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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PIONEIROS DO AR
Nas asas... dos franceses

A aviação francesa também se destacou no litoral brasileiro: a Compagnie Génerale Aéropostale, que fazia a linha postal entre Toulouse, Casablanca e Dacar, pretendia estender sua linha para Natal, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Santiago do Chile. Para isso, os primeiros testes começaram na década de 1920 a 1930.

Em 1/3/1928, foi inaugurado o primeiro serviço aeropostal entre a França e a América do Sul, pela rota de Toulouse a Dacar, onde a mala postal era transferida para um navio rápido especial que a deixava no Recife, continuando-se o percurso por avião até Buenos Aires.

Em 16/4/1928, ocorreu o primeiro vôo noturno entre Rio de Janeiro e Buenos Aires, pelas mãos de Jean Mermoz, que nos dias 12 e 13/5/1930 realizou também a primeira travessia do Atlântico Sul por avião comercial, a bordo do hidroavião Laté 28.3 F-JNQ Comte. de La Vaulx, ligando São Luís do Senegal a Natal/RN. Como seu navegador, o piloto francês Jean Dabry que, após a interrupção das operações causada pela Segunda Guerra Mundial, cruzou o Atlântico com um Douglas-DC4, reiniciando em 23/6/1946 as atividades da Air France.

Hidroavião Latécoére 28 III, construído em 1930 na França e usado pela Aéropostale

Pelo decreto 16.983, de 22/7/1925, foi estabelecido o Regulamento da Navegação Aérea Civil, que teve como primeira beneficiária a Companhia Brasileira de Empreendimentos Aeronáuticos, criada pelo industrial francês Pierre Georges Latécoére para atuar na rota Recife-Pelotas, com escalas em Maceió, Salvador, Caravelas, Vitória, Rio de Janeiro, Santos, Paranaguá, Florianópolis e Porto Alegre, mais as ligações com as ilhas Fernando de Noronha e os rochedos São Pedro e São Paulo.

Mas, problemas com o Tribunal de Contas da União causaram inesperado retardo no início das operações francesas, que só começaram efetivamente em 14/11/1927. Em 1/3/1928, a Aéropostale iniciou o seu histórico serviço postal aéreo Europa-América do Sul. Essa empresa e outras de origem francesa foram agrupadas em 1933, surgindo assim a Air France.


O avião Laté-28 de Mermoz

Travessia - Conta o pesquisador de assuntos navais e marítimos José Carlos Rossini, residente em Genebra (Suíça) - em matéria publicada no jornal santista A Tribuna, em 16/8/1998 dentro de sua série Rota de Ouro e Prata - que, como eco da competição internacional pelo domínio dos transportes aéreos, reinante em 1930, "aterrissava, no dia 18 de maio, às 15 horas, no Campo de Aviação de Praia Grande, o avião Laté-28, equipado com motor Hispano-Suiza de 600 cavalos, dois flutuadores e tanques com capacidade de 2.400 litros de gasolina.

"No comando, um homem já famoso mundialmente: Jean Mermoz, piloto da célebre empresa aérea francesa Latécoére, pioneira da linha aérea Buenos Aires-Rio de Janeiro (em 1928), e primeiro a sobrevoar a Cordilheira dos Andes por conta da Aeropostale, agência dos correios franceses.

"Mermoz (que na época tinha 28 anos de idade) e seu companheiro Etienne não estavam realizando um vôo comum. Haviam saído de Marselha em princípios de maio, com destino a San Louis du Senegal, via escala em Kenitra (Saara Espanhol).

"No dia 12, às 11 horas, Mermoz decolou de San Louis, seu avião levando a bordo 100 malas de correspondência e três companheiros de viagem: o tenente Dobry, navegador; o radiotelegrafista Gimie e o co-piloto Etienne. Após 20 horas e meia de vôo ininterrupto, o Laté-28 chegou à cidade de Natal (Rio Grande do Norte), estabelecendo o recorde mundial de distância (3.160 quilômetros) para um avião, realizando vôo sem escala. Um feito!

"A Latécoére, prevendo possíveis problemas, havia colocado no trajeto do hidroavião quatro navios-avisos postados no oceano, de forma que poderia prestar socorro a Mermoz e companheiros no caso, sempre possível, de pouso forçado.

"O trajeto Dacar-Natal havia sido percorrido à alta velocidade (para aqueles tempos), à média de 158 quilômetros horários e mais de 15 horas voando a pontas de velocidade superiores a 200 quilômetros horários. Após escalas em outras cidades brasileiras, o Late-28 chegava a Praia Grande para recolher a correspondência enviada de São Paulo e Santos para outras localidades do Sul do País, a Montevidéu e a Buenos Aires."


Mermoz (E), Dabry e Gimie (D), em foto da época

A história desse vôo é complementada por João Dutra de Medeiros, em seu livro Pioneiros do Ar e a Evolução da Aviação: "Essa heróica travessia, feita por Jean Mermoz e seus companheiros Dabry e Gimie (franceses) foi em 12/5/1930, no avião denominado Conde de La Vaulx, um Laté-28, transformado em hidroavião. Partiram de São Luís do Senegal, rumo a Natal, no Brasil. O tempo de vôo foi de 21 horas e 15 minutos. Por algumas horas tiveram grandes dificuldades de vôo, face à precariedade do equipamento que voavam e às condições de mau tempo. Era um autêntico vôo de pioneiros. Mas, mesmo diante dos grandes problemas enfrentados, estava vencido o Atlântico Sul, na primeira linha aérea de caráter comercial, transportando a mala postal francesa, destinada à América do Sul. Foi assim que Mermoz, com toda a sua bravura, abriu os caminhos para a atual empresa Air France."

Texto publicado no jornal santista A Tribuna - terça-feira, 19 de maio de 1930 (página 2 - ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da matéria original

 

NO CAMPO DA LATÉCOÉRE

Mermoz e Etiene pousaram ontem ali, num Laté-28

Cumprimentos do público e da imprensa - A partida

Realizando uma viagem postal do Brasil ao Chile, dentro dos horários comuns estabelecidos pela Companhia Latécoére, aterrissou ontem às 15,10 horas no campo de aviação da Praia Grande o famoso aviador Mermoz, pilotando com o seu colega Etienne um aparelho Late-28, de duplo comando, com o qual saíra anteontem de Natal, às 6 horas.

Esperado como estava, desde pela manhã, muitas eram as pessoas que ali se achavam, desta cidade e da capital, movidas pela curiosidade de ver o intrépido transvoador do Atlântico, que foi alvejado por numerosas máquinas fotográficas. Para lá nos dirigimos também, com outros representantes da imprensa, aproveitando a condução do automóvel que gentilmente nos foi oferecida pelo sr. Pedro de Oliveira campos, esforçado agente comercial daquela empresa aviatória na nossa cidade e que desempenha também as funções de diretor da respectiva agência.

O Late-28 foi avistado por sobre os morros próximos, voando à altura de trezentos metros, com proa feita ao campo de aviação.

Dado pelo respectivo pessoal o sinal da sua aproximação, as muitas pessoas que ali se achavam dirigiram-se apressadamente para as margens das pistas de pouso, a fim de apreciarem a manobra de descida do aparelho, que descreveu uma espiral e aterrou do lado da terra, em pleno campo.

Mermoz e o seu colega Etienne saltaram rapidamente da nacelle e foram cumprimentados pelo diretor do campo, agente comercial e muitas outras pessoas, onde se contavam algumas senhoras e senhorinhas. Mermoz, com o seu habitual ar de desprendimento, pelas felicitações que recebia resultantes da sua magnífica proeza transatlântica, desenhava um leve riso de agradecimento, dispondo-se já para prosseguir na viagem para o Sul.

Como de praxe, havia um outro aparelho pronto, à disposição do aviador, caso ele quisesse servir-se dele para continuar o raide; Mermoz, porém, seguiu no mesmo Laté-28, recebendo correspondências postais para Florianópolis, Porto Alegre, Montevidéu, Buenos Aires e Santiago, no Chile. Dez minutos após a chegada, às 15,20 horas, por entre rápidos apertos de mão, subia para o aparelho e levantava vôo com tempo borrascoso, levando os mesmos seis passageiros que já trazia do Norte.

Com o tempo contado por minutos ainda lhe pedimos um autógrafo, que ele nos deu muito às pressas, escrito sobre a própria mesa onde se encontrava o livro de registro da sua chegada e partida. O aparelho decolou rapidamente, num tempo máximo de vinte segundos.

 

Autógrafo do destemido "ás" francês, em que,

por intermédio da A Tribuna, saúda a cidade de Santos

Foto e legenda publicadas com a matéria

 

Aproveitando a nossa estadia no campo de aviação da Latécoére, tivemos ocasião de apreciar o aparelho do aviador paulista João de Barros - um aeroplano Bréguet, de uma hélice, com motor de 600 H.P. Está recolhido ao hangar e acha-se todo pintado de vermelho, pronto para fazer as experiências logo que o seu proprietário entender.

***

Na recepção feita ao aviador Mermoz, no campo da Praia Grande, achavam-se representados, além desta folha, os nossos colegas paulistanos O Estado de São Paulo, sucursal, e A Gazeta, por Galeão Coutinho.

 

Grupo tirado no campo de aviação da Latécoére, na Praia Grande, logo após a chegada do aparelho, vendo-se, ao centro, da direita para a esquerda, o aviador Mermoz, o seu colega Etienne e o radiotelegrafista

Foto e legenda publicadas com a matéria

Ecos do vôo transatlântico de Mermoz

Chegam a Buenos Aires, de procedências várias, felicitações pelo notável feito aviatório

Buenos Aires, 18 - Ainda por motivo do brilhante feito aeronáutico do aviador Mermoz, continuaram a chegar numerosas felicitações dirigidas ao sr. Boulloux Laffont e outros dirigidos à Cia. Aero-Postal e ainda outros ao coronel Crespo, diretor da Aeronáutica Argentina, e ao sr. Almonecif, diretor técnico da Aero-Postal, em que exaltam o feito de Mermoz e felicitam os diretores daquela companhia pela grande obra de aproximação entre os povos realizada pelos aviões.

Entre os telegramas recebidos pelo sr. Bouilloux Laffont figura um do ministro da Aeronáutica Francesa, sr. Laurent Eynac. - H.

Mermoz, que, apesar dos limitados 10 minutos marcados para o seu pouso, ainda nos permitiu, já nos derradeiros segundos, fotografá-lo sob a asa do seu Laté-28

Foto e legenda publicadas com a matéria

Mapa de rotas da Aeropostale, produzido em Paris, na década de 1930

Imagem disponível na Internet