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HISTÓRIAS E LENDAS DE S. VICENTE
Desde o primeiro governador (2)

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Nos tempos coloniais, o Brasil teve mulheres em funções equivalentes às dos atuais governadores, como destacou a historiadora Wilma Therezinha Fernandes de Andrade, em artigo alusivo ao Dia Internacional da Mulher, para a seção Tribuna Livre do jornal santista A Tribuna, publicado em 8 de março de 2013 (página A-2):

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TRIBUNA LIVRE

Governadoras no Brasil Colônia

Wilma Therezinha Fernandes de Andrade [*]

Durante o período das capitanias hereditárias, mulheres foram governadoras, pois a lei permitia a elas o acesso ao poder.

Na de São Vicente, doada a Martim Afonso de Souza, em 1534, administrou-a durante 10 anos sua mulher e procuradora d. Ana Pimentel, enquanto ele estava ausente na Índia. Ela doou várias sesmarias, entre elas a de Jeribatiba (hoje Jurubatuba em Santos continental), em 1536 a Braz Cubas, e também foi dela a decisão de anular a determinação de Martim Afonso de proibir a subida dos povoadores do litoral ao planalto, reabrindo a passagem por Cubatão. Nomeou capitães-mores, inclusive Braz Cubas, em 1545, que elevou o povoado de Santos à condição de Vila.

Na de Santo Amaro, de Pero Lopes de Souza, irmão de Martim Afonso, governou sua viúva Isabel de Gamboa durante a menoridade de seus dois filhos, pois o donatário morreu em naufrágio em viagem para a Índia, em 1537. Como donatária nomeou, em Portugal, loco-tenentes que tentaram ocupar a Ilha de Santo Amaro, (Guarujá).

No século XVII, a Capitania de São Vicente pertencia a Mariana de Souza da Guerra, condessa de Vimieiro, neta de Martim Afonso. Teve o dissabor de enfrentar de seu primo, conde de Monsanto, herdeiro da Capitania de Santo Amaro, processo pela imprecisão dos limites entre as duas capitanias.

O conde ganhou a demanda e apoderou-se de Santos, São Vicente e São Paulo. A condessa de Vimieiro, sentindo-se lesada, reagiu e criou a Capitania de N. S. da Conceição de Itanhaém, em 1624, com sede na vila de Itanhaém e território que abrangia parte dos estados atuais do Rio de Janeiro e Paraná. D. Mariana administrou a Capitania de Itanhaém de 1624 até 1645, e esta, mais tarde, foi incorporada à Capitania de São Paulo.

Com outros herdeiros, o processo continuou acirrado e provocou enorme confusão administrativa. As sentenças favoreciam os herdeiros de Pero Lopes de Souza. A sede de São Vicente foi transferida para a vila de São Paulo e a capitania trocou de nome, passando a se chamar de São Paulo. A de Santo Amaro estava, na prática, anexa a ela.

No início do século XVIII, d. João V comprou a Capitania de São Paulo por 44 mil cruzados.

Na Capitania do Espírito Santo, destacou-se d. Luíza Grinalda, viúva de Vasco Fernandes Coutinho (Filho). Foi donatária (1589-1593), morou em Vila Velha e enfrentou assalto de corsários; ataques de índios e dificuldades com os engenhos de açúcar. Apoiou os franciscanos, a quem doou o morro onde eles construíram o notável convento da Penha. Acolheu, também, beneditinos e jesuítas. O padre José de Anchieta era seu amigo e a amparou quando da morte do marido. Não teve filhos e, voltando a Portugal, dedicou-se à vida religiosa e testemunhou no processo de beatificação de Anchieta.

Para a Capitania de Pernambuco, doada em 1534, o donatário Duarte Coelho trouxe a mulher d. Brites de Albuquerque. Ela assumiu o comando da capitania quando ele fez duas viagens a Portugal e seus dois filhos, nascidos no Brasil, eram menores ou ausentes. Brites viveu em Olinda tempos difíceis: ataques dos caetés, intrigas entre colonos, dificuldades com a produção do açúcar, falta de capital. Concedeu sesmarias. Teve ajuda de seu irmão, Jerônimo de Albuquerque.

Quando os homens morriam ou se ausentavam, as mulheres no Brasil Colonial assumiam papel significativo no governo das capitanias. E, no século XVIII, o Brasil teve como rainha d. Maria I (1777–1792).

Hoje, o Brasil é governado por uma mulher. De Ana Pimentel a Dilma Rousseff, a História registra a crescente importância da presença feminina na administração e na política brasileira.

[*] Doutora em História Social pela USP, professora assistente de História da UniSantos, historiadora e membro de instituições acadêmicas.