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Edição 144 - Set/2005
Editorial

Por um povo melhor

Luiz Carlos Ferraz

Diante da onda de corrupção que varre o País, de Brasília a Ribeirão Preto, qual a importância do cocô do animal de estimação deixado pelo proprietário bem no meio do calçadão da Praia de Santos? Pode parecer nenhuma, mas ambas as situações têm relação entre si, na medida em que revelam a disposição natural do brasileiro em transgredir normais jurídicas ou meramente morais e, por outro lado, a incapacidade do Estado em punir e dar o exemplo - ou, no mínimo, gerar um temor que iniba tais ações.

Nos últimos dias, as discussões sobre a crise sempre terminam com a constatação de que a culpa é do brasileiro, sua paixão pela corrupção ("sou, mas quem não é?") e remontaria a Cabral. Pode ser. Mas cruzar o braço não resolve o problema existencial; e, além do mais, é em momentos de ruptura que costumam surgir soluções. A proposta não é nova e consiste em priorizar os investimentos em Cidadania, com a criação de brigadas da consciência.

Imagine, por exemplo, grupos de jovens, secundaristas e universitários, uniformizados nas ruas e no calçadão da Praia de Santos. Cachorrinho sujou e o proprietário vai saindo de fininho como se não fosse com ele e pimba! O bem-educado jovem o interpela e, após breve explanação sobre a lei que obriga o recolhimento das fezes, entrega um saco para o descuidado.

No trânsito, o motorista joga papel pela janela ou ameaça o pedestre na faixa de segurança e está lá o bem-educado jovem a lembrá-lo do Código Nacional de Trânsito, da necessidade de ter um saco de lixo no interior do veículo e respeitar o transeunte. Cena na faixa de areia: a dupla joga frescobol sem se importar com as pessoas que caminham em busca de saúde. Novamente, o brigadista pede atenção, informa sobre a proibição.

Pode ser que não dê certo numa primeira vez, nem mesmo na segunda, mas talvez na terceira, quando, constatado o reiterado comportamento inconveniente (afinal, os fiscais fariam relatórios detalhados de suas abordagens), aplicar-se-ia uma sanção – absolutamente legal nos exemplos citados. Pode ser até que não resolva o problema da corrupção no País, mas pelo menos teremos um povo melhor.