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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Jânio Quadros em Santos (2) - 1959 e 1961

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Imediatamente após sua polêmica renúncia ao cargo de presidente da República, Jânio Quadros viajou para Santos, onde iniciaria longa viagem de navio. Mais tarde, seria eleito prefeito da capital paulista, e seria constantemente visto em Guarujá, onde possuía casa de praia.

Morreu em São Paulo. O jornal santista A Tribuna assim registrou o fato, na edição de 17 de fevereiro de 1992:


Jânio vai ser enterrado no Cemitério da Paz
Foto: arquivo, publicada com a matéria

Jânio Quadros morre em SP aos 75 anos

Às 22h31 de ontem, de insuficiência renal e respiratória, faleceu o ex-presidente Jânio da Silva Quadros, de 75 anos, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Jânio estava internado desde o dia 4 e, segundo o médico Norton Sayeg, houve ainda "falência de vários órgãos". O anúncio oficial da morte foi feito pelo neto Jânio John, de 18 anos. O corpo do ex-presidente foi transladado, na madrugada de hoje, para a Assembléia Legislativa. O governador Luiz Antônio Fleury Filho disse que Jânio será enterrado, às 16h30, no Cemitério da Paz, com honras de chefe de Estado. O presidente da Câmara de Santos, Gilberto Tayfour, anunciou a suspensão da sessão de hoje em homenagem póstuma ao ex-presidente.

Insuficiência respiratória e renal mata Jânio Quadros

O ex-presidente Jânio Quadros faleceu às 22h31 de ontem no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, depois de vários dias em estado crítico. O anúncio foi feito pelo neto Jânio John, em nota oficial.

A íntegra da nota é a seguinte: "16 de fevereiro de 1992. Cumpro o doloroso dever de comunicar que o presidente Jânio da Silva Quadros faleceu hoje (ontem) às 22h31. O corpo será transladado ainda hoje (ontem) para a Assembléia Legislativa, ao Monumental, de onde sairá o enterro amanhã (hoje) às 16h30 para o Cemitério da Paz. Atendendo a uma expressa solicitação do presidente Jânio da Silva Quadros e de seus familiares, pede-se que não sejam enviadas coroas nem flores. Aqueles que desejarem poderão enviar a importância correspondente à homenagem ao Amparo Maternal (Rua Botucatu, 1.000, Vila Mariana, São Paulo, Capital), em nome do presidente Jânio da Silva Quadros. A família do presidente Jânio da Silva Quadros deseja neste momento expressar sua mais profunda gratidão ao corpo médico do Hospital Israelita Albert Einstein, em particular ao doutor Elias Knobel. A gratidão também se estende ao doutor Norton Sayeg, médico particular do presidente Jânio da Silva Quadros. A família do presidente agradece comovida, por fim, as manifestações de simpatia recebidas pelos amigos e admiradores nestas últimas semanas."

Segundo o médico Norton Sayeg, a morte do ex-presidente foi causada por insuficiência renal e respiratória, quadro que determinou a falência de vários órgãos. "O presidente teve uma infecção pulmonar e foi auxiliado por vários aparelhos, mas a idade, o quadro clínico em deterioração e o comprometimento cerebral impediram uma recuperação".

O governador do Estado, Luiz Antônio Fleury Filho, foi o primeiro político a chegar ao Hospital Albert Einstein após o anúncio oficial da morte do ex-presidente. Fleury, emocionado, garantiu que Jânio Quadros será enterrado hoje com honras de chefe de Estado. O corpo de Jânio deixou o Hospital no início da madrugada de hoje para ser velado na Assembléia Legislativa.

O deputado federal Ulisses Guimarães (PMDB/SP) disse que ele e o ex-presidente sempre estiveram em campos opostos, embora fossem contemporâneos. "Nunca votei nele e tenho certeza que ele nunca votou em mim, mas isso não abalou nossa relação, que vinha desde os tempos acadêmicos. Jânio foi uma figura surpreendente na política brasileira e fugiu aos comportamentos convencionais, teve o apoio da sociedade e fez uma carreira napoleônica".

Péssimo político - O ex-ministro da Fazenda, Bresser Pereira, contrastando com Ulisses Guimarães, disse que Jânio foi um péssimo político no Brasil. "Como presidente, foi um desastre. Com a renúncia, se mostrou um homem desequilibrado. Como prefeito, realizou uma quantidade brutal de obras que o município não tinha condições de realizar. Nunca foi um político que tivesse uma contribuição positiva para o País".

Em Santos, no início da madrugada de hoje, o presidente da Câmara, Gilberto Tayfour, anunciou a suspensão da sessão em homenagem póstuma ao ex-presidente.






Jânio esteve em Santos em várias oportunidades, mas escolheu a casa da Praia de Pernambuco, em Guarujá, para seu auto-exílio. Lá recebia amigos e personalidades, como o atual governador do Rio, Leonel Brizola. A esposa Eloá foi sua companheira de todas as horas, inclusive nos palanques, onde o ex-presidente se transformava e impunha seu velho estilo de campanha para se comunicar com o povo
Fotos: João Vieira, publicadas com a matéria. Legenda original

O jornal A Tribuna prosseguiu com o noticiário:


Em 81, em Londres, preocupado com a tensão social
e defendendo o direito de voto dos analfabetos
Foto (repetida): arquivo, publicada com a matéria

"Minhas cinzas quero dispersas em C. Grande, SP e Curitiba"

No dia 17 de setembro de 1981, em Londres, o ex-presidente Jânio Quadros concedeu uma entrevista exclusiva ao então editor de Economia de A Tribuna, José Rodrigues, que cobria uma reunião da Organização Internacional do Café (OIC). Nesta entrevista, Jânio falou de sua vontade de ser cremado, da origem de sua fortuna, de seu temor pela política econômica brasileira e ainda de sua admiração por este jornal e pelo ex-diretor Nascimento Júnior.

A seguir, alguns trechos da entrevista:

- É voz corrente no Brasil que o senhor só possuía um terreninho em São Paulo. Mas o sr. viaja e apresenta uma situação estável. Como se explica essa sua posição?

- Bem, eu poderia remetê-lo ao Imposto de Renda. Lá está a minha declaração, que é pública. Quem deseje, pode até obter a fotocópia, tem a minha licença ampla. Mas quero contar uma coisa ao senhor. Eu ganhei uma pequena fortuna escrevendo. À roda de Cr$ 1 milhão, àquela época, na gramática. Ganhei outra pequena fortuna no dicionário. Quer a gramática, quer o dicionário, estão esgotados. Vou ganhar mais ao regressar, com uma nova edição. Está sendo preparada. Virei pintor e não pintava parede, não; pintava telas mesmo. E vendi todas as que pintei e vendi-as muito bem.

- E além disso?

- Além disso eu sou herdeiro de meu pai. Herdeiro único e agora herdeiro de minha sogra. Herdeiro único. Meu sogro foi, durante muitos anos, dono da farmácia Esfinge, e era uma das duas farmácias que não fechavam dia e noite.

- Em que lugar?

- No Anhangabaú. Ganhou uma fortuna dando injeções nos árabes e turcos do Anhangabaú, muitos dos quais são até meus amigos. E minha sogra morreu há algum tempo. É só ir ao inventário no Palácio da Justiça e verificará que sou um herdeiro substancial. Não dou os valores porque não sei como meu advogado procedeu e, de repente, cometo uma inconfidência.

- Já teve problemas financeiros?

- Esse problema nunca tive. Cumpre notar, ainda, o seguinte: como prefeito, jamais gastei o que recebia. Guardava. Muito parcimonioso. Como governador, jamais gastei o que recebia, durante quaro anos, e como presidente, também. É curioso, mas tome nota o senhor que é jornalista: prefeito de São Paulo, governador de São Paulo, presidente da República nunca têm oportunidade de colocar a mão no bolso. Alguém sempre corre à frente.

- E os vencimentos como ex-presidente da República?

- Eu recusei esses vencimentos que a Constituição destina para os ex-presidentes. Achei que não me deveria tornar pensionista do Governo, para ficar mais à vontade. (Esses vencimentos corresponderiam hoje, 1981, a cerca de Cr$ 450 mil mensais). No momento em que eu morrer, Eloá, minha mulher, se quiser receber, que o faça. Já me terei convertido em cinzas. Porque há um documento meu que fala na cremação. E só vou ser cremado depois de ter consultado d. Evaristo. Porque sou católico. Essas cinzas, desejo sejam dispersas sobre Campo Grande, São Paulo e Curitiba, e estou certo de que não vou poluir as três cidades, porque serão muito poucas.

- O sr. disse que teme pelo futuro devido à política econômica atual?

- A minha apreensão é uma só. A da tensão social. Veja como o padre Veekmans (era um consultor do presidente Eduardo Frei, do Chile) vê o Brasil. É um país que ainda não está integrado, tem 30 milhões de analfabetos, inteiramente marginalizados, tem um proletariado rural também marginalizado. Só agora o proletariado urbano está adquirindo consciência. Então, o primeiro dever de um político parece ser o de propiciar a integração do país. O de criar uma sociedade brasileira. Isso só será possível - e quando afirmo tal coisa meus amigos se horrorizam - inclusive com o voto do analfabeto. A integração no Brasil só será possível quando cada brasileiro se sentir brasileiro e puder participar da vida nacional.

- Que lembranças lhe trariam Santos neste momento?

- Agora eu gostaria de um preito de saudade. Eu me vinculei enormemente ao Nascimento Júnior. Nunca eu encontrei um jornalista assim, reto, sério, responsável, que fez de A Tribuna uma tribuna de São Paulo. Os seus editoriais eram lidos cuidadosamente por mim. Eu, governador do Estado, os lia...

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