planalto de Piratininga, a convite de João Ramalho, e de tomar várias medidas sobre o comércio com os índios, resolveu deixar um preposto e voltar para Portugal.

8 - Influiu nessa deliberação a certeza de que não contava com a boa vontade de todos os portugueses, porque a existência de muitos degredados, entre os colonos, dificultava o seu trabalho colonizador.

9 - Em 1533, depois de nomear o padre Gonçalo monteiro seu loco-tenente, partiu para Portugal chefiando uma flotilha carregada com os mais variados e ricos produtos da terra brasileira.

10 - A Martim Afonso de Souza cabe, pois, a honra de ter iniciado a colonização do Brasil, abrindo para São Vicente o destino glorioso que o futuro lhe reservara como cellula-mater de uma grande pátria.


Martim Afonso manda construir as primeiras casas

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Braz Cubas

1 - Entre os fidalgos trazidos por Martim Afonso veio Braz Cubas, então com 23 anos de idade, Moço da Câmara Portuguesa e Cavaleiro da Casa do Rei de Portugal, acompanhado pelos seus irmãos Antonio, Gonçalo e Catharina Cubas (N.E.:  Braz Cubas só se tornou fidalgo mais tarde, e há dúvidas sobre várias outras informações relacionadas à sua vida, que não devem ser tomadas como definitivas nem como citadas em ordem cronológica).

2 - A Braz Cubas e seus irmãos couberam algumas terras no planalto de Piratininga, junto ao Colégio dos Jesuítas, outras perto do Rio de Janeiro e, finalmente, uma doação nas margens do Rio Jurubatuba.

3 - Estas últimas terras ficavam fronteiras onde hoje assenta a cidade de Santos e na doação estava compreendida a Ilha Pequena, mais tarde Ilha de Braz Cubas e agora Ilha Barnabé, onde estão os depósitos de inflamáveis da Cia. Docas.

4 - Foi nessa ilha que Braz Cubas residiu pelo menos até 1543, com a sua família e com o seu pai, João Pires Cubas, que viera para o Brasil em 1540 trazendo a carta de doação dessas terras.

5 - Foi então que o espírito empreendedor de Braz Cubas, notando que o porto de São Vicente, em uso, não era o melhor, resolveu procurar outro mais seguro e profundo.

6 - Nessa deliberação também influíram a distância em que se achava de suas terras o porto de São Vicente e o desejo de construir uma cidade em que pudesse desenvolver a sua extraordinária capacidade de organizador e de comandante.

7 - Partindo do porto de São Vicente, explorando o mar, Braz Cubas entrou pelo Rio Casqueiro e foi ter a um belíssimo ancoradouro, de mar tranqüilo e grande profundidade, situado em frente de verdejantes outeiros.

8 - Depois de dar o nome de Sta. Catarina a um desses outeiros, Braz Cubas continuou a sua exploração, fazendo a volta pelo canal, navegando pelo largo rio, sempre costeando morros, até chegar de novo ao velho porto.

9 - Compreendendo o grande futuro da região e o abrigo natural que aquele mar tranqüilo oferecia aos navegantes, Braz Cubas anteviu, nesse dia, o maior porto da América do Sul.

10 - Todavia, por motivos de ordem prática, o dia 25 de setembro - data em que d. Anna Pimentel, mulher e substituta de Martim Afonso, concedeu a Braz Cubas as terras de Jurubatuba - foi escolhido pelo povo de Santos como o da fundação da cidade.


Uma visão do primeiro engenho de açúcar e aguardente construído em São Vicente

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Os primeiros dias de Santos

1 - No lugar onde Braz Cubas resolveu construir o novo porto, junto aos outeirinhos de Sta. Catarina, já residiam numa casinha, levantada pelo primeiro, os colonos Paschoal Fernandes e Domingos Pires, motivo pelo qual alguns historiadores os consideram como os verdadeiros fundadores de Santos.

2 - Braz Cubas comprou essas terras dos referidos colonos, mandou fazer a primeira roçada na mata quase virgem e deu começo à nova povoação, mesmo ao lado dos célebres outeirinhos, hoje quase destruídos pelo tempo e por mãos iconoclastas.

3 - Sobre o maior deles Braz Cubas mandou construir a primeira capela da povoação e, ao seu redor, as primeiras casas para a sua residência e a dos seus colonos.

4 - Construiu também um pequeno forte, um pelourinho e, com a ajuda dos seus colonos e confrades, um hospital com o apelido de Santos, em lembrança de outro do mesmo nome, que havia em Portugal.

5 - O novo porto de São Vicente, porém, ficou mais conhecido pelos colonos e marinheiros como porto do Hospital de Santos ou Porto de Santos, para firmar-se, com o decorrer do tempo, em Santos, apenasmente.

6 - Em virtude do seu grande desenvolvimento, ultrapassando mesmo o de São Vicente, resolveu Braz Cubas, a 19 de janeiro de 1545, desmembrá-lo daquela localidade, dando-lhe o foral de vila.

7 - Em 1546, ainda Braz Cubas, já como capitão-mor, governador da Capitania de São Vicente, defendeu muitas vezes a florescente povoação dos ataques dos indígenas e da invasão inglesa ao mando de Eduardo Fenton.

8 - Em 1554 a gente de Braz Cubas conseguiu salvar um célebre alemão, Hans Staden, preso pelos tamoios e levado para a sede da tribo, em Ubatuba, onde devia ser sacrificado.

9 - Em junho de 1560 Braz Cubas, mostrando mais uma faceta da sua vontade extraordinária, entrou para o sertão, chefiando uma bandeira em busca de ouro e pedras preciosas.

10 - E por fim, depois de uma vida trabalhosa mas cheia de glórias, faleceu Braz Cubas na segunda metade de 1597, deixando aos pósteros a memória dos seus esforços em benefício da terra santista.


Braz Cubas escolhe um novo porto, ao lado dos outeirinhos de Sta. Catarina

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O desenvolvimento de Santos

1 - A vila de Santos, que prosperava rapidamente, começou então a sofrer com as dissensões entre os colonos e os indígenas, que viam as suas terras invadidas e os seus filhos escravizados.

2 - Em 1549 chegaram os primeiros jesuítas sob a chefia do padre Leonardo Nunes. Acompanhando o grande apóstolo vieram o irmão Diogo Jacome, o noviço Matheus Nogueira e alguns meninos catecúmenos.

3 - O trabalho harmonizador dos jesuítas foi extraordinário, destacando-se o padre Leonardo Nunes, que percorria as aldeias, salvava da morte os homens brancos e acordava a consciência nativa dos indígenas com as suas palavras e os seus exemplos.

4 - Mais tarde, Anchieta e Nóbrega, outros apóstolos admiráveis, também vieram cooperar pela pacificação e civilização da colônia, ameaçada pelas intrigas e pelas rivalidades entre os portugueses e selvagens.

5 - Foram mesmo esses dois grandes jesuítas que salvaram Santos de ser destruída, firmando com os tamoios, na aldeia de Iperoig, uma paz honrosa e que já ninguém esperava.

6 - Com a passagem de Portugal para o domínio espanhol, agravou-se a situação de Santos, ficando então à mercê dos ataques dos piratas e corsários que assolavam, no século XVI, os mares do Sul.

7 - Santos, que ainda não se esquecera do ataque de Eduardo Fenton, em 1582, viu de novo o seu porto ameaçado e a sua segurança destruída por Thomas Cavendish, célebre aventureiro que freqüentava os nossos mares.

8 - O primeiro ataque deu-se em 25 de dezembro de 1591, quando a população, despreocupada, assistia à Missa do Galo e, prisioneira na própria igreja, nada pôde fazer contra os invasores.

9 - Meses depois, os mesmos piratas saquearam de novo a ilha, mas desta vez não saíram sem escarmento, porque a população, prevenida, defendeu-se bravamente e os pôs em fuga com pesadas perdas.

10 - Daí para diante, a história de Santos se confunde com a história de São Paulo e do Brasil, repercutindo mesmo aqui todos os grandes acontecimentos que assinalaram o progresso político do nosso país.


Hans Staden é salvo das mãos dos tamoios pela gente de Braz Cubas

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O progresso de Santos

1 - A 28 de janeiro de 1808, d. João VI, devido à invasão de Portugal, refugiado no Brasil, abriu por decreto do Visconde de Cairu os portos brasileiros ao comércio mundial, dando a Santos novas e grandes possibilidades.

2 - A 20 de setembro de 1821 foi executado em Santos Francisco das Chagas, chefe de uma das primeiras revoluções que se fez no Brasil com francos objetivos de libertar o nosso país do jugo estrangeiro (N.E.: na verdade, a execução de Chaguinhas ocorreu na capital paulista).

3 - A 7 de setembro de 1822, ao proclamar-se a Independência Brasileira, Santos já estava integrado no movimento libertador pela propaganda feita pelos mais ilustres cidadãos da cidade.

4 - E é de notar-se que o Patriarca da Independência, o grande José Bonifácio de Andrada e Silva, era santista e tinha parte de sua família ainda aqui, também trabalhando pela nobre causa.

5 - A 5 de janeiro de 1829 toma posse a primeira Câmara Municipal de Santos, sob a presidência do rev. José Ignacio Rodrigues de Carvalho, e que foi denominada "Câmara dos Padres".

6 - A 26 de janeiro de 1839, por lei provincial n. 122, Santos foi elevada à categoria de cidade. A 17 de janeiro de 1885, em vista do seu movimento, a Comarca de Santos foi elevada à categoria de especial.

7 - A idéia emancipadora dos escravos brasileiros, vencedora a 13 de maio de 1888, teve em Santos grande desenvolvimento. E a 27 de fevereiro de 1886, dois anos antes do decreto imperial, Santos libertava os seus últimos escravos.

8 - O quilombo Jabaquara, reduto de centenas de escravos refugiados e protegidos, foi a maior contribuição que se fez em Santos em prol do grande movimento. Eram chefes do reduto os famosos Quintino de Lacerda e Santos Garrafão.

9 - Xavier da Silveira, Francisco Martins dos Santos, dr. Alexandre Martins Rodrigues, João Octavio dos Santos, Geraldo Leite, Julio Backeuser, Ricardo Pinto de Oliveira etc. foram os principais precursores, em Santos, do abolicionismo brasileiro.

10 - Entre outros grandes abolicionistas em Santos, ainda podemos citar: Geraldo Leite da Fonseca, Américo M. dos Santos, Martins Francisco, Júlio Ribeiro, Carlos Escobar, Affonso Veridiano, José Ignácio da Glória, cel. José Lopes, e muitos outros que seria longo enumerar.


Santos é saqueada pelos piratas, chefiados por Thomas Cavendish

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Ainda o progresso de Santos

1 - Depois da abolição, começou a ganhar terreno em Santos, como no Brasil inteiro, a propaganda republicana, quase toda feita pelos mesmos ardorosos vencedores da campanha libertadora dos escravos.

2 - Aliás, desde 1879 já havia em Santos o "Núcleo Republicano", fundado e dirigido por Garcia Redondo, Henrique Porchat, Antonio Carlos da Silva Telles, Américo Martins dos Santos, Alexandre Martins dos Santos e outros.

3 - Daí para diante, o número dos republicanos foi se tornando cada vez maior e já em 1881 foi eleito o primeiro vereador santista contrário ao regime monárquico. Em 1883 já foram eleitos dois e, ao proclamar-se a República, já havia quatro vereadores republicanos na Câmara de Santos.

4 - Proclamada a República, sob os aplausos dos santistas, a 15 de novembro de 1889, foi lançado um manifesto ao povo, assinado por Antonio Lacerda Franco, Martim Francisco Ribeiro de Andrada, José Azuren Costa Junior etc.

5 - Aliás, foi de Santos, onde mantinha um colégio, que partiu, Brasil afora, o ardoroso tribuno Silva Jardim, na pregação dos seus ideais republicanos, afinal vencedores com a queda da monarquia.

6 - Da proclamação da República aos dias de hoje, estão bem vivos na memória de todos os santistas os acontecimentos que se foram sucedendo e que constituem os últimos dias de sua formosa história.

7 - Não houve, como ainda não há, movimento político ou social, surgido no Brasil, que não repercutisse em Santos, fazendo vibrar o seu povo, sempre na frente das grandes causas nacionais.

8 - Nos últimos movimentos militares e políticos, de 1922, 1924 e 1930, o povo santista, acompanhando o sentimento geral do país, sempre se mostrou aquela mesma gente de Braz Cubas, capaz de grandes feitos em benefício de sua terra.

9 - E com o apoio que Santos deu em julho de 1932 aos exércitos constitucionalistas que desembainharam a espada em continência à lei, fizeram jus, mais uma vez, ao "Pró Brasilia Fiant Eximia" da Revolução Paulista.

10 - Gloriosa no passado, gloriosa no presente, a cidade de Santos há de ser também gloriosa no futuro, como reduto de brasilidade e de civismo, não desfolhando jamais os louros de suas lutas e das suas vitórias em prol da pátria comum!

FIM

 


Mapa de Santos

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