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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Sierra Salvada

1913-1963 - depois Avaré, Peer Gynt, Neptunia, Oceana, Empire Tarne, Sibir

Foi o Senado da cidade marítima de Bremen (Norte da Alemanha) a dar no dia 18 de fevereiro de 1857 a carta de autorização operacional para uma nova empresa de navegação baseada naquele antigo porto da Liga Hanseática. Nascia assim uma das maiores companhias de transportes marítimos jamais existida; nascimento que resultou do amálgama de quatro outras sociedades e da férrea vontade do principal animador, Hermann Heinrich Meier, e dos meios financeiros de Edward Crusemann, jovem banqueiro e comerciante de Berlim.

Meier e Crusemann foram nomeados respectivamente presidente-administrador geral e gerente geral e, sob suas tutelas, o NordDeutscher Lloyd (ou NDL, como ficaria conhecido) logo conheceu um primeiro vasto período de expansão, explorando duas linhas pioneiras: Bremen-Londres (viagem inaugural em outubro de 1857) e Bremen-Nova Iorque (junho de 1858).

A Guerra Franco-Prussiana de 1870, com grande demanda de tonelagem, deu ao NDL a oportunidade de consolidar sua existência e crescimento. No período de 1857 a 1874, a empresa tornou-se proprietária de nada menos do que 34 navios, 26 dos quais haviam sido encomendados no espaço de oito anos, entre 1867 e 1874; em contrapartida, o ano de 1875 marcou o início de um período de crise, quando nada menos do que 19 navios foram imobilizados por falta de uso.

Nova linha - Procurando diversificar suas linhas, a NDL obteve nesse mesmo ano a concessão para uma nova ligação marítima entre Bremen, o Brasil e a Argentina, rota essa que vinha se somar a outras já exploradas, como Bremen-Baltimore, Bremen-Nova Orleans, Bremen-Havana.

Para servi-la, foram encomendadas quatro novas unidades mistas ao estaleiro Earle, do porto de Hull (Inglaterra), navios que tinham mais de 3 mil toneladas de arqueação bruta e que receberam os nomes de Hohenzollern, Hohenstauffen, Salier e Habsburg.

Foi o Hohenzollern a inaugurar o serviço para a América do Sul, zarpando de Bremen em março de 1876, seguido no mesmo ano pelo Salier e Habsburg. O quarto da série, o Hohenstauffen, só seria empregado nessa linha a partir de 1881.

Para se dar uma idéia da importância que essa nova ligação assumiria para a NDL, basta dizer que entre 1876 e 1913 (ano do lançamento da classe Sierra) nada menos do que 42 navios (incluindo-se os quatro mencionados) seriam utilizados em diversos arcos de tempo, transportando milhões de toneladas de carga e dezenas de milhares de passageiros.

Demanda - Quando em 1912 a NDL decidiu a construção de um novo quarteto de navios mistos, o transporte de passageiros e emigrantes entre a Europa e a América do Sul encontrava-se no ápice e a tonelagem existente não fazia face à enorme demanda.

Os números falam por si só: entre 1912 e 1913, nada menos do que 1,5 milhão de italianos deixaram a península com destino à América do Norte, do Sul e Austrália. Deste total, mais de 40% (ou 600 mil) destinavam-se ao Brasil, Uruguai, Argentina e Chile. Isto sem contar o número de europeus de outras nacionalidades que faziam o mesmo: emigrar.

O novo quarteto de unidades destinadas à Rota de Ouro e Prata foi encomendado a dois estaleiros alemães bem conhecidos: A.G.Vulkan, do porto de Stettin (duas unidades) e Bremer Vulkan, de Vegesack (as outras duas), os primeiros recebendo os nomes de Sierra Nevada e Sierra Cordoba e os dois últimos Sierra Ventana e Sierra Salvada.


O ex-Sierra Salvada, visto com o nome de Neptunia, da Sitmar

Primeira guerra - A viagem inaugural do Sierra Salvada iniciou-se em 1º de março de 1913, em Bremen, com destino a Buenos Aires, escalando em Antuérpia, Vigo, Lisboa, Canárias, Bahia, Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu.

O Sierra Salvada deveria ter zarpado de Santos no dia 9 de agosto de 1914, com destino a Bremen, via portos do Rio de Janeiro, Madeira, Lisboa, Vigo e Boulogne sur Mer. O início do primeiro conflito mundial, em 1914, o surpreendeu no porto do Rio de Janeiro, onde foi decidida a sua internação pelos responsáveis da NDL e as autoridades diplomáticas alemãs no Brasil.

Nesta condição de internado, o transatlântico permaneceria até junho de 1917, quando o governo brasileiro ordenou a tomada de 45 navios alemães que haviam se refugiado em portos brasileiros no início da guerra.

Destes 45 navios, 34 foram transferidos para o patrimônio da companhia de navegação estatal Lloyd Brasileiro entre 1922 e 1927. Entre 1917 e 1922, os 45 navios apresados pertenciam nominalmente ao Estado brasileiro, mas eram administrados pelo Lloyd Brasileiro e, dentro dessa nova circunstância, o Sierra Salvada foi rebatizado Avaré.

São pouco conhecidos os usos operacionais do Avaré entre 1917 e 1922. Nos últimos meses da guerra, teria sido empregado em comboios no Atlântico Norte sob o comando operacional das forças navais francesas.

Findo o conflito, o Avaré passou a realizar viagens comerciais entre o Brasil e o Norte da Europa, por conta do Lloyd Brasileiro. Em 1922, foi colocado em doca seca, para reparos e manutenção, do estaleiro que o havia construído em Vegesack, perto de Hamburgo.

Afundou - No dia 17 de junho, ao sair da doca seca, o Avaré rolou sobre si mesmo e afundou nas águas pouco profundas, próximas à doca de onde saíra. Recuperado e reflutuado, foi posto em reparos no mesmo estaleiro.

No entretempo, o governo brasileiro havia decido se desfazer do navio, e assim, foi vendido, em 1923, para a empresa Victor Schuppe, de Berlim, que o transformou em navio-cruzeiro costeiro, com o novo nome de Peer Gynt, pintando seu casco de branco, alterando algumas estruturas internas e dando-lhe uma segunda chaminé (postiça).

Com esse nome e atividade, o ex-Sierra Salvada permaneceu até 1926, ano em que foi vendido à companhia italiana Sitmar e rebatizado Neptunia, sendo brevemente utilizado no Mediterrâneo, pintado de casco preto e chaminés azuis com estrelas brancas.

No ano seguinte, novo câmbio de proprietário e de rumos. Desta vez, transforma-se no Oceana, de bandeira alemã, pertencente à Hapag, e destinado a realizar cruzeiros turísticos no Mediterrâneo. Nova veste: casco preto, chaminés douradas com topo branco, preto e vermelho.

Segunda guerra - Ao eclodir a Segunda Guerra Mundial, foi transformado em navio-auxiliar a serviço da Marinha alemã e assim permaneceu até junho de 1945, quando, com a derrota da Alemanha, passou a serviço da Marinha Real britânica, com o nome de Empire Tarne.

É no ano seguinte que a sexta e última mudança de nome ocorre: é entregue, como reparação de guerra, às autoridades da União Soviética, que o rebatizam com o nome de Sibir e o empregam, sobretudo, em viagens na costa soviética do Pacífico Norte.

Em 1963, com a respeitável idade de 50 anos de existência, o Sibir, ex-Sierra Salvada, ex-Avaré, ex-Peer Gynt, ex-Neptunia, ex-Oceana, ex-Empire Tarne, chega ao fim pelas mãos dos demolidores de navios no porto de Vladivostock.

Sierra Salvada:

Outros nomes: Avaré, Peer Gynt, Neptunia, Oceana, Empire Tarne, Sibir
Bandeira: alemã
Armador: NordDeutscher Lloyd
País construtor: Alemanha
Estaleiro construtor: Bremer Vulkan (porto: Vegesack)
Ano da viagem inaugural: 1913
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 8.227
Comprimento: 139 m
Boca (largura): 17 m
Velocidade média: 13 nós
Passageiros: 1.340
Classes: três 

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 27/2/1992