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Santistas, nas barrancas do Paranapanema [12]

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Livro de Santos Amorim, lançado em novembro de 1932, relata a participação de um batalhão santista na Revolução Constitucionalista daquele ano:


SAUDADE - Alfredo Shammas. Morto em combate

Alfredo Shammas

A morte o arrebatou. Tragicamente. Quando lutava pelo ideal paulista. De fuzil na mão. Num lance sublime de bravura. Sem se arrecear das traiçoeiras balas inimigas. Ofertando sua mocidade vigorosa à causa sagrada do povo bandeirante. Vendo jorrar no solo bendito de sua terra o seu sangue generoso. Sentindo que a vida o abandonava. Mas ainda com o coração palpitante de fé na vitória magnífica da grandiosa causa.

Alfredo Shammas fechou os olhos para sempre. No campo rubro de batalha. Sem rever o lar queridíssimo. Sem receber os derradeiros beijos das criaturas que o adoravam. Sem que os seus companheiros pudessem lhe dizer adeus.

Mas o seu nome e o seu heroísmo ficarão imperecíveis. Nas páginas gloriosas da História de S. Paulo. E na memória enternecida do povo brasileiro.


Antonio Damin

Faleceu a 12 de setembro. Vítima de um doloroso acidente. Ocasionado pelo F.M. que conduzia. Pertencia esse bravo soldado à 3ª Cia. do 7º Batalhão.

Sua morte consternou profundamente os seus camaradas. Antonio Damin era uma criatura boníssima. De caráter íntegro. Estimado por todos os seus companheiros.

O coronel Favilla, referindo-se ao saudoso jovem, fez inserir no Boletim do Comando as seguintes palavras:

"Apesar de ter sido acidental a sua morte, podemos afirmar que é mais uma vida roubada à Pátria pela Ditadura, porquanto esse bravo moço estava dando a sua mocidade e o seu valor à causa constitucionalista".

Rendemos aqui a nossa homenagem sentida à memória do valoroso Antonio Damin.


MISSA CAMPAL - Rezada pelo padre Firmino.
Em sufrágio da alma do saudoso Alfredo Schammas


Os últimos dos últimos

No Setor Sul. Já não havia mais um único soldado paulista em combate. Todos tinham se retirado. Por ordem superior. Trincheiras. Posições estratégicas. Completamente abandonadas. Entretanto, a centenas de quilômetros distantes de São Paulo, ainda soldados santistas permaneciam no seu posto. Firmes. Garantindo aqueles que dois dias antes tinham se recolhido. Marchando para a capital.

Eram eles: 2º tenente Roberto C. Ralston. Fausto de Souza Meirelles. Eurico Mendonça. Renato Pimenta. Lúcio Graça. Manoel Stockler Pinto. Francisco Perez Gonçalves. Antonio Toledo Prado. Albino Cunha. Altamir Andrade Coelho. Alfredo Bompeixe. Dr. Domiciano Passos. Joaquim Ataxerxes Coelho. Carlos de Paula Machado. José Antonio de Oliveira. José Ferreira Coelho. Elpídio de Carvalho. Oscar Alcover. Erse Bassani. Antonio Santos Amorim.

Ocupávamos então o auto caminhão n. 4406. Guiado pelo motorista Pedro Bolini. Que tinha como ajudante Gumercindo Chaves de Oliveira.


A bravura de um paulista da 1ª Cia. do 7º

A promoção a 2º sargento do nosso companheiro Nadyr Malheiros foi conseqüência de um ato de bravura. Que vamos assinalar. Resumindo.

Às 9,30 horas de 3 de agosto. Nadyr comandava o 1º grupo de combate do 1º pelotão da 1ª Cia. do 7º. Foi fazer um reconhecimento. Acompanhado de um guia. Quilômetros além, entrou em contato com a patrulha inimiga. Dois cavalarianos da brigada do Rio Grande do Sul. Nas proximidades da estação de Victorino Carmillo. Próximo a Buri.

Intimado a render-se, o corajoso moço bateu em retirada. Os inimigos o alvejaram. Repetidas vezes. Nadyr, entretanto, logrou pôr-se a salvo. Regressando para as nossas posições. Onde nós todos, ao saber da ocorrência, o felicitamos calorosamente. Pela prova de destemor que dera. Não se acovardando. Conseguindo sair incólume da perseguição dos dois soldados gaúchos.


Em missão especial

10 de agosto. Às 21 horas. O cel. Kinglhoffer requisita 5 praças. Para desempenharem missão especial no setor de Victorino Carmillo - Buri. Foram designados para esse serviço: - o 2º sargento Floriano Peixoto Corrêa. E os cabos Djalma Porchat de Assis. João Maia. Manoel Gomes. José Escobar. Seguiram imediatamente. Regressando na manhã seguinte. Merecendo, todos, elogios do comando. Pela maneira esforçada com que cumpriram a importante tarefa.


Postos de socorro

Na retaguarda de cada unidade. Na linha de frente. Onde permaneciam os soldados do 7º. Divididos. Cada Cia. na sua posição. Havia um pequeno posto de socorro. Com um médico. Um enfermeiro. Dois padioleiros. Prestando imediata assistência aos feridos. Transportados das trincheiras.

Para o flanco direito foram designados os 1ºs tenentes drs. Jonas de Toledo Arruda e Eduardo Barreto de Souza. Para o flanco esquerdo, o 1º tenente dr. Francisco Neves.


Dr. Francisco Neves

Todos os médicos que acompanharam o 7º B.C.R. são credores da gratidão dos voluntários santistas. Pelo desvelo com que os trataram. Na enfermaria. Nas trincheiras. Em qualquer sítio em que estivessem.

O dr. Francisco Neves foi o médico da 1ª Cia. Médico e verdadeiro pai dos soldados. Poucas vezes, em circunstâncias idênticas, esse vocábulo PAI terá sido empregado com tanta justiça. Essa a verdade. Pura e desinteressada. Como deve ser a verdade. Para ser verdade. Em amarguradíssimos 73 dias de campanha, esse moço revelou-se-nos de uma abnegação sem limites. Tratando a todos com o mesmo afeto. Ao pobre e ao rico. Ao comissário de café e ao criado do comissário. O soldado que o procurasse seria atendido. Enfermo, baixaria ao hospital. Precisado de qualquer recurso, obteria o recurso. Invariavelmente.

O amigo Francisco Neves era tão prestimoso como o 1º tenente dr. Francisco Neves. Porque se colocava, sempre, em defesa dos direitos dos voluntários da 1ª Cia. Advogando, com empenho, tudo quanto pudesse beneficiá-los. Zelando pelo bem estar de todos. Facilitando-lhes o máximo que era possível. Médico que atravessou a campanha nas trincheiras. Dando cigarros à tropa. Levando-lhe remédios. Indagando do estado de cada um. Sempre carinhoso. Sem uma palavra de intolerância. Sem um gesto de enfado.

De uma feita, enfermou. Caso de relativa gravidade. Pois ainda assim, resistiu. Como muitos não teriam resistido. Esteve acamado um dia. Somente. Levantou-se. Veio para o seio da tropa. Embora expondo o seu organismo combalido a uma recaída. Que poderia sacrificá-lo. Voltou conosco para Santos. Foi companheiro fiel até o derradeiro instante.

O dr. Francisco Neves é mineiro. Nasceu nas Alterosas. Entretanto, ainda não vi mineiro tão paulista como ele. Está dito tudo.


Assistência às famílias dos soldados

No dia 15 de agosto eram nomeados pelo coronel Favilla representantes do 7º Batalhão em Santos, e encarregados de prestar assistência às famílias dos nossos soldados, os srs. Orlando Esteves, como chefe; major Manoel Pedro dos Santos Silva e Antonio Caio de Freitas Guimarães Sobrinho.

Estes distintos cavalheiros, desde a organização do 7º, vinham prestando, com dedicação e carinho, inestimáveis serviços aos voluntários santistas.

Todos eles desempenharam, a contento geral, a espinhosa tarefa. Merecendo louvores do coronel Favilla. E a gratidão dos soldados do 7º.


Quatro... de fato: - Manoel Stockler Pinto, Dr. Domiciano Passos. Erse Bassani. Oscar Alcover


Elogiados em campanha

Do Boletim n. 28, de 24 de agosto, do Q.G. do Setor Sul, em Itapetininga, transcrevo os seguintes elogios:

"Ao aspirante Mário Amazonas, que, por sua brilhante conduta na última fase do combate, revelou ótimas qualidades de militar.

Ao aspirante Luiz Simione Sobrinho, que prestou relevantes serviços nos dias 15 e 16 do corrente. Aos soldados Cícero Pedro da Silva, José Pereira Nóbrega e Lino Gomes, que foram debaixo de viva fuzilaria, ocupar uma trincheira avançada, onde denodadamente resistiram a todos os embates do inimigo.

Ao 2º tenente Francisco Manoel Cairolli, comandante da 2ª Cia., que executou, com inteira satisfação do comando, a mudança de posição e prolongou eficientemente a ala esquerda.

Ao 3º sargento Ary Spindola e ao cabo Edgard Marques Araújo, que relevantes serviços prestaram durante o fogo, como patrulha de conhecimento.

Ao 3º sargento Moacyr Torres Carvalho e ao soldado Oswaldo dos Santos que, na qualidade de fuzileiros, portaram-se de maneira digna dos maiores encômios.

Ao 3º sargento Luciano Ferreira, que conduziu o seu Pelotão com invejável perícia.

Ao cabo Djalma Porchat de Assis e aos soldados Joaquim Dias, Pedro Prudêncio Vianna, Manoel Gomes dos Santos e José Escobar, que foram magníficos agentes de ligação e combatentes".


O intragável corned-beef

Eu sempre dizia nas trincheiras: - prefiro 24 horas de cadeia. Ou 48 de maleita. A ter que comer corned-beef. Dizia. Agora repito. Não mudei ainda de convicção. Não mudarei jamais. Mesmo porque, uma convicção de paulista é coisa indestrutível.

Esse famoso corned-beef era distribuído copiosamente aos soldados. Raríssimo, porém, o que tinha estômago para tragá-lo. Quando o soldado, em campanha, recusa bóia, calcule-se o que essa bóia não será...

O corned-beef é uma coisa que eu não sei definir com precisão. É carne de cabeça de boi. Com os respectivos nervos. E o resto. A lata que contém essa mixórdia é atraente. Só a lata. Porque o conteúdo é simplesmente detestável. Tão detestável que, exposto meio minuto ao ar, torna-se nocivo à saúde.

Na Intendência da 1ª Cia. sempre havia corned-beef em profusão. Às caixas. Dezenas de caixas. Que ficavam amontoadas a um canto. Desprezadas por todos.

É bem de ver que os gostos diferem. E que a fome é triste. Por isso, alguns voluntários não tinham dúvida, às vezes, de empurrar aquilo para dentro do estômago. O Espinhel era um deles. O Canto. O Cyro Glória. O Djalma Carneiro Leão. Eram outros. Mas sofriam as conseqüências. Tinham que correr a todo o momento. E de pedirem ao dr. Neves uma dose de elixir paregórico...

***

Certa ocasião. Em Aterradinho. Estávamos de partida para Cruzeiro do Sul. A Intendência seguia também. Um soldado pediu a Renato Pimenta, que era o intendente, uma lata de corned-beef. Renato olhou-o. Sorriu. E acabou fazendo-lhe presente de uma caixa daquela droga. Doze latas! Agradecendo-lhe, ainda, o grande favor que lhe prestava o soldado.

Eu dei pêsames ao infeliz...

***

De outra feita. Nas trincheiras de Porto Velho. Coloquei bem à vista de todos três latas de corned-beef. Oferecendo 5$000 de prêmio àquele que as desapertasse.

Uma semana depois, as latas ainda permaneciam no mesmo lugar. Nem para ganhar dinheiro havia ali quem se aventurasse a ficar com o maldito corned-beef. Seria uma ignomínia...


Grupo feito após a missa mandada dizer pelos voluntários do 7º B.C.R., na Catedral,
pela alma dos que tombaram defendendo a causa constitucionalista


Ave Santos F. Clube!

Mal acabara ainda de reboar, Piratininga em fora, o toque de reunir. Chamando às armas o voluntariado paulista. Para a formidável arrancada cívica. Que redimiria São Paulo. E libertaria o Brasil.

Santos - a mais formosa pérola do Estado Bandeirante - acorreu, sôfrega. Impetuosa. Ardente. Unânime. Para dar o sangue moço de seus filhos varonis à causa sacrossanta. No cenário dramático da luta. E os santistas afluíram aos Postos de Alistamento. A fim de marchar para a frente. Empunhando um fuzil. Num gesto de bravura imperecível. De contagiante entusiasmo guerreiro.

Os esportistas, os nossos intrépidos atletas, heróis laureados de mil pugnas, se incorporaram ao 7º B.C.R. O primeiro contingente praieiro que demandou as trincheiras. Para combater. Pela Lei. Pela Liberdade. Reunindo em seu seio, num só bloco, o mais numeroso grupo de futebolistas. Que a cidade admira.

É de justiça ressaltar o fato. Que nos engrandece. A todos. Foi o Santos F. Clube - o valoroso campeão de Vila Belmiro, glória imarcessível do futebol brasileiro - quem deu ao 7º Batalhão todo esse pugilo de bravos. Que rumaram, logo, para as linhas de combate. Levando no coração generoso a chama sagrada do ideal.

Qual foi a atuação desses denodados moços do alvinegro santista, no transcorrer da campanha tremenda, já assinalamos. Todos se conduziram com galhardia e desassombro. Heróis duas vezes. Nos campos do esporte. E nos campos de batalha.

O Santos F. Clube deve ter justificado orgulho dos seus defensores. Agora, mais do que nunca. Porque eles deram provas brilhantes de resistência. De coragem. De bravura. Batendo-se com destemor. Sob a bandeira de S. Paulo. E dignificando a bandeira do grêmio de Vila Belmiro.

Eu, que os acompanhei. Que os vi lutar. Que com eles pelejei nas fileiras do 7º B.C.R., deixo aqui o testemunho da minha profunda admiração por esses esportistas de fibra. E patriotas sinceros.

O AUTOR


O bom humor da rapaziada santista em campanha

Os rapazes santistas, durante a luta, manifestaram sempre esplêndido bom humor. A par da bravura revelada nas situações mais graves. Quando o fogo inimigo nem sequer lhes permitia sair das trincheiras. Mesmo para pegar o rancho amanhecido. Ou em busca de um pouco d'água. Como aconteceu inúmeras vezes. Principalmente em Saltinho. Com a mesma disposição de espírito, conservada nos entrechoques sangrentos, os nossos conterrâneos se divertiram a valer. Logo depois de cessado o tiroteio. E ocasiões houve em que, ainda sob a fuzilaria adversa, as pilhérias estrugiam. Arrancando gargalhadas sonoras dos valentes e endiabrados moços.

Era assim a nossa vida em campanha. Muito sofrimento. Sacrifícios de toda a ordem. Martírios sem conta. Mas, para compensá-los, nunca nos faltavam motivos para rir gostosamente. Desopilando o fígado empedrado. Esquecendo-nos das amarguras da luta.


A perna do Pupo e a prudência do Tosca...

Uma hora da madrugada. 5 de agosto. Na estação de Engenheiro Hermillo. Os componentes da "Turma do Amor" tinham feito longa a barulhenta tocata de vilão e pandeiro. Cantando modinhas e lundús. Repetindo dezenas de vezes o "Teu cabelo não nega". E também a "Mulher de vendeiro".

Cansados já, iam deitar-se. Mas veio ordem de embarque rápido. Para toda a 1ª Cia. Aí é que foram elas. Ninguém esperava o golpe. E era essa a primeira vez que nos mandavam tomar posição. Na linha de fogo.

Foi um corre-corre dos diabos. Era urgente partir. O trem já havia dado dois sinais. Chamando-nos. E ao terceiro iria embora. Deixando-nos. Se não fôssemos, estaríamos desmoralizados. E sem dúvida ficaríamos presos. Seria uma vergonha para os santistas. Pois nessa balbúrdia tremenda foi que ouvimos Horácio Assumpção dizer ao Zé Pupo:

- Isso não é vida. É melhor morrer. Mas como recebi um cartão de papai, recomendando-me que desse tudo por S. Paulo, vou arriscar a pele. Seja o que Deus quiser.

Zé Pupo ouviu-o, calado. Depois entrou em cena:

- Comigo dá-se um caso extraordinário. Sempre que esta perna me dói (segurava a esquerda) já sei que temos que viajar. E cada viagem, seu Horacinho, que deixa a gente escangalhada... Enfim, como é para bem de São Paulo...

E voltando-se para o Bompeixe, perguntava-lhe:

- Não é mesmo, Bompeixe?

Este não respondia. Limitava-se a sorrir.

Mais adiante. Noutro grupo. O Raphael Paino conta que seu saudoso avô, na guerra do Paraguai, ficara duas semanas em cima de um cavalo, dando tiros contra o inimigo, sem tempo para desmontar.

E jurava que não era mentira...

***

Em viagem. O sargento David Pimenta quer saber onde está o Tosca. Grita o seu nome. Procura-o. Inutilmente.

Aparece, então, o Zé Antonio de Oliveira, que por sinal é gago, e informa:

- e... el... le dis... se que... não é sol... da... do im... im... pru... pru... dente pa... pa... ra le... van... vantar a es...ta hora...

A prudência do Tosca era ficar em Hermillo. E ficou.


O italiano que morreu nas ampolas de cerveja

Foi em Fartura. No jardim público. Num banco. À noite. Estavam Renato Pimenta. Zéto. Dr. Neves. Tutú. Eurico Neves. Constantino Molitzas. Guarysinho. Conversavam fiado. De repente Renato confessa:

- Estou doidinho por tomar umas ampolas (garrafas) de cerveja. Mas a erva miúda (dinheiro) é que não há. Em todo o caso... E distanciou-se do grupo, entrando numa vendola fronteira.

Lá encontrou um italiano. Que não conhecia. Que nunca vira. Cumprimentou-o rasgadamente. E aplicou-lhe el cuento: - começou a imitar buzina de automóvel, jazz-band, a marcha de Itararé, o condutor português da City etc.

O italiano não demorou a babar-se todo. Ria escancaradamente. Perdidamente. Admirado do que via e ouvia. E mandou descer cerveja. À beça. Era isso o que Renato queria. Ele e a turma. Que nessa altura chegara ao botequim. Até mesmo o dr. Neves. O resultado foi este: - o italiano, quando cansou de dar risada, perguntou quanto era a despesa.

- São 22 garrafas, a 2$000 cada uma, 44$000 - respondeu-lhe o dono da vendola.

O italiano ficou sério. Vermelho... Buscou um bônus de 50$000. Pagou a dolorosa e saiu resmungando.

O Renato dizia, apenas:

- Se houver mais um italiano nesta terra e a minha garganta agüentar, beberemos toda a cerveja de Fartura.

E bebeu mesmo. Ele e o resto do grupo.


Bombardeio do Forte Itaipu


A coragem do Morgado

Muitos soldados da 1ª Cia. reunidos. Todos à vontade. Numa ribanceira. Em Engenheiro Hermillo. Falava-se de varejeiras (aviões). Cada qual contava a maior vantagem possível. Para não ficar por baixo. O sargento Godoy diz:

- Eu não tenho medo de coisa alguma. A não ser, está visto, das varejas. E não é propriamente medo. É nervosismo. Moléstia que eu sofro desde criança...

O Dudu confessa:

- Eu e o tenente Simione temos tanto pavor das varejas que, um dia destes, quase fomos parar em Itapetininga. Correndo sempre pela estrada em fora...

E tinha sido exato.

O Alberto Morgado, conta, então:

- Quando eu vejo a vareja, é fatal: - dá-me uma tremedeira horrível nas pernas. Quero andar e não posso. Há poucos dias todos correram para o mato. Escondendo-se. Eu, não. Fiquei na cozinha. Houve o bombardeio. Não arredei pé. Mais tarde, o Salustiano, o Torrecilha e o Guilherme gabavam a minha coragem, dizendo-me: - você é um soldado paulista de raça. Não tem medo dos aviões inimigos. Eu fiquei quieto. Mas a verdade é que não fugi também porque minhas pernas não me deixaram. Se eu pudesse ter corrido, a esta hora estaria em Santos...


As vítimas do bombardeio...


Vaga-lume de pilha nova...

Nas trincheiras de Saltinho. De madrugada. A situação da tropa santista é perigosa. O inimigo está vigilante. E bem favorecido pela topografia do terreno. Além do que é bastante numeroso. E dispõe de copioso material bélico. Durante o dia mantivéramos renhidos tiroteios.

Àquela hora, entretanto, o silêncio era completo. Suspeitávamos, por isso, que, de um instante para outro, fôssemos atacados. Como às vezes acontecia. A ordem do tenente Gayer, que nos comandava, era de permanecer dentro das trincheiras. E, para maior garantia da nossa segurança, aquele oficial escalou sentinelas avançadas.

Ao primeiro aviso, romperíamos fogo. Estavam na trincheira: Athié, Pires Lopes, Eurico Neves e outros. De sentinela: Anníbal Caetano. Em  dado momento, chega este e avisa o cabo de plantão que vira duas luzes. Perto de um arvoredo. Ao lado esquerdo. Precisamente onde o inimigo se localizara.

O tenente Gayer e o sargento Jason, informados do que se passava, trataram de providenciar a respeito. Foi quando Eurico Neves, pondo a cabeça para fora da trincheira, assegurou com convicção:

- Isso não é luz do inimigo. É vaga-lume de pilha nova...

Muitas horas depois, todos nós ainda dávamos risadas da espirituosa pilhéria.

Mas, o que é fato é que o inimigo não apareceu.


O coronel Favilla, oficiais e soldados do 7º B.C.R.

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