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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Yapeyu

1951-1980 - depois Petrel, Cremona, Iran Cremona

Nelson Antonio Carrera (*)
Colaborador

Em 1947, o armador argentino Alberto Dodero empreendeu uma longa viagem à Europa. Em suas andanças pelo Velho Mundo, visitou estaleiros e assinou contratos para o transporte de carne, frutas e cereais argentinos por navios.

O transatlântico Alberto Dodero foi assim batizado em homenagem ao seu proprietário. Esse foi, contudo, o segundo navio de uma série de três, construídos na Holanda, para transporte específico de emigrantes, sobretudo ibéricos.

O primeiro da série holandesa foi o Yapeyu, construído no estaleiro Van Der Giessen & Zonens, em Krimpenaan den Ijssel. Seu casco recebeu o número 753 e teve quilha batida no dia 25 de junho de 1949. Lançado ao mar em 17 de outubro de 1950, levou ainda seis meses para o término de aprontamento, após o qual foi entregue ao seu armador em 21 de abril de 1951.

No início do mês de maio desse mesmo ano, saiu de Amsterdã (Holanda) em viagem de posicionamento à capital argentina, registrando passagem pelo porto de Santos em 26 de maio de 1951. Ao chegar a Buenos Aires, lançou amarras para uma estadia de cerca de três semanas, em cujo prazo recebeu os refinamentos que um novo barco de passageiros não dispensa, seja ou não de luxo.

No caso do Yapeyu e seus dois irmãos, as linhas Dodero ofereciam acomodações de classe econômica, tanto na vinda da Europa, como nas viagens de ida ao continente europeu, em cujo sentido o navio atraía grandes massas.

Em 20 de junho de 1951, saiu de Buenos Aires em viagem inaugural, com escalas em Santos, Rio de Janeiro, Lisboa, Vigo, Amsterdã e Hamburgo, em cuja rota permaneceria nos nove anos seguintes.


O Yapeyu foi o primeiro de uma série de três construídos na Holanda

Características - O Yapeyu tinha capacidade de carga de 309 mil pés cúbicos aproximadamente, distribuída em seis porões. Seu maquinário era composto de dois motores diesel da marca Sulzer, com potência total de 10 mil cavalos a 150 revoluções por minuto. Seus hélices eram dois, de três pás cada. Possuía sete conveses, dos quais três eram de superestrutura e linhas simples, mas de bom desenho.

O Yapeyu foi um transatlântico que não teve história extraordinária. A rotina dos embarques, carregamento, desatracação e seus movimentos contrapostos, além - é claro - das longas travessias oceânicas, foi repetida ao longo dos anos de serviço.

Mas, em agosto de 1955, a renúncia do presidente argentino Juan Domingo Perón abriria caminho para mudanças nos meios marítimos da Argentina. Em dois anos, um processo de reorganização na navegação comercial terminou na transferência do Yapeyu, e de todos os navios da Dodero, para propriedade da Flota Argentina de Navegación de Ultramar (FANU).

Não obstante, seu nome foi mantido mesmo após a data de criação da nova empresa, em 29 de julho de 1957, como também prosseguiu na mesma linha regular Buenos Aires-Hamburgo-Buenos Aires. Mais mudanças, porém, viriam a médio prazo.

Perdas - No início dos anos 60, a FANU registrou queda brusca no seu movimento de passageiros, fato agravado seriamente com a perda de dois navios por incêndio. Essas perdas atingiram os navios de luxo na linha de Nova Iorque, que terminou por ser suspensa.

Outro fator agravante foi a redução das listas de passageiros para Londres, sendo a linha igualmente reduzida, de três para um navio, com os outros dois sendo transformados em navios para transporte de cargas frigorificadas, uma vez que eram dotados de câmaras para congelados.

No tocante aos navios de passageiros de classe econômica emigrante, o quadro permaneceu inalterado, porém nova reestruturação, e de caráter radical, seria efetivada.

A partir de 24 de maio de 1962, as empresas argentinas conhecidas por FANU e Dodero uniram-se, dando origem à Empresa Lineas Maritimas Argentinas (ELMA). Além da intensificação nos serviços de carga, que naquele ano enriqueceram o efetivo da frota com seis novas unidades construídas em estaleiros iugoslavos, a ELMA resolveu também encarar de forma objetiva a concorrência das outras linhas de passageiros que dispunham de navios mais velozes e, é claro, a imbatível ascensão das linhas aéreas.

Assim foi que os transatlânticos de classe econômica continuaram trafegando e, em 17 de maio de 1964, o Yapeyu saiu de Buenos Aires em sua última viagem de linha do Norte da Europa, em cujo serviço seria colocado o Rio Tunuyan, transferido da extinta linha dos Estados Unidos.

Posto na linha de Buenos Aires para portos do Mediterrâneo, o Yapeyu saiu de Buenos Aires em 13 de julho de 1964 em primeira viagem, escalando em Santos, Rio de Janeiro, Funchal, Lisboa, Barcelona, Nápoles e Gênova, seu novo terminal europeu.

De passageiros a gado - Só cinco anos serviu o Yapeyu essa linha. Em 1969 foi extinta também a linha de passageiros do Mediterrâneo. Contando 18 anos de mar, o Yapeyu foi transformado em navio de carga, como acontecera a outros seus irmãos. Seguiu-se a venda ao exterior, cujos novos proprietários o rebatizaram com nomes indicativos de influência argentina: Petrel em 1969, Cremona em 1974 e finalmente Iran Cremona em 1976.

O Iran Cremona (ex-Yapeyu) era de propriedade da armadora Cormoran S.S. Co. Pte. Ltd. e registrado em Cingapura com a marca máxima de classificação do Lloyd's Register.

Incrível foi o trabalho de conversão e o fim a que serviria: navio de transporte de gado! Nessa categoria, tão oposta ao seu projeto original, serviu 11 anos em outros mares. Em 11 de abril de 1980, próximo do seu 30º aniversário, sem máquinas e em lastro, tomou reboque e levantou âncora de Malalag Bay, nas Filipinas. Seu rumo? Kaohsiung! Lá, foi sucateado.

CRONOLOGIA:

25/06/1949 - batimento da quilha
17/10/1950 - lançamento ao mar
21/04/1951 - entrega à armadora para o serviço de Buenos Aires ao Norte da Europa
20/06/1951 - largada de Buenos Aires em viagem inaugural a Hamburgo (Alemanha)
29/07/1957 - transferido à FANU
24/05/1962 - começou a integrar a frota da Elma
17/05/1964 - última largada de Buenos Aires na linha ao Norte da Europa
13/07/1964 - primeira viagem de Buenos Aires ao Mediterrâneo, com terminal em Gênova (Itália)
1969 - vendido a interesses no exterior e convertido em navio de carga para transporte de gado. Rebatizado Petrel.
1974 - novamente rebatizado, desta vez com o nome de Cremona
1976 - Nome alterado para Iran Cremona
11/04/1980 - levantou âncoras de Malalag Bay, nas Filipinas, rumo ao porto de Kaohsiung, para ser sucateado

(*) Nelson Antonio Carrera, de Santos, é pesquisador de assuntos marítimos e navais.

Yapeyu:

Outros nomes: Petrel, Cremona, Iran Cremona
Bandeira: argentina
Armador: Compañia Argentina de Navegación Dodero
País construtor: Holanda
Estaleiro construtor: Van der Giessen & Zonens (porto: Krimpen)
Ano da viagem inaugural: 1951
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 11.450
Arqueação líquida: 6.425 t
Tonelagem bruta: 7.940 t
Capacidade de carga: 308,738 pés cúbicos em 6 porões
Comprimento total: 159,49 m
Comprimento entre perpendiculares: 146,30 m
Boca (largura) extrema: 19,57 m
Boca moldada: 19,51 m
Calado máximo de verão: 7,89 m
Velocidade média de serviço: 17 nós
Velocidade de provas: 18 nós
Maquinário: 2 motores diesel Sulzer, potência 10 mil HP a 150 rpm
Tripulantes: 150
Passageiros: 788
Classes: 1ª -   13
turística-3ª - 775

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 18/11/1993