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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Giulio Cesare

1922-1944

O Giulio Cesare foi encomendado à Swan Hunter & Wigham Richardson, de Newcastle (Inglaterra) pela Navigazione Generale Italiana (NGI). Os trabalhos do estaleiro inglês começaram em dezembro de 1913, mas em agosto do ano seguinte foram interrompidos devido à eclosão das hostilidades que marcaram o início da Primeira Guerra Mundial. Ao término desta, em 1918, reiniciaram-se os mesmos e, em 19 de fevereiro de 1920, o Giulio Cesare foi lançado ao mar.

Seriam necessários mais dois anos antes que ele pudesse ser completado e decorado e foi somente em março de 1922 que a NGI tomou posse de seu navio. Sua viagem inaugural seria feita para a América do Sul.

Sob o comando do C.S.L.C. Mario Isnardi, zarpou em 4 de maio de Gênova para Barcelona, Lisboa, Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e Buenos Aires - e nesse momento tornava-se o maior navio da marinha mercante italiana em serviço. Perderia tal distinção uns meses mais tarde para o Duilio, que foi lançado em outubro do mesmo ano, com 24.281 toneladas de arqueação bruta.

Decoração - Tal qual o Duilio, o Giulio Cesare também havia sido decorado com requintes de luxo e conforto que eram características pioneiras para navios de bandeira italiana. Ambos haviam sido construídos para operar na linha do Atlântico Norte, linha essa sempre considerada mais importante que a do Atlântico Sul em termos financeiros, pela frequência de homens de negócios e turistas em grande número.

Assim sendo, e para poder fazer concorrência aos transatlânticos de outras bandeiras, navios da classe dos ingleses Mauretania, Lusitania, Aquitania e Olympic, dos alemães Bismarck, Vaterland e Imperator ou do francês France, era necessário dar ao par Duilio e Giulio Cesare um atrativo internacional em termos de desenho, decoração, tonelagem e velocidade.

A NGI não mediu despesas, portanto, quando se tratou de cuidar do aspecto conforto e luxo dos dois navios. Assim sendo, a tradicional casa de decoração naval Ducrot recebeu a responsabilidade, em ambos os navios, de dar uma marca de distinção única de elegância.

Em realidade, no Giulio Cesare a decoração inicial havia sido atribuída e concebida pela casa inglesa Waring & Gillow, de Londres. Após o reinício da construção do navio em 1919, a NGI ordenou à Ducrot que participasse dos trabalhos. O resultado disto foi que no Giulio Cesare a decoração era mais sóbria do que na do Duilio.

O salão de festas, o salão de refeições e o vestíbulo de entrada foram decorados no estilo Luiz XVI. Também neste estilo, alguns apartamentos de luxo e algumas suítes. O vestíbulo tinha seu acesso por duas grandes portas de vidro e seu ambiente era luminoso, decorado com ricos tapetes vindos do Oriente. Aí se situavam o escritório do comissário de bordo, a direção dos serviços das cabinas de primeira classe e um balcão de informações.

Desse vestíbulo, que se situava a nível do terceiro convés (dos oito existentes), subia-se por uma majestosa escada para o convés dos grandes salões, do qual o maior era o salão de festas decorado no estilo Regência. Neste mesmo convés, em direção da popa (ré), estavam situados dois grandes apartamentos de luxo no mesmo estilo Regência e que possuíam, cada um, superfície de 120 metros quadrados.

A segunda classe, que era capaz de acomodar 300 passageiros, ocupava a maior parte do espaço de popa do navio, num comprimento de 40 metros e em seis dos oito conveses. Esta segunda classe, no Giulio Cesare, era considerada tão boa quanto a primeira classe dos outros navios italianos mais antigos.

Inovações - Os cascos desses dois transatlânticos haviam sido desenhados com comportas estanques, o que assegurava a flutuabilidade do navio, mesmo no caso em que 40% da superfície total do casco fosse inundada. Além disso, havia um sistema de fundo duplo que corria em toda a extensão longitudinal da embarcação e todas as paredes e portas internas dos oito conveses eram em material anti-combustão.

Estes conceitos de segurança, que mais tarde se tornariam elementos obrigatórios na construção de grandes navios de passageiros, eram, na época da concepção do Giulio Cesare, totalmente livres de aplicação por parte dos armadores (empresários de navegação).

Tal preocupação, por parte da NGI, de acentuar os aspectos de segurança, era consequência imediata da tragédia do Titanic, ocorrida no ano anterior à ordem da construção do par.

Após a realização de sua viagem inaugural na Rota de Ouro e Prata, o Giulio Cesare foi transferido para o serviço do Atlântico Norte, efetuando a sua primeira viagem Gênova-Nova Iorque no início do mês de agosto de 1922.

Nesta linha norte-americana, permaneceria até meados de 1925, quando foi de novo colocado na linha do Atlântico Sul, ligando Gênova a Buenos Aires, via portos de escala intermediária - o tempo de travessia total entre estes dois portos sendo de 13 dias, 10 dos quais na passagem direta entre Barcelona e Rio de Janeiro. Tal efeito era possível devido à alta velocidade de cruzeiro de 20 nós que o transatlântico possuía.


O Giulio Cesare com a pintura da NGI, logo no início da sua carreira

Fusão - O Giulio Cesare permaneceu nessa linha até 1932, ano da fusão das grandes companhias italianas de navegação. Suas últimas viagens para o Brasil e o Prata foram feitas com as cores vermelha e verde no topo das duas chaminés brancas (substituindo a faixa larga branca na chaminé preta, cores da NGI) e com seu casco todo pintado de branco.

Um ano mais tarde, a direção da Italia Navigazione (sob a tutela da qual haviam se fundido em pool as principais companhias de transporte marítimo da península) decidiu transferir o Giulio Cesare para o serviço de linha entre Gênova e Port Natal (África do Sul), via Marselha, Gibraltar, Dacar e Cidade do Cabo, viagem esta que era realizada em 15 dias na ida e 16 na volta.

O Giulio Cesare inaugurou o serviço em 6 de fevereiro de 1933, tendo como seu par nessa nova linha seu irmão Duilio, também retirado da rota sul-americana. Em 1934, o Giulio Cesare sofreu reformas, passando sua tonelagem para 21.782 t.a.b. e sua capacidade de passageiros para 640, sendo 170 em 1ª classe, 170 em 2ª classe e 300 em classe turística.

Os dois navios asseguraram esta ligação até 1937, quando ambos foram cedidos para o Lloyd Triestino (que também compunha o pool - associação - da estatal), sendo porém mantidos pela nova armadora na mesma rota. Única alteração: as duas chaminés passaram para a cor creme-claro do Lloyd Triestino.

Finais - Tão interligado esteve o destino destes dois transatlânticos que os finais de ambos na verdade fazem parte de uma só e mesma história.

Bloqueados em portos italianos com a declaração de guerra italiana (em junho de 1940), permaneceram inativos até março de 1942, quando foram afretados pela Cruz Vermelha Internacional. Missão: repatriar soldados e civis italianos feridos pelas causas bélicas da Campanha da Abissínia e Eritréia.

Em seus cascos foram pintadas quatro cruzes vermelhas em cada bordo e a bandeira italiana, e nas duas chaminés uma cruz branca em fundo vermelho, simbolizando o país sede daquela organização humanitária (Suíça).

Esta nova missão durou apenas o tempo de uma viagem e em agosto ambos foram de novo ancorados inativos no porto de Trieste, onde permaneceram até o fim (do qual só as datas foram diferentes, a causa porém sendo a mesma, ou seja, ataque aéreo aliado): o Duilio sendo incendiado e destruído por bombas de aviação em 10 de julho de 1944 e o Giulio Cesare em 11 de setembro do mesmo ano.


"Giulio Cesare - O navio Giulio Cesare ficou famoso entre os imigrantes italianos que vieram para o Brasil nas décadas de 1920 e 1930. Ele aparece aqui em cartão-postal oficial da Navigazione Generale Italiana (NGI). Tinha 21.657 toneladas, 183,60 metros de comprimento, dois mastros e duas chaminés que ostentavam as cores da armadora (preta com uma larga faixa branca ao centro). O navio foi construído nos estaleiros de Swan, Hunter & Wigham Richardson, em Wallsend-on-Tyne, no Reino Unido e tinha acomodações para 256 passageiros de primeira classe, 306 de segunda e 1.800 de terceira (Imigração). Sua construção começou em 1913, mas o advento da Primeira Guerra Mundial paralisou as atividades no estaleiro. O navio só ficou pronto no dia 7 de fevereiro de 1920, quando a guerra acabou. Após ser totalmente decorado internamente, iniciou a viagem inaugural a 4 de maio de 1922, na linha entre Gênova, Nápoles e Buenos Aires, passando por Santos e Montevidéu. Por algumas vezes fez viagens entre Gênova e Nova York, transportando imigrantes italianos. Em 1932 foi incorporado pela companhia Itália. No ano seguinte foi para a linha da África do Sul. Em 1937 foi vendido para o Lloyd Triestino, que o trouxe de volta à rota da América do Sul. No dia 11 de setembro de 1944, já durante a Segunda Guerra, foi bombardeado e afundado em Trieste. Em 1949 foi reflutuado e demolido em um estaleiro. Em 1951 a companhia Itália lançou outro navio com o mesmo nome, na linha sul-americana e que operou até 1973".

Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso: 21/8/2006)

Giulio Cesare:

Outros nomes: nenhum
Bandeira: italiana
Armador: Navigazione Generale Italiana
País construtor: Grã-Bretanha
Estaleiro construtor: Swan Hunter & Wigham Richardson

Porto de construção: Newcastle
Ano da viagem inaugural: 1922
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 21.657
Comprimento: 183 m
Boca (largura): 23 m
Chaminés: 2
Mastros: 2
Popa (ré): tipo cruzador
Velocidade média: 20 nós
Motor: 4 turbinas do tipo Parsons, 10 caldeiras cilíndricas
Tripulantes: 542
Passageiros: 2.373
Classes: 1ª -     243
                2ª -     306
                3ª -  1.824

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 10/6/1993