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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - VILA SOCÓ - (14)
Vila Socó, no Jornal do Brasil

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Uma das maiores tragédias de Cubatão, senão a maior, foi o incêndio de um oleoduto da Petrobrás que passava sob uma favela, Vila Socó, destruída pelas chamas com a morte de cerca de uma centena de pessoas, em 24/2/1984. O fato foi destacado nas páginas do carioca Jornal do Brasil (acessos em 22/2/2014 - ortografia atualizada nestas transcrições):
 
 Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, no domingo, 26 de fevereiro de 1984, página 1:

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Página 1 do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, de 26 de fevereiro de 1984

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Incêndio em Cubatão mata 67 e fere 200

O vazamento de um oleoduto da Petrobrás inundou com 700 mil litros de gasolina de alta octanagem a favela de Vila Socó - no Km 57 da Via Anchieta, nas proximidades de Cubatão, São Paulo - que foi quase completamente destruída pelo incêndio que se seguiu à explosão, nos primeiros minutos da madrugada de ontem. Até o final da tarde, foram encontrados 67 corpos carbonizados, quasea todos irreconhecíveis.

Há 200 feridos, dos quais 32 em estado gravíssimo, e muitos desaparecidos. Os bombeiros chegaram ao local logo depois da explosão, mas o incêndio só foi contido pouco antes do amanhecer. O presidente da Petrobrás, Shigeaki Ueki, convocou todos os médicos da empresa - em São Paulo e no Rio - para ajudarem no atendimento aos feridos. À tarde, a Petrobrás destinou Cr$ 50 milhões à Prefeitura de Cubatão para reconstruir 800 barracos - mais de metade da favela.

O governador Franco Montoro mandou abrir inquérito policial (a Petrobrás fará um inquérito administrativo) para investigar as causas do acidente. No momento do acidente, estavam sendo bombeados do Terminal de Cubatão para o de Porto da Alemoa, em Santos, 1 milhão 500 mil litros de gasolina tipo exportação. Os técnicos da Petrobrás não têm ainda ideia do volume total perdido com o vazamento. O combustível que ainda existe na área está sendo drenado de volta aos tanques.

Ao longo de 1 quilômetro, a favela foi varrida pela destruição. Restou um rio de gasolina

Foto: Ariovaldo dos Santos, publicada com a matéria

Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, no domingo, 26 de fevereiro de 1984, página 14:

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Página 14 do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, de 26 de fevereiro de 1984

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Vazamento em Cubatão incendeia favela e mata 67

SÃO PAULO - Um vazamento de 700 mil litros de gasolina em um oleoduto da Petrobrás transformou o mangue sob as palafitas da favela de Vila do Socó, perto de Cubatão, em um lago combustível. Aos 30 minutos da madrugada de ontem, uma série de explosões incendiou e arrasou tudo: 67 corpos haviam sido encontrados até a tarde, há vários desaparecidos e 200 moradores ficaram feridos, 32 deles em estado gravíssimo.

O fogo só foi controlado pouco antes do amanhecer. Uma grande operação de socorro mobilizou bombeiros, 270 homens da Polícia Militar, Polícia Civil, viaturas e ambulâncias de hospitais, empresas particulares, Exército e Marinha. O prefeito de Cubatão baixou decreto declarando estado de calamidade pública parcial, na área atingida.

Indenização - A favela de Vila do Socó tem 8 mil habitantes, que vivem do subemprego e sofrem de doenças como a esquistossomose, asma (por causa da poluição industrial) e outras. Fica ao lado do Km 57 da Via Anchieta, próximo à Refinaria Bernardes, da Petrobrás.

O presidente da Petrobrás, Shigeaki Ueki, anunciou que vai indenizar todas as famílias dos mortos, independentemente das causas do acidente. O Comitê de Defesa Civil do Estado foi acionado pelo governador Franco Montoro, que assistiu ao rescaldo da tragédia. Ele determinou a abertura de um inquérito policial, enquanto a Petrobrás vai apurar o caso na área administrativa. Peritos da Polícia Federal também estiveram no local.

Três quartos da favela - uma área de um quilômetro e meio de extensão por 100 metros de largura - ficaram totalmente destruídos. Poucas construções restavam em pé. O resto era entulho, material calcinado e ferros retorcidos.

O oleoduto que vazou liga o Terminal de Combustíveis de Cubatão, da Petrobrás, ao Porto de Alemoa, em Santos. É o mais importante da malha de dutos do Estado, que é constituída de 50 km de tubos de diferentes diâmetros, formando um conjunto de cinco linhas paralelas. Eles transportam gás liquefeito de petróleo, gasolina, diesel, nafta, álcool e óleo combustível. O oleoduto que sofreu vazamento tem o maior diâmetro da malha: 18 polegadas.

Até a noite de ontem, a operação rescaldo prosseguia. A terra foi removida em volta da tubulação e era possível perceber um buraco por onde saiu da gasolina. Técnicos trabalhavam com máscaras de oxigênio sob proteção dos bombeiros, prontos para agir em caso de qualquer outro problema. O número de mortos - até as 16h30min, de 67 - pode aumentar: 32 feridos em estado grave estão com mais de 50% do corpo tomado por queimaduras de terceiro grau. Às 18 horas começou o sepultamento coletivo no Cemitério de Cubatão.

Franco Montoro manda investigar as causas

São Paulo - O governador Franco Montoro determinou, ontem, a abertura de um inquérito policial para apurar as responsabilidades e as causas do vazamento do oleoduto de gasolina que provocou o incêndio na favela de Vila Socó, no Município de Cubatão. O presidente da Petrobrás, Shigeaki Ueki, abriu, também, um inquérito administrativo interno na empresa para apurar que tipo de falha - se de planejamento, manutenção, operação ou outra - foi a responsável pela destruição da vila.

O governador, o presidente da Petrobrás, o prefeito de Cubatão e o presidente da Câmara Municipal, o deputado estadual Rubens Lara (PMDB, o mais votado na região), se reuniram durante uma hora - das 12 às 13h - no Centro de Ação Comunitária da Vila São José (ou Vila Socó). Logo após a reunião, foi formada uma comissão com representantes da empresa, do Governo Estadual, do Município, empresários e trabalhadores da região, para coordenar o trabalho de atendimento às vítimas do incêndio e elaborar um relatório propondo soluções para o problema habitacional da população atingida.

No início da madrugada, o governador Franco Montoro mobilizou a Coordenadoria de Defesa Civil do Estado, sob a orientação do chefe do Gabinete Militar, coronel Ubirajara de Almeida Gaspar. A Coordenadoria mobilizou, imediatamente, o Corpo de Bombeiros da Capital e da região do ABC, a Polícia Militar e os hospitais da região. Para acompanhar mais de perto o acidente, o governador do Estado apenas abriu a reunião do secretariado, pela manhã, dirigindo-se, por volta das 11 horas, para Cubatão.

- Estou disposto a punir, com rigor, os responsáveis por essa tragédia e a tomar todas as providências para que tudo isso seja o ponto de partida para se encontrar soluções aos problemas de Cubatão - garantiu o governador Franco Montoro.

Petrobrás - O presidente da Petrobrás, Shigeaki Ueki, afirmou que a empresa, junto com a Codesp - Companhia Docas do Estado de São Paulo -, precisa encontrar uma solução imediata para a questão da operação do oleoduto. Atualmente, parte do trecho, até o início da Serra do Mar, é operado pela Petrobrás. daquele ponto até o Terminal de Alemoa, no Porto de Santos, o oleoduto está sob operação da Codesp.

- Sempre procuramos um entendimento com a Codesp, no sentido de se fazer uma operação integrada do oleoduto. Mas, sempre, a Codesp reagiu negativamente à proposta da Petrobrás, alegando que isso poderia significar diminuição de empregos na faixa do porto. O próprio Sindicato de Petroleiros seria contra a transferência da operação para a Petrobrás. Agora, com um fato como esse, o assunto deve ser bem examinado - observou o presidente da Petrobrás.

Shigeaki Ueki lembrou ainda que a empresa sempre alertou - a população de Cubatão, a Prefeitura, o Estado - para o perigo de se construir casas nas regiões dos oleodutos. Informou que o último pedido da empresa nesse sentido, enviado ao Governo do Estado, é datado de dezembro de 1983.

Ueki lembrou que as autoridades locais de Cubatão que se sucederam nos últimos 20 anos - quando as primeiras famílias se instalaram na Vila Socó - realizaram melhorias na área (eletrificação, água e escolas) e afirmou: "Todos nós falhamos, porque deveríamos criar essas facilidades em áreas de maior segurança para induzir as pessoas a se mudarem para esses locais. A Petrobrás sempre se preocupou com isso, mas nunca passou pela cabeça de nossos técnicos que um dia fossemos surpreendidos com uma tragédia como essa.

Para Ueki, é provável que os inquéritos instalados concluam "que não só a Petrobrás, mas também outros órgãos, poderiam ter tomado providências para impedir esse acidente".

- A Polícia Federal deslocou uma equipe de peritos para Cubatão,onde acompanharão as apurações das causas do vazamento ocorrido com o duto da Petrobrás. Até as 16 horas, o caso era considerado um acidente, descartando-se, a princípio, a hipótese de sabotagem.

O superintendente regional da Polícia Federal, delegado Romeu Tuma, estava numa cidade do interior, onde passaria o fim de semana, mas se manteve informado sobre a tragédia. A ordem para deslocar os peritos partiu dele. Como o caso aconteceu em Cubatão, o órgão encarregado da área é a Delegacia da Polícia Federal de Santos. Se os peritos concluírem que há indícios de sabotagem, caberá a uma equipe especial cuidar das investigações.

Ueki convoca médicos de S. Paulo e do Rio

São Paulo - Todos os médicos da Petrobrás, de São Paulo e do Rio de Janeiro, foram convocados pelo presidente da empresa, Shigeaki Ueki, para dar atendimento às vítimas do incêndio na favela de Vila Socó, em Cubatão. Por telefone, do Rio de Janeiro, antes de vir a Cubatão, Ueki fez um apelo às rádios para que divulgassem a convocação de todos os funcionários do setor médico e de assistência social da empresa.

Desde o início da madrugada, estava em Cubatão o superintendente de Terminais de Petróleo da Petrobrás em São Paulo, Romilson Longo Bastos. De manhã, ele revelou que 700 mil litros de gasolina vazaram do oleoduto da Refinaria Presidente Bernardes, que passa sobre (N. E.: SIC) a Vila Socó (no valor de Cr$ 394 milhões 800 mil), a preços de consumo nos postos.

Em contato permanente com a Petrobrás, em Cubatão, Ueki determinou prioridade no atendimento às vítimas. Ao ser entrevistado pelas emissoras de rádio, por telefone, pediu que elas colaborassem na convocação dos médicos, pois, "por ser sábado, ainda não conseguimos convocar todos os funcionários".

Na hora do enterro ainda havia pessoas tentando o reconhecimento dos mortos

Foto: Ariovaldo dos Santos, publicada com a matéria

Os lances da tragédia desde a descoberta do vazamento

São Paulo - O vazamento de gasolina no oleoduto no centro de Vila Socó foi percebido por alguns moradores por volta das 22h30min de anteontem, o que contraria informação da Petrobrás, segundo a qual um dos indicadores do painel instalado na Central de Controle da Superintendência de Terminais de Derivados (Tedep) registrou que o vazamento começou entre 0h10min e 0h15min.

Essa informação foi transmitida ontem pelo superintendente da Tedep, Romilson Longo Bastos, segundo o qual, logo ao ser constatado o vazamento, o bombeamento de combustíveis através das tubulações foi "rapidamente parado", tendo um funcionário fechado as válvulas de controle às 0h20min.

23 horas - O tenente Roldão Paulino da Silva, da Polícia Militar, em ronda normal pelo bairro, sentiu o cheiro de gasolina e constatou um vazamento no oleoduto. A gasolina minava da terra e um homem foi preso pelo tenente, tentando encher um vasilhame com o produto. Ele pediu ajuda a uma viatura veraneio, do Tático Móvel, e começou a acordar os favelados, pedindo que eles deixassem suas casas e não acendessem velas. Eles se recusaram porque chovia muito na ocasião.

0h20min - O engenheiro operador da Petrobrás, Araci de Souza Freire, chega ao local, atendendo ao chamado do tenente Paulino e do soldado Saturnino, da Polícia Rodoviária. Imediatamente constatou a gravidade do vazamento e, pelo rádio, pediu ajuda ao Corpo de Bombeiros da Baixada Santista.

0h30min - Ocorre a primeira explosão, a um quilômetro da Vila Socó, no sentido Santos. Os moradores veem as labaredas e resolvem então abandonar suas casas. Uma série de outras explosões se seguem à primeira e o fogo atinge a Vila.

0h35min - O Corpo de Bombeiros da Baixada Santista chega com 120 homens. A favela já está em chamas.

Entre 0h40min e 1h30min - Caos, desespero, gritos. Três quartos da favela estão cobertos de chamas. O Corpo de Bombeiros recebe areia e água de caminhões basculantes da Prefeitura de Cubatão. As pessoas desabrigadas procuram por parentes e invadem a Via Anchieta, que já está interditada nos dois sentidos - Capital-Santos e Santos-Capital.

1h30min - O governador Franco Montoro aciona a Defesa Civil do Estado. O Clube Recreativo de Cubatão é utilizado como centro de triagem dos desabrigados. Famílias são levadas para a creche do Jardim Castelo e para o Colégio João Ramalho, em Cubatão. As crianças perdidas ou que ficaram sem as famílias são levadas para a entidade assistencial Casa do Menino Felipe. Os primeiros feridos em estado grave são internados na Santa Casa de Cubatão, no Hospital Oswaldo Cruz, na Santa Casa de Santos e no Hospital da Beneficência Portuguesa.

2 horas - O incêndio atinge seu ponto máximo da favela de Vila Socó. Pessoas desmaiam e têm crises nervosas. O Corpo de Bombeiro trabalha sem parar. A Polícia Militar ergue cordões de isolamento na área. Ambulâncias e médicos de hospitais de Cubatão, Santos e da região do ABC, da Marinha, do Exército e de empresas particulares se revezam no atendimento dos feridos leves e no transporte dos casos mais graves. Os primeiros corpos calcinados já são encontrados, formando grupos de famílias e parentes queimados juntos, abraçados.

2h30min - Três corpos calcinados são encontrados. Os bombeiros e a Polícia Militar tentam afastar as pessoas - moradores do local que se aglomeravam na altura do Km 57 da Anchieta.

Entre 3h e 4h - O combate ao incêndio prossegue. Dezenas de feridos leves são medicados no local, e carros particulares ajudam no transporte de desabrigados para o Centro Recreativo de Cubatão.

5 horas - Outros 10 corpos totalmente carbonizados são encontrados. A localização dos corpos é dificultada porque ainda há focos de incêndio nas proximidades da adutora e os barracos desabaram sobre o mangue.

6 horas - O número de mortos sobe para 22. Nos hospitais de Cubatão e Santos há cerca de 30 pessoas internadas em estado grave, com queimaduras de 3º grau. Os bombeiros constatam que a maioria das vítimas são crianças e pessoas idosas que não tiveram tempo de fugir do fogo.

6h30min - O Centro Recreativo de Cubatão já atendeu 600 pessoas. A Rodovia dos Imigrantes fica liberada para o tráfego. A pista da Anchieta, sentido Santos-Capital, também é liberada. A Polícia Rodoviária pede que os motoristas evitem parar na altura do Km 57. O incêndio está circunscrito às proximidades da adutora, e isolado com areia e água.

7 horas - A Polícia Militar prende 6 homens, que fugiam pela estrada de ferro levando botijões de gás e outros objetos, que saquearam da favela. O policiamento é reforçado para evitar novos saques.

7h30min - O diretor do Instituto Médico-Legal de Santos, Carlos Afonso Novaes de Figueiredo, chega à favela com toda a sua equipe, com o objetivo de liberar o mais rapidamente os corpos queimados para sepultamento, que, nessa hora, já eram 35. Nos hospitais de Cubatão e de Santos há 34 feridos graves.

7h45min - O diretor do IML informa que os mortos já são 55.

8h20min - O superintendente do Terminal de Derivados de Petróleo da Petrobrás, Romilson Longo Bastos, informa que o vazamento foi de 700 mil litros de gasolina.

8h30min - O presidente da Petrobrás, Shigeaki Ueki, em entrevista à Rádio Jovem Pan, por telefone (ele estava no Rio de Janeiro) pede que os médicos e assistentes sociais da empresa se encaminhem para a Vila do Socó, e promete indenizar todas as famílias que tiveram parentes mortos, independente das causas do incêndio.

9 horas - O comandante do Corpo de Bombeiros da Baixada Santista afirma que o fogo foi totalmente debelado. Os bombeiros se dedicam à procura de corpos dentro do mangue.

10 horas - A situação está sob controle. O secretário da Saúde de Cubatão, Luís Camargo Fonseca e Silva, anuncia que não há mais necessidade de ambulâncias no local e pede mantimentos e roupas para os abrigados no Centro Recreativo. Pelos hospitais de Cubatão e Santos, passaram 84 pessoas, 50 foram liberadas.

11 horas - O presidente da Petrobrás, Shigeaki Ueki, chega de helicóptero à Refinaria Presidente Bernardes, próximo ao local do acidente. As indústrias começam a levar mantimentos para o Centro Recreativo de Cubatão.

11h15min - Shigeaki Ueki se reúne com seus assessores. O governador Franco Montoro se desloca para Cubatão. Um dos internados na Santa Casa de Santos morre, subindo para 56 o número de vítimas do incêndio. Dos 33 internados em Cubatão e Santos, a maioria sofreu queimaduras de terceiro grau em mais de 50% do corpo.

Meio-dia - Shigeaki Ueki e o governador Franco Montoro se reúnem no Centro de Ação Comunitária da Vila São José.

12h30min - O comandante do Corpo de Bombeiros da Baixada, coronel Milauril, anuncia que o trabalho dos bombeiros foi encerrado: 63 corpos queimados foram enviados para o Instituto Médico-Legal de Santos, para reconhecimento e liberação para sepultamento. Na Santa Casa santista morre mais uma pessoa.

13 horas - Termina a reunião entre o presidente da Petrobrás e o governador do Estado. Decidiram formar uma comissão de moradores, funcionários de empresas da região, Governo do Estado e Petrobrás para dar assistência às vítimas e realizar abertura de inquéritos policial e administrativo para determinar as causas do acidente.

Vila Socó tinha 2 mil famílias

São Paulo - (N.E.: trecho dilacerado) ... A história da Vila Socó não é diferente das demais favelas que rodeiam Cubatão e o principal polo industrial da América do Sul. Começou com a chegada de migrantes nordestinos à cidade, em busca de emprego nas indústrias ou nas empreiteiras. Ganhando pouco ou desempregados, e preferindo ficar próximo de São Paulo a voltar para os Estados de origem, eles foram se instalando em áreas vazias como essa por onde passam as tubulações da Petrobrás.

Para o professor do Instituto de Geografia da USP, Azis Ab'Saber, "Cubatão constitui-se numa das formas mais defeituosas de organização humana no espaço em todo o Terceiro Mundo".

O vazamento formou um riacho de gasolina de alta octanagem que a Petrobrás dragou

Foto: Ariovaldo dos Santos, publicada com a matéria

IML tem dificuldades em identificar corpos devido ao grau de carbonização

São Paulo - O diretor do Instituto Médico-Legal de Santos, Carlos Afonso Novais de Figueiredo, informou que está havendo dificuldades para identificar as vítimas, "pois o pedaço de uma coxa de adulto pode ser confundido com o corpo de uma criança, tal o grau de carbonização". Ele mostrou alguns corpos, dos quais de 15 a 20 são de crianças, algumas carbonizadas abraçadas às mães.

No início do dia, muitas pessoas, algumas com curativos, perambulavam desnorteadas nos meios dos escombros, na Vila Socó, à procura de parentes e amigos. O desespero aumentou quando a vila foi fechada, diante do perigo de novas explosões. Muitos feridos estão abrigados no ginásio do Centro Esportivo de Cubatão e a Prefeitura, empresas e moradores doaram roupas, medicamentos e comida.

Em chamas - Carlos Figueiredo informou que vários dos cadáveres ainda poderão ser encontrados no canal atrás da Vila do Socó, pois muitas pessoas correram para ele, com os corpos em chamas, tentando apagá-las em suas águas.

Dos 66 corpos encaminhados ao Instituto Médico-Legal, apenas 26 foram considerados reconhecíveis, até as 17h30min, apenas oito foram identificados, dois dos 66 mortos confirmados pelo IML foram identificados na Santa Casa de Santos.

O chefe da Divisão de Queimados da Santa Casa, Sílvio Correia da Silva, informou que a maioria dos feridos está em estado gravíssimo, com queimaduras do 3º grau em até 100% do corpo,quando 50% já representam grande perigo de vida.

Pele - A empresa importadora Lamedi doou 20 metros de pele sintética à Santa Casa de Santos, para aplicação no tratamento de 16 feridos.

- A pele sintética substitui o revestimento natural e permite a recuperação mais rápida e de melhor qualidade, influindo diretamente no prognóstico vital dos pacientes - afirmou o médico Sílvio Correia.

Até as 16h30min de ontem o número de internados era o seguinte: Santa Casa de Santos - 16 em estado grave; Beneficência de Santos - uma mulher e seu filho, em estado regular; Hospital Osvaldo Cruz, em Cubatão - duas meninas de 15 e 16 anos, regular; e Santa Casa de Cubatão - 14 internados, em estado regular.

No Instituto Médico-Legal, há seis cadáveres. Em quatro hospitais da Baixada, há 34 feridos, 16 em estado grave.

Mais de 1 mil pessoas passaram pelo serviço de triagem montado pelas assistentes sociais da Prefeitura de Cubatão, no Centro Esportivo, e boa parte ficou ali abrigada, aguardando encaminhamento.

Imagem: Caputo, publicada com a matéria

Técnicos acham que é difícil saber o volume de combustível perdido

São Paulo - No momento do acidente, havia um volume de 1 milhão 500 mil litros de gasolina de exportação de alta octanagem (90 octanas) no trecho do oleoduto que liga o Terminal de Combustíveis de Cubatão - próximo à Refinaria - ao Terminal do Porto da Alemoa, em Santos. Embora fechado há tempo, os técnicos da Petrobrás não podiam ainda avaliar a quantidade de combustível que se perdeu.

"Nem todo o produto se perdeu", revelou o superintendente do Tedep (Terminais de Derivados de Petróleo de São Paulo), Romilson Longo Bastos, informando que a perda total somente será apurada com a medição da quantidade de combustível existente no depósito e no que estava recebendo a carga.

O vazamento de 700 mil litros de gasolina que provocou a destruição da favela de Vila Socó é um dos maiores já ocorridos em oleodutos da Petrobrás em São Paulo, superado, apenas, pelo de outubro de 1983, quando foram despejados em Bertioga, no litoral paulista, 1 milhão 500 mil litros de petróleo do oleoduto que liga o Terminal de São Sebastião a Cubatão. A queda de uma pedra de 18 toneladas rompeu a tubulação.

Fevereiro já é estigma de tragédia em S. Paulo

São Paulo - A destruição da favela de Vila Socó, em Cubatão, marca mais uma vez fevereiro como o mês dos [...] incêndios em São Paulo, numa trajetória que vem [...]e fevereiro de 1972, com o incêndio do edifício Andraus, no Centro da capital (Rua Pedro Américo com a Avenida São João), matando 14 pessoas.

[...] de fevereiro de 1974, foi a vez do Edifício Joelma, na Avenida Nove de Julho, também no centro da capital, quando morreram 188 pessoas,no mais grave incêndio registrado na [...] do Estado (N.E.: trechos dilacerados).

Depois de Andraus e Joelma, a Prefeitura e o Estado (através da Defesa Civil) adotaram uma série de medidas de segurança para evitar novos acidentes. Boa parte dos prédios do Centro da cidade, hoje, possui escadas com portas corta-fogo, realizando treinamentos de segurança para os funcionários das empresas.

Mas mesmo com a segurança adotada, no dia 14 de fevereiro de 1982, no edifício 5ª Avenida, na Avenida Paulista, um sábado, houve outro grande incêndio, que vitimou 17 pessoas.

Participaram da cobertura do incêndio de Cubatão: Afanásio Jazadji, Alexandre Polest, Ana Maria Tahan, Aristeu Moreira, Augusto Mário Ferreira, Eneas Macedo Filho, Eymar Bertho Ferreira, Fernanda Tores Betancourt, Luiz Henrique Romagnolli, Marco Antonio Pereira, Milton F. da Rocha Filho, Ouhydes Fonseca, Ricardo Soares e Valmir Salaro (repórteres). Fotógrafos: Ariovaldo dos Santos, Isaías Feitosa e José Carlos Brasil.

No dia seguinte, 27 de fevereiro de 1984, o mesmo Jornal do Brasil registrava nas páginas 1 e 7, além de publicar na capa o comunicado da Petrobrás:

Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, na segunda-feira, 27 de fevereiro de 1984 - página 1:

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Página 1 do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, de 26 de fevereiro de 1984

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Tragédia em Cubatão já registra 82 mortos

A Petrobrás já registrava ontem um total de 82 mortos em consequência do incêndio que destruiu metade da favela de Vila Socó, na madrugada de sábado, após um vazamento de gasolina no oleoduto de Cubatão. Dos 18 feridos internados em estado gravíssimo na Santa Casa de Santos, três morreram sábado e três na madrugada de ontem.

Durante todo o dia, favelados se juntaram aos bombeiros na busca de outros corpos, entre os escombros: mais 10 cadáveres foram encontrados. No fim da tarde, foram sepultados 16 corpos no Cemitério de Cubatão. A Delegacia Central de Santos começa na manhã de hoje o inquérito policial para determinar as causas e responsabilidades da tragédia.

O prefeito de Cubatão, Osvaldo Passarelli, anunciou que já existem 550 casas prontas, em Vila Natal, para receber as famílias desabrigadas. A parte de Vila Socó que não foi atingida pelo incêndio está liberada, mas os moradores se recusam a voltar para lá, dizendo que o local está transformado "em um verdadeiro cemitério". No Rio, continuam em estado grave oito operários feridos na explosão de uma caldeira da Petroflex em Duque de Caxias, na sexta-feira.

Favelados ajudaram os bombeiros e acharam mais 10 corpos nos escombros

Foto: Isaías Feitosa, publicada com a matéria

A PETROBRÁS INFORMA

Em virtude das notícias desencontradas a respeito das circunstâncias em que a Petrobrás teria sido comunicada da ocorrência de vazamento no oleoduto da Alemoa, o presidente Shigeaki Ueki determinou que sejam ouvidas todas as pessoas que possuam informações a respeito.

Por esse motivo, a comissão interna de inquérito solicita a todos aqueles que prestaram declarações aos órgãos de comunicação que a procurem pessoalmente no terminal de Alemoa, em Santos.

A Petrobrás esclarece que sua intenção, com este pedido, é, além de apurar responsabilidades, tomar providências, junto com os órgãos envolvidos com o problema, para que episódios como esse jamais se repitam.

A Petrobrás lamenta informar que, na madrugada de domingo foram encontrados mais 6 (seis) corpos nos escombros e 6 (seis) feridos vieram a falecer, totalizando 82 (oitenta e duas) mortes, sendo que 22 (vinte e duas) pessoas permanecem nos hospitais.

PETROBRÁS

Petróleo Brasileiro S.A.

Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, na segunda-feira, 27 de fevereiro de 1984 - página 7:

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Página 7 do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, de 26 de fevereiro de 1984

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Número de mortos no incêndio de Cubatão sobe a 82

São Paulo - Mais 10 corpos carbonizados foram retirados ontem dos escombros da favela de Vila Socó, destruída na madrugada de sábado por um incêndio provocado por vazamento de gasolina num oleoduto da Petrobrás em Cubatão. No fim da tarde, a Petrobrás anunciava em nota oficial que o total de mortos já tingia a 82.

Dos 18 feridos socorridos em estado gravíssimo na Santa Casa de Santos, três morreram anteontem e outros três na madrugada de ontem. Existem mais 15 feridos, também em estado muito grave, em outros hospitais de Santos e Cubatão. Às 17h de ontem, foram sepultados mais 16 corpos no Cemitério de Cubatão.

Busca - Muitos corpos das vítimas da tragédia nunca serão encontrados, por uma razão simples, segundo o soldado Carlos José Rasteiro, da PM, que ontem coordenava o policiamento no local: nas áreas mais secas do mangue, os corpos provavelmente viraram pó, misturando-se com as cinzas dos barracos.

Para o soldado, isso explica o fato de os corpos já retirados dos escombros terem sido encontrados principalmente ao longo do canal de água do mar que atravessa a área da favela.

O trabalho policial começou ontem às 6h, mas houve pouco o que fazer. O resgate dos corpos transcorreu sob indicações de parentes que eventualmente encontravam vestígios de seus familiares. Foi o caso do corpo de Maria Marques de Melo, 53 anos, encontrada num dos pontos mais alagados do mangue, por dois filhos que vasculhavam o local onde, antes, estava seu barraco.

Ao lado do corpo de Maria estava o de seu sobrinho, Cinhal Ezídio de Carvalho, de 23 anos. Mais tarde, foram encontrados apenas pedaços de uma terceira vítima, tão irreconhecível que não se sabia se era adulto ou criança. Por volta de 10h, a polícia resgatou o coro de um menino de aproximadamente 10 anos.

Milhares de moradores do local dedicaram todo o dia à procura de corpos de parentes e amigos, objetos pessoais e até animais domésticos, em meio aos escombros.

Não voltam - Moradores de barracos que não foram destruídos não querem mais ficar na favela. "É como morar num cemitério. Quem vai morar num cemitério?", perguntou o pintor Vicente de Paula Guedes.

- A gente, se ficar, vai dormir e vai ter a impressão de que os mortos estão pedindo socorro - disse Vicente, que salvou toda a família (mulher e dois filhos) e contemplava, ontem, a devastação ao longo do canal do mangue, em frente à sua casa intacta. Na Via Anchieta, ao lado, centenas de curiosos estacionavam seus carros para observar os escombros.

Homens com varas de madeira ou canos de plástico revolviam a lama do mangue, em busca de corpos. Outros, com ar aflito, percorriam os grupos de moradores, à procura de informações sobre parentes desaparecidos. Cachorros vasculhavam o local onde, antes, estavam os barracos de seus donos. Funcionários da Petrobrás, lacônicos, continuavam o trabalho de bombeamento do resto de gasolina e reparação da adutora, cujo vazamento havia provocado o incêndio.

Moradores como Neide Benedito e seu marido, o mecânico Jovercino Carvalho, apesar dos filhos salvos, preocupavam-se ontem em encontrar um gatinho de estimação. No lugar onde estava seu barraco só havia a casa do cachorro e restos da passarela de madeira sobre o mangue.

A maré vazante do mangue na hora do incêndio foi considerada fator importante para evitar que a tragédia fosse maior. Com a maré rasa uma parte dos barracos não foi atingida pelo fogo, que se propagou pela gasolina do vazamento sobre a água. A maré alta sempre é desejada pelos favelados, pois limpa a água do mau cheiro e dos dejetos despejados sobre o canal.

Os feridos - O número de pessoas internadas com ferimentos graves, segundo os hospitais (Santa Casa de Santos, Beneficência Portuguesa, Santa Casa de Cubatão e Hospital Oswaldo Cruz), era 27. O prefeito nomeado de Cubatão, José Oswaldo Passarelli, disse que os feridos eram 33, e a Petrobrás, em nota oficial, afirmava que 22 pessoas permaneciam internadas.

A Santa Casa de Santos recebeu os feridos em estado gravíssimo. O chefe do Departamento de Queimados, Sílvio Correia, afirmou, ontem, que o "período crítico para queimaduras de terceiro grau em mais de 50% do corpo é de 72 horas". Por isso, os 12 internados só terão suas chances de sobrevivência avaliadas a partir de hoje.

O Corpo de Bombeiros da Baixada Santista trabalhou durante toda a manhã de ontem no meio dos entulhos e restos de casebres da Vila Socó, na tentativa de localizar novos corpos. O mangue, sob a favela, foi totalmente revirado. Às 12 horas os bombeiros deram lugar aos funcionários da Prefeitura de Cubatão, que dedetizaram o local para evitar a manifestação de surtos e epidemias.

Levantamento realizado pelo Jornal do Brasil constatou que os feridos internados nos hospitais são: Santa Casa de Santos - 12 pessoas (10 adultos e duas crianças) em estado grave; Beneficência Portuguesa de Santos - 2 pessoas (uma mãe e seu filho) em estado regular; Santa Casa de Cubatão - 11 pessoas, em estado regular; Hospital Oswaldo Cruz, em Cubatão - 2 pessoas, em estado regular.

Inquérito policial começa hoje

São Paulo - A Delegacia Central de Santos começa hoje às 9h o inquérito policial para apurar as causas e responsabilidades da tragédia de Vila Socó. A determinação foi dada na tarde de sábado - horas após o acidente - pelo delegado regional do Litoral, Paulo Fernandes de Almeida Furquim, por ordem direta do governador Franco Montoro.

O prazo legal para o encerramento do inquérito é de 30 dias, mas a polícia prevê a necessidade de mais tempo, por ser um processo trabalhoso, com muitas vítimas, testemunhas e mortos não identificados.

Contradições - A diferença entre a sua versão e a de várias testemunhas sobre a hora exata do início do vazamento que causou o incêndio da Vila Socó fez com que a Petrobrás pedisse, através de nota oficial, que as pessoas que deram entrevista à imprensa compareçam ao Terminal da empresa, em Santos, para depor à comissão interna de inquérito.

O superintendente da Tedep (Terminais de Derivados de Petróleo), Romilson Longo Bastos, afirmou, ontem, que o duto estava sem atividade há uma semana e que sua operação fora reiniciada às 23h15min da sexta-feira, 70 minutos antes da comunicação do vazamento. Outras testemunhas disseram ter sentido cheiro forte de gasolina até 13 horas antes desse horário.

- É inviável o vazamento ter ocorrido antes do reinício da operação da tubulação, pois nossas equipes fazem inspeções constantes - afirma o superintendente da Tedep. Acrescentou que a gasolina bombeada era de alta octanagem, destinada à exportação, e vinha da Refinaria de Capuava.

Contrariando essa versão, Manoel de Souza, que mora num barraco não atingido pelo fogo da Vila Socó, contou que sentiu cheiro de gasolina às 8h da manhã de sexta-feira, 16 horas antes da constatação do vazamento pela Petrobrás. Ele diz ter visto "ao que parece, alguns funcionários da Petrobrás" no local às 14h45min da sexta-feira. João da Silva, que trabalha num restaurante de Cubatão, passou por perto da favela às 10 horas de sexta-feira: "Senti um cheiro muito forte de gasolina. Pensei que viesse da Refinaria".

Perícia - O superintendente da Polícia Federal em São Paulo, delegado Romeu Tuma, descartou, ontem, a possibilidade de sabotagem no incêndio que destruiu a favela. Revelou que a perita do DPF, Márcia Maria - que esteve no local, no sábado - levantou, em conjunto com engenheiros da Petrobrás, que o rompimento na tubulação de transporte de gasolina era de 95 centímetros.

A Polícia Federal enviou peritos e investigadores para a Vila Socó, com o objetivo de apurar responsabilidades pelo vazamento, já que, segundo o delegado Romeu Tuma, a Petrobrás é uma empresa estatal, ligada ao Ministério das Minas e Energia, e o Município de Cubatão é considerado área de segurança nacional. A perita Márcia Maria voltará, hoje, a Cubatão, para nova reunião com engenheiros da empresa e com o superintendente do Terminal de Derivados em São Paulo, Romilson Longo Bastos.

Nessa reunião será determinado o volume de gasolina que vazou no mangue sob a Vila Socó. Com auxílio de equipamentos sofisticados, da empresa, será possível saber até o tempo desde o início do vazamento até a primeira explosão. Técnicos, que não se identificaram, afirmaram que uma das causas do rompimento da tubulação foi o desgaste do material, instalado no local há mais de 30 anos. Esses técnicos temem um retorno dos moradores ao local, já que há possibilidade de ocorrência de novos vazamentos.

A possível corrosão das tubulações pelo seu uso para transporte de álcool, levantada pelo jornal A Tribuna de Santos, em reportagem publicada em 27 de outubro de 1983, foi também rejeitada por Romilson Bastos.

Contando como fontes "técnicos da Petrobrás", a reportagem diz que "o tubo foi instalado para levar a gasolina refinada pela Petrobrás em Cubatão para Santo André. Regularmente, a empresa inverte a operação e, no mesmo tubo, traz para a Baixada o álcool que vem da região de Piracicaba, sem que o condutor tenha recebido o devido tratamento para o transporte do material mais corrosivo". Acrescenta que "o vazamento de 200 mil litros de gasolina (que aconteceu na região em 20 de outubro de 1983) vai acontecer de novo. E essa não é apenas uma hipótese, mas um fato inevitável".

O superintendente da Tedep confirma o uso da tubulação para álcool, acrescentando que mais de 10 bilhões de litros já foram transportados, e que a corrosão é "admissível e não oferece riscos".

Durante todo o dia, favelados ajudaram na busca aos mortos

Foto: Isaías Feitosa, publicada com a matéria

Famílias desabrigadas já têm novas casas prontas

São Paulo - As 550 famílias desabrigadas da favela de Vila Socó serão transferidas para uma área na Vila Natal, onde já existem 550 barracos, assistidos por redes de água, luz, longe de oleodutos, informou ontem o prefeito d Cubatão, José Osvaldo Passarelli. A área, urbanizada há um ano, destinava-se à transferência de população de outras favelas.

No caso dos moradores da Vila Socó, a transferência só depende da liberação de verba para compra de material por parte da Petrobrás, segundo o prefeito.

Liberado - As 550 famílias de Vila Socó estão abrigadas provisoriamente no Centro Esportivo de Cubatão (total de 3 mil pessoas). Mas há muitos outros que perderam seus barracos, abrigados em casas de parentes, sobre os quais a Prefeitura não tem controle. A transferência para a Vila Natal, porém, só beneficiará aqueles que perderam os barracos.

Os demais moradores, cujas casas ficaram intactas na Vila Socó, já receberam autorização para retornar ao local. A Prefeitura e os bombeiros consideraram que não há mais riscos de novos incêndios. Esses moradores remanescentes serão transferidos para outro local, mas o prefeito Passarelli não sabe quando. Ontem, ele disse apenas que a transferência total dos moradores de Vila Socó depende de verbas do Governo Estadual e Federal. "Nós estamos sozinhos" - lamentou.

O prefeito confirmou ontem que 60% dos 110 mil habitantes de Cubatão moram em favelas ou em casas em condições precárias. A cidade - que arrecadará Cr$ 25 bilhões para o orçamento deste ano - teme a qualquer momento outra tragédia, segundo o prefeito. Tratam-se das 110 famílias de favelas das encostas ao pé da Serra do Mar, ao longo da Via Anchieta, na entrada da cidade. Os alertas sobre o desabamento do morro, numa chuva mais forte, têm se repetido há vários meses, mas os favelados continuam em seus barracos.

Contrastes marcam o Município

São Paulo - Os contrastes marcam a vida de Cubatão: é um dos maiores polos industriais da América do Sul, mas conta com o mais alto índice de poluição ambiental do país; tem um dos maiores orçamentos municipais do Brasil, e não conta com um metro sequer de rede de esgotos, paga alguns dos melhores salários para executivos que nem mesmo moram no Município, e enfrenta altas taxas de desemprego.

Até o número de habitantes se transformou numa questão polêmica. Embora o último censo tenha apresentado 78 mil moradores, o prefeito Osvaldo Passarelli garante que eles são mais de 110 mil, o que reflete a realidade de um Município onde o número de moradias clandestinas cresce em ritmo acelerado.

Imagem distorcidas - Segundo Passarelli, existe uma imagem distorcida a respeito de Cubatão, cuja ideia é normalmente ligada ao grande complexo industrial e aos problemas ambientais que ele representa. Ele garante que a arrecadação municipal caiu bastante devido à recessão, já que a maior parte dela provém das indústrias.

- Este ano, aumentamos o orçamento em 100%, mas a inflação nos enganou e ficamos defasados - explica o prefeito. Ainda assim, o orçamento para 84 é de Cr$ 25 bilhões, o que, no entanto, é considerado pouco pelos técnicos da Prefeitura, insuficiente para cobrir a metade das necessidades municipais.

Essas necessidades estão principalmente no campo social, já que mais de 60% da população vivem em condições precárias, nas encostas de morros, favelas e palafitas. Como a cidade ainda não conta com rede de esgotos, os dejetos são eliminados justamente com o sistema de águas pluviais.

- Por isso - acrescente Passarelli -, o orçamento pode parecer grande mas é insuficiente -. Ele lembra que os problemas de Cubatão vêm se acumulando há 20 anos, com o início da industrialização, e que agora ficou tudo mais difícil.

- Nos últimos anos, temos feito o possível para resgatar esse tempo perdido. Hoje, nossa assistência social é bastante eficiente, não temos problemas no atendimento médico e educacional, e a questão dos favelados está sendo minimizada com a criação da Vila Natal, para onde estamos transferindo muitas famílias, e neste ano vamos sediar os Jogos Regionais do Interior, mostrando que temos infraestrutura esportiva - ressalta o prefeito.

Do barraco de Neide Benedito, só restou a casa do cachorro

Foto: Isaías Feitosa, publicada com a matéria

Oleoduto foi feito há 30 anos

São Paulo - O oleoduto que vazou, provocando o incêndio da favela, faz parte de uma malha de mil 600 quilômetros que liga as quatro refinarias no Estado (Cubatão, Capuava, Vale do Paraíba e Paulínia). O trecho Cubatão-Alemoa, onde há cinco linhas paralelas, é o único de toda a rede onde há favelas sobre os dutos.

Os dutos foram instalados há aproximadamente 30 anos pela Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, posteriormente agregada à Rede Ferroviária Federal. Incorporada pela Petrobrás em 1976, a série de oleodutos foi enterrada em profundidades que variam de um metro a 1,40 metro, segundo o superintendente da Tedep, Romilson Bastos.

As cinco linhas têm as seguintes larguras e destinações: uma de 12 polegadas para petróleo cru; duas outras de 10 polegadas para derivados claros (gasolina, diesel, nafta e outros); uma de 18 polegadas para gás e álcool; e outra, também de 18 polegadas, para óleo combustível. No trecho, uma das linhas se transforma em 22 polegadas para transportes de derivados claros. Nesta houve o vazamento.

Sindicâncias de explosão no Rio só começarão hoje

Continuam internados em estado grave oito operários da GMT Técnica Industrial atingidos pela explosão de uma caldeira da Petroflex Indústria Química, subsidiária da Petrobrás, em Duque de Caxias, na sexta-feira. O inquérito aberto na 60ª DP para apurar as causas do acidente esteve parado durante o final de semana e deverá ser reiniciado hoje pelo delegado José Carlos Silveira da Rocha. Os três operários mortos foram enterrados no sábado.

No Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Getúlio Vargas continua internado Ubiraci Marinho. João Magalhães de Oliveira foi transferido no sábado do HGV para a Casa de Saúde Santa Terezinha, na Tijuca. Ambos estão em estado grave e sob "cuidados especiais" dos médicos. No Hospital da Lagoa permanecem internados os operários Juarez de Sousa e Geraldo Pereira Sobrinho.

Visitas - No Centro de Recuperação de Queimados do Hospital de Andaraí estão internados Gecy Romualdo da Costa, José Carlos Menezes, Francisco José Pimentel e Carlos Alberto Ferreira. Segundo os médicos plantonistas, todos estão em estado grave mas, apesar da "fase crítica", puderam receber visitas dos familiares no final de semana.

Os trabalhos para reativar a casa de força da Petroflex, além dos reparos da lanchonete, restaurante e do Laboratório de Análise de Qualidade, atingidos pela explosão, foram iniciados no fim de semana. A Refinaria de Duque de Caxias continuará fornecendo energia elétrica à Petroflex até que a casa de força seja reativada.

Vazamento antigo ainda assusta

Os moradores de Miguel Pereira acordaram ontem preocupados com o forte cheiro de gasolina no Loteamento Parque Aleluia, a 1,5 km do centro da cidade, onde há 20 dias houve um vazamento de um oleoduto da Petrobrás. Técnicos da empresa estiveram no local e constataram que o cheiro de combustível é decorrente ainda daquele vazamento e garantiram que o problema já foi sanado.

À tarde, a Petrobrás, através da sua Assessoria de Comunicação Social, informou que os técnicos vistoriaram toda a tubulação e não encontraram nada de anormal, atribuindo o temor da população "ao fator psicológico, em consequência dos últimos acidentes em Cubatão e Duque de Caxias". O prefeito de Miguel Pereira, Antonio José da Silva, também esteve no local e tranquilizou os moradores.

No dia 10 deste mês, dezenas de milhares de litros de gasolina vazaram de um duto da Petrobrás - que leva o combustível da refinaria de Duque de Caxias para Belo Horizonte - no loteamento Parque Aleluia. A empresa, devido à gravidade do vazamento, paralisou o bombeamento de gasolina em Duque de Caxias, mas não houve necessidade de remover os moradores.

Naquela localidade existem oito casas em construção e apenas uma habitada. O técnico de dutos da Petrobrás, Francisco Lopes, depois de realizar a vistoria disse que o terreno ainda está umedecido pelo vazamento do dia 10, mas garantiu que não há qualquer risco para a população, pois o trabalho de limpeza da área já foi concluído e não houve novo vazamento.

Em 28 de fevereiro de 1984, o mesmo Jornal do Brasil registrava :

Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, na terça-feira, 28 de fevereiro de 1984 - página 1:

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Página 1 do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, de 28 de fevereiro de 1984

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Cetesb multa a Petrobrás por fogo em Cubatão

A Petrobrás foi multada em 1 mil 600 ORTNs (Cr$ 13 milhões 256 mil 784) por não comunicar o vazamento do oleoduto de gasolina na Vila Socó, em Cubatão, à Companhia Estadual de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb) de São Paulo. O vazamento causou o incêndio que destruiu três quartos da favela, no sábado, e fez 88 mortos até ontem. (N. E.: ORTNs = Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional).

A Petrobrás ainda não se manifestou sobre a multa, embora rebata desde já a acusação de que a tragédia seria evitada se a informação tivesse chegado à Cetesb. O BNH anunciou que vai construir em Cubatão 523 casas para os desabrigados, com urgência. O ministro das Minas e Energia, César Cals, afirmou que a Petrobrás não tem culpa pelo acidente.

Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, na terça-feira, 28 de fevereiro de 1984 - página 4:

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Página 4 do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, de 28 de fevereiro de 1984

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Cetesb multa Petrobrás por incêndio na Vila Socó

São Paulo - "A Petrobrás poderia ter evitado o acidente se comunicasse, imediatamente, o vazamento". A acusação consta em um relatório de técnicos da Companhia Estadual de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb) que investigaram as causas do incêndio em Vila Socó, Cubatão, Em consequência a Cetesb decidiu ontem multar a Petrobrás em Cr$ 1 mil 600 ORTNs (Cr$ 13 milhões 256 mil 784).

No Rio o diretor de Transportes da Petrobrás, Telmo Dutra Rezendo, informou que não há ainda qualquer decisão por parte da diretoria sobre a multa, acrescentando não acreditar que o acidente pudesse ter sido evitado. Ele diz que o assunto deverá ser abordado numa próxima reunião da empresa.

Reincidente - Segundo o presidente da Cetesb, Werner Zulauf, moradores da Vila Socó confirmaram aos técnicos da companhia que o vazamento começou horas antes da explosão que deu início ao incêndio que destruiu um terço da favela. Ele acredita que o relatório dos técnicos conclui ter havido "negligência" por parte da Petrobrás, ao deixar de comunicar o vazamento.

- Este acidente é gravíssimo. Daí termos aplicado a multa máxima na empresa - destacou o presidente da Cetesb. A multa máxima é de 1 mil ORTNs, mas foi acrescida, já que a Petrobrás é reincidente. No dia 20 de outubro do ano passado, a empresa estatal recebeu multa de 800 ORTNs, pelo vazamento de 41 mil litros de gasolina de uma tubulação, na altura do quilômetro 57,5 da Via Anchieta, que quase atingiu a represa Billings, responsável pelo abastecimento de água da região do ABC Paulista.

Segundo Werner Zulauf, a tubulação da Petrobrás, na região de Cubatão, "tem 30 anos. A ocorrência de vazamento, nessa situação, é cada vez mais frequente e aumenta o risco de acidentes". Disse temer, ainda, a ocorrência de acidentes semelhantes ao de Vila Socó na favela de Vila Parisi - cerca de 20 mil habitantes, também em Cubatão, construída sobre tubulação que transporte produtos químicos (como a amônia) e combustíveis, sendo rodeada por indústrias.

Em outubro do ano passado, a Cetesb pediu à Petrobrás que elaborasse um plano de manutenção de seus oleodutos, para prevenir acidentes. A empresa enviou, no último dia 16, um relatório para a Companhia, esboçando seu plano de ação. "Mas temos ainda um trabalho longo pela frente", garantiu Zulauf.

Na reunião que coordenará, hoje de manhã, em Cubatão, com todos os órgãos estaduais que possuem planos já montados para resolver o problema da região, Zulauf defenderá a remoção das famílias de Vila Parisi, Vila Socó e outras favelas da região - principalmente as construídas nas encostas de Serra de Paranapiacaba ou Serra do Mar - para a região do Vale do Rio Quilombo, a 500 metros da Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) e a um quilômetro da Vila Parisi.

- Uma ênfase grande deve ser dada ao relacionamento com o BNH, para que se obtenham os recursos necessários à implantação de um plano habitacional definitivo para a região - disse.

Montoro manda apurar com rigor

São Paulo - O governador Franco Montoro determinou, ontem, o "máximo rigor" na apuração das causas e responsabilidades pelo incêndio na Vila Socó. No Palácio dos Bandeirantes, o promotor público Mário Ribeiro de Freitas - designado para acompanhar o inquérito policial - informou que, após ser identificado o responsável (ou responsáveis) pelo acidente, responderá por crime de homicídio culposo e está sujeito a pena de detenção variável de um a três anos.

Após uma visita a Vila Socó, o promotor garantiu que os "responsáveis serão identificados, sejam eles engenheiros e técnicos que respondem pela manutenção e segurança dos dutos ou membros dos escalões superiores".

Número de mortos aumenta para 88

São Paulo - Mais seis corpos foram encontrados ontem nos escombros de Vila Socó, elevando para 88 o número de mortos no incêndio de sábado, informou, às 20 horas, o Instituto Médico Legal de Santos. Nenhuma morte foi registrada ontem entre os feridos, mas 12 internados na Santa Casa de Santos em estado gravíssimo ainda não ultrapassaram o período considerado crítico.

Em três outros hospitais de Santos e Cubatão, 15 pacientes com queimaduras permaneciam internados em estado regular. Uma mãe e filho começaram ontem a reagir bem ao tratamento na Beneficência Portuguesa de Santos.

Na Vila Socó, havia placas alertando para o perigo de incêndio

Foto: Isaías Feitosa, publicada com a matéria

 

Acidente não pode ser previsto

O sistema de controle da segurança dos oleodutos da Petrobrás não permite detectar o rompimento de uma tubulação antes que se verifique o vazamento. Existem apenas duas formas de controle de acidentes: a queda de pressão provocada pela passagem do combustível pelo oleoduto e a simples observação, tarefa que fica a cargo de uma equipe de "observadores caminhantes". As explicações foram dadas ontem, na sede da empresa, pelo superintendente adjunto de terminais e oleodutos da Petrobrás, Eugênio Koslinki.

Segundo ele, o vazamento no oleoduto de Alemoa, em Cubatão, não teria ocorrido devido a falhas desses instrumentos de controle, mas suas explicações técnicas revelaram a impossibilidade de descobrir, antes da ocorrência, um vazamento nas linhas de transporte de combustível

Vistorias - Eugênio Koslinki explicou que o oleoduto tem uma parte importante na superfície e outra enterrada a uma distância que oscila entre 70 centímetros a um metro da superfície. A vistoria é feita de forma constante no trecho da linha que se encontra na superfície e de forma constante também, mas através de um sistema de amostragem, na parte que permanece em baixo da terra.

Embora o inquérito administrativo aberto pela direção da Petrobrás só esteja concluído na próxima sexta-feira - o prazo dado à comissão foi de seis dias -, o superintendente da Petrobrás adiantou que o acidente foi provocado por um rompimento na tubulação, de grande dimensão, provocado por uma corrosão de fora para dentro, no material da tubulação.

Durante mais de uma hora, Eugênio Koslinki procurou explicar o funcionamento do sistema de manutenção e de segurança dos oleodutos - a Petrobrás controla oito sistemas de terminais e oleodutos no país. A manutenção está baseada num sistema que é conhecido entre os técnicos como "sistema de proteção catódica", isto é, através do qual uma carga de corrente elétrica é passada pelas tubulações, criando uma proteção que neutraliza a corrosão e outros fatores adversos, por exemplo, influências de trilhos e outros materiais. Sempre que uma falha qualquer é detectada a parte vulnerável sofre um serviço especial de manutenção, de acordo com o superintendente.

Causas possíveis

São Paulo - Uma falha de operação - como o fechamento de uma válvula do trajeto do duto, erro na quantidade de pressão dos encanamentos ou, ainda, erro no alinhamento das tubulações - pode ter causado o vazamento de gasolina de Vila Socó, afirmou o assistente executivo do Terminal de Derivados de São Paulo, Walter Cordeiro Liegel.

Ele informou que o inquérito administrativo da Petrobrás tem prazo até sexta-feira para apresentar resultados. Os trabalhos foram iniciados já no sábado pela comissão, que é formada por dois engenheiros e um advogado, cujos nomes não foram revelados. Suas atividades estão sendo mantidas em sigilo.

Cordeiro Liegel destacou que as reais causas somente serão apontadas por esta comissão, mas adiantou que tem em seu poder (numa sala lacrada por instrução da Polícia Federal) o pedaço do cano que estourou. Esclareceu que o cano tem sinais de corrosão, "mas nada que pudesse vazar em tais dimensões". O vazamento veio de um rasgão de aproximadamente 60 cm de comprimento e 15 cm na sua largura máxima.

Shigeaki Ueki

Brasília - A Petrobrás reconhece que falhou na tragédia de Cubatão, em São Paulo, não expulsando previamente os invasores da área de oleodutos onde se deu o incêndio do último fim de semana. Por isso, está providenciando a desocupação de áreas em situação idêntica noutros Estados, onde a empresa mantém instalações consideradas de alto risco.

A declaração foi feita, ontem, no Palácio do Planalto, pelo presidente da companhia, Shigeaki Ueki, que também culpou as autoridades governamentais por estimularem esse tipo de ocupação, promovendo obras de saneamento nessas áreas. Em Cubatão, segundo ele, "a pedido das autoridades, a Petrobrás teve de aterrar os oleodutos para fins de saneamento".

Expulsão

- Nós deveríamos ter sido mais enérgicos, usando inclusive os bombeiros e a força policial para expulsar os moradores da área da tragédia, em Cubatão - disse Shigeaki Ueki, ao assegurar que a Petrobrás já avançou muito nos trabalhos da comissão de inquérito que determinará as causas e responsabilidades do incêndio. A empresa, como afirmou, indenizará as famílias das vítimas, mas não permitirá a reconstrução das casas nessas áreas.

Pela manhã, ele fez um relato completo dos prejuízos e das providências adotadas pela Petrobrás ao ministro das Minas e Energia, César Cals. Este afirmou, mais tarde, que a Petrobrás não tem culpa pelo acidente.

- A Petrobrás - disse o ministro - sempre quis retirar as pessoas da área onde está localizado o gasoduto, mas sempre encontrou resistência, inclusive por parte da Prefeitura de Cubatão, que procurara até melhorar os serviços públicos da comunidade.

Acrescentou que o fato de a Petrobrás querer indenizar as vítimas do acidente não implica que ela seja responsável. Ele informou que está aguardando a conclusão do inquérito aberto pela Petrobrás para saber as causas do acidente e de quem foi a responsabilidade. Garantiu, ainda, que não vão faltar combustíveis na região.

BNH fará casas para desabrigados

Brasília - O presidente do Banco Nacional da Habitação - BNH -, Nelson da Mata, anunciou ontem que o Governo Feeral vai construir em Cubatão, em regime de emergência, 523 casas para atender as famílias desabrigadas com o incêndio que destruiu a favela de Vila Socó. Essas casas deverão ficar prontas dentro de 30 dias.

Segundo Nelson da Mata, "o financiamento não ficará pesado aos flagelados, que poderão abater o valor total com as indenizações que receberão da Petrobrás". Por cada casa, os futuros proprietários deverão pagar 10% do salário mínimo - cerca de Cr$ 5 mil 700 - ajustáveis semestralmente.

Nelson da Mata informou que a ação do BNH será complementar à da Petrobrás, que indenizará as vítimas do incêndio. A construção das 523 casas será em terreno da Prefeitura de Cubatão, já escolhido pelo Governo paulista e onde atualmente está sendo feito trabalho de terraplenagem. A construção começará imediatamente após a conclusão deste serviço.

O presidente do BNH disse que o financiamento do conjunto residencial será através do Promorar e absorverá recursos da ordem de Cr$ 292 milhões. Cada unidade residencial terá 30 metros quadrados e custará o equivalente a 70 UPCs - aproximadamente Cr$ 528 mil, a preços de hoje. (N.E.: UPC = Unidade Padrão de Capital).

Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, na terça-feira, 28 de fevereiro de 1984 - página 10:

Editorial, publicado na página 10 do Jornal do Brasil de 28 de fevereiro de 1984

 

Sobre a impunidade

Um aspecto grave vai escapar ao inquérito policial começado ontem para apurar responsabilidade pela explosão que destruiu a Vila Socó, construída sobre os dutos de Cubatão: a conivência que apadrinha a proliferação de favelas na paisagem urbana deste país.

Assim como se generaliza hoje a condescendência para com todas as formas de marginalismos, a pretexto de que são consequências de problemas sociais, o aparecimento das favelas conta com o patrocínio político e a conivência de toda a sociedade. Essa conivência é que explica, em primeiro lugar, porque sobre um determinado trecho do oleoduto entre Cubatão e Alemoa começou a se expandir uma favela. E, o que é ainda mais grave, nada foi feito para remover esse conjunto de moradias edificadas sobre uma região pantanosa.

A conivência - política e administrativa - não é específica de Cubatão. Numas cidades mais do que noutras, as favelas gozam de impunidade privilegiada. São intocáveis, em nome do social. Uma explosão como essa que se abateu sobre a Vila Socó justifica o vesgo critério social? Em Cubatão foi a explosão do gasoduto, no Rio as chuvas fazem deslizar encostas - e não se faz nada, depois, para acabar com as favelas. Pelo contrário, são reconstruídas. Não se removem as favelas antes de desabarem ou explodirem. Depois é sempre tarde para reduzir as consequências humanas, sob a forma de tragédia. E tarde também para estabelecer responsabilidades. O patrocínio político do favelamento encobre a incompetência de resolver problemas e a aplicação, com critério social, de recursos públicos.

Cubatão, segundo seu prefeito, conta com uma população de 110 mil habitantes, mas 60 por cento deles são favelados. Tem o mais alto índice de poluição do país e a menor rede de esgotos: nem um metro. É, no entanto, um dos maiores orçamentos municipais brasileiros.

A impunidade de apadrinhamento das favelas vai continuar impune. Não porque esteja excluída dos objetivos do inquérito, mas porque a sociedade brasileira continua a pactuar com a demagogia e a ter medo de algumas verdades. Entre as quais já se inclui a mentira social.

 
No dia 29 de fevereiro de 1984, o mesmo Jornal do Brasil voltou a noticiar, na página :
 
Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, na quarta-feira, 29 de fevereiro de 1984 - página 5:

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Página 5 do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, de 29 de fevereiro de 1984

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Morador viu começo da tragédia no chão de Vila Socó

São Paulo - O vazamento de gasolina que causou o incêndio da Vila Socó, em Cubatão, começou ainda na manhã de sexta-feira, 16 horas antes da chegada dos técnicos da Petrobrás, denunciou oficialmente o motorista Manoel de Jesus Souza, em depoimento ao delegado José Antônio Husemann, nomeado pelo governador Franco Montoro para apurar as causas da tragédia. O número de mortos subiu ontem de 88 para 89, segundo a Prefeitura de Cubatão.

Manoel, que mora na Vila Socó, num setor não atingido pelo incêndio, passou pelo local às 8h da manhã de sexta-feira e diz ter notado, a 10 metros da tubulação da Petrobrás, no canal do mangue, uma mancha de oito metros de comprimento de um líquido que identificou como gasolina.

Mancha - Ele comentou o assunto com um rapaz de aproximadamente 25 anos, também atraído pela mancha, que se prontificou a comunicar o fato à Petrobrás. Ao voltar ao local, por volta das 14h50min, Manoel Souza afirma ter visto, próximo ao vazamento, um Volkswagen cinza com as características da Petrobrás, mas não notou qualquer movimentação de funcionários. Por volta das 20h30min, Manoel passava pela terceira vez em frente ao local, voltando do trabalho. Não notando qualquer movimentação, seguiu para sua casa e dormiu.

Durante a noite, seu irmão Antônio de Souza, que morava na beira do canal, foi à sua casa, queixando-se de "não aguentar mais o cheiro de gasolina". Momentos depois, começou o incêndio, que por questão de 30 metros não atingiu a sua casa. Manoel conta que desde sábado procura o desconhecido, de tipo "índio", que havia se disposto a avisar a Petrobrás do vazamento, sem conseguir encontrá-lo. Ele acredita que o jovem tenha morrido no incêndio, pois apontou, durante a conversa da manhã, a sua residência próxima ao vazamento.

Encanamento - O tubo rompido, por onde vazou a gasolina, foi apreendido pela polícia no terminal de derivados de petróleo da Petrobrás, em Alemoa, Santos. Segundo o auto de exibição e apreensão, o tubo de aço carbono mede aproximadamente 2,37 meros, com diâmetro de 22 polegadas, e o rompimento tem 97 centímetros de comprimento por 16 centímetros de largura. O cano foi levado para exames pelo delegado Huseman Guimarães.

O superintendente do Tedep, Romilson Longo Bastos, não quis adiantar nada sobre as circunstâncias do vazamento, enquanto não for divulgado o inquérito administrativo realizado pela Petrobrás, que tem prazo final de apresentação sexta-feira.

Parisi também é vila de perigo em Cubatão

São Paulo - Mesmo sem estar na lista das áreas de Cubatão cuja população deve ser removida pelo perigo iminente de vazamentos ou desabamentos, Vila Parisi, 6 mil habitantes, é uma área de alto risco. Famosa depois de ser considerada o local mais poluído do mundo pela Organização Mundial da Saúde, a vila é atravessada por encanamentos de amônia, gases combustíveis e monóxido de carbono.

- O risco é o mesmo de um oleoduto de derivados de petróleo da Petrobrás - garante o presidente da Cetesb (Companhia de Saneamento Básico do Estado), Werner Zulauf. Para ele, o problema da Vila Parisi só poderá ser resolvido a curto prazo. Ao contrário da Vila Socó, ocupada completamente por barracos, Vila Parisi é constituída praticamente de casas de alvenaria. Tem ruas, três das quais calçadas pela Prefeitura, água encanada, luz e comércio ativo, em meio a esgotos a céu aberto.

A estratégia do prefeito de Cubatão, José Osvaldo Pasasreli (PDS), que é indicado, por ser área de segurança nacional, é conseguir "o fim da poluição" antes de pensar em outras providências. Para isso, a Prefeitura tem solicitado à Cetesb que pressione as indústrias da vizinhança para instalar filtros nas suas chaminés. O prefeito defende a existência da vila, onde, por legislação federal, são proibidas novas construções.

Para o presidente da Cetesb, porém, a solução é mais complexa. Uma opção, além da luta pela diminuição da poluição, é a abertura de novas áreas, próximas à área industrial, com menores problemas de poluição. Uma das sugestões é o Vale do Quilombo, não muito longe de Vila Parisi, mas despoluído.

Feema pede mapa dos oleodutos do Estado

A Fundação Estadual de Engenharia do Meio-Ambiente - Feema -, em virtude do acidente ocorrido com o oleoduto de Alemoa, na favela de Vila Socó, em São Paulo, está solicitando que a Petrobras forneça a localização exata dos terminais, oleodutos e gasodutos existentes no território do Estado do Rio de Janeiro.

- Hoje temos apenas uma ideia da localização desses gasodutos e oleodutos, mas necessitamos de maior precisão. Estamos solicitando também a localização de tanques de estocagem de combustível, que não estejam situados dentro de complexos industriais, e analisaremos todas as instalações existentes no Estado, principalmente quanto à armazenagem de produtos tóxicos e inflamáveis - disse o presidente da Feema, Armando Mendes.

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