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Edição 150 - MAR-ABR/2006
COPA 2006

Segurança especial na Alemanha

Preocupação é com o terrorismo e a gripe aviária. Frango, só no gol...

Carlos Pimentel Mendes (*)

Sem esquecer o ataque terrorista ocorrido na Olimpíada de Munique, a continuada onda de violência urbana desencadeada em Paris, as charges dinamarquesas de Maomé que irritaram os muçulmanos, a onipresente Al-Qaeda do sempre ausente Osama Bin Laden, os alemães ainda precisam se preocupar com os vários focos de gripe aviária que começam a surgir na Europa, e todos os riscos de se reunir pessoas procedentes do mundo inteiro – que poderiam ser focos irradiadores da ameaçadora pandemia.


Logo da Fifa para a Copa do Mundo da Alemanha-2006
Imagem: divulgação

Receando que a gripe aviária se transforme em "gripe alemã", em analogia ao que aconteceu em 1919 com a chamada "gripe espanhola", os organizadores da Copa do Mundo de 2006 já decidiram: nada de pratos à base de carne de ave nos serviços de refeições prontas da Copa. A Aramark, detentora dos direitos de venda dessas refeições durante a competição, só oferecerá carne de bezerro ou de porco, mesmo sob os protestos do setor aviário alemão, que enfrenta uma crise de demanda por causa da gripe aviária. Detalhe: o vírus não está mais limitado às aves, transmitindo-se para mamíferos em alguns casos – como porcos e gatos.

De qualquer forma, frango na Copa, só no gol. O que não impede os turistas de se alimentarem em outros locais, fugindo à proibição e mesmo ao controle sanitário. Mas, este é apenas um dos problemas que a Alemanha precisa enfrentar – e que quase suspenderam essa competição futebolística internacional. Trabalhadores jovens e imigrantes protestam por toda a Europa por serem tratados como sub-indivíduos e, após milhares de carros queimados entre Paris e Berlim, talvez usem a Copa do Mundo como vitrine para suas queixas.


World Cup Stadium Munich, conhecido como Allianz Arena, será chamado de Estádio de Munique
Foto: divulgação

Da mesma forma, depois do 11 de setembro em New York/Washington, dos ataques terroristas em Madrid e Londres e das explosões diárias de carros, bicicletas e homens-bomba no Iraque, das questões atômicas dos EUA com o Irã e a Coréia do Norte, e de todas as convulsões sociais na ex-URSS, para citar apenas alguns exemplos, as autoridades alemãs têm muito com que se preocupar em termos de segurança dos próprios alemães, dos jogadores e dos torcedores – já não bastassem os próprios riscos inerentes às paixões futebolísticas.

Peritos da Fundação Warentest (criada em 16/9/1964 pelo governo alemão) apontaram (em janeiro de 2006) problemas de segurança em todos os estádios do Mundial, inclusive "falhas graves" em quatro deles: deficiências na proteção contra incêndios em Kaiserslautern e falta de saídas de emergência para situações de pânico em Gelsenkirchen, Leipzig e Berlim. Nestes três últimos estádios, fossos ou muros impediriam que os torcedores corressem para o gramado em caso de evacuação das arquibancadas. E os peritos lembram que, embora a probabilidade de ocorrer situação de pânico seja baixa, mais de 60 acidentes já ocorreram nos últimos 60 anos, deixando mais de 1.500 mortos e 10 mil feridos.


Waldstadion, em Frankfurt: teto móvel que permite proteção contra o mau tempo
Foto: divulgação

Nos estádios de Hamburgo, Frankfurt, Dortmund e Stuttgart, os analistas encontraram "falhas evidentes", como perigo de tropeçar, degraus de escadas irregulares, proteção contra incêndio e saídas de emergência insuficientes. Nos demais (Munique, Hannover, Nurembergue e Colônia), também foram detectadas "falhas mínimas". Apesar disso, o Comitê Organizador da Copa afirmou não haver risco para os torcedores, especificando que, em Berlim, Gelsenkirchen e Leipzig, a recomendação de relatórios independentes é de que as saídas de emergência sejam para fora dos estádios, não em direção ao gramado.

Nos últimos seis anos, a Alemanha investiu 1,4 bilhão de euros na construção, reforma ou remodelação dos estádios, adotando medidas que "cumprem a legislação vigente na construção civil alemã e que são bem mais rígidas do que em outros países comparáveis", como garantiu o Comitê Organizador, asseverando ainda que as falhas ainda existentes seriam eliminadas antes do início dos jogos.


Zentralstadion de Leipzig, inaugurado em 2004, com capacidade para 44 mil espectadores
Foto: divulgação

Recebendo "quatro cartões vermelhos" antes mesmo do início dos jogos, os organizadores iniciaram um jogo de ataques e contra-ataques nada objetivo quanto à solução dos problemas apontados.

Eles defendem que a disposição das arquibancadas segue modernos conceitos de segurança, evitando conscientemente o uso de blocos de patamares e eliminando o risco de esmagamento em uma direção frontal graças à disposição das fileiras de assentos: "Assim que os espectadores deixam suas fileiras de assentos, eles naturalmente escolhem a rota que seguiram para chegar a seus assentos, um caminho direto utilizando os degraus (que ficam mais largos à medida que sobem), rumo a uma abertura que leva ao foyer, onde está provado que não há risco de esmagamento".

Enquanto isso, a polícia alemã se preocupa com a segurança nos 300 lugares em que serão instalados telões para os torcedores acompanharem os jogos. Para as autoridades, os milhares de torcedores correm mais risco nesses lugares que nos estádios. O maior problema são os torcedores violentos (na Alemanha há sete mil hooligans, aos quais se juntarão os estrangeiros), e a polícia alemã contará com a colaboração dos colegas de outros países para conter essa ameaça. De qualquer forma, já está sendo recomendado que se impeça a transformação desses locais em centros de acampamento, sabendo-se que muitos jovens viajarão sem dinheiro ou local de hospedagem.


Estádio de Hannover, reconstruído
Foto: divulgação

Arquitetura – Dentro ou fora dos estádios, nas 12 cidades onde se situam, os apreciadores de belezas arquitetônicas encontrarão amostras dos mais diversos estilos arquitetônicos europeus. O Olympiastadion de Berlim, por exemplo, foi construído para os Jogos Olímpicos de 1936 e é tombado pelo Patrimônio Histórico. Mesmo assim, este que é o maior estádio alemão - e sediará os jogos finais da Copa, no dia 7 de julho - foi reconstruído e modernizado em 2004, tendo capacidade para 74.176 torcedores.

Em Colônia, o World Cup Stadium Cologne foi reformado e tem capacidade para 51 mil espectadores, sendo reconhecido pela sua principal característica, os gigantescos pilares de iluminação existentes nos quatro cantos. Não poderá usar na copa o nome original, RheinEnergie Stadion, em razão dos regulamentos de patrocínio da Federação Internacional de Futebol (Fifa).

Em Dortmund, foi reconstruído o Westfalenstadion, um dos maiores da Alemanha, com capacidade para 69 mil espectadores. Sua reforma completa quase levou o clube Borussia Dortmund à falência. Também o Hanover Stadium foi reconstruído, tendo sua capacidade aumentada para 45 mil espectadores. Já o Fritz-Walter-Stadion, construído em 1920 na cidade de Kaiserlautern, ganhou uma extensão nas arquibancadas Leste e Oeste, contando agora com 48 mil cadeiras. Outro reconstruído é o Franken-Stadion de Nuremberg, agora com capacidade para 45.500 espectadores, e que desde 2001 passou a contar com a Arena Nürnberg, construída ao lado. Em StuttGart, o Gottlieb-Daimler-Stadion foi reformado em 2004, podendo receber 54 mil torcedores.

Estádio de Hamburgo
Estádio Kaiserslautern
Estádio de Stuttgart
Estádio de Dortmund
Fotos: divulgação

São novos os demais locais dos jogos desta Copa, como o World Cup Stadium Munich, inaugurado em maio de 2005, e que - embora seja internacionalmente conhecido como Allianz Arena – será, por determinação da Fifa, chamado de Estádio de Munique. Com capacidade para 66 mil pessoas, destaca-se pela sua parede semitransparente, que pode ser iluminada nas cores das equipes que estão em campo.

Também novo é o Zentralstadion de Leipzig, inaugurado em 2004 em substituição ao anterior, de 1956, e que chegou a ser o maior da Alemanha, com capacidade para 100 mil torcedores. O atual comporta 44 mil espectadores. Já em Hamburgo foi inaugurado (em 2/9/2000) o FIFA World Cup Stadium, para 51 mil torcedores, sobre o antigo Volksparkstadion, de 1953.

Com gramado removível e teto retrátil, sistema eletrônico de pagamento de ingressos e estacionamento, capela (para quem quiser rezar antes do jogo...) e até um reservatório central de cerveja, o novo estádio de alta tecnologia Arena AufSchalke da cidade de Gelsenkirchen, inaugurado em 2001, é considerado o melhor estádio do mundo, com capacidade para 53.804 torcedores.

E o novo Waldstadion, substituindo a instalação que existia há 80 anos em Frankfurt, tem capacidade para 48.132 espectadores e um teto móvel que permite protegê-los do mau tempo. Eles já não terão que fazer como os torcedores da Copa do Mundo de 1974, que viram sob forte chuva a semifinal entre Alemanha Ocidental e Polônia.

Enfim, entre chuvas e trovoadas, talvez o clima seja a menor das ameaças que os torcedores e turistas enfrentarão a partir do dia 7 de junho na Alemanha.
 

Estádio de Nuremberg
Estádio de Colônia
Estádio de Gelsenkirchen
Estádio de Berlim
Fotos: divulgação

(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico Novo Milênio.