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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Espresso

1871-1893 - depois Colombo, Napoli

 

O navio de passageiros da Lavarello começou a navegar em fevereiro de 1871 e naufragou em dezembro de 1893

No histórico do navio Sud America, publicado nesta coluna, foi narrada a origem da armadora Lavarello, baseada em Gênova e que fora uma das empresas de navegação peninsular pioneiras no tráfego da Rota de Ouro e Prata.

Construído por ordem da Lavarello, em Newcastle (Inglaterra), o quarteto de vapores Espresso, Sud America, Nord America e Europa, também conhecidos como os da série Espresso, eram navios de similar desenho, sem convés de superestrutura, quatro mastros e com acomodações para três dezenas de passageiros em primeira classe, alojados na popa (ré), e de cerca de 1.000 na classe emigrante, alojados nos porões.

Modernos - Dos quatro, o Espresso era ligeiramente menor em tonelagem e em comprimento. Possuía casco de ferro, um só hélice e um maquinário de propulsão a vapor, do tipo compound, potência de 1.635 cavalos-vapor.

Nos mastros, quando fora dos portos, eram içadas as velas áuricas, que auxiliavam a propulsão mecânica no avanço do vapor.

Em sua única chaminé de cor preta foi pintada, pela primeira vez, a famosa estrela vermelha de cinco pontas, símbolo da Lavarello e, anos mais tarde, da sua sucessora, a La Veloce.

Primeira viagem - Lançado ao mar em 1870, realizou a sua viagem inaugural entre Gênova e Buenos Aires saindo do porto lígure em 23 de fevereiro do ano seguinte, sob o comando do capitão Giovanni Sanguinetti.

A partir de 1872, entraram na linha da América Meridional os outros três vapores da série, o que permitiu a uniformização dos horários da armadora, numa freqüência quinzenal que se iniciou em 1873.

Os vapores saíam de Gênova no primeiro e quinto dia de cada mês e realizavam as seguintes saídas nas escalas: na ida, Cadiz (Espanha, 5 a 9 de cada mês), Montevidéu (Uruguai, 25 e 29) e Buenos Aires (Argentina, 26 e 30); na volta, saíam de Buenos Aires (5 e 9), Montevidéu (6 e 10), Rio de Janeiro (12 e 15) e Gibraltar (Sul da Espanha, 27 e 29).

 

A Lavarello conheceu momentos de glória

 

Regularidade - Nas viagens de ida, os vapores realizavam demorada escala em São Vicente (Cabo Verde), para reabastecimento de carvão, enquanto na volta o combustível fóssil era embarcado em Buenos Aires.

Claro está que imperativos operacionais e a disponibilidade técnica dos quatro navios podiam alterar estes horários e datas, mas de modo geral foi preservada a regularidade do serviço.

O quarteto de vapores da Lavarello apareceu no cenário marítimo no momento e circunstâncias certas, quando na Itália de então o verbo mais conjugado era o partir.

Quanto mais indivíduos partiam ou emigravam da península, mais aumentada a possibilidade de retorno dos mesmos à pátria-mãe, e assim estabeleceu-se naqueles idos aquela "avenida de emigração-imigração", que denominaremos a "Via do Atlântico", verdadeiro boulevard oceânico entre as terras européias e a América do Sul.

Como vetor de transporte marítimo, tendo linha regular servida por quatro novos transatlânticos, a Lavarello conheceu um momento de glória no início dos anos 70 daqueles tempos. Seus navios partiam repletos e a oferta não satisfazia a demanda, o tráfego era bem lucrativo.

Além do mais, só havia uma outra armadora concorrente na área do Mediterrâneo para a América do Sul, a francesa Société Génerale des Transports Maritimes, a qual, baseada em Marselha, oferecia passagens a preços um pouco superiores aos da Lavarello, na rota Marselha-Gênova-Nápoles-Barcelona-Brasil e Prata.

Visto, porém, que a massa de emigrantes desejosos de partir era de tal volume, é talvez mais correto falar em "divisão de mercado" do que verdadeira concorrência. Outras armadoras mediterrâneas eram de pequeno porte.

Outra fonte de renda para a Lavarello surgiu como decorrência da principal, que era a imigração. Quem partia, geralmente deixava para trás algum ser querido, uma família, um amigo e, cedo ou tarde, iniciava-se a troca de correspondência, a troca de cartas, o envio de pacotes postais que circulavam nos dois sentidos na "Via do Atlântico".

Em 1873, com o quarteto da série Espresso em plena atividade, o Estado italiano, procurando canalizar as receitas desse tráfego postal e diminuir os custos, decidiu eleger a Lavarello Line como armadora postal.

Dessa forma, e em conseqüência, os vapores dessa empresa receberam a denominação oficial de Piroscafo Postale e a armadora, contra a obrigação de manter a regularidade do serviço marítimo para a América do Sul, passou a receber generosos subsídios do governo, através da Agenzia Postale Italiana.

Nome alterado - Em 1874, o Espresso recebeu o nome de Colombo. A mudança de nome tinha por objetivo homenagear o cidadão italiano mais ilustre, aquele que primeiro, entre os pioneiros, realizara a ligação entre a Europa, a América do Norte e a América do Sul.

Assim, Colombo (o primeiro da série), o Europa (o segundo), o Nord America e o Sud America ficaram alinhados com o feito descobridor de 1492.

A partir de 1881, a Lavarello passou a ter dificuldades financeiras. A concorrência havia aumentado consideravelmente e oferecia navios de construção mais recente.

A este fator, a Lavarello não soube ou não pode reagir a tempo e assim, pouco a pouco, foi perdendo seu lucrativo mercado.

Falência - A perda de um dos vapores do quarteto, o Nord America, em janeiro de 1883, constitui-se o golpe de misericórdia na existência da armadora, que alguns meses depois decretava a sua falência de liquidação judiciária.

Foi o cavalieri Mateo Bruzzo, ex-dirigente da própria Lavarello, a comprar a massa falida - com o apoio de dois sócios afluentes e influentes, os marqueses Durazzo-Pallavicino.

Surgiu dessa forma, alguns meses mais tarde, a La Veloce Linea di Navigazione Italiana a Vapore, na qual foram incorporados os três navios restantes do quarteto e um novo e esplêndido vapor, o Nord America II.

 

O transporte de correspondência surgiu como outra renda

 

Napoli - O navio Colombo (ex-Espresso) de nossa história teve então nova mudança de nome, passando a ser denominado Napoli, continuando porém a servir na Rota de Ouro e Prata até o seu fim inesperado.

O Napoli esteve, quando sob as cores da La Veloce, sob o comando dos capitães Nicola Gianferri, Giuseppe Luigi Balestrini e Bartolomeu Gaggino.

Em fevereiro de 1887, quando se encontrava a cerca de 250 milhas (463 quilômetros) ao Norte do Rio da Prata e ao longo da costa de Santa Catarina, o Napoli salvou a tripulação do veleiro inglês Fawning, que afundava por causas técnicas desconhecidas.

Seria um prenúncio, pois mais tarde a mesma coisa aconteceria com o próprio Napoli.

O fim - Tendo a bordo 765 imigrantes, o navio havia saído do porto do Rio de Janeiro, com destino a Santos, em dezembro de 1893.

No início da noite do dia 4 daquele mês, por causa da forte neblina sobre o mar, o Napoli perdeu o rumo e foi parar nas cercanias da Ponta da Joatinga, naufragando entre rochas e felizmente sem perda e vidas.

Asnos a bordo

Eis a tradução do documento: "Certifico que o sr. Luiz Balestrino, comandante do vapor italiano Napoli, declarou na chancelaria deste Consulado Geral que a bordo de seu vapor tinha embarcado com destino ao Rio de Janeiro dois asnos, que pertencem ao passageiro emigrante Nelli Giovanni, e que aqueles animais são destinados ao serviço de pequena lavoura do dito imigrante e como tal considerado fazendo parte da bagagem do mesmo emigrante.

Em fé do que passei o presente certificado, que assinei e selei com as Imperiais Armas deste Consulado Geral.

Gênova, 18 de fevereiro de 1887. João Antônio Rodrigues Martins, comendador da Rosa, cônsul geral do Brasil na Itália".

Imagem: reprodução, publicada com a matéria

Espresso:

Outros nomes: Colombo, Napoli
Bandeira: italiana
Armador: Lavarello Line
País construtor: Inglaterra
Estaleiro construtor: Newcastle
Ano da viagem inaugural: 1871

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 23/6/1996