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Santistas, nas barrancas do Paranapanema [10]

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Livro de Santos Amorim, lançado em novembro de 1932, relata a participação de um batalhão santista na Revolução Constitucionalista daquele ano:
A partida de Sorocaba

Vamos partir de Sorocaba. Para São Paulo. Depois de 73 dias e 73 noites de campanha. De sacrifícios baldados. Para termos que depor armas. Nós que íamos depor a Ditadura. E a deporíamos. Se não fôssemos atraiçoados.

E os nossos irmãos que tombaram na luta sangrenta? Por que eles ficaram e nós voltamos? Seria-nos menos doloroso ficássemos também. Eles perderam a vida. Ganhando a paz eterna. E a glória. Nós perdemos a liberdade. Vivemos sob o azorrague de feitores. Que nos oprimem. E nos escarram na face.

Por que chorar os que foram felizes?

Se os desgraçados somos nós?

***

São 18 horas. Tomamos caminhões. Em marcha para o Planalto de Piratininga. A estrada é excelente. A distância não é muito longa. Mas a sorte não nos favorece. Má estrela nos acompanha. Falta gasolina nos carros. Passamos a noite toda à chuva. Porque chove. E não temos agasalho. O frio enregela-nos os ossos.

 

Fazemos a pé grande trajeto. Até conseguirmos gasolina. Prossegue a viagem. Nos avizinhamos de S. Roque. Onde - ao que se dizia - ficaríamos sem os nossos capacetes de aço. Que o povo paulista nos dera. E que por isso os trazíamos. Terá fundamento o boato? É o que veremos. Daí a instantes.

***

São Roque! Muita gente agrupada. Comentando, alto, o desfecho inesperado da Revolução Paulista. À nossa passagem, somos aclamados. Aquela multidão sabia que éramos de Santos. Dá vivas à nossa terra. Nós retribuímos. Gratos à cortesia.

Os nossos capacetes continuam nas nossas cabeças...

***

Quase 5 da manhã. Chegamos a Pinheiros. Onde descemos. Servem-nos café. Vamos para as arquibancadas da Sociedade Hípica Paulista. Repousar um pouco. Esperar que o dia surja. E o dia vem. Triste. Amargurado. Refletindo a tristeza e a amargura dos paulistas.

Pouco depois. Chegam o coronel Favilla. O brigada Benedicto Camargo. O 1º sargento Alberto Lage. Em visita à tropa. O coronel Favilla expõe-nos, em traços largos, a situação. Agradece o concurso inestimável dos voluntários santistas. Recomenda-nos calma. Levanta um brinde a São Paulo. O velho e honrado militar está pesaroso com o epílogo da luta. Mas não revela desânimo. Tem palavras de exaltação cívica. E de fé absoluta na vitória do ideal constitucionalista.

***

Todos nós ansiamos pelo nosso regresso para Santos. Aguardamos, apenas, ordem de embarque. O capitão Samuel Franco está providenciando a respeito. Mas não sabe ainda se iremos de trem. Ou pela estrada de rodagem. A vida na metrópole bandeirante está completamente desorganizada. Por isso, as dificuldades em que nos debatemos. Depois, tudo se resolve. Satisfatoriamente.

Sairemos da estação da Luz às 16,15 horas. Em trem posto à nossa disposição.


EM MARCHA - Será o sargento Luciano?


Santos, afinal!

A sofreguidão de tornar a rever a cidade querida, torna a viagem irritante. A locomotiva, parece-nos, anda menos que um carro de bois. No entanto, ela desenvolve grande velocidade. E sem fazer paradas longas.

A rapaziada, antes tão triste, toma-se de insopitável alegria. Palra. Ri. Recorda episódios humorísticos das trincheiras. Conta anedotas. Faz ironia. Lembra cenas interessantes. Em que figuram amigos ali presentes. O trem avança sempre. Já atravessamos os túneis. O Alto da Serra não tarda. Para podermos saborear um café.

Chegamos. Corremos ao botequim. Engolimos o moka. E sanduíches. O trem dá sinal de partida. Tomamo-lo. Dali a Santos é um pulo.

Surge Cubatão. Verdejante de bananeiras. Muita gente. Ao longe. Agitando as mãos. E os chapéus. Saudando-nos. É gente da nossa terra. São conterrâneos nossos.

É Santos, afinal!

***

A locomotiva chega. Vagarosa. Na velha estação do Largo Monte Alegre. Que está coalhada de povo. De senhoras. E senhoritas, principalmente. Nós descemos dos carros. Para receber abraços. O momento não é de festa. A alma dos santistas está de luto. Por isso, aquela massa popular move-se, silenciosa. Como se estivesse no Campo Santo. Em Dia de Finados. Poucos choram de emoção. Quase todos choram de pesar.

Os santistas não voltaram vitoriosos. E trouxeram, de menos, o direito de ser livres.

***

Ao entrarmos em Santos, o coronel Favilla, que nos acompanhava, despediu-se dos seus comandados. Em tocante improviso. Que finalizou assim:

- "Meus amigos. Não direi adeus a vocês. Direi, apenas, até logo!"

E seus olhos se encheram de lágrimas.


EM CONTINÊNCIA! - Francisco Guaraná Menezes. Sergipano autêntico. Paulista de coração. 
Foi um soldado de valor. Que honrou o 7º B.C.R.


Que é que há?...

Ainda em viagem, soubemos que seríamos atacados. Logo assim pisássemos chão santista. Companheiros nossos, chegados antes, tinham sofrido violências inomináveis. Que os obrigaram a reações extremas. Ataques sangrentos. Muitos feridos. Alguns mortos.

A cidade se transformara em praça de guerra. Metralhadoras espalhadas pelas ruas. Forças do Exército. Da Marinha. Da Polícia. Procurando manter a ordem. E a vida da população santista. Que estava ameaçada. De tudo isso nos preveniram. Aconselhando-nos prudência.

Nós viemos. Ouvimos provocações. Mas ninguém nos atacou. Graças a Deus. Porque teríamos que repelir quem nos agredisse. Lançando mão de todos os recursos possíveis. Para não morrer. Embora matando. Os boatos eram exagerados.

Felizmente...


Eu!

Eu fiz o percurso da estação da Inglesa ao Paquetá a pé. Pelo centro da cidade. Estava barbadíssimo. Quase 90 dias sem ir ao barbeiro...

Na cabeça, o meu capacete de aço. Sobre os ombros 2 palas. E fardado. Ao pescoço, à guisa de malote, um cobertor. Perneiras pretas. Botinas reúnas. O cantil. O cinturão. E outros objetos de campanha. Que os soldados santistas chamam "pendentes". Com muita propriedade. Com espírito.

Até a Praça Rui Barbosa, um amigo dedicado me acompanhou. Foi ele Ramiro Calheiros. Depois deixei-o. Fui para o cais. Junto com Francisco Guaraná Menezes. Que vinha comigo das trincheiras. Tomamos a barca do Guarujá. Viagem das 19,26 horas. Guaraná foi-se para a ilha de Santo Amaro. Onde reside. Eu fiquei no Itapema. Onde moro.

***

A barbaça, modelo Luiz Carlos Prestes, que eu trazia, transfigurava-me. O Santos Amorim da noite tenebrosa de 5 de outubro, não era o mesmo Santos Amorim da manhã fulgurante de 18 de julho. No físico. Velhos amigos que me viram, se horrorizaram.

Minha catadura era de espantar leões... Eu ria sempre. Meus amigos diziam a verdade. Pois já em campanha, um mês atrás, não me haviam apelidado de "Profeta de Buri"?

Quem é que pode com a irreverência galhofeira da mocidade?

***

Ao partir de Santos, eu fizera uma promessa. À Nossa Senhora do Monte Serrat. Só mandaria pôr a barba abaixo, no meu regresso. Quando terminasse a guerra. Depois de subir ao Monte. De visitar a milagrosa Santa. Na sua capelinha branca, que domina a cidade. E vive no coração crente do povo praieiro. Cumpri a promessa. Na manhã causticante de 8 de outubro.

Na volta fui ao barbeiro. Submeti-me à devastação da tesoura. Saí mais leve. Remoçado. Satisfeito. Livre daquela horrenda máscara que apavorava velhos amigos meus...


QUERENDO CONVENCER... - O cabo Casimiro Araújo ouve as explicações do sargento Jason. Que quer convencê-lo de que a branquinha faz mal. Mas não chegam a um resultado satisfatório...


A dissolução do 7º Batalhão

"Camaradas! Chegou o momento de separar-me de vós. Não é preciso que eu elogie os vossos feitos. Tendes todos sabido honrar e cumprir o vosso dever!

Destes tudo o que podíeis dar, inclusive o vosso esforço sobre-humano, em favor da causa que abraçastes.

O vosso denodo, o vosso valor e os vossos feitos são páginas fulgurantes de civismo, patriotismo e desprendimento pela vida. E ficarão gravados na história de nossa estremecida Pátria.

Terminada está a nossa missão nesta fase de nossa vida.

Voltem, pois, aos vossos lares, cabeça erguida e olhar para o alto. Não fostes vencidos!

Abraçando-vos, comovido me despeço de vós.

Grimualdo Teixeira Favilla
Coronel-Comandante"

(Do Boletim n. 71, de 5 de outubro de 1932).


Uma página de bravura e civismo

As forças constitucionalistas no setor Sul, nos dias 15 e 16 de agosto, escreveram uma página de bravura e civismo. A maneira brilhante com que suportaram o ataque da artilharia inimiga, que perdurou pelo espaço de 10 horas; o denodo com que se mantiveram nas trincheiras para deter as sucessivas investidas de assalto, que eram precedidas de vivo fogo, dizem bem alto do Soldado Paulista e da justiça da causa de São Paulo.

Por esse motivo são elogiados os valentes voluntários e os segundos-tenentes Bento Barbosa Bueno e Mário Varreto França.

(Do Boletim do Q.G. de Itapetininga, 20-8-932).


Uma carta do padre Carvalho aos soldados santistas

A 21 de setembro o comando do 7º B.C.R. recebeu do ilustre padre João Baptista de Carvalho, cura da Catedral, a seguinte carta:

"Aos caríssimos do 7º B.C.R., que aí estão dando a S. Paulo o seu sangue e ao Brasil a garantia de sua liberdade, o meu cordial agradecimento pelo generoso telegrama de felicitações pela minha investidura honrosa de capitão. E permitam-me dizer-lhes também a gratidão de Santos pelo brilho com que estão honrando os brios e a dignidade desta terra. A todos o meu abraço amigo e agradecido".


Em Victorino Carmillo

A ação heróica das 2ª e 3ª Companhias do 7º Batalhão

Desde o dia 4 de agosto, as 2ª e 3ª Cias. do 7º Batalhão haviam se transportado para Victorino Carmillo. A fim de atender a qualquer necessidade da linha de frente, ocupada pelas seguintes unidades: - 1ª e 2ª Cias. do 9º B.C.R. e uma seção da 1ª Cia. do 18 R.A.M.

Naquele dia. Logo pela manhã. Atendendo a um pedido de reforço, seguiu para a Fazenda S. Raphael o 2º pelotão da 3ª Cia. do 7º. Ficando localizado entre as posições ocupadas na linha Victorino Carmillo - Buri (quilômetro 286) onde permaneceu até o fim do combate. A 18 do mesmo mês.

No dia 11. Novo reforço foi pedido para o prolongamento do nosso flanco direito. Por isso que o adversário procurava ocupar as alturas fronteiriças às nossas posições. O que, se acontecesse, fácil tornaria o envolvimento desse flanco.

Nessa emergência, o tenente Mário Amazonas colocou o 1º pelotão no prolongamento do flanco direito. Onde já estava a 2ª Cia. do 9º B.C.R. Sob o comando do capitão Miranda.

Nesse mesmo dia sofremos sério ataque da aviação inimiga. Nessas evoluções contínuas, não só procuravam reconhecer as posições que ocupávamos. Como ainda dificultavam seriamente o transporte de alimentação para a tropa.

Até 13, à noite, toda a nossa linha viveu horas inquietantes. Não porque houvesse ataque do adversário. Entretanto, era tão intenso o movimento das nossas tropas, que a nossa situação agravava-se cada vez mais.


Falta de reforço e carência de munição

Não podíamos contar com reforços apreciáveis. Que faltavam. Além disso, tínhamos apenas a 2ª Cia. E essa mesma desfalcada.

Por outro lado, a carência de munição era enorme. Tal tinha sido a quantidade consumida nos últimos combates. Mas não era apenas reduzido o nosso material bélico. Eram falhos também os cartuchos para as armas automáticas.

Ordinariamente, 10 a 20% da munição não detonava! O carregamento da arma era moroso. Porque os cartuchos vinham soltos. Triplicando o tempo necessário a essa operação.

Não obstante, o ânimo dos soldados santistas não se abatia. A 14, a nossa vigilância redobrou, pois o inimigo modificava suas posições. E colocava sua artilharia à nossa vista. Naturalmente já informado de que não possuíamos artilharia. Nem aviação. Para que pudéssemos embargar os seus movimentos.


O maior combate

O maior combate que se travou no setor. Teve início às 6 horas do dia 15. Nele tomando parte as 2ª e 3ª Cias. do 7º Batalhão. A aviação ditatorial, depois de indicar as nossas posições à sua artilharia, passou a visar a nossa retaguarda. Impedindo recebêssemos reforço. Rancho. Munição.

A artilharia, com 32 peças, em tiro direto, atingia as nossas trincheiras. Ora, com granada 105. Ora com skarapenls.

Estávamos assim num verdadeiro inferno. Pela manhã não havíamos conseguido receber café. E o almoço só nos chegou às 18 horas. Com grande sacrifício. E que almoço! Arroz queimado e carne seca salgadíssima. Nessas circunstâncias, de cada trincheira foi destacado um soldado. Para receber a bóia.

Cerca de uns 200 metros da linha de fogo. Durante todo o dia as granadas sibilavam sobre as nossas cabeças. Ritmadas pelos assovios cadenciados em Zé Pereira das metralhadoras. E os zumbidos das balas de fuzis.

A linha, então, era assim constituída, tomando por eixo a via férrea: - 1º pelotão da 3ª do 2º B.C.R.; 2ª Cia. do 9º B.C.R.; uma seção de M.L., eixo da linha com o T.B. (trem blindado), 1ª Cia. do 9º B.C.R.; Legião Negra; 6º B.C.R. e coluna do major Arlindo.

Às 18 horas, o adversário recrudesce o ataque. E se desenvolve mais para a direita. Tendo nossa tropa perdido reforço, veio um pelotão do 18 R.A.M., atuando como infantaria. Logo na manhã seguinte, entretanto, se retirava. Para guarnecer as baterias da sua unidade e tentar desalojar a artilharia inimiga.

Para substituir esse pelotão, chegou a 2ª Cia. do 2º B.C.R. Mas também se retirou. Indo reforçar o flanco esquerdo. Castigando duramente pelos ditatoriais, pois já era fraca a posição onde se encontrava o 6º B.C.P.

A 2ª Cia. do 7º, embora com grandes dificuldades, conseguiu fechar a brecha. Já aberta no 6º. E sustentar a posição até as 20 horas de 16. Quando a coluna do major Arlindo foi envolvida pelo inimigo. Que também contornou a nossa posição pelo flanco esquerdo.

Animado com esse sucesso, o adversário lançou um destacamento sobre a estação de Victorino Carmillo. Três quilômetros à retaguarda das nossas linhas. Procurando desse modo cortar a retirada das nossas tropas. Que estavam nas trincheiras.

Ao mesmo tempo outra coluna operava sobre o centro e o flanco direito. Todavia, sem colher resultados satisfatórios.


ESTÁ PRONTA A BÓIA - Pereirão é o general do rancho.
Os outros fazem parte do seu Estado-Maior...


O trem blindado

No eixo, o trem blindado repelia, heroicamente, os ataques contra a 1ª Cia. do 9º B.C.R. Que ocupava o lado esquerdo da via férrea, auxiliada pela 2ª Cia. da mesma unidade. E pela seção de metralhadoras do tenente Barreto.

Às 15 horas. O ataque intensificou-se extraordinariamente. A infantaria articulada com a artilharia desenvolvem violentíssima operação. As baterias regulares fazem os disparos por salva. A tiro direto. E enquanto os nossos soldados se resguardam, a infantaria avança. Sobre as nossas trincheiras.

Procurando aproximar-se. Para o assalto definitivo. Que seria o nosso esfacelamento.

Enquanto isso, metralhadoras dizimavam tudo quanto estava à frente.

Com uma impetuosidade digna de admiração.


PADRE E SOLDADO - Padre Firmino. Um bravo. Acompanhou a mocidade santista do 7º. Assistindo-a. Encorajando-a. Com abnegação rara


Abnegação e bravura

Foi nesse momento crítico que o tenente Mário Amazonas observou um belo exemplo de abnegação e bravura. De um nosso soldado. As nossas metralhadoras estavam fora de ação. Saltara fora do lugar o carro de uma. E outra tinha o alimentador quebrado. Duas F. M. que apoiavam essas peças engasgadas. Devido à munição defeituosa.

Era, assim, impossível conter o inimigo. Em suas arremetidas contra a 1ª Cia. do 9º B.C.R. E, conseqüentemente, nossa derrota tornava-se inevitável e fulminante.

O tenente Barreto pede reforço ao comandante do 1º pelotão da 3ª Cia. do 7º. É determinado, então, ao fuzileiro Cícero Pedro da Silva ocupar a posição das metralhadoras. Até que estas se consertem.

Há, porém, entre as trincheiras e aquela posição, uma distância de 10 metros. Em declive acentuado. Completamente batido. O adversário observa que o fogo das metralhadoras havia cessado. E procura evitar sejam elas remuniciadas. Ou reforçada a posição ocupada por essas armas.

Uma pesada, em tiro ceifante, varria essa zona. O soldado Cícero precisa avançar. Avalia bem a necessidade urgente de agir. Mas está impossibilitado de o fazer. E precisa conduzir os municiadores. Até onde estão as metralhadoras.

O momento é deveras emocionante. Afinal, ele se decide. Tendo em uma das mãos a F.M. e em outra a bolsa de munição, rola desde a borda da trincheira, onde estava, ao abrigo da posição que necessitava alcançar. E, imediatamente, enérgico e severo, põe-se em ação. Fazendo recuar a avançada adversária. Quando esta se avizinhava demasiadamente das nossas posições.

Às 17 horas. Reparadas as peças. Cícero volta à trincheira. Combatendo com o mesmo ardor. Como se nada houvesse feito de extraordinário. De heróico.


Paulista é paulista!

Fatos como esse se repetiam. Alguns até comicamente. Como este: - o fuzileiro Milú, da 2ª Cia., recebera ordem de avançar pelo flanco esquerdo. Com um grupo de combate. E avançou. Aproveitando as ondulações do terreno e os cupins. Em dado momento, uma leve o localiza. E dá uma rajada. Sobre Milú e seus municiadores. Felizmente não os atinge. A rajada apanha em cheio os cupins. Onde eles tinham se abrigado. E uma nuvem de terra solta os apanha. A todos. Como se uma cortina de fumaça os envolvesse.

Passada a primeira impressão, pergunta Milú ao seu municiador:

- Estás ferido?

- Não! - responde-lhe aquele.

- Eu também não. Diz Milú. E acrescenta: com muita pena de não ter aqui uma máquina fotográfica.

- Para quê? - interroga-o o companheiro.

- Ora, diz-lhe Milú. Foi esta a primeira vez que fiquei branco. E queria guardar, em retrato, essa recordação...

Assim eram os bravos voluntários santistas do 7º B.C.R. Sempre alegres. Sempre pândegos. Mesmo quando arriscavam seriamente a vida.


Uma retirada de 42 quilômetros!

No dia 16. Às 18 horas. Com o rompimento da ala esquerda e a ocupação da estação de Victorino Carmillo, a posição da nossa tropa esra insustentável.

O inimigo já contornava a ala direita. Procurava, então, atingir a estrada para a Fazenda S. Raphael. Para fechar-nos num cerco. Que seria de conseqüências fatais para os soldados constitucionalistas. Mas essa manobra foi notada a tempo. O comandante do 1º pelotão ordenou que este se retirasse. Cautelosamente. Conduzindo todo o material de guerra. Assim, 70 minutos depois, essa força estava fora de perigo.

O 1º pelotão alcança a estrada. Em direção à Fazenda S. Raphael. E ali encontra o 2º pelotão da 3ª Cia. do 7º. Que também se retirava. Com o seu material completo. Compreendendo a inutilidade de qualquer resistência.

Era necessário retrair-nos até Ligiana. Cerca de 42 quilômetros de distância. Para a retaguarda. E cada soldado com uma carga muito superior à comum. Pois além do seu equipamento regulamentar, conduziam o material que encontravam pela estrada. Deixado pelos seus companheiros. Que haviam se retirado antes. Tudo isso era feito com admirável espírito de sacrifício. Atestando, mais uma vez, o valor incomparável dos voluntários santistas.

Às 2,30 da madrugada de 17. O 1º pelotão da 3ª Cia. do 7º chegava à estação de Aracassú. Feita a ligação com o P.C. do 7º, que ignorava, por completo, o paradeiro daquela brava rapaziada, foi conseguido um trem. Que a transportou a Ligiana. Ponto de concentração das forças que se retiravam de Victorino Carmillo.

Foi essa, indiscutivelmente, uma das mais fulgurantes páginas da campanha constitucionalista no setor Sul. Na qual os soldados da 2ª e 3ª Cias. do 7º escreveram episódios de impressionante denodo. De verdadeiro heroísmo. Salientando-se, também, como comandante do 1º pelotão, o tenente Mário Amazonas.

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