Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/rossini/washingt.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/28/07 10:55:48
Clique na imagem para voltar à página inicial de 'Rota de Ouro e Prata'

ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Washington

1880-1916

A embarcação socorreu sobreviventes de um dos maiores terremotos

O terremoto que abalou parte das costas da Calábria e da Sicília em 1908 provocou a morte de 160 mil pessoas. Por número de vítimas fatais, constituiu-se, assim, como o terceiro maior desastre natural na história da Humanidade.

O terremoto século-calabro, como ficaria conhecido, em termos de vítimas, só foi superado pelos abalos sísmicos que atingiram as províncias chinesas de Kansu, em 1920 (180 mil mortos) e Tangshou, em 1976 (250 mil mortos).

O movimento sísmico produziu-se na madrugada de uma segunda-feira, dia 28 de dezembro de 1908, e foi de tal intensidade que arrasou completamente ao solo a cidade siciliana de Messina, destruindo também parcialmente Reggio Calabria, cidade do outro lado do estreito marítimo.

O vapor, visto com as cores da La Veloce, que levou na chaminé de 1903 a 1908

Foto publicada com a matéria

Aproximando-se - Naquela madrugada, o antigo navio misto (de cargas e passageiros) italiano Washington, agora usado somente como cargueiro, aproximava-se, em navegação, da entrada Norte do Estreito de Messina. Provinha de Nápoles e se dirigia para o porto de Messina.

Pouco após as 5h22, o oficial de guarda na ponte do Washington, assim como dois marinheiros, foram jogados ao chão por uma violenta sacudida que o vapor havia recebido. Ao voltar em pé, o jovem oficial pensou que o navio havia se chocado com algum objeto flutuante ou com um pequeno pesqueiro.

Dois minutos após aparecia o comandante, que, após as perguntas de praxe ao oficial, ordenou uma inspeção completa do vapor para localização de eventuais danos.

Perplexidade no ar - Após meia hora de verificações, nada resultou, a não ser a conclusão de que o navio estava inteiro, sem infiltrações de água no casco, com suas máquinas e hélice funcionando normalmente e navegando sem adernação alguma. perplexidade no ar quanto às origens do solavanco...

De repente, o primeiro-oficial chamou a atenção de seus colegas para o fato de que as duas margens do estreito, onde antes do choque se distinguiam as luzes de pequenas localidades como Bagnara e Scilla, estavam agora totalmente às escuras.. Haviam desaparecido também os feixes de luzes dos faróis do Cabo Faro e o de Ponta Rizzo, o primeiro a boreste (lado direito) e o segundo a bombordo (lado esquerdo).

Minutos mais tarde, uma densa neblina envolvia o vapor, o que levou o comandante a ordenar redução de velocidade e atenção maior dos oficiais. Mal tinha terminado a sua frase, quando, em direção da proa (frente), se levantou um ruído ensurdecedor, que certamente provinha do mar e que aumentava de segundo a segundo.

Ruído infernal - Nenhum dos homens na prancha de comando do Washington podia imaginar a origem deste ruído infernal: era a onda sísmica de choque provocada pelo terremoto e que avançava pelas águas do estreito.

De altura superior a dez metros, a onda chegou trovejante ao Washington, atingindo-o pela proa e jogando, nos conveses, homens e tudo o que não estava preso à estrutura dos navios.

Se a onda tivesse apanhado o vapor de través, ninguém escaparia da morte segura no naufrágio, porém a sorte quis que ela chegasse pela proa.

Passado o enorme susto, a tripulação do Washington se viu logo confrontada com um outro horror.

Próximo ao Cabo Faro, começaram a ser avistados, nas águas escuras, corpos de animais e pessoas, roupas cadeiras, pedaços de madeira e mil outros objetos.

Quanto mais se aproximava o navio da costa, maior era a densidade desses objetos flutuantes, sem falar dos corpos boiando.

Gritos lancinantes - Já quase face à cidade e ao porto, começaram a ser ouvidos, de bordo do Washington, gritos lancinantes e gritos de socorro... algumas pessoas em pequenas embarcações foram recolhidas pelo vapor.

Com olhares repletos de horror, balbuciantes e sob choque, tentavam explicar o acontecido, repetindo a frase: "Messina não existe mais".

Foi dessa maneira que a tripulação do antigo vapor tomou conhecimento da tragédia que acabara de acontecer, tornando-se assim, também, estes marinheiros e oficiais, os primeiros a levar socorro à cidade devastada.

 

O transatlântico italiano tinha capacidade para 544 passageiros em 3 classes

 

Lançamento - Construído em Glasgow, Escócia, em 1879/1880, por conta da armadora peninsular L. & V. Florio, de Palermo, Itália, o Washington fora lançado ao mar em maio de 1880.

Realizou a sua viagem inaugural sob o comando do capitão-de-longo-curso Andrea Cardillo (de linhas marítimas internacionais), transportando emigrantes de Palermo, de onde zarpou em 19 de agosto, para Nova Iorque, Estados Unidos.

No ano seguinte, a I. & V. Florio amalgamou-se com a Societá per la Navigazione a Vapore R. Rubattino, nascendo desta fusão a Navigazione Generale Italiana (NGI), nova proprietária dos 38 vapores da frota da Rubattino e dos 43 da frota da Florio. Dentre estes últimos, encontrava-se, é claro, o Washington, assim como seu navio gêmeo, o Vicenzo Florio.

Semelhanças - Estes dois vapores tiveram carreiras muito semelhantes e paralelas no tempo e no espaço. Eram navios dotados de sólida construção, tonelagem relativamente modesta, destinados sobretudo ao transporte de emigrantes em estiva. Possuíam proa de veleiro, chaminé central, dois decks (conveses) de superestrutura e velas auxiliares.

Concretizada a fusão, a NGi os manteve na linha para a América do Sul (N.E.: na verdade, América do Norte) até 1885. Nesse ano, foram transferidos para a Rota de Ouro e Prata.

A primeira viagem do Washington para o Brasil e o Prata aconteceu em novembro daquele ano, iniciando-se assim um longo período de serviço sul-americano, que perduraria até 1903, período esse entrecortado por esporádico uso em outras linhas da NGI ou por viagens como navio-transporte de tropas (África em 1887 e 1896, china em 1900), afretado por conta do governo italiano.

Interessante notar que, malgrado seus 22 anos de idade, o Washington era, em 1902, o vapor de linha mais veloz entre Gênova (Itália) e Buenos Aires (Argentina), pois realizava travessias com média de 13,3 nós (26,6 quilômetros horários).

Reforma - Em 1903, o Washington é transferido da NGI para a sua subsidiária, a armadora La Veloce, que, após providenciar uma ampla reforma da sua capacidade de passageiros, o envia para servir a costa e ilhas da América Central a partir de agosto daquele ano.

Realizou viagens de Gênova a Cólon (Panamá) via escalas intermediárias em portos venezuelanos, colombianos e do Caribe e retornava à Itália depois de quase 50 dias.

Permaneceu em serviço nessa linha até 1908, quando retornou às cores da NGI e passou a ser empregado na ligação Gênova-Nápoles-portos do Mar Negro em caráter exclusivamente de navio de carga. Foi por ocasião de uma dessas suas viagens que o Washington veio a se encontrar por acaso no Estreito de Messina na ocasião do terremoto.

Mudanças - Em 1910, nova mudança de armadora. Juntamente a outros 65 antigos vapores pertencentes à NGI, foi transferido para a frota da recém-constituída Societá Nazionale Servizi Maritimi (SNSM).

Esta nova armadora beneficiou-se de subsídios concedidos pelo governo italiano para a realização de ligações marítimas intra-mediterrâneas, tendo o Washington permanecido na mesma linha que servia anteriormente, de Gênova a Odessa, com escalas.

Três anos mais tarde, nova mudança de proprietário, passando para as cores da Societá Italiana Service Maritime (Sismar), ou seja, chaminé negra com uma estrela branca de cinco pontas no centro e faixa branca no alto, navegando, porém, sempre para as águas do Mar Negro.

Foi levando essas cores que o antigo Washington, contando mais de 36 anos de uso intenso desde a sua viagem inaugural, chegou ao seu fim, sendo torpedeado e alvejado a canhão pelo submarino alemão U-39 ao largo do porto de Piombino, na costa ocidental italiana. Era uma tarde ensolarada de primavera, dia 23 de maio de 1916 - há 80 anos.

Washington:

Outros nomes: nenhum
Bandeira: italiana
Armador: Navigazione Generale Italiana (NGI)
País construtor: Escócia
Estaleiro construtor: A. Stephen & Sons

Porto de construção: Glasgow
Ano da viagem inaugural: 1880
Tonelagem de arqueação bruta (t.a.b.): 2.883 t
Comprimento: 107 m
Boca (largura): 11 m
Velocidade média: 12 nós (22 km/h)
Passageiros: 544
Classes: 1ª -       20

                 2ª - 2.500

                 3ª -    500

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 12/5/1996